quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Gato e a Rata


O jogo de gato e rato é lendário e um dos assuntos favoritos dos romancistas. O que atrai para dentro do jogo que parece tão fascinante quanto antagônico? É uma questão complicada que será eternamente analisada pelo filósofo. Eu também fiz minhas tentativas para solucionar o enigma.
Parece-me que o jogo era bem mais atraente nos tempos antigos. Hoje em dia é decididamente menos prazeroso. De alguma forma, conforme os riscos aumentam, os jogadores se tornam mais ameaçadores e o jogo mais cruel. Na verdade, nem é mais jogado como antes. Uma coisa é certa, o objeto do jogo já quase foi eliminado.
Já faz tempo que ficou estabelecido, por exemplo, que o gato é fisicamente mais forte do que o rato. No entanto, a rata jamais foi um adversário à altura, em virtude de seus instintos e sua determinação impecável. Ao longo dos anos, o gato acumulou muitas vantagens desleais sobre o rato, eliminando do jogo a regra da vantagem. Essa evolução teve um efeito peculiar de tornar o jogo mais sedutor para o rato, e tedioso para o gato. E eu começo minha fábula sob essas circunstâncias entre gato e rato.
Na história que conto, a supremacia pertence ao gato. O rato tem muito menos poder na maioria dos casos: ganha e acumula menos riqueza, tem uma voz menos ativa nos eventos mundiais e, resumindo, menos vantagens do que o gato. Como era de se esperar, sob tais circunstâncias, o rato perdeu muito de sua personalidade e o gato sente a perda sem reconhecêla. Assim, quando ele encontra uma daquelas ratinhas encantadoras e tenazes que se recusam a aceitar esses termos amistosamente, essa nova raça de gato fica temerosa demais para reagir apropriadamente.
Por outro lado, o rato perdeu o respeito pelo gato, julgado preguiçoso e mimado pelos ratos que se submetiam à sua superioridade. Então, o jogo chegou ao estágio final de existência e só em casos raros, como a história aqui descrita, é jogado com o vigor dos tempos antigos.
Ao começar minha fábula, a rata leva uma vida modesta no buraquinho da parede do mundo do gato. Ela se veste com trapinhos fúteis, que é a moda do mundo moderno do gato, mas não cobre quase nada, fazendo-a sentir-se sempre nua e explorada. Mesmo assim, nossa rata se sente relativamente segura quanto ao gato, por conta de seu comportamento rebelde, interpretado por ele como uma malevolência insensível. Isso vem bem a calhar para a rata, pois ela detesta o gato.
-Covardes! -diz a rata rindo, ao ver outro gato passando pelo buraquinho da parede, apressado para se afastar da criaturinha ali de dentro. Como ficam medrosos esses gatos enormes ao se depararem com a ira de uma pobre ratinha indefesa! Provavelmente escaparei do destino de minhas irmãs tendo a mera animosidade como defesa.
De fato, não foi difícil para ela levar adiante os sentimentos de animosidade. Ela detestava ser explorada nesse mundo dominado pelos gatos, sem jamais ser compreendida ou reconhecida por sua inteligência e sensibilidade. Ainda assim, sempre que um gato parava diante da abertura de sua casinha para olhá-la, ela era tomada por estranhas sensações tanto perturbadoras quanto temíveis. Mas ela se recusava a deixar que os gatos vissem o seu medo ou, mais precisamente, sua esperança contida de um dia conhecer um gato de verdade, como aqueles sobre os quais lera em romances. E ela assobiava e os xingava, rindo para si mesma quando eles quase tropeçavam nos próprios pés, na pressa de fugir delá.

Ela assumiu uma fisionomia de arrogância altiva ao ouvir outro gato se aproximando. Ele era bem maior que ela, assim como os outros, mas ela lembrava a si mesma que tamanho não era tudo. Ela tinha certeza de que sua vontade era muito superior à dele.
Ela se esforçou para manter a compostura, enquanto o gato se colocou diante da entrada, com os olhos se movendo entretidos sobre seu corpinho. A inquietação habitual a inflamava por dentro. Com que direito os gatos pensavam poder cobiçar ratas de forma tão rude? Como as coisas chegaram a ponto de isso parecer um comportamento aceitável? Caso se comportasse como as outras ratas, agora seria esperado que ela se lisonjeasse com a honra dessa atenção! Ela empinou ainda mais o queixo e encarou o olhar do gato com desdém.
Contrariada, ela percebeu que ele era mais bonito que o comum. Nos dias atuais era realmente raro ver um gato que se importasse com a aparência. Eles geralmente era esculhambados, de modo que chegava a ofender qualquer um que estivesse por perto. Mas as ratas também estavam tão ocupadas com sua própria aparência que raramente lhes ocorria que os gatos não valiam todo esse empenho.
No entanto, esse gato era um dos poucos que se poderia considerar que valia a pena. Mas, na opinião da rata, isso era apenas mais uma razão para evitá-lo, pois os gatos bonitões eram piores que os feios. Eles estavam em alta na praça e sabiam disso, e era bem difícil conquistar sua afeição por um momento, quanto mais obter qualquer tipo de devoção em longo prazo. Ao olhar para a expressão de autoconfiança desse gato, a rata percebeu que provavelmente haveria inúmeras ratas à sua disposição. E ela se forçou a ignorar sua beleza física.
Mas era impossível não notar o pêlo farto que caía em ondas escuras sobre sua face, os traços recortados que emolduravam uma expressão de absoluta confiança e equilíbrio. Seu corpo musculoso se movimentava com uma graça natural. Os instintos aguçados da rata lhe diziam que seria melhor que ela se livrasse dele rapidamente. E ela mostrou a sua arma mais eficaz diante dos gatos: sua língua.
-Olhe o quanto quiser, porco -rosnou ela. Você jamais terá permissão para tocar. -Pois, ao menos nesse estranho mundo em que ela vivia, não era permitido que um gato forçasse uma rata a se submeter contra sua vontade. E, de fato, não havia a menor tentação para que o fizessem, já que as ratas estavam se oferecendo como escravas desses grosseiros desmerecedores!
Para espanto da rata, o gato riu de sua argumentação, depois esticou a pata para dentro de seu pequeno esconderijo. Com muita cautela para não tocar-lhe a pele, ele usou seu dedo ágil para erguer até o ombro o trapinho que cobria o corpinho, deixando-o totalmente à mostra. Com um chiado zangado ela espalmou-lhe a pata. -Você disse que eu poderia olhar o quanto quisesse, não disse? -ele riu.
A ratinha possuía uma fraqueza: era extremamente competitiva -principalmente quanto às questões de perspicácia e desejo. Tinha um gênio facilmente atraído ao jogo de gato e rato. A réplica espirituosa do gato, aliada ao seu temperamento calmo e total desprezo ao seu mau humor, foi estímulo suficiente para que ela ignorasse sua apreensão e mudasse de idéia quanto à resolução anterior de se livrar dele imediatamente. Talvezfosse melhor atormentá-lo um pouquinho antes.
Os olhos dela detinham os dele com um súbito interesse, e o canto de sua boca exibia um sorrisinho malicioso. Ela deu de ombros e tentou assumir uma aparência de indiferença casual.
-Eu estava pensando em você, agora mesmo disse ela, zombando. -Eu detestaria ver seu ego ferido pela recusa de algo que deseja.
-Que meigo de sua parte se preocupar com meu bem-estar -respondeu ele, sorrindo. Os olhos dele queimavam os dela, ao acrescentar: -Mas sobre isso, nós dois sabemos que você não precisa se preocupar. -Ela imaginou se aquela afirmação significava que ele não a achava atraente, ou se estaria excessivamente confiante de que ela cederia, caso ele a quisesse. Ele a percebeu confusa e riu. Mais curiosa do que nunca, ela se aproximou timidamente, dizendo:
-Imagino que você tenha ratinhas demais com que se distrair para se empolgar com apenas uma, em vista do harém de escravas que deve possuir para atender aos seus pedidos. -Ela disse isso como se o estivesseelogiando, mas o recado foi bem claro. Uma das coisas que ela mais detestava sobre esse mundo moderno dos gatos era a forma como as ratas estavam sempre dispostas a se rebaixar vendendo o próprio corpo aos gatos, como suas escravas sexuais. Ainda assim, ela sabia que havia ferido o orgulho dele ao dizer que, embora pudessem comprar tudo
o que desejassem das ratas, eles eram obrigados a pagar por isso. Com sua afirmação ela estava insinuando que ele também teria de pagar por favores, mesmo que desconfiasse que isso não fosse verdade nesse caso.
No entanto, a afirmação não fez com que o gato desistisse, e com uma pose um tanto descontraída, ele respondeu:
-Mesmo assim estou disposto a lhe dar a chance de ser minha escrava, se me pedir educadamente. Ele adorou a forma como os olhos dela faiscaram de raiva diante de sua resposta. Ele estava se divertindo imensamente em provocá-la.
-Certamente não quero ser sua escrava! -bufou ela. Como ele podia inverter tudo dessa forma?
Ela desejou, com todo o coração, ter o poder de arrancar o sorriso do rosto daquele gato abusado!
-Se você não tivesse o desejo oculto de ser minha escrava, não teria tocado no assunto -argumentou ele. Sua arrogância a irritava e seus olhos piscaram, exibindo um sorriso de desdém.
-Você seria tão convencido a ponto de achar que eu quis dizer que queria ser sua escrava?
-Eu posso apostar meu rabo.
-Puxa, mas você é bem confiante, hein? -desafiou ela, em busca de uma chance de fazê-lo ver o quanto estava errado. Ela era inexperiente demais no jogo para perceber que ele a estava provocando.
-Devo provar isso a você? -perguntou ele, devolvendo o desafio.
-Prove...! -Sua audácia era realmente demais. Algum tipo de alerta soou dentro do cérebro dela, advertindo-a para ter cautela, mas ela estava atiçada demais para ter cuidado. Além disso, era extasiante finalmente encontrar um gato com desenvoltura e tanta perspicácia. Sua coragem ancestral revolveu por dentro, diante daquela postura desafiadora. Ela sentiu que precisava colocá-lo em seu lugar, portanto, sem pestanejar, disse: -Se você puder provar qualquer coisa além de meu profundo desprezo por você, serei sua escrava hoje mesmo, por essa noite!
Assim que as palavras saíram, ela sentiu uma onda de terror. Teria realmente dito aquilo? E quando havia saído da proteção do abrigo de seu buraquinho na parede?
Não importava. Ela jamais cederia, e ele acabaria sendo forçado a partir com o rabinho entre as pernas, fracassado e humilhado. Pensar nisso a fez sorrir.
O gato também estava sorrindo, pensando, que exatamente quando parecia que todas as ratas eram tolinhas dóceis prontas para se submeterem a qualquer coisa à sua frente, ele encontrara essa pequena preciosidade. Veja só... era exatamente o que ele vinha procurando a vida inteira. E pensar que ele quasea evitou, segundo o conselho de vários outros gatos a quem ela rejeitara. -Bruxinha -era como todos a chamavam! Que tolos! Por ser tão extraordinária já era de se esperar que ela naturalmente quisesse um gato que estivesse disposto a encará-la. Ele reconheceu isso por também ser do mesmo tipo dela, com preferência por uma bela disputa antes de acasalar. Ele precisava continuar provando seu direito de possuir sua parceira, enquanto ela precisava de um par que valesse a pena e fosse destemido. Por instinto, ele sabia que ambos sentiam essas coisas, embora soubesse que ela ainda não as compreendia inteiramente.
O gato se aproximou da rata e gentilmente moveu uma mecha de cabelos para o lado. Ela sentiu o hálito morno em seu rosto quando ele sussurrou:
-Como podemos testar isso?
Ela inspirou o ar e o prendeu. Uma idéia ou outra passaram por sua mente, mas ela continuou quieta. Ela se sentia totalmente sem ação.
-Talvez um beijo -sugeriu ele, por fim, após deixá-la pensar um pouco.
Ela suspirou aliviada. Tudo que teria de fazer era suportar um beijo sem desfalecer sobre ele. Ela estava certa de que podia fazer isso. Que deleite seria mandá-lo pegar a estrada depois que ele se descabelasse para mostrar seu melhor beijo. Ela quase caiu na gargalhada com a idéia.
Ele olhou em seus olhos e viu seu divertimento. Então ela já estava cantando vitória, não é? Bom. Ele precisava pegá-la desprevenida. Mas alertou a si mesmo para ser cauteloso. Ela era um achado raro no mundo, e ele não a perderia.
Agora confiante, a rata arqueou o pescoço para trás na expectativa do beijo do gato, mantendo o olhar ansioso nos olhos dele. Ele a encarou enquanto seus lábios se puseram logo acima dos dela, por um tempo que pareceu uma eternidade. Uma incerteza preencheu os olhos dela e ela subitamente ficou impaciente. Ele ia fazer aquilo, ou não? Que tipo de tolo diz que irá beijá-la e não o faz?
Os lábios dele continuaram tão perto que estavam quase tocando os dela. -Bem-ele finalmente sussurrou –Aonde você quer?
-O quê? -ela sussurrou de volta.
-O beijo -explicou ele. -Onde você quer que eu dê?
Ela o encarou, chocada. Imagens que a deixaram tonta invadiram seus pensamentos, mas ela instantaneamente se esforçou para eliminá-las de sua mente. Ela estava tremendo. E mais uma vez lembroua si mesma que o mais prudente seria se livrar dele rapidamente.
E como ela deveria responder a sua pergunta sem soar como se quisesse que ele a beijasse? Ele realmente levava jeito para enfurecê-la. O que ela realmente gostaria de fazer era... De repente ela teve uma idéia.
-Acho que o lugar menos ofensivo seria o meu pé -disse ela, finalmente, com um sorriso ávido.
-Então, no pé será -respondeu ele, sem desapontamento. Ele não havia esperado nada menos.
Além disso, sua pergunta sugestiva alcançara o efeito pretendido. Ele notou que ela perdeu a compostura, mesmo que apenas por alguns instantes.
Ele baixou sobre um dos joelhos diante dela, num gesto extremamente submisso. Ao se preparar para seu ataque, a ratinha sentiu uma decepção estranha, por ele ter se deixado abater com tanta facilidade, e um arrependimento esquisito, pois logo tudo estaria acabado. Lá de dentro, ocorreu-lhe que ela torcera para que ele tivesse sido mais esperto ou forte, algo assim... mas ela logo se repreendeu por ter sido tão tola, lembrando que era o seu orgulho e liberdade que estavam em jogo ali. O gato gentilmente pegou-lhe a patinha e pousou a boca morna sobre ela, dando um beijo demorado. Assim que o beijo terminou, a ratinha recuou a pata para trás, num movimento que deu a entender que ela tinha a intenção de chutar o gato no rosto -atitude que demonstraria de uma vez por todas seu autodomínio e ausência de reação a ele. Porém, ao lançar o pé à frente para dar o chute, ele a pegou pelo tornozelo num golpe preciso. Ela respirou ofegante diante dessa reviravolta dos acontecimentos. A força que sentiu no aperto que ele mantinha em sua perna causou-lhe uma vibração pelo corpo. Ela tentou se soltar, mas ele a segurou sem qualquer dificuldade, como se segurasse uma borboleta pelas asas. Ela foi desarmada de uma só vez.
E subitamente perdeu o chão, balançando e se esforçando para manter o equilíbrio num pé só. Com braços e pernas a esmo, ela foi de quadris ao chão. Com a agilidade de uma pantera, o gato se esticou e a pegou, impedindo o impacto da queda. Primeiro ela ficou aliviada, depois, horrorizada. As mãos dele abrigavam suas nádegas. Ela se moveu para se levantar, mas ele a segurou.
_ Ainda não avaliamos o efeito do beijo -disse
ele, sorrindo. _ O que você quer dizer? -perguntou ela, ainda se esforçando para levantar e se afastar das mãos
dele. _ O que quero dizer -explicou ele, calmamente -é que quero ver se fui capaz de inspirar algo além de seu puro desprezo por mim com meu
beijo. _ Ah... bem, suponho que desprezo resuma bem os meus sentimentos -ela mentiu, tentando aparentar calma e indiferença. Mas era difícil, com suas mãos fortes a segurando daquele jeito. _ Eu não acredito em você -respondeu ele. E gosto de verificar as coisas, sempre que possível. _ Bem, mas não é possível -devolveu ela. -Portanto, você terá de aceitar minha palavra. _ Mas é possível -argumentou ele. -Não é apenas possível, como também simples e indolor. E, ao dizer isso, ele tirou as mãos debaixo dela e afastou-lhe as pernas. Ela finalmente percebeu o que ele pretendia fazer. Um formigamento persistente começou a aumentar entre suas pernas, começando antes do beijo. Agora, o seu desejo latejava em seu corpo inteiro.
-Não -protestou ela. -Não. -Ela balançou a cabeça de um lado para outro, tentando desesperadamente fechar as pernas.
-Se é como diz -disse ele, num tom irritantemente ponderado, soltando suas pernas por um instante -, depois de uma breve inspeção eu partirei daqui e jamais a perturbarei novamente. Mas, se você estiver mentindo como eu desconfio, será minha escrava legítima por esta noite.
Ela suspirou aterrorizada. Quando foi que tudo se inverteu e ele se tornou o conquistador? -Você pode admitir o seu desejo por mim diretamente, se preferir -disse ele, pacientemente.
-Nunca! -disse ela, quase gritando.
-Bem, então, você não tem nada a esconder, tem? -perguntou ele. O olhar dele prendeu o dela, e foi como se ela tivesse sido hipnotizada, deixando que ele lhe afastasse as pernas. Seus dedos tocaramna, provocantes. Ela amaldiçoou seu corpo traiçoeiro mesmo ao se arrepiar de prazer, quando ele escorregou o dedo adentrando a umidade reveladora. Ele soltou um gemido e a puxou para seus braços.
-Ganhei -disse ele, antes que seus lábios exigissem os dela.
Ela estava com o orgulho em pedaços, mas já não podia negar que ele ganhara a batalha. Ainda assim, ela cedeu queixosa. Ela piscava com raiva e mordeu-lhe a língua, quando ele a colocou em sua boca.
Isso não chegou a decepcioná-lo; mais uma vez era O que ele esperava dela. De boa vontade, ele deixou que ela desabafasse toda a raiva em cima dele. Minal, ele compreendia o quanto era irritante perder.
Ele gentilmente a segurou nos braços, até que ela parasse de resistir, sempre a beijando carinhosamente. Ela se esforçava para lutar contra sua atração por um adversário tão valioso; mas, aos poucos, começou a sucumbir aos sentimentos ternos que ele despertou nela, e finalmente aceitou a própria derrota, retribuindo seus beijos com a mesma paixão fervorosa. Ela enlaçou-lhe o pescoço com os braços e o abraçou com as pernas. Mas ele festejou a entrega total apenas por um momento. Ele já decidira que a queria por muito mais que apenas uma noite de servidão. Era hora de aumentar as apostas do jogo.
O gato recuou do abraço da ratinha e perguntoulhe: -Como pode ser isso, se eu, que sou seu amo, estou aqui a servi-la, minha escrava?
Ela ficou demasiadamente estarrecida com a interrupção indelicada para responder. Pensara que a total entrega satisfariaseuanseiopor dominá-la, mas, aparentemente, se enganara quanto a isso. No entanto, ele não esperava uma reação dela. Com um rápido movimento ele espalmou as nádegas dela, dizendo:
-De pé, escrava.
Com as bochechas em fogo, a ratinha subitamente se levantou, procurando endireitar as roupas desalinhadas que vestia, apesar disso ser inútil. Ela olhou o gato, silenciosamentejurando achar um meio de ficar quite com ele. Mas ele prosseguiu como se não tivesse qualquer preocupação na vida.
-Siga-me, escrava -disse ele, guiando o caminho. Mas antes que ela desse o primeiro passo, ele acrescentou:
-De joelhos. Ela o olhou boquiaberta, horrorizada, quase en
gasgando com as próprias palavras. -Não farei isso -conseguiu dizer finalmente. -Você o quê? -perguntou ele, fingindo cho
que com o rompante. Porém, mais uma vez era o que ele esperava. Ele sabia que seriam necessários o céu e a terra para fazê-la ficar de joelhos. Mas, por sorte, ele tinha o poder do céu e da terra sobre ela, naquele determinado instante, por saber que seu orgulho jamais a deixaria voltar atrás numa aposta.
-Você me ouviu -reafirmou ela, firme, diante dele. -Então, você está -disse ele, calmamente -se recusando a honrar nossa aposta? Diante disso, ela parou: -Eu o servirei como sua escrava por esta noite, mas não de joelhos.

-Você concordou em ser minha escrava, e uma escrava é obrigada a fazer tudo como indicado por seu amo ponderou ele, sagazmente.
-Além disso,posso lhe garantir que é bastante comum que essa posição seja pedida a uma escrava... além de muitas outras.
Diante disso a rata ficou em silêncio. Ela nunca havia sido uma escrava.
-Diga-me -continuou ele -, se eu fosse seu escravo, não estaria de joelhos, nesse exato momento?
A rata permaneceu em silêncio, pois mal podia negar que daria tudo para vê-lo de joelhos naquele momento. O gato sentiu que era o instante perfeito para conduzi-la a um novo jogo.
-Foi você quem propôs a aposta ele lembrou-a.
Agora, a menos que queira uma nova disputa para ganhar sua liberdade de volta, é obrigada a me servir da forma como eu quiser.
Só levou um segundo para que seus olhos faiscassem cheios de vida, e para que ela mordesse a isca que ele jogou diante dela.
-Uma nova disputa?
-Sim -disse ele, suavemente. Depois, fingindo mudar de idéia, ele acrescentou: -
Quero dizer, não.
Não creio que eu poderia ser induzido a isso. Afinal, já tenho um bom negócio aqui, com você como minha escrava por essa noite.
Ele quase sorriu ao ouvir as palavras que esperava, quando ela disse com toda a avidez:
-Mas nós podemos fazer dobrado, ou nada!
-Por que eu deveria arriscar duas noites prováveis de escravidão, por uma garantida, que já tenho? -perguntou ele. -Não, esqueça. Você está perdendo tempo. De joelhos, por gentileza.
-Então, o que você quer? -perguntou ela.
-Bem, para pensar em abrir mão da minha noite como seu amo, eu preciso ter a chance de ganhar algo de muito mais valor para mim, digamos... você, como minha esposa. -Ele estava tão chocado quanto ela ao dizer aquilo, por só ter a intenção de fazêla ficar com ele por um tempo indefinido. Porém, uma vez ditas as palavras, ele soube que as dissera para valer. Ele adorou a sensação da natureza desafiadora. Eles tinham uma química perfeita, e ele sabia que ficariam se desafiando pelo restante da vida.
Mas quando a ratinha ouviu aquelas palavras, quase riu.
-Você espera que eu aposte uma noite como escrava contra a escravidão eterna? -perguntou ela, incrédula.
-Como minha esposa você não chegaria a ser uma escrava -deleitou-se ele. -Mas é lisonjeiro saber que seu primeiro instinto é achar que você seria a perdedora.
Isso arranhou seu orgulho e ela rosnou, ressentida.
-Foi apenas por usar de truques que você ganhou a última aposta. Foi totalmente injusto, e posso garantir que isso não voltará a acontecer. -Apesar disso, ela não conseguia evitar pensar em sua mão indiscreta e não sabia como faria para fazer valer aquela afirmação impulsiva.
-Devo interpretar isso como o seu desejo de passar novamente pelo teste? -perguntou ele, com um sorriso provocador.
-Não! -soltou ela, mortificada. Ela tentou esconder as bochechas coradas virando a cabeça, num gesto arrogante. -O que quero dizer é que desafio a eficácia de um teste tão bárbaro.
-Oh, posso assegurá-la que há um meio mais preciso de descobrir a verdade do que por meio de suas palavras -argumentou ele. -O que senti ali certamente não foi desprezo.
Ela ficou irritada e constrangida ao lembrar.
-Se você causasse em mim o impacto que supõe, parece que de alguma forma teria tirado a verdade dos meus lábios.
-Isso é outro desafio? -perguntou ele.
-Eu... bem -gaguejou ela, dessa vez um pouco mais prudente. Mas de repente ela pareceu tomar uma decisão. -Sim!
Ele estendeu-lhe a mão. -Então, você aceita os termos... esta noite de escravidão contra se tornar minha esposa?
-Esses termos não são justos e você sabe disso! -protestou ela.
-Se é justo ou não, eu não sei -respondeu ele. -Mas cabe a mim, o vitorioso em vigor, estabelecer os termos e aí estão eles. É pegar ou largar.
Seu queixo tomou uma expressão obstinada, enquanto a raiva faiscava em seus olhos. Ela preferia morrer a concordar com seus termos ultrajantes.
-Vamos acabar logo com essa noite -explodiu ela.
Ele suspirou, ponderando silenciosamente sobre quanto tempo levaria até que ele conseguisse dobrála para aceitar suas condições. Ele estava em dúvida entre dois ou três minutos. Ele pousou a mão nas pequenas costas e empurrou com carinho.
-De quatro, então, escrava -lembrando-a.
Ela respirou fundo, garantindo a si mesma que podia fazer aquilo. Mas sua primeira tentativa falhou. Seus membros pareciam mais rígidos do que o habitual. Era como se possuíssem vontade própria e se recusassem a ceder sob aquelas circunstâncias. Seu rosto ficou vermelho vivo, quando ela finalmente conseguiu forçar o corpo a se sujeitar e logo ficou prostrada diante do gato arrogante, sobre as mãos e joelhos.
A posição era nova para ela. Ela estava tomada de vergonha e humilhação. Mas havia outra coisa. Ela se sentia agitada e inexplicavelmente sensível. Lá grimas inconvenientes encheram-lhe os olhos. Ela se esforçava para abafar seus soluços para que seu algoz não soubesse a extensão de seu transtorno. Enquanto isso, ele se posicionava atrás dela. Apesar de manter as pernas bem juntas, ela sabia que não poderia ocultá-las da visão dele. As estranhas remexidas internas que isso lhe provocava faziam com que as lágrimas fluíssem mais rápido. Ela estava num estado emocional perigosamente excitado.
A mão do gato acarinhava suas partes expostas de forma possessiva. Ele gargalhou ao senti-la novamente em seu desejo molhado. Ela respirou ofegante, beira do pânico. Preciso recobrar a minha compostura, pensou ela. Mas havia um turbilhão por dentro, e ela mal sabia por onde começar.
Seu capturador espalmava-lhe as nádegas levemente, dizendo:
-Adiante, escrava. -Desajeitadamente, ela se arrastava à frente, odiando-o mais a cada investida. Ele caminhava atrás dela, deleitando-se com a cena, sem de fato gostar de vê-la tão subjugada. Ele a achava magnífica quando assumia uma postura autoritária.
As lágrimas ameaçavam voltar, mas a rata piscava para detê-las, fazendo o melhor possível, decidida a ao menos manter a aparência de uma compostura interior. Mas a cada movimento ela se sentia mais depreciada e logo se entregava ao desespero.
-À esquerda aqui, por gentileza -o gato instruiu, alegremente.
Ela parou abruptamente.
-Mas isso vai dar do lado de fora, em público contestou ela, horrorizada. Por milagre, até então, eles não haviam se deparado com ninguém em suas caminhadas, mas ela sabia que as chances de encontrar outros gatos e ratos seria bem maior, caso deixassem
o abrigo onde estavam. Certamente, esse demônio que estava prestes a ser seu amo pela noite não seria depravado a ponto de forçá-la a acompanhá-lo lá fora!
-Eu sei aonde vai dar -disse ele. -pegar um ar fresco e você deve me acompanhar.
-Mas há muitos gatos lá fora! -Ela não iria... não poderia... ir lá fora, onde todos a veriam nessa posição e a partir dali a julgariam uma escrava. O que faria?
Ele viu a expressão de absoluto desespero em seu rosto, mas não recuaria agora -não depois de ter ido tão longe com ela. Ele estava decidido a fazê-la se submeter a ele inteiramente, e sabia que a única forma de conseguir isso seria uma vitória integral. Ele estava estarrecido pelo fato de ela ter resistido tanto tempo. Mas sabia que ela já não podia mais agüentar. Ela iria preferir qualquer coisa a servi-lo publicamente, de quatro. E ele certamente não tinha a intenção de permitir que outros gatos a vissem numa posição tão humilhante.
Com um ar de impaciência ele gentilmente a cutucou à frente, com a perna.
-Adiante, escrava! -ordenou ele.
Ela não se mexeu. As lágrimas desciam por seu rosto. Ele lutou contra o ímpeto de parar o jogo e tomá-la em seus braços. Mas haveria muito tempo para isso depois, e ele se obrigou a dar-lhe outro cutucão.
-Vamos, empregada. -Mas sua voz começava a perder a autoridade. Ele estava estarrecido pela teimosia dela. Aceite o desafio, ele mentalmente lhe implorava; ainda assim irá perder, mas ao menos irá fazê-lo com um pouquinho mais de dignidade.
-Eu aceito o desafio -ela engasgou entre soluços.
Ele soltou um suspiro.
-Então levante-se -disse ele, fingindo indiferença. -A menos que tenha gostado de ficar aí embaixo.
A ratinha levantou como um foguete. Ela tremia de alívio e foi logo tirando a poeira das mãos e joelhos, tentando recobrar a compostura. Ocorreu-lhe que ela se colocara em toda aquela humilhação sem um bom motivo. E o que importava para ela o fato de a aposta ser muito alta? Ela não iria -não poderia -perder para ele uma segunda vez, pois agora isso exigiria uma confissão de seus lábios, e ela ainda tinha total domínio sobre eles. já que não ocorria o mesmo com outras partes de seu corpo. Não, ele jamais conseguiria fazer com que ela desse uma confissão tão contundente como fizera com seu corpo.
O gato conduziu a rata até seus aposentos, que, obviamente, eram muito superiores ao seu buraquinho na parede. A irritava profundamente o fato de os gatos geralmente possuírem muito mais que os ratos, especialmente porque, na realidade, os ratos trabalham tão duro quanto eles, se não mais. Ela olhou para ele, agitada e incerta.
-Então, tudo que tenho de fazer é permanecer aqui com você, sem... -ela fez uma pausa -... sem...
-Sem confessar seus verdadeiros sentimentos por mim? -sugeriu ele, com um sorrisinho.
-Sem confirmar suas ilusões quanto aos meus sentimentos por você -ela o corrigiu, já mais esperançosa e composta. -E por quanto tempo você planeja me manter aqui?
-Você acha que duas horas seriam suficientes? -perguntou ele, carinhosamente. -De forma alguma levarei duas horas para fazê-la confessar seu desejo por mim, mas, mesmo assim, acho que duas horas podem ser o tempo que eu gostaria de ter para esse passatempo preferido. -Ele caminhou informalmente até a janela para esconder dela sua fisionomia. Ele só poderia derrotá-la se ela mordesse a isca.

-Eu não estou nem aí para suas preferências pessoais -despejou ela, desejando poder fazê-lo perder, ao menos uma vez, sua presunçosa autoconfiança.
- Essa é a sua forma de pedir três horas, em vez duas? -ele provocou.
- Duas horas são mais que suficientes para aturar a sua presença -respondeu ela. -E você será o único dando confissões, quaisquer que sejam.
Ele se parabenizou pela habilidade de engabelá-Ia mais uma vez. Ela realmente seria uma adversária forte, se não fosse tão cabeça quente. Ele eliminou o sorriso dos lábios e voltou-se para ela.
-Outro desafio?
- Bem... -ele pensou por um instante. -Acho que poderia tolerar vocêcomo meu escravo por uma noite. Sim!
-Então, para que nos entendamos -ele rapidamente atacou para matar. -Se você declarar o  seu óbvio desejo por mim primeiro, será minha es
posa? Caso eu declare meu desejo antes, me torna
rei seu escravo?
Ela pensou por um momento.
-Sim, creio que isso resume as coisas.
-Então -disse ele, com um sorriso. -Só para que você saiba, se você tiver uma chance de brigar para ter qualquer tipo de declaração de minha parte, terá de fazê-lo daí. -Ele apontou o dedo na direção de uma cama imensa, no meio do quarto.

A ratinha mordeu o lábio, olhando na direção da cama. Ela estava pensando a mesma coisa. E por que não? Ela não se incomodaria de experimentar prazeres do gato que arrancara o melhor dela até agora.
O gato quase rosnou em voz alta, ao ler seus pensamentos,julgando por sua fisionomia. Talvez ele devesse ter ficado com o que conseguisse dela como escrava.
Mas não, isso jamais o satisfaria. Ele queria sua ratinha para sempre como sua rival e parceira de jogo.
Ele chegou mais perto dela e ergueu-lhe o queixo.Os olhos dele prenderam os dela. Decidida a ganhar o jogo, ela foi aos lábios dele com fervor.
Agora poderia finalmente ceder ao desejo que vinha crescendo dentro dela, ao longo daquele joguinho.Ela o enlaçou com os braços e se apertou junto a ele.Contanto que não falasse, tudo ficaria bem.
Com grande destreza ele a tirou do chão e a levantou nos braços, carregando-a até a cama. Ele queria tirar as roupas e sentir a maciez dela roçando em sua pele, mas precisava da vantagem de permanecer vestido pelo maior tempo possível. Ele também queria que ela ficasse totalmente à vontade, então cuidadosamente diminuiu as luzes. Ele se inclinou sobre ela e removeu com habilidade os trapinhos que ela vestia.Depois recomeçou a beijá-la,enquanto suas mãos acariciavam-lhe vorazmente a pele nua.
Embora as mãos e beijos que ele lhe dava estivessem causando arrepios por todo seu corpo, em algum lugar, no fundo de sua consciência, a rata ouvia um alerta, repetidamente, mas estava longe demais para ser identificado. Ao se empenhar para retomar o autocontrole de sua mente, lentamente lhe ocorreu que ela não deveria permitir, sem reação, que ele a seduzisse dessa forma. Ela é que deveria o estar seduzindo. Afinal, não queria apenas evitar perder a aposta, queria ganhá-la. Ela queria vê-lo de joelhos, rastejando diante dela, do mesmo jeito que ela fizera diante dele. Ela se ergueu e empurrou o peito dele com as mãos, no intuito de fazê-lo deitar de costas na cama. Quando ele cedeu, ela lentamente começou a tirarlhe as roupas. O corpo dele era tão belo em sua masculinidade que ela não podia deixar de pensar se, ao desnudá-lo, ela não estaria prejudicando sua própria causa, mais que a dele.
Respirando fundo, ela lentamente baixou os lábios até o rosto dele. Ele tentou buscar os dela, mas ela recuou, depois repetiu o gesto, até que ele a deixasse em total controle do beijo. Assim que essa pequena batalha foi vencida, ela passou a beijá-lo abaixo, passando por seu queixo e pescoço, até o peito e descendo, até ouvi-lo respirar ofegante. Foi quando ela percebeu que tinha uma clara vantagem sobre ele, e que seu desejo era visível. Ela podia facilmente notar o efeito que estava causando sobre ele. Sua confiança cresceu quando ela baixou os lábios por sobre a protuberância que ele exibia. Ele fez uma tentativa lamentável de detê-la antes que ela fechasse os lábios envolvendo-o, suavemente chupando a ponta. Um gemido baixinho escapou dos lábios dele. Por um instante ela se perguntou se aquilo contava. Aquele gemido, certamente, se traduzido em linguagem, seria uma expressão de seu óbvio desejo por ela. Mas ela sabia que precisava de mais. Bem, havia mais uma forma de depenar um gato! Ela o abocanhou mais voraz, sofrendo com o tamanho que chegava ao fundo de sua garganta. Subitamente ele afastou-lhe a cabeça.
-O que houve? -disse ela, de olhos arregalados com uma inocência pretensa. Mas ao achar que
o ridículo seria uma arma melhor, ela deixou que seus lábios exibissem um sorriso malicioso. -Temeroso? -provocou ela.
-De jeito nenhum -respondeu ele, com ar de civilidade forçado, mas um músculo em seu maxilar pulsava violentamente. -Eu simplesmente quero mais.
Assim, ele arqueou o corpo dela em sua direção e ela aterrissou ao seu lado, de frente para a ponta oposta da cama. Ela sabia o que estava pensando e começou a reclamar, mas ele ergueu uma sobrancelha com o mesmo ar desafiador que lhe lançara. E o que ela poderia fazer?
Dessa vez, ao tomá-lo em sua boca, ela já não estava tão confiante. Suas mãos fortes enlaçaram seus quadris, para que ele pudesse manter seu corpo no lugar, enquanto seus lábios e língua desceram até ela. A língua dele, com a precisão de um compasso, pousou diretamente sobre o seu ponto mágico, marcando o primeiro gol. Ele começou um movimento circular firme e contínuo ao seu redor. Ela se esforçou para se afastar de seu adversário habilidoso, mas ele a manteve firme no lugar com suas mãos, enquanto prosseguia a atormentá-la com a língua.
Ela subitamente percebeu que havia contido seu próprio ataque, enquanto tentava se defender do dele. E se empenhava desesperadamente para reunir seus sentidos e se concentrar naquilo que tinha de ser feito. Ela o apertou com os lábios, lambendo e sugando furiosamente, no intuito de retribuir o imenso prazer que ele lhe estava proporcionando. Ele foi tomado de surpresa por sua investida vigorosa e deteve a língua por um instante, tentando recuperar o controle, mas, somente por um instante. Ambos gemiam e tremiam pelo efeito do prazer de suas mãos.
Mas nenhum dos dois permitia que o outro se satisfizesse, pois isso o enfraqueceria. Em vez disso, eles repetidamente levavam um ao outro à beira do abismo de prazer, depois paravam, na esperança de que o outro fosse rogar pelo fim do tormento. O gato estava tão excitado que a ratinha podia sentir o gosto de seu prazer, que minava em pequenas gotas salgadas, como o excesso que vinha se acumulando dentro dele agora estava prestes a explodir. Também o gato, ao se retrair da pequenina membrana pulsante da ratinha, faria uma pausa para depois mergulhar a língua em sua umidade, deleitado com o efeito que causava nela. Ele sabia que ela estava muito perto. Se ele pudesse se conter por mais um tempinho, gozaria desse prazer com ela, eternamente. Mas ele percebeu que teria de fazer algo depressa, se fosse para ganhar. Ele sentia que estava perdendo o controle. Ao parar subitamente para mudar seu curso de açâo, ele se ergueu sobre ela e afastou suas pernas. Ao penetrá-la num golpe, ela soltou um grito que quase o fez se render ali mesmo, e confessar seu desejo por ela. Ele sabia que era extremamente perigoso tomá-la dessa forma, quando ele próprio estava tão excitado, mas era sua única chance. Ele era fisicamente mais forte que ela, mesmo com sua equivalência sexual. Com isso em mente, ele mordeu o lábio e assumiu a vantagem da disputa, fazendo com que sua excitação aumentasse. Ele colocou a mão no lugar onde antes tivera a língua e esfregou suavemente, enquanto a penetrava implacavelmente.
A rata estava muito perto. Seu rosto estava corado e ela se esforçava para respirar. Cada músculo no corpo do gato se retesava enquanto ele procurava manter o controle, observando atentamente cada um dos gestos dela.
-Vamos, benzinho -persuadia ele.
O momento chegara. Ele viu a vulnerabilidade em seu rosto, quando ela atingia seu ponto mais fraco, e se odiou por fazê-lo, mas bruscamente cessou os movimentos que agora ela mais queria e deixou totalmente o corpo dela.
Ela o encarava em estado de choque. Sua mão foi até o lugar que ardia para ser tocado, mas ele a deteve, segurando firmemente para que ela não a pudesse usar. Ela se inquietou embaixo dele por um instante.
-Por favor! -sussurrou ela.
-Por favor, o quê? -perguntou ele.
Os lábios dele estavam tão próximos aos dela que se tocaram quando ele falou. O prazer era penoso. A raiva estava estampada nos olhos quando ela desviou de seus lábios mornos e novamente se agitou embaixo dele. Ele deslizou novamente para dentro, indo até o fundo dela, permanecendo totalmente imóvel. O suor escorria em suas costas e cada terminação nervosa em seu corpo gritava para que ele cedesse a ela, para acabar com aquele tormento, mas ele mantinha o seu território. Havia lágrimas nos olhos dela.
-Diga-me que você quer -disse ele, numa voz enganosamente suave e gentil. -É tudo que você tem a fazer. -Ela se agitou novamente. Ele não queria perdê-la agora. Com movimentos lentos e suaves ele recomeçou. Sua mão também retomou o carinho.
-Oh, não -ela choramingou.
Apesar da agonia, ele sorriu.
-Oh, sim -ele respondeu.
Como um instrumento musical bem afinado, o corpo dela reagia em sincronia perfeita com cada toque. Ela estava febril em seu empenho e ele estava ficando impaciente. Por que ela tinha de ser tão teimosa? Ele a faria uma esposa muito feliz. Quando sua excitação começou a dominá-lo e levá-lo próximo demais ao limite, ele pensou em perdê-la para sempre, e isso foi suficiente para esfriar seu desejo e deter suas próprias ânsias.
-É isso -ele instruiu amavelmente ao vê-la novamente quase no auge. -Agora me diga que me quer. -Ele saiu quase totalmente dela e parou.
-Não! -ela gritou. Mas ela se referia à parada, ignorando totalmente o que ele queria. -Por favor... oh, por favor, não pare.
Ele não queria medir palavras numa hora dessas, mas não poderia ter disputas sobre a questão depois.
-Diga-me que você me quer -repetiu ele. -Eu... -ela se conteve. Ele saiu completamente dela. -Eu... -repetiu ela.
Ele gemeu ruidosamente, pensando que ela tivesse tanta resistência quanto ele. Ele voltou a penetrála e se manteve imóvel.
-Diga-me, meu bem -suplicou ele. -Eu... te quero -sussurrou ela, as lágrimas rolando pelo rosto.
O gato queria confortar a ratinha, mas isso teria que ficar para mais tarde. Ambos haviam se segurado por tempo demais. Ele a penetrou com fervor repetidamente, pensando apenas em selar a sua vitória com a satisfação final, mas, subitamente, ele se lembrou do prêmio que ganhara e o que isso havia custado para ela.
Com a última porção do autocontrole que ainda lhe restava, ele diminuiu o ritmo das investidas e voltou a se ocupar em satisfazê-la. Afinal, ele não podia acreditar que quase se esquecera dela, para se satisfazer sem satisfazê-la. E que esposa feliz!
O gato juntou suas forças e se conteve, concentrando-se em dar à ratinha aquilo de que ela precisava. E ela logo alcançou o objetivo de tanto empenho. Dessavez ele a levou até o fim, depois, com um grito sonoro se derramou dentro dela, em alívio absoluto.
Eles ficaram abraçados depois, ambos trêmulos com a experiência. Depois de um tempo o gato se ergueu do abraço para observar-lhe o rosto.
Depois de retomar sua compostura, um leve rubor cobriu-lhe o rosto. Mas ela se esforçou para manter uma atitude de indiferença, ao cruzar com o olhar do gato com ousadia e dizer, casualmente:
-Eu tenho de confessar que você me pegou desprevenida dessa vez... O que me diz sobre uma revanche?

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