domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Amante.



Estava tarde, quando Lia chegou em casa. Tirou os sapatos enlameados e os deixou na porta, entrou, jogou a bolsa sobre o sofá e foi direto para a cozinha atrás de um café ou algo que pudesse aquecer seu corpo.
Estava chovendo há dois dias. Ela foi até a varanda, checou seu uniforme e continuava úmido. O tirou do varal e levou para trás da geladeira.
Subiu as escadas devagar, para não acordar ninguém, entrou no banheiro e foi tomar seu banho quente.
Fazia cinco meses, que Lia trabalhava em uma casa noturna como bargirl. Ajudava nas despesas da casa, sua mãe trabalhava a semana inteira fora, só vinha nos finais de semana. Tinha um irmão mais velho, que não era irmão de verdade era um primo que a mãe adotou quando tinha três anos, pensando que nunca teria filhos e uma irmãzinha de doze anos.
Ela tinha acabado de completar dezoito, estava no último ano do colegial, sem muitas expectativas com faculdade, era um sonho que no momento, não seria alcançado.
Quando entrou no quarto, costumeiramente, ela tirou a toalha e foi para o armário buscar uma roupa quente. Sentiu um cheiro enjoativo de álcool, quando se virou para ir até o interruptor, uma mão forte segurou seu pulso.
-Demorou hoje gatinha.
-Junior?-O coração estava batendo tão rápido, que parecia querer explodir.-O que você quer aqui?
-Você.-Ele a puxou pela cintura e tateou o corpo nu, até alcançar o traseiro.-To doido pra te comer.
-Esquece.-Ela o empurrou com o máximo de força que tinha.-Sai fora antes que eu grite.
-Vai cadelinha, grita.-Ele desceu os lábios até o pescoço dela.-Quero você gritando, quando eu estiver encima de você.
-Me solta!!!
-Não!
Lia acordou com o próprio grito, respirando pesado, olhando em volta. Tomou outro susto, quando Alexandre entrou no quarto, como sempre, alto, impotente, pronto para salvá-la do perigo.
-O que foi?-Ele indagou olhando em volta.
-Nada, foi só um sonho.-Ela sentou melhor e respirou fundo, desviou os olhos, não queria sentir atração por ele.-Pode ir, está tudo bem.
-Foi ele de novo?
-Foi.-Ela começou a suar frio, quando ele se aproximou e sentou ao seu lado na cama.-Mas está tudo bem agora.
-Você precisa esquecer isso.-A mão dele foi parar em seu rosto, correu para sua nuca.-Queria te ajudar a esquecer
-Olha só, eu já estou bem.-Ela o empurrou e se levantou.-Ótima, pra falar a verdade. E tenho que tomar um banho e ir trabalhar, se você puder se retirar do meu quarto.
-Esse quarto é meu.
-Por enquanto não.-Ela se levantou e abriu o armário, a procura das roupas.-Com licença Alexandre.
Ele saiu rindo. Mais uma vez, frustrada e com raiva. Por que ele fazia aquilo? Vivia para provocá-la. Era casado, ela não podia se aproximar. Estava passando por muitos problemas, pra se envolver com ele.
À noite em que quase foi estuprada por Junior martelava em sua cabeça. Por sorte, a irmã mais nova era esperta, ouviu os gritos e correu até a casa da madrinha. Estava tarde, mas Alexandre ainda estava lá e foi em seu socorro. Quando ele entrou no quarto, Junior estava quase conseguindo o que queria. E como um anjo salvador, Alexandre o puxou de cima dela e lhe deu a maior surra de sua vida.
Aquela noite Lia passou na delegacia, registrou queixa, fez exames no IML e ao meio dia, chegou à casa de sua madrinha, com uma mala pequena.
Justiça uma droga. Junior nem preso ficou. E por melhor, sua mãe preferiu deixá-la uns tempos com sua madrinha.
O que foi um erro. Porque Lia vinha tentando resistir à paixão que sentia por Alexandre há muito tempo. E ele era casado com uma louca psicopata que até uma faca havia puxado contra ele certa vez que ficou com ciúmes da balconista do supermercado.
Lia saiu do banheiro já vestida, se maquiou, pegou a bolsa e foi pra cozinha. Não queria encarar Alexandre por muito tempo. Cumprimentou Carmem e saiu.
O trabalho na boate era interessante. Conhecia várias pessoas, estava sempre na balada. E para completar sua agonia, Alexandre trabalhava ali também. Afinal, foi ele quem lhe arrumou o serviço.
Ali na boate, trabalhavam algumas meninas que faziam programas. Lia ouvia as histórias delas no vestiário, algumas gostavam, outras faziam pela grana. Ela só ouvia histórias sobre programas, sobre clientes e sobre as ruas. Intimamente havia uma curiosidade sobre essa vida.
-Gatinha, me dá um suco.
-O que faz aqui?-Ela indagou há um risonho Alexandre.-Hoje é sua folga.
-Fui chamado porque vai ter um evento aqui essa noite e vai precisar de uma segurança reforçada.
-Sei.-Ela já começava a fazer o suco favorito dele.-E o que a patroa achou disso?
-Falou até fazer calo na língua.
-E ainda tem espaço?-Ela riu enquanto enchia um copo.-Sinceramente, você é louco.
-Mas deixando isso de lado.-Ele pegou o copo e sorriu.-Você ta gostosa hoje hein. O que fez?
-Sempre fui gostosa, você que é cego.-Ele sorriu, aquele papo ia longe.-Agora me deixa trabalhar porteiro.
-Eu não sou porteiro.
-Ai como é gostoso.-Ela sussurrou quando ele se afastou.-Não vai dar pra resistir por muito tempo.
-Falando sozinha?-Erick apareceu por trás.-Não vai resistir o que?
-A esse serviço. Vou sair fora.-Ele a beijou nos lábios.-O que está fazendo aqui você também?
-Vim te ver.-Ele sentou em um banco alto.-Ficar de olho em você.
-Sei.-Ele a puxou pro colo.-Tenho que limpar essa sujeira.
-Deixa isso pra depois, me dá um beijo.
-Aqui não.
-Aqui sim.-Ele puxou o rosto dela contra o seu e a beijou, ela tentou resistir, mas era seu namorado, não tinha pra que resistir.-Eu to cheio de tesão em você.
-Para com isso.-Ela ficou vermelha.-Alguém pode ouvir.
-Ninguém vai ouvir.-Ele levou a mão dela até seu membro.-Viu só? É pra você. Que tal uma fugidinha?
-Não.-Ela se afastou, queria reorganizar os pensamentos.-Assim eu não quero.
-Ta certo. Primeira vez é primeira vez. Vai ser especial.-Ele a beijou novamente, dessa vez, mais singelo.-Eu vou preparar uma surpresa pra você. Digna de uma rainha.
Ela sorriu e o empurrou pra fora dali. Quando se virou, lá estava Alexandre a observando. O que era aquilo no olhar dele? Repreensão? Ele sempre a olhava assim quando a via com Erick. O namoro começou logo assim que ela entrou na boate. Erick era um playboy. Filho do dono da boate. Alexandre argumentava dizendo que eram de mundos diferentes, mas ela sabia que era puro ciúme. Erick estava pronto para conseguir o que ele queria.
Quando Alexandre descobriu na delegacia, que ela ainda era virgem, ficou louco. Começou a cantá-la a mão aberta. E o que antes eram flertes, passaram a ser diretas e cantadas quentes.
E ela estava enlouquecendo de vontade de se entregar a ele. Erick não a encantava tanto quanto no começo. Ele era bonito, a levava há lugares interessantes, lhe dava presentes, talvez seu interesse fosse comprá-la. Enfim, ela estava dividida e mal sabia ela que aquela noite, iria mudar sua vida.
Há meia noite, um tumulto grande aconteceu na boate. Um lugar bem freqüentado, nunca acontecia nada mais do que uma ou outra briguinha. Mas naquela noite, um empurrão levou a outro e quando se viu, o tumulto estava armado. Os seguranças da casa tentaram separar a briga, enxotaram vários dos brigões, mas a polícia foi acionada e a casa acabou sendo fechada.
Lia estava no escritório quando tudo se acalmou. Já passava de uma da madrugada quando Alexandre se aproximou, com a mochila nas costas.
-Vamos?
-Eu vou com o Erick.
-Ele não está mais aqui. Saiu faz um tempo.-Ele a pegou pela mão.-Vamos embora antes que aconteça mais algum imprevisto.
Ele a levou para o estacionamento. Ela não viu o carro do namorado, respirou fundo antes de entrar no carro de Alexandre. Tinha uma bagunça de brinquedos atrás. Por certo, ele havia levado os filhos em algum lugar aquele dia. Ela jogou a bolsa no banco de trás e suspirou.
-Vamos?
-Está com pressa?-Ele aproximou o rosto ao dela e sorriu.-Bendita confusão, não sabe como esperava por essa oportunidade.
Já era. Foi o que ela pensou, pouco antes de os lábios dele pousarem sobre os seus. Não tinha pra onde fugir, o desejo que sentia por ele era tão grande, que estava disposta a se entregar ali, dentro do carro apertado.
Ele a puxou para seu colo, continuou com o beijo e ela se entregava, louca pelo sexo. Queria arrancar as roupas ali mesmo e queria senti-lo dentro de seu corpo como uma puta.
Ele separou os lábios, os dois respiravam pesado, ele a esfregava contra seu membro e ela estava adorando, senti-lo duro contra seu corpo. Eles se olhavam, a respiração cortada, ela sentia a umidade descendo entre suas pernas, ele ficou louco quando viu os bicos dos seios dela rijos.
-Estou louco por você.-Ele mordiscou os seios dela por cima da blusa.-Quero muito você essa noite.-Ele baixou um pouco o decote dela.-Mas não vou forçá-la a nada.
-Aqui não.-Foi tudo o que ela conseguiu dizer, pouco antes de ele descobrir seus seios e começar a sugá-los.-Ah... Alexandre... aqui não.
Ele sugou seus seios, ela empinou o corpo pra trás, enquanto ele a sugava mais e mais. Estava louco, o pau pulsava dentro das calças e ele queria muito senti-lo dentro dela. Há afastou um pouco, abriu o zíper e o libertou. Ela estava corada, talvez pelo tesão, talvez pela vergonha. Ele levou a mão dela até seu pau e a fez punhetá-lo. Ela tremia, era hora de agir.
Ele ligou o carro, ainda com ela em seu colo, seguiu direto para um hotel. O mais apresentável que encontrou, não iria levá-la há qualquer lugar. Isso ele fazia com vagabundas, com ela, seria o melhor que ele tinha a oferecer. Pediu uma suíte presidencial, para passarem a noite.
Ele estava há um passo de conseguir o que queria, estava ansioso, excitado. Com medo de perder o controle. Não queria machucá-la, mas estava se sentindo um animal. Ela correu tanto dele.
Entraram no quarto calados. Ela respirava pesado ainda, mas estava de cabeça baixa. Ele fechou a porta atrás de si e a abraçou por trás, beijando de leve seu pescoço. Ainda a sentia trêmula, ela ainda estava insegura.
O frigobar estava bem abastecido. Pegou uma garrafa de champanhe, cortesia do lugar, sempre havia uma em suítes presidenciais. Só se afastou dela, para levar o balde e as taças até a mesa ao lado da cama espaçosa. E nada de cama redonda, era uma grande, quadrada, king size.
Lia ficava se imaginando, quanto custaria tudo aquilo. Era um lugar bonito, perfeito para a primeira vez, com o homem perfeito.
Ele serviu uma taça a ela, brindaram. Ela tomou um gole, tentando se acalmar, acabou virando a taça inteira na garganta.
Alexandre riu. Estava gostando de vê-la nervosa. Sua excitação só aumentava. Mas queria ir devagar.
Tomou a taça da mão dela e a puxou pela cintura. A beijou. O primeiro beijo foi lento, separou o rosto, só pra arrancar a blusa dela e voltou a atacar seus lábios. Dessa vez com mais vontade, ela o ajudou a tirar a camisa, o abraçou. Sentiu seus seios tocando os músculos do peito dele e adorou a experiência, a intimidade.
Devagar eles se encaminharam para o banheiro, os pés tropeçando um no outro. As roupas sendo abertas, ele a levou até a hidro, a pôs para encher, ela cruzou os braços sobre os seios. Voltaram aos braços um do outro, ele não conseguia parar de beijá-la.  Era loucura, era gostoso. Ele estava a pouco de ter o que mais desejava. Tinha medo de machucar, de não ser como ela sonhou. Mas queria tanto, que quase não conseguia se controlar.
A colocou sentada sobre a pia, arrancou suas calças e puxou a calcinha, rasgou a peça de cima a baixo. Finalmente, ele a tinha nua. A respiração ofegante, os olhos semi-abertos. A apertou junto ao seu corpo, os bocas se cobriram, as línguas se tocaram, a sensação era indescritível. Aquele corpo, tão curvilíneo, delicioso, tão diferente do que tinha em casa.
Lia tremeu quando sentiu o corpo dele, quente e rijo, contra o seu. Seu coração batia descompassado. Não era possível raciocinar. O beijo, as carícias, tudo estava se encaminhando perfeitamente. E ele descia os beijos pelo corpo dela, pelos seios, pela barriga, até que ajoelhou em frente a ela, a puxou mais para a beirada da pia. Lia corou de vergonha, quando ele abriu suas pernas e colocou seus pés em seus ombros. Ele teve total acesso ao que queria. E sorria com uma cara safada, quando olhava para ela, depositando beijos nas cochas, chegando próximo a entrada. Ela estremeceu, quando o sopro quente tocou sua pele. Estava excitada, não tinha mais forças, não resistiria nunca àquelas sensações.
Alexandre sentiu a boca salivar, quando esteve diante do paraíso. Abriu bem as dobras, queria enxergá-la por completo. Sentiu o cheiro, aquele cheiro doce de mulher, viu o quanto estava molhado, chegava a escorrer pelo canal. E quando ele finalmente encostou a língua ali, chegou ao paraíso.
Nunca pensou que sentiria aquilo ao chupar uma mulher. Ele estava a ponto de enlouquecer. Seu pau latejava dolorido dentro da calça apertada. Enquanto ele abria mais as dobrinhas e ia estimulando o clitóris. Queria fazê-la gozar, queria senti-la gozando em sua boca. Ela gemeu alto e ele gemeu junto, quando percebeu o ponto inchado. A cada estímulo dele, ela gemia e se contorcia. Era a melodia mais bela, a voz dela gemendo e sussurrando, gritando. Ela se contorcia mais e mais, quando finalmente se libertou, ele penetrou um dedo no canal, ela gemia ainda, ele continuava a chupá-la e ela gemia e ofegava, estava cansada. Ele forçou, sentiu apertado em volta de seu dedo, sabia que quando a penetrasse, iria machucar, mas queria tanto aquele prazer, desejava tanto tê-la.
A hidro já estava cheia, ele se levantou sentindo todo o corpo tenso. A abraçou, ficaram um tempo ali, abraçados, enquanto ela ofegava e ele respirava fundo. Ele a viu pelo espelho, abraçada a seu corpo, nua, sentiu-se orgulhoso. Vaidoso até. Mas a noite apenas estava começando e ele queria aproveitá-la bem, antes de irem.
Ele se afastou, arrancou o resto das roupas, ela virou o rosto vermelho, ele achava graça, afinal, era uma menina. Ele a levou para a banheira no colo, sentaram dentro da água morna, ele a sentou em seu colo, de frente para seu corpo, havia sabonete líquido, com um aroma gostoso, ele despejou um bocado na pele branca dela e começou a ensaboá-la, do pescoço para baixo.
Quando as mãos dele se aproximaram do clitóris inchado, ela gritou. Um grito abafado, segurou a borda da banheira, ela rebolava sobre o colo dele. Agora não conseguia mais se  controlar, era intenso, os dedos dele pressionavam e massageavam sua pele, ela nunca sentiu tamanho prazer na vida. Ficava imaginando, se era daquela forma com as mãos, imagina com o pau. Devia ser o paraíso. Ele intensificou o toque, ela não conseguia mais segurar, gritava louca para ser liberta do êxtase.
-Para, eu não agüento mais.-Ela falou em certo momento, de agonia em que estava a ponto de explodir.-Alêêêêê...
-Goza na minha mão gostosa.-Ele sussurrou em seu ouvido, seu pau pulsava contra o traseiro dela, ele queria penetrá-la naquele momento, mas ali, não era o lugar apropriado.-Goza pra mim vai.
Ela se contorcia, gemia, tentava tirar a mão dele, não sabia lidar com aquele mundo de sentimentos e sensações. Foi quando viu estrelas, gritou o mais alto que conseguiu e caiu exausta contra o peito dele. Era uma sensação indescritível.
Ele a abraçou apertado, esfregando o membro contra a vagina encharcada. Mas não dava mais para segurar. A tirou de dentro da banheira, não se preocupou com toalhas, saiu deixando marcas no piso, até deitá-la  sobre a cama e deitar por cima. Ela ainda gemia baixinho, ofegava, estava cansada, com os olhos fechados.
Ele aproveitou-se desse momento, não podia mais esperar, posicionou o membro na entrada e a penetrou o mais delicado que o tesão permitiu. Mesmo assim, continuava sendo muito grande para ela, o que antes eram gemidos de prazer, viraram gritos de dor.
-Para Alê, ta machucando.-Ela tentou empurrá-lo, mas ele segurou suas mãos acima da cabeça.-Sai, ta doendo.
-Calma.-Ele estava quase lá, sabia que ela iria sentir uma dor pior do que a que estava sentindo, mas não podia mais parar.-Conta até três.
Ela contou, no número dois ele a penetrou fundo e ela gritou, virou o rosto, chorou, mas suas mãos estavam seguras pelas mãos dele, seu corpo estava tenso, ela não conseguiu reagir. Ficou imaginando se tivesse acontecido com Junior, teria sentido dor pior do que aquela.  Ele parou sobre seu corpo, estava trêmulo, aos poucos começou a penetrá-la devagar, ela não sentia mais aquela dor toda, sentia arder, mas não doía como antes. Ele estimulou seu clitóris com os dedos, estava suando mais do que o normal, fazia um esforço sobre-humano para não gozar, mas foi em vão, quando ela rebolou pra se ajeitar embaixo dele, ele perdeu o controle. A puxou para si e gozou arremetendo várias vezes. Ela gritava e gemia, dessa vez de prazer, não de dor. Até não suportar mais, ele arremeteu fundo e por fim, exausto, largou o corpo dela e caiu ao seu lado na cama.
Ela estava sem reação, ele a aconchegou junto ao corpo, por trás. Ela suspirou e fechou os olhos. Adormeceu.
Durante a madrugada, Alexandre acordou quando ouviu o toque do celular. Soltou-se do corpo dela e saiu para atendê-lo.
Não demorou muito, Lia acordou. Levou um tempo para se dar conta de que estava sozinha. Olhou em volta, se enrolou no lençol e foi até o banheiro:
-Alê?-Ela se assustou quando viu que ele não estava por ali.-Alexandre, cadê você?
O desespero tomou conta dela. Será que ele havia ido embora e a deixado ali sozinha? Com que cara sairia daquele lugar a pé e sozinha? Procurou desesperada o celular no bolso da calça, mas não o encontrou, quando estava prestes a se derramar em lágrimas, o viu entrando no quarto, sem camisa e com o celular na mão.
-Te acordei?-Ele perguntou preocupado.
-Onde estava?
-Fui atender uma chamada. Saí para não te acordar, estava aqui na frente.-Ele viu que ela estava um tanto transtornada e riu.-Você não achou que eu havia te deixado aqui sozinha, achou?
-Claro!-Ela sentou na cama suspirando.-Você não passa de um canalha.
-Hei guria, por que isso agora?
-Isso que eu fiz foi errado.-Ela cruzou os braços sobre o peito, sem conseguir fitá-lo.
-Você não fez sozinha.-Ele sentou na cama ao lado dela.-Estive com você, foi bom e não deve se chatear por isso.
-E quem disse que foi bom?-Ela levantou a cabeça, mas ainda não conseguia olhá-lo nos olhos.-Doeu pra cacete.
-Ha!-Ele riu alto.-Liga não princesa, agora não vai doer mais.
-O que você vai fazer?
Ele a beijou tombando os dois corpos na cama. Lia tentou resistir, mas o beijo dele era tão gostoso, fazia tão bem. Quando menos esperava, ele já estava arrancando o robe que ela havia vestido e contornava sua pele com beijos molhados. Lambeu os mamilos, ela se empinou para senti-lo mais. Ele a fez gemer, enquanto sugava e chupava os mamilos dela.
Lia estremeceu quando a mão dele pousou entre suas pernas. Estava inchada ainda, mas estava molhada. Alexandre montou sobre seu corpo, tomou seus lábios e mais uma vez a penetrou.
Ela ainda sentia dolorido, mas estava com um tesão indescritível. Arrepiou-se inteira, quando ele terminou de penetrá-la. Tentava a todo custo, senti-lo mais fundo, mexia o quadril em volta dele, puxava mais pra si. Ele rolou pra cama e a pôs por cima, a ajudava a rebolar, a conduzindo com as mãos.
Lia estava fascinada, olhá-lo naquela posição, estando completamente por cima. Aonde foi parar todo aquele pudor? Afinal, ela não era a garota que até aquela noite era virgem? Por que estava tão solta?
Porque era “ele”. Alexandre era o homem que a fazia tremer e suar frio. Ela rebolava pensando nas noites mal dormidas, nas cantadas, nas investidas, em todo aquele desejo que sentia por ele. Enfim, não era a toa que estava tão solta em ser possuída. Ele era seu aquela noite.
Alexandre estava adorando admirar aquele corpo, enquanto ela o montava. Era linda, sensual. O tipo de mulher por quem se perde a cabeça.
Ela deitou o corpo e o beijou, enquanto rebolava devagar. Alexandre a segurou pela cintura e começou a arremeter de cima pra baixo com força e pressão. Ela começou a gemer alto. Estava adorando a sensação. Sentiu o pau dele estocando com força e gritou. O tesão era tão forte, que gozou mais uma vez. Estava com a garganta ardendo, ressecada, era difícil até gemer, mas o prazer era tão intenso, que não sentia desconforto ou dor.
Ele a deitou na cama, a pôs de bruços e voltou a entrar no corpo dela. E quanto mais ela gemia, mais ele metia, até que não agüentou. Aquele traseiro empinadinho, aquela voz rouca gemendo de tesão por ele. Ele gozou, enquanto urrava de prazer. Sentiu o pau quente pulsar dentro dela, um comichão na coluna. Pouco depois, caiu ao seu lado, exausto.
Em sua cabeça, Alexandre estava velho. Mesmo tendo trinta e três anos, para ele, era velho pra ela.
Lia deitou a cabeça sobre o peito dele. Estava ofegante, louca por um banho. Mas queria senti-lo inteiro em seu corpo. Começou a beijá-lo sobre o peito. Ele acariciava seus cabelos, quando ela passou a língua em volta de seu mamilo, ele segurou com força, a afastando.
-Para com isso.-Ele lambeu os lábios dela.-Ou você não vai sair daqui essa semana.
Ela sorriu.
Fechou os olhos mais uma vez. Mesmo estando com ele ali, relembrava das primeiras carícias, dos primeiros beijos. Fechou com força as pernas, porque estava com um tesão fora do comum.
Ele a deitou na cama, deitou por cima e voltou a beijá-la. Esfregavam os corpos, enquanto os lábios passeavam pela pele.
Era tanto desejo, que aquela noite foi curta. E às sete horas da manhã, quando Alexandre parou o carro na frente da casa da mãe, ele suspirou antes de se voltar pra ela.
-Queria não ter que te deixar aqui.
-E queria me deixar aonde?
-Na minha cama.
-Só que na sua cama, já tem uma mulher.-Pegou a bolsa e abriu a porta do carro.-Até mais.
Lia abriu a porta do quarto, fechou, tirou os sapatos e caiu exausta na cama. Alexandre era o dono dos seus pensamentos, do coração e agora... do corpo.
O que diria seu namorado se soubesse disso?
E a família de Alexandre?
Estava entrando numa fria, mas estava tão apaixonada por ele.

Alexandre estacionou na frente de casa, entrou devagar, suspirou ao ver que as crianças já haviam ido para a escola. Subiu as escadas, foi até o banheiro, tomou uma ducha rápida e deitou.
Mesmo sem roupas, ele estava excitado, começou a acariciar o pau. Fechou os olhos, estava tão cansado. Parecia que sentia lábios em volta de seu membro. Gemeu e sussurrou.
-Lia...
Sua mulher levantou a cabeça na hora. Ouviu mesmo aquele nome saindo dos lábios dele? Aquele maldito filho da puta, estava mesmo chamando aquela piranha, enquanto ela o chupava?
Chegou mais próximo aos lábios dele.
-Estou aqui, meu amor.-Sussurrou baixinho.
Ele não respondeu mais. Mas aquilo foi o suficiente. Saiu da cama soltando faíscas pelos olhos. Iria acabar com a raça daquela desgraçada. Quem ela pensava que era? Alexandre era seu marido. E se era falta de pau que ela tinha, resolveria seu problema.

Alexandre não agüentava a ansiedade. Durante à tarde, foi até a casa da mãe. Lia estava lavando roupas, quando ele a encontrou.
-Estava te procurando.-Ele fechou a porta da lavanderia e a encostou na máquina.-Senti falta dessa boca gostosa o dia inteiro.
-Alexandre, sua mãe está em casa.
-Tem problema não, se ela aparecer, eu paro.
-Mas os vizinhos.
Ele calou a boca dela com um beijo e meteu a mão dentro do short de elástico que ela usava.
-Te quero.
-Não.-Ela tentou se afastar.
-Aqui e agora.
-Alexandre.-Ele a virou contra a máquina, baixou o short dela e começou a acariciá-la.-Alguém pode chegar, para.
-Não paro.
O pau já estava pra fora, roçando duro no traseiro empinado, ela estava molhada, ele penetrou devagar, sentindo o calor o acolhendo e apertando. Era gostosa muito gostosa. E ele estava louco. Sabia do risco de fazer aquilo ali, daquele jeito. Mas não parava de pensar nela.
Ela já estava entregue, gemia baixinho, ele apertava seus peitos com força, enquanto a puxava pra si e arremetia com força. A máquina começou a bater e balançava, fazia um barulho ensurdecedor. Lia aproveitou para gemer mais alto, enquanto Alexandre a segurava pela cintura e metia com mais força.

Por outro lado, quem se aproximava pelos fundos da casa, foi André, irmão de Alexandre. Parou quando viu o que estava acontecendo. Ficou com inveja do irmão, pra variar. Ele sempre conseguia as garotas mais gostosas.
Ele estava de olho na garota há um tempo. Vinha sempre pra casa na hora do almoço, porque ela estava sempre sozinha. E pelas advertências de sua mãe, que logo percebeu o interesse, a garota era virgem.
Das duas uma, ou o idiota conseguiu o cabaço da guria, ou aquele papo era pura mentira. Uma virgem, não daria pra um cara casado, na lavanderia da casa dele, correndo o risco de ser pega pela mãe deles.
Ele se afastou, percebeu que a coisa ficou mais intensa. Estava com um tesão filho da puta. Voltou pelos fundos e entrou pela porta da frente. Quando sua mãe visse o estrago que fez no carpete com os sapatos sujos, iria matá-lo.
Lembrou que esse havia sido o motivo por ter entrado pelos fundos. Acabara de chegar do futebol, estava imundo.
Foi direto para o banheiro. Aquilo iria lhe render algo.

Lia estava com as pernas bambas, escorou na máquina respirando pesado, pensando na loucura que fez, enquanto Alexandre concertava suas roupas.
-Você não pode mais fazer isso.
-Isso estava me matando de vontade.-Ele a beijou e a abraçou pela cintura.-Você não sente o mesmo?
-Não podemos abusar. Tudo que fizemos, foi errado.-Ela deitou a cabeça no peito dele, aproveitou alguns instantes e se afastou.-Eu vou entrar.
Ela passou pela porta, com ele a seguindo. Encontraram André na cozinha, tomando esporro da mãe.
-Quantas vezes eu falei pra não entrar com os pés sujos?
-Foi mau mamãe.-Ele se voltou pros dois.-Eu não queria atrapalhar, uma certa... discussão.
-Quem estava discutindo?-Lia ficou pálida. Ela olhou para Alexandre.-O que vocês têm?
-Eu nada.-Alexandre falou enquanto abria a geladeira.-Essa teimosa que não me ouve.
-Qual é o problema Lia?
-Nenhum.-Ela baixou a cabeça.-Com licença.
Saiu dali como se o diabo estivesse em seu calcanhar. Nunca mais teria coragem de olhar na cara de André. Ele havia visto. A vergonha era tão grande, que queria morrer.

Alexandre subiu até o quarto do irmão, sabia que teria que negociar. Com ele, sempre foi assim. Só esperava que ele não quisesse o que estava pensando.
-Andre?-Ele bateu na porta do quarto e abriu.-Posso falar com você?
-Entra aí irmão.-Ele observou Alexandre entrar e fechar a porta.-Qual é o problema?
-O que você viu?
-Uma coisa pra lá de interessante.-Ele voltou a procurar as roupas pra sair.-Desde quando ta comendo a “santinha”?
-Não é da sua conta.
-Opa, ficou brabo é?-Ele riu, estava com ele nas mãos.-Fica na sua, no teu lugar, eu só ouvia.
-O que você quer dessa vez?
-A garota.-Ele falou sem rodeios.-Também quero... provar.
-Isso não, você pode pegar o que quiser, mas ela é minha.
-E tua mulher, fica aonde nessa história?
-Em casa, no lugar dela.
-Ela vai adorar saber.
-Então vai em frente e conta,
-Ela deve ser boa mesmo. Ta abrindo mão de um casamento de dez anos e dois filhos, por umas trepadas.
-E você está pensando em prejudicar a todo mundo, por uma estupidez.
-To de olho nessa guria faz tempo. Mas você sempre chega na frente.
-Tenho culpa se você é devagar?
-Então escolhe. A garota ou sua família.-Alexandre ponderou.-Vamos lá cara. É só uma saída. De repente, se ela topar, você até pode participar.
Alexandre nunca foi muito controlado, quando menos esperava, deu um murro em André. Só percebeu o que fez, quando ele estava devolvendo.
Os dois embalaram na porrada no chão do quarto. Sem palavrões nem ofensas, apenas socos e ponta-pés.
Em um dado momento, Alexandre conseguiu imobilizar André, torceu o braço dele pra trás e apoiou um joelho nas costas dele.
-Escuta só uma coisa.-Ele falou bem perto do ouvido ele.-Se chegar perto da Lia, vai se arrepender. Entendeu?
Ele largou o irmão e saiu do quarto furioso. Desceu as escadas em direção ao quarto de Lia. Entrou sem bater, a encontrou abraçada ao travesseiro, com os olhos inchados.
-O que aconteceu com você?
-Por que está chorando?
-Nada.-Ela secou os olhos e ajoelhou na cama.-Sua boca está sangrando.
-Pela dor, eu imaginei.-Ele levou a mão ao machucado e suspirou.-Mas esquece isso. Você tem um celular, não tem?
-Tenho.-Ela deu de ombros.-Por quê?
-Tem o meu número?
-Não.-Ele deu o aparelho na mão dela.-Pra que isso?
-Anota seu número aí.
-Pra que?
-Eu quero que você anote meu número. E se precisar de qualquer coisa, a hora que for, me liga.
-Mas pra que isso?
-Escuta.-Ele sentou na cama, bem perto dela.-Toma cuidado com o André.
-Mas... por que?
-Só quero que saiba, que ele não é flor que se cheira.-Ele segurou o queixo dela.-Ele viu, pode mexer com você, te chantagear. Se ele ousar se aproximar, quero que me ligue na hora. E não tenha medo dele.
-Eu acho que é melhor eu sair dessa casa.
-Esquece isso.-Ele a abraçou, pousou o queixo no ombro dela.-Você está protegida aqui, não se preocupe.
-Mas sua mãe. Eu não vou conseguir encará-la. E quando sua mulher vier aqui então...
-Hei, você não estará em segurança com o Junior fora da cadeia. Ele pode voltar a te procurar.-Ele se afastou e a fitou nos olhos.-Fica tranqüila, estou aqui pra te proteger.
Ela o abraçou. Sentiu-se protegida quando ele a segurou contra si. Ele transmitia segurança, força. Ela suspirou e aproveitou por uns instantes, aquele aconchego gostoso.

André saiu soltando faíscas, entrou no carro e cantou pneu saindo da garagem. Aquele idiota não sabia o que o aguardava.
Pegou Roberta na frente de casa. Ela entrou no carro com uma cara péssima.
-O que você tem?
-Nada que interesse a você.-Ela se voltou pra ele.-O que foi isso no seu rosto?
-Você vai descobrir em breve.-Ele saiu dali.-Mesmo lugar?
-É.-Ela respirou fundo.-Preciso da sua ajuda.
-O que você quer?
-Quero me vingar de alguém.-Ela tentou relaxar.-E você vai me ajudar.
Eles entraram no motel mais conhecido da cidade. André gostava de ir ali, por pura ironia. Pediu um quarto, deixou os vidros abertos, pra que todos vissem com quem estava e seguiu em frente.
Entrou no quarto já enroscado com Roberta. Abraços e beijos violentos. Desde a primeira vez foi assim, afoito.
Eles arrancaram as roupas no caminho pra cama, André a puxou pro colo e caíram na cama, já encaixados. As línguas se esfregavam, enquanto os corpos se moviam um contra o outro. Investidas bruscas, ele chupava os peitos dela, enquanto arremetia fundo.
-Grita pra mim cadela.-Ele falava.-Pede pra gozar.
-Me deixa gozar André.
-Não, me chama do jeito que só você sabe.-Ele deu um tapa na cara dela.
-Me faz gozar... cunhadinho.
Ele a segurou pela cintura e arremeteu com força, até gozar dentro dela. Ela gritava desesperada, enquanto enterrava as unhas no lençol da cama.
Caíram os dois exaustos na cama. André se aconchegou ao lado dela e a ficou observando pelo espelho do teto.
-De quem quer se vingar?
-Da Lia.-Ela falou irritada.-Ela e o seu irmão, estão tendo um caso.
-Sei disso.
-O que?-Ela se indignou.-Sabe e não me falou nada?
-Acabei de descobrir.-Ele riu.-Na verdade eu vi.
-Essa vadia vai se arrepender, por ter entrado no meu caminho.
-Por quê? Tantas outras entraram e você nunca se importou.
-Ele nunca chamou pelas outras enquanto dormia.-Ela falou pensativa.-Você vai dar um trato na garota. Ela nunca mais vai querer saber de homens.
-O que quer que eu faça?

Estavam na sala, Alexandre Lia e a mãe dele, quando o telefone tocou. A senhora foi atender, enquanto os dois continuavam assistindo o noticiário. Não demorou, ela estava se retirando.
-Você está muito calada hoje.-Ele provocou.-Normalmente, fala pelos cotovelos.
-Para de me provocar Alexandre.-Ela se levantou.-Vou tomar um banho, daqui a pouco tenho que ir pra boate.
-Ainda tem tempo.-Ele olhou no relógio.-Está cedo, fica aqui comigo.
-Prefiro evitar.-Ela se trancou no quarto, respirando aliviada.-Preciso sair dessa casa.

Alexandre entrou no quarto de Lia e trancou a porta. Ela estava no banheiro, ele foi até lá, ficou observando da porta, o corpo dela pelo vidro fosco.
Ela era linda. Gostosa, tinha a pele macia e cheirosa. Os cabelos castanhos cumpridos, estavam sempre presos. Ali no banho, caíam pelas costas dela, enquanto a água os lavava.
-Posso entrar aí com você?
-Alexandre! O que está fazendo aqui? Sua mãe pode entrar.
-Minha mãe saiu.-Ele entrou e encostou a porta.-Posso ou não?
-Isso não é certo.
-Um dia, vai ser.-Ele começou a se despir e entrou embaixo do chuveiro com ela.-Já falei que não consigo ficar longe desse seu corpo?
-Vou sair dessa casa.-Ela deu as costas a ele, enquanto enxaguava os cabelos.-Isso que fizemos foi loucura. E pelo visto, não paramos de fazer.
-Você não vai sair daqui.-Ele a abraçou por trás.-Se quiser, paro de te perturbar aqui dentro, mas é perigoso você ficar sozinha.
Ela encostou no peito dele, a água morna caía sobre seus corpos. Sentiu um arrepio quando ele começou a tocar seu corpo. Procurou pelo sabonete e começou a esfregar no corpo dele, os lábios se tocaram, as mãos dele desciam pela cintura dela, a traziam pra mais perto de si.
Dessa vez, ficaram só no banho. Não que não tivessem acontecido alguns beijos e carícias, mas o sexo dessa vez, ficou em segundo plano.
Saindo do banheiro, os dois se jogaram na cama e se aninharam embaixo dos lençóis. Ainda tinham tempo pra descansar, antes de ir trabalhar. Adormeceram abraçados, relaxando finalmente.

Já fazia algum tempo desde a primeira vez em que Lia e Alexandre ficaram juntos. E, vendo que não haveria jeito de continuar com o outro, terminou com Erick. O play boy não ficou nada satisfeito. Mas, deixou passar por enquanto. No futuro tentaria de novo. Não se importava em ser o segundo, desde que tivesse Lia em sua lista de conquistas bem sucedidas.
Lia conseguiu um emprego em um restaurante como recepcionista. Largou a boate e ficaram mais escassos os dias que via Alexandre. Ah não ser nas folgas, em que ele passava na casa da mãe e acabava dando um jeito de invadir seu quarto e seduzi-la.
Ele era sempre tão carinhoso. Atencioso. Nunca saía do quarto sem fazê-la gozar ao menos uma vez.

Roberta deu o sinal verde para André. Enquanto colocava a mesa para o jantar mais caprichado que preparara em anos, ouviu a campainha tocar. Deixou o marido atender, afinal, não queria se meter naquele momento.
-Mano, me empresta seu carro?
-O que aconteceu com o seu?-Alexandre cruzou os braços.
-Bateu o motor, to num prejuízo desgraçado.-Ele viu Roberta mexendo no celular do marido e prendeu a atenção dele.-Não sabia que tava com a correia arrebentando. Acabou ferrando com tudo.
-Cara, você tem que cuidar melhor das suas coisas. Já é o segundo carro esse ano.
-Pode ficar tranqüilo, com o seu eu vou cuidar direitinho. É que tenho um encontro, não quero fazer feio com a mina e chegar a pé. Vai que ela topa um motel mais tarde. A pé não rola.
-Ta certo.-Ele riu.-Pelo menos não me pediu dinheiro dessa vez.
-Já que você falou...
-Esquece.-Alexandre se virou e viu Roberta dando as costas a eles e seguindo para a cozinha.-Vou pegar as chaves. Mas quero ele inteiro amanhã.
-Pode deixar irmãozinho. Valeu pela força.

Lia viu a mensagem no celular e sorriu. Foi para o vestiário trocar de roupas, se lavar e fazer uma maquiagem caprichada. Alexandre a estaria esperando no lado de fora do restaurante no carro. Como já estavam para fechar e seu turno terminara, ainda teve tempo de se fitar no espelho e avaliar sua produçãozinha, estilo “Happy Hour”.
Guardou a maquiagem na bolsa e chupou uma bala de hortelã. Estava com o coração disparado de novo. Marcou sua saída, cumprimentou seus colegas e saiu. A rua estava deserta, haviam poucos carros no estacionamento, mas ele estava lá. Esperando dentro do carro.
Ela entrou no lado do carona e quando se voltou para ele, viu André. Fechou o sorriso na hora.
-O que está fazendo aqui?
-Estou cobrando um favor.-Ele trancou as portas do carro e saiu do estacionamento.
-Que tipo de favor?
-Alexandre tava me devendo uns favores, agora, depois daquela cena que vi, ficou mais apertado ainda pro lado dele. Então, nada mais justo, que compartilhar a presa comigo.
-De que está falando?
-Fica tranqüila, vai ser só uma rapidinha e você será toda dele de novo. Ele esta te esperando em casa.
-Como é? Para esse carro agora, eu quero descer.
-Ah esquece garota.-Ele ficou sério e mostrou uma arma a ela.-Se não quiser se complicar, acho bom ficar quietinha.
Lia gelou. Tinha pavor de armas. Só em ver o brilho daquela ali presa na cintura dele, foi o suficiente para não conseguir mais se mexer.
Sua mente não funcionava, não era possível que Alexandre estivesse de acordo com aquilo.
-Alexandre não concordaria com isso. Ele me avisou sobre você. Disse que você não valia nada.
-Não recebeu a mensagem?-Ele falou sério.-Mas pode ficar tranqüila, ele ta te esperando na casa da mamãe.
-Me deixa sair daqui.
-Não sem antes ter o que eu quero.-Ele parou em uma rua deserta e mal iluminada e desligou o motor.-Hum... adoro quando você respira assim. Parece que está sempre excitada.
-Cala a boca.
-Cala a boca você e vem aqui logo.-Ele a puxou pelos cabelos e forçou um beijo, levou uma mordida brusca, que lhe arrancou sangue.-Sua piranha, o que pensa... agora você vai se arrepender.
Lia tentou abrir as travas do carro, mas André era maior, difícil passar por ele, as mãos dele já estavam contra seu corpo, arrancando suas roupas, rasgou a blusa branca de cima a baixo, deixando o sutiã de renda a mostra. Lia se debatia, tentava gritar, mas a mão dele já estava sobre sua boca. De alguma forma, ele conseguira se colocar sobre seu corpo e arrancar suas calças. Lia soltou uma mão e lhe deu um soco no rosto, ele puxou o braço dela para baixo, a dor que ela sentiu quando ouviu o barulho de osso deslocado foi tão aguda, que a deixou quieta um instante, para que ele pudesse terminar de tirar suas calças.
Ainda tentando se soltar, Lia tentou abrir a trava do carro com o pé, André percebeu e a virou de bruços, colocando-se por cima dela, já libertando o pau e buscando penetrá-la naquela posição.
Lia gritava e se debatia, ele tampava sua boca e não se preocupava em segura-la, sabia que ela não conseguiria muita coisa naquela posição. Lubrificando o pau com saliva, ele a penetrou. A posição estava desconfortável, dentro daquele carro apertado. Abriu a porta e a tirou de dentro, a colocou de bruços sobre o capô e voltou a penetrá-la. Lia já não se debatia mais.  Apenas chorava. Achava impossível Alexandre estar em comum acordo com aquilo. Era crueldade de mais.
-Hum, do jeito que ele falou que era. Quente e apertada. Molha fácil.-Ele falou no ouvido dela.-Achou que Alexandre ia ficar com você pra sempre garota? Se quiser, te aponto umas cinco que também acharam. Só na rua de casa. Ele e eu temos um esquema. Sempre dividimos as mulheres.
-Mentira.
-Continua achando sua burra.-Ele segurou o quadril dela e lhe deu um tapa no traseiro enquanto arremetia mais rápido.-Vamos marcar qualquer dia um programinha a três, o que acha?
Lia tentou empurrá-lo, mas ele bateu sua cabeça contra o capô do carro, a deixando zonza. Terminou o serviço sem que ela sentisse, e a jogou no chão. Como viu que ela não reagia, jogou as roupas dela e a bolsa e saiu dali, deixando-a desacordada.
Lia reagiu segundos depois, sentia dor por todo o corpo, em especial no braço direito. Quando viu que estava caída no chão sem roupas, se desesperou ainda mais. Tentou se vestir com a mão que ainda estava boa e pegou o celular na bolsa.
Discou os números de Alexandre.

O celular dele tocou. Roberta o olhou impaciente.
-Não atende.
-Pode ser trabalho.
-E se não for? Por favor, estávamos conversando.
-Eu só vou ver o que querem. Não saio daqui.-Ele abriu o flip, viu o número dela e suspirou antes de desligar.-É um amigo, não importa.
-Hum.-Ela sorriu. Se ele soubesse o que estava se passando com esse “amigo”, não ficaria naquela calma toda.

Lia conseguiu chegar há um hospital andando. Foi atendida na emergência, mas pouco antes de chegar ali, já havia recebido uma ligação ameaçadora de André, dizendo que se ela o denunciasse, a família de Alexandre descobriria sobre o caso deles. Então, disse que foi assaltada, tentaram violentá-la, mas conseguiu fugir.
Recebeu pontos na testa e gesso no braço. Tinha escoriações e hematomas por todo o corpo, mas a dor já havia sido sanada com antibióticos. Só restara a dor do coração, quando descobriu que realmente, Alexandre estava de acordo com aquilo, quando não a atendeu.
O celular tocou instantes depois, estava em um quarto, com mais três pacientes por perto. Quando viu o número dele, teve que ser muito forte.
-O que você quer?
-Eu não pude atender antes. Você está bem?
-Você ainda pergunta? Eu nunca mais quero ver você na minha vida. Se me procurar, eu te mato.
-Lia, o que aconteceu com você?
-Não seja hipócrita. Se você queria acabar com tudo, não precisava descer há um nível tão baixo.
-Mas...
-Nunca mais volta a me procurar, entendeu?-Ela desligou o telefone, com os olhos encharcados.-Desgraçado, ele não podia...
-Foi seu namorado que fez isso com você?-Uma mulher perguntou do outro lado do quarto.
-Não. Foi outra pessoa.
-Há mando dele?
-Eu não sei.-Ela suspirou.-Ele não é meu namorado. Não é nada meu.

Lia chegou em casa pela manhã. Por sorte, a madrinha havia saído para sua corrida matinal. Estava exausta, não queria dar explicações. Simplesmente iria arrumar suas malas e sair dali antes que ela chegasse.
Quando entrou no quarto, viu Alexandre sentado na cama, a esperando. Quando a viu, levantou chocado e foi até ela. Recebeu um tapa na cara, com a mão que ainda estava boa.
-O que foi isso? Por que você está assim? Quem fez isso?
-Você é mesmo um desgraçado.-Ela o empurrou.-Saia daqui agora.
-Não sem antes você me dizer o que está acontecendo.
-Você ainda pergunta? Pensou que eu fosse topar o seu joguinho, canalha?
-Lia, o que foi que eu fiz?
-Sai daqui agora! Eu não quero ver sua fuça nunca mais.
-Cala a boca, agora chega.-Ele trancou a porta do quarto irritado.-O que aconteceu? Por que você está assim? Quem fez isso com você?
-Que pergunta idiota é essa? Você não me dividiu com seu irmão em troca de silêncio? Achou que eu ia dar pra ele numa boa?
-André fez isso?
-Não se faça de sonso seu cafajeste.-Ela jogou um porta retratos contra ele.-Sai daqui!
-Fica calma!-Ele a segurou pelo braço e a fez sentar na cama.-Eu não sei do que você está falando. Seja o que for que ele fez, eu não tive culpa. Agora me diga. O que aconteceu?
-Por que não me atendeu?
-Ela estava na minha frente. Tentei me livrar dela o mais rápido possível, pra te ligar. Nunca ia imaginar que uma coisa dessas havia acontecido com você. Me fala, o que aconteceu?
-Recebi uma mensagem sua me mandando entrar no carro quando saísse no restaurante. Vi seu carro no estacionamento e entrei. Seu irmão estava lá e como não colaborei, ele me violentou.
-Eu vou matá-lo.-O celular dele tocou nesse instante, viu o número de casa.-É ela.
Lia se levantou e foi para o banheiro.
-Fala Roberta.
-Seu irmão deixou o carro aqui agora a pouco.
-Ele está vindo pra casa?
-Não, ele viajou. Saiu com uma mala grande, de carro com uns amigos.
-Desgraçado! Ele disse pra onde ia?
-Pelo jeito, foi pra praia. Por quê?
-Nada. Depois converso com você. To tentando resolver um problema.
Lia havia trancado a porta por dentro. Ele ficou irritado e arrombou a porta com um empurrão. Ela estava tentando tirar as roupas para tomar um banho. Se assustou quando o viu entrando no banheiro. Parou de tentar desabotoar o sutiã, quando ele cresceu encima de si e a tomou nos braços.
-Eu não tive culpa, eu juro que não.
-Me deixa em paz. Por favor.
-Você precisa de ajuda agora.
Ele a virou de costas para si e soltou o sutiã. Depois, ajoelhou e a ajudou a tirar as calças. Quando terminou de despi-la, foi sua vez. A levou para baixo do chuveiro e com cuidado a ajudou a lavar o corpo maltratado. Ela tinha manchas roxas nas costas, nos braços, no rosto. Vendo aquilo tudo, Alexandre parou para analisar sua vida, seus sentimentos. Tivera diversos relacionamentos extraconjugais. Desde que as brigas começaram e a desconfiança levou Roberta a ficar agressiva. Às vezes, eles passavam meses sem se tocar. E foi em uma dessas, que ele conheceu Marina, uma estriper que trabalhava em uma das boates que fazia a segurança. Ela tanto fez que conseguiu dominar sua atenção. Quando deu por si, conquistara uma lista interminável de relações promíscuas.
Até se aproximar de Lia. Ele a vira crescer, ela freqüentava sua casa nas férias. Era o xodó de sua mãe, que sempre quisera ter uma menina. Ele nunca a vira com outros olhos. Até ela começar a trabalhar com ele na boate e ele notar as mudanças nela. A garotinha se transformara em uma jovem linda e cheia de vida. Tinha um ótimo coração, pensava muito em ajudar a mãe e os irmãos. Era simpática, educada, otimista. Não era capaz de fazer mal a ninguém.
Estava apaixonado pela garota. Definitivamente, apaixonado de uma forma que nem ele sabia explicar. Mas não podia acabar com um casamento de dez anos, deixar dois filhos, sem ter condições de ao menos pagar pensão.
Lia precisava dele naquele momento. E Roberta precisava dele porque não sabia fazer nada mais que ser sustentada por um homem.
Abraçados embaixo do chuveiro quente, com os pensamentos voltados em suas vidas tumultuadas, ambos tentavam chegar há uma solução.

Quando Carmem chegou, ambos estavam sentados a mesa, calados, olhavam um para o outro, pareciam conversar por telepatia. E quando ela viu o estado de Lia, se desesperou.
-Minha filha, em nome de Cristo. O que te aconteceu?
-Mãe, é uma história complicada.-Alexandre começou.-Senta, precisamos conversar.
-O que vocês andaram aprontando?-O rosto de Lia ficou vermelho e ela baixou mais ainda a cabeça.-Quem fez isso com você menina?
-Alê...
-Foi o André.-Alexandre falou de uma vez, a mãe sabia que o filho era um marginal. Não seria capaz de concordar com ele nessa barbaridade.
-O que? Onde ele está?
-Fugiu.-Ele segurou a mão de Lia por cima da mesa.-Mãe, a situação é um tanto delicada.
-Tem algo mais acontecendo aqui. André não ia machucar você por maldade. O que aconteceu? Vocês estavam namorando ou coisa parecida?
-Não. Eu não tenho nada com ele.-Lia puxou a mão.-Eu... acho melhor esquecer esse assunto e sair dessa casa.
-Tem coisa escondida aqui.-Ela olhou para os dois.-O que não me contaram?
-Mãe, é complicado.-Os olhos de Lia se encheram de lágrimas e algumas escorreram, enquanto ela se levantava e saía da cozinha.
-Vocês têm alguma coisa?-Ela viu o interesse do filho em observar a moça e concluiu.-Estão tendo um caso. Espero estar enganada.
-Não está.-Ele se voltou para a mãe.-Estamos juntos há algumas semanas.
-Mas o que lhe deu na cabeça? Essa menina é pra casar, não é do tipo de mulher que você pega na rua e deixa por lá.
-Eu sei. Tentei evitar, mas já faz meses e eu não consigo.
-E Roberta?
-Nosso casamento é um caso perdido.-Ele fechou os olhos.-Não quis dizer a Lia, mas alguma coisa me diz que Roberta tem algo a ver com o que aconteceu com ela essa noite.
-Por que acha isso?
-Ela e André têm um caso escrachado.-Ele deu de ombros.-Toda  a cidade já os viu juntos.
-Então você já sabe.-Ela suspirou.-Não me olhe com essa cara. Você seria o primeiro a não acreditar se eu dissesse. Mas por que acha que Roberta ajudou André?
-Suspeitas. Vou descobri-las hoje a noite.-Ele puxou o celular do bolso.-A tal mensagem não está aqui. Mas Lia me mostrou a mensagem que enviaram a ela do meu celular. Não tinha como André ter feito isso, ele nem chegou a entrar.
-E agora, o que vai fazer?
-Não sei.-Ele suspirou e guardou o celular no bolso.-Não posso deixar Lia desamparada. Mas meus filhos...
-Escolha um lado. E seja qual for o lado que escolher, abra o jogo com ela de uma vez. Não vai continuar brincando com essa menina. Eu não vou deixar.

Lia terminou de arrumar as malas e as guardou dentro do armário. Ligou para uma amiga e pediu abrigo por alguns dias. Era melhor se afastar daquilo tudo. E os problemas só iriam aumentar. Não tinha coragem de olhar para sua madrinha mais e Alexandre, não tinha futuro com ele. Dar as costas para o problema era menos desgastante do que enfrentá-lo de uma vez.
E o amor que sentia por Alexandre. Iria passar. Algum dia ela encontraria alguém. Mas agora, era hora de mudar. Esquecer o passado, seguir em frente, não ser mais “a amante”.

2 anos depois...
-...você precisava ter visto. O cara ficou sem palavras... tipo...hã? O que aconteceu comigo?
-Você ainda vai se dar mal, com essa sua mania de ferrar os homens.-Lia falou para a amiga, enquanto pintava as unhas dos pés.-Vai acabar encontrando um que não leve o desaforo pra casa.
-Você é uma estraga prazeres.-Ela sentou a mesa.-O Pedro está dormindo ainda?
-Não.-Ela fechou o vidro de esmalte.-Acordou antes de você chegar.
-Você não tem aula hoje?
-Minha aula começa no segundo período.
-Ainda fugindo do professor de matemática?
-Não to fugindo dele. Só dando um tempo.-Ela sorriu.-Vai trabalhar hoje?
-Tenho que ir. Já faltei ontem.-Ela esticou os músculos.-Vou tirar um cochilo. Mais tarde a gente conversa.
Lia agora morava na capital. Tinha um bom emprego, estava cursando administração, fizera cursos. Ela e a amiga montaram uma pequena empresa pela internet. Vendiam coisas reformadas. De móveis a objetos de enfeite.  A casinha que dividiam tinha uma pequena garagem que servia de estúdio para as duas. Ainda não pensavam em abrir uma loja, mas estava nos planos.
Alexandre era uma lembrança doída de seu passado. Ela tentava deixá-lo para trás, não se abalar com sua história, mas era impossível, quando um garotinho gordinho e com o sorriso cheio de covinhas lhe fazia lembrar a todo o momento, do homem que amava.
Olhando para o relógio, ela suspirou e guardou os esmaltes. A babá estava atrasada. Para piorar, ainda tinha que passar no banco. Mas o banco só abria as dez, só lhe restava enrolar.
Foi até o quarto e viu o filho brincando dentro do cercado, com um monte de brinquedos.
-Olá querido? Se divertindo?
-Bola.-Ele ergueu a mão para a bola que estava perto da porta.
-Ah sim, sua bola.-Ela pegou o brinquedo e colocou dentro do cercado, junto com ele.-A mamãe vai acabar tendo que levá-lo pra aula.
-Pode deixar ele comigo.-Ana Clara falou saindo do banheiro.-Enquanto a babá não chega, eu tomo conta dele.
-E se ela não vier?
-Eu não tenho nada pra fazer hoje.
-Não sei...
-Qual é garota, não confia em mim?
-Não.-Ela sorriu.-Mas, já que é assim, vou trocar de roupas. Vou deixar as mamadeiras e o almoço dele prontos. Os horários estão marcados na tabelinha da babá. Por favor, não troque o horário de nada.
-Certo, pode ir tranqüila.
Lia não confiava em deixar Pedro com Ana Clara, porque ela era rebelde, um tanto irresponsável. Não gostava de seguir padrões, nem ordens. Mas algo dizia para ela, que era melhor deixá-lo. Sem contar, que em casa o menino ficava mais confortável.
Dois anos atrás, quando Lia saiu da casa da madrinha, ela chegou a procurar a mãe, se surpreendeu quando ela lhe fechou a porta. Pensou que ela pudesse saber algo sobre Alexandre, mas pior. Ela havia tomado partido de Junior e achava que ela era a culpada. Que ela o provocava propositalmente. Ele havia feito a cabeça de sua mãe contra ela.
Sem ter para onde ir definitivamente, ela e Ana Clara racharam o aluguel. Alexandre a procurava constantemente no restaurante, Lia resolveu deixar o emprego e ir trabalhar em uma boate longe dali. Por meio da ajuda de Erick, ela conseguiu em pouco tempo, a vaga de gerente da boate.
Dois meses depois de ter começado no emprego novo, ela descobriu estar grávida. Contou com a ajuda da amiga nos momentos mais difíceis, assim como ela a ajudou muitas vezes. Quando Pedro nasceu, Ana Clara tentou convencê-la a contar a Alexandre. Em momentos difíceis, ela pensou na idéia. Mas havia duas crianças, mais crescidas e que dependiam do pai emocionalmente. Ela não podia tirá-lo deles para dar há uma criança que ele não havia pedido pra ter.
Sendo assim, assumiu o cargo de pai e mãe do menino.
Passaram por momentos difíceis, mas outros tão alegres, que a faziam esquecer as crises da vida.
Já passava das dez da manhã, quando Lia finalmente estacionou uma lata velha no estacionamento da escola. Ele a esperava dentro do carro, quando a viu sair, que teve a certeza de ser ela, não conseguiu se controlar e também saiu do carro. Se aproximou por trás, ela estava arrumando a bolsa encima do capô.
-Lia.-Quando ela se voltou, o rosto empalideceu no mesmo instante. Ele sorriu, tirou os óculos escuros e colocou no bolso da camisa, ela continuava quieta, o olhando como se fosse uma assombração.-O que foi? Nunca me viu?
-O... o que faz aqui?
-Vem te ver.-Ele encostou no carro.-Saber como está, faz tempo que não nos esbarramos.
-Acho melhor você se afastar de mim.
-Por quê?-Ele cruzou os braços e sorriu com deboche.-Vai... me bater? Ou gritar?
-Vou chamar a polícia.
-E dizer o que?
-Eu não quero te ver nunca mais. Me faça um favor, não volte a cruzar o meu caminho.-Ela fechou a bolsa e a pendurou no ombro.-Com licença, estou atrasada.
-Você está muito arisca.-Ele a segurou pelo braço e a encostou no carro.-Serei obrigado a levá-la a força comigo?
-O que quer comigo André?-Os olhos dela já estavam cheios.-Já teve o que queria. Agora me deixe em paz.
-E por conta daquilo, nunca mais pude ver minha mãe.-Ele a soltou.-Não te culpo, mas tem uma coisa que preciso te contar.
-O que quer?
-Há alguns meses, descobri que sou portador do vírus HIV.-Ele sentou no capô do carro.-E tenho quase certeza, de que peguei antes de estar com você.
-Você não esteve comigo, me forçou a estar com você.
-Lia, por favor, me diz. Você tem feito exames? Sabe se não a contaminei?
-Não, você não me contaminou.-Os olhos dela marejaram de alívio.-Graças a Deus, minha desgraça não foi tão grande.
-Você não sabe o alívio que me dá.-Ele acariciou o rosto dela.-Isso foi um castigo cruel. Eu não devia ter feito o que fiz com você. Mas fui pago, ficava louco quando via dinheiro.
-Não me venha dizer que Alexandre mandou fazer aquilo.
-Não foi Alexandre, foi Roberta.-Ele baixou a cabeça e os olhos marejaram.-Ela é louca, eu me divertia com a insanidade dela, mas agora... vejo o mal que fiz a você e meu irmão. Tentei ligar para minha mãe, mas ela me proibiu de ligar novamente. Eu dei ouvidos há uma louca e acabei com tudo.
-Por que deu ouvidos a ela?-Ela soltou a bolsa sobre o capô do carro.-Se sabia que ela era louca, devia ter feito o contrário.
-Eu invejava meu irmão.-Ele enxugou as lágrimas.-Ele conseguia tudo que eu queria. Foi burrice minha, afinal, eu já dormia com Roberta. Mas você... eu a queria desde o momento em que pisou lá em casa. Eu pensava em te conquistar, namorar e essas coisas que minha mãe vivia me alertando sobre você. Eu sabia que você era mulher pra casar, mas quando vi você com ele, senti raiva. Primeiro por ter me enganado com você, depois, por ele conseguir mais uma vez me passar pra trás.
-Eu amava seu irmão.-Ela enxugou as lágrimas.-Mesmo que você tivesse conseguido algo, era com ele que eu queria ficar.
-Mesmo sabendo que ele não deixaria a esposa por você?
-Sim.-Ela cruzou os braços e apertou a cintura.-E você, se já dormia com a mulher do seu irmão, o que mais poderia querer para afrontá-lo?
-Roberta não importava pra ele. Ele sabia de nosso caso. Mas você... você sim iria doer nele.
-Você é louco André.
-Sou.-Ele sacudiu a cabeça afastando os pensamentos.-Você consegue despertar isso nos homens. Por que não fui o único a ficar louco.
-Não venha me culpar. Você tinha inveja de seu irmão, por isso fez o que fez.-Ela desencostou do carro.-Em nenhum momento agi com intenção de te dar idéias ao meu respeito.
-E por que não me denunciou?
-Tive medo de acabar com a vida do seu irmão.
-Roberta sabia de tudo.-Ele indicou para que ela encostasse de novo, porque a história seria longa.-Ele chamava por você enquanto dormia. Roberta ardia de raiva. Armou tudo para que você caísse na arapuca. Me deu uma grana pra desaparecer depois do serviço feito.
-Essa mulher é um monstro.-Ela deixou as lágrimas rolarem.-Tenho pena das crianças. O que será do futuro delas?
-Isso também me preocupa.-Ele deu de ombros.-Levando em conta que o menino é meu filho.
-Eu não acredito nisso.-Ela sacudiu a cabeça.-Como você pôde? Seu irmão merecia tudo isso?
-Realmente não.-Ele reassumiu o porte sério.-Ele só era o irmão bem sucedido. Eu era o invejoso. A típica história de Caim e Abeu.
-Você pode ter contaminado Roberta. Seu irmão pode estar doente agora, sem saber.
-Não.-Ele baixou os olhos para o chão.-Depois que o menino nasceu, passamos a usar camisinha. Afinal, Alexandre fez vasectomia, o que ela explicaria caso engravidasse?
-Há quanto tempo... ele... é... estéril?
-Cinco anos. Foi logo depois do nascimento do Adrian.
-Não pode ser.-Os olhos dela encheram, ela sentiu uma dor aguda no peito. Não suportou ficar em pé e ajoelhou no chão, com a mão sobre o peito.-Isso... não pode...
-Lia, o que você tem?-Ele a ajudou a levantar, ela estava com as pernas fracas.-Lia, por favor, não dá erro agora.
-Por que veio até aqui? Por que não me deixou viver na ignorância? Até quando pretende destruir a minha vida?
-Lia, me perdoe, eu não queria.-Ele a levou até um banco próximo dali e foi até a lanchonete pegar água pra ela, quando voltou, ela já estava no carro, dando partida.-Lia, espera. Você não está em condições de dirigir.
Ela ignorou, se pudesse, passaria por cima daquele canalha com o carro. Saiu dali cantando pneu, seguindo o rumo de casa. A dor era tanta. Não era possível que seu filhinho, aquele moleque lindo e cheio de energia... ele não podia ser fruto daquele estupro.
Quando chegou, Ana Clara estava sentada no chão com o menino, brincando com cubos de montar. Ela olhou para o filho com outros olhos. Não sentiu raiva dele, era incapaz de sentir algo tão ruim por uma criança inocente. Sentia... pena dele. O que diria a ele no futuro? Já era triste imaginar ser filho de uma união extra-conjugal.  Agora... ser filho de um estupro?
-Lia, o que você tem?-O menino colocou a chupeta na boca e levantou cambaleando, foi até ela.-Amiga, você está branca feito gelo. O que aconteceu?
-Meu bebê.-Ela ajoelhou no chão e abraçou o menino.-Me perdoa, eu não sabia.
-Lia, você está me assustando. Por favor, diz o que aconteceu.-Ana Clara levantou e pegou um copo de água, ajudou Lia a sentar no sofá e deu o copo a ela.-Por que você está assim? O que aconteceu com o Pedro?
-O André me encontrou.
-O que?-Ela arregalou os olhos.-Ele a violentou novamente? Você tem que dar parte.
-Não, ele não fez isso.-Ela abraçou o menino que já começava a chorar também.-Ele conseguiu fazer coisa pior.
-O que ele fez? Por favor, amiga, me diz. Está me deixando aflita.
-Ele é o pai do Pedro, Ana.-Ela acariciou os cabelos do menino.-E agora, como vou dizer isso ao meu filho? Ele já não tem pai... se ele souber quem foi o pai...
-Não, isso não pode ser. Você transou tantas vezes com Alexandre. Como pode em uma única tacada o André ter conseguido?
-Alexandre é estéril.
-Mas ele tem dois filhos...
-O menino também é filho do André.-Ela tomou um gole da água.-A história é tão cabeluda, que nem sei por onde começar a contar.
-Vamos começar devagar.-Ela ligou a televisão e colocou o DVD favorito do menino.-Bebê, fica aqui assistindo o desenho, a titia vai cuidar da mamãe ta?
Lia foi com a amiga para o quarto, lá ela tentou se acalmar e contar a ela toda a história escabrosa que André lhe contou. A dor só fazia aumentar, conforme ia lembrando das palavras dela. Por fim, já estava em prantos novamente.
-Amiga, se acalma.-Ela tentou pensar em algo racional.-Será que essa vasectomia é real? De repente, Alexandre também desconfia que André seja o pai do menino e inventou isso para que Roberta não aparecesse com mais nenhum filho bastardo.
-Se fosse assim, ela teria engravidado novamente.-Ela sacudiu a cabeça.-São cinco anos, mesmo se precavendo com André, ela continuava dormindo com o marido sem precaução.
-Amiga, de repente ela tem alguma dificuldade para engravidar. Por Deus, você não pode se abalar dessa forma. Não pode deduzir que o menino é filho daquele meliante, sem uma certeza. Você tem que fazer um teste de DNA. Alexandre precisa saber da existência desse menino.
-Não posso fazer isso. Iria destruir a vida dele.
-Amiga, foram o irmão dele e a esposa que destruíram tudo. Você não pode se render.-Ela respirou fundo e sentou na cama.-Você tem certeza de que não pegou a doença?
-Tenho.-Ela abraçou uma almofada com formato de nuvem.-Quando estava grávida do Pedro, fiz exames. No começo e no fim da gestação eu fiz os exames de doenças sexualmente transmissíveis.
-Menos mal.-Ela segurou a mão de Lia, lhe passando força.-Agora, vamos resolver a sua questão. Você não pode mais ficar se escondendo de Alexandre. E mais, se toda essa história for mentira, de uma vez por todas, você tem que correr atrás dos direitos do seu filho. Amanhã ou depois, ele vai estar na escola e os amiguinhos vão ficar o chamando de filho de mãe solteira. E você sabe que isso traumatiza qualquer criança.
-Mas estava tudo indo tão bem.-Ela fechou os olhos, lembrando da dor do braço sendo quebrado, a humilhação de ser largada na rua, nua.-Eu já havia superado toda essa dor. Por que aquele demônio tinha que vir me atormentar o juízo?
-Talvez, para salvar a sua vida.-Ela sorriu.- De repente, há uma coisa boa no final dessa história.
-Que coisa boa?
-Não sei, mas você vai descobrir. Faça sua mala e a do Pedro. Eu também vou fazer a minha, vamos voltar para a cidade por uma semana, você irá resolver tudo isso. E definitivamente, se deixar lutar pelo homem que você ama.

Alexandre desceu as escadas correndo quando ouviu o grito histérico de Roberta. Ao chegar na sala, viu o filho chorando e ela segurando um chinelo no ar. Antes que ela batesse no menino, ele segurou o pulso dela.
-O que pensa que está fazendo?
-Esse moleque destruiu a parede.
-O que?-Ele viu a parede cheia de marcas de tinta e apertou o pulso dela, até que ela soltasse o chinelo.-Você não vai bater nele por isso. É tinta lavável.
-É por isso que essas crianças fazem o que querem. Você defende! Não me deixa corrigir.
-Ele é só uma criança. E se você continuar batendo neles, vou ser obrigado a denunciá-la.
-Eu sou a mãe deles.-Ela bradou nervosa.-Eu tenho o direito de corrigir.
-Fala baixo, você está dando show.-Ele ajoelhou no chão.-Adrian, vai lá colocar uma camisa, vamos pra casa da sua avó.
-O que? Você não vai levá-lo. Não antes de ele limpar essa sujeira toda.
-Limpa você.-Ele deu as costas a ela.-E nunca mais volte a bater nas crianças.
Ele saiu furioso. O menino veio correndo com a bola de futebol nos braços e entrou no carro. Alexandre dirigiu até a casa da mãe. A filha ainda estava na escola, ele iria buscá-la mais tarde. Estacionou na frente de casa e o menino foi correndo pra dentro.
Alexandre cumprimentou a mãe e logo que ela foi brincar com o menino, ele se trancou no quarto. Deitou na cama sentindo o aroma de roupa limpa. Procurou no travesseiro o cheiro bom dos cabelos de Lia, mas ele não estava mais ali.
Fechou os olhos procurando dormir um pouco, descansar. Ultimamente, aquele ali vinha sendo seu santuário. Todas as manhãs ia pra lá dormir um pouco. Chegava exausto do trabalho e caía na cama. O aroma dela, ele já havia gasto de tanto cheirar o travesseiro.
Ficou ali pensando no caso deles. E pensar que estava pensando em deixar a esposa para viver com ela. Ela fugiu diante do primeiro problema. Está certo que o problema não era nada pequeno, mas ele ia ajudá-la.
Dois anos se passaram. Dois anos longos, que ele gostaria e apagar. Nos últimos dois anos, ele sentiu o peso de dez anos a mais sobre suas costas. Já procurara, entre as amigas dela, mas era em vão.  Ela havia fugido dele de vez.
E a ele só restava a culpa pelo que aconteceu com ela. Se pudesse fazer André e Roberta pagarem pelo que fizeram. Mas não tinha nada a fazer, só se conformar em ter perdido a mulher que amava.

Lia não estava pronta pra enfrentar a fera. Por conselho de Ana Clara, se encaminhou para a casa da madrinha. Olhou para o banco traseiro, o filho brincava com um boneco de borracha. Tomou coragem, saiu do carro e tocou a campainha.
Carmem veio atender e quando a viu, apertou o passo até o portão.
-Menina, é você.-Ela abriu o portão e abraçou Lia.-Graças a Deus você está bem. Pensei tanta coisa. Entra, não fica aí. Eu to preparando o jantar, você já jantou?
-Espera madrinha.-Ela foi até o carro, tirou o filho da cadeirinha e quando Carmem a olhou séria, ela falou:-Lá dentro eu explico. Não quero que saibam que estou aqui.
-Qual é o nome desse rapazinho?-Ela pegou o menino das mãos de Lia.-Ele me lembra o falecido Manoel.
-O nome dele é Pedro.-Ela pegou as bolsas e entrou.-Eu vim por ele, se não fosse um bom motivo, eu juro que não voltaria a esse lugar.
-Menina, as coisas estão tão complicadas por aqui. O Xandy está abatido, a Roberta está ficando cada vez pior, porque ela sabe que ele gosta de você.-Elas entraram e Carmem os levou para a cozinha.-Posso dar um biscoito a ele?
-Pode, ele come bem.-Ela colocou o menino sentado no balcão e deu um biscoito a ele.-O André... ele apareceu?
-Não, ele ligou, mas eu não falei com ele.
-Ele me encontrou.
-Ele fez alguma coisa com você?-Os olhos de Lia ficaram cheios e uma lágrima escorreu.-Aquele safado voltou a te machucar?
-Não.-Ela sentou em uma cadeira.-Ele não me machucou mais do que já fez. Mas...
-O que tem mais? Ele te ameaçou?
-Não, André me procurou pra pedir desculpas pelo que fez.-Ela secou as lágrimas com a manga da jaqueta.-Mas sem querer, acabou destruindo tudo de novo.
-Por quê? Afinal, o que aconteceu?
-Madrinha, eu juro pela minha mãe que nunca estive com outro homem além do Alexandre.
-Sei.-Ela engoliu em seco.
-André me disse que Alexandre é estéril.-Ela olhou para o filho e voltou a chorar.-Eu não quero acreditar que meu filho seja fruto daquela noite.
-Ah.-Ela olhou para o menino e o abraçou.-Ele parece com o Manoel, isso é um fato. E não sei minha filha, se Alexandre é estéril, ouvi histórias de que ele havia feito vasectomia, mas não acredito.
-Então há uma esperança.-Ela secou as lágrimas.-Eu não sei como, com que coragem, mas eu preciso falar com o Alexandre.
-Ele vem todas as manhãs, assim que chega do trabalho. Passa em casa, troca de roupas e vem dormir aqui.-Ela desceu o menino do balcão e o levou até a mãe.-Você não devia ter escondido esse menino.
-Tinha medo.-Ela acariciou os cabelos do filho.-Se Roberta mandou André fazer aquilo comigo, o que não faria com ele?
-Então é certo que ela ajudou?
-Ela pagou pra ele.-Ela começou a balançar o menino, que foi ficando sonolento.-Ele me contou tudo.
-E por que ele precisava te contar tudo?
-Porque ele descobriu que está com HIV. Queria saber se não havia me passado a doença.
-E não passou, passou?
-Não, fiz todos os exames. Estamos saudáveis, graças a Deus.-Ela deitou o menino e ele fechou os olhos.-Se cansou, ficou de olho na viagem e nem chegou a cochilar.
-Leve ele para o quarto do Xandi. Você vai ficar lá essa noite. Amanhã quando ele chegar do trabalho vocês conversam.
-Eu já volto.
Ela saiu carregando o filho consigo. Quando entrou no quarto, sentiu o cheiro dele ali. O coração bateu tão acelerado, viu a foto dele no criado mudo, a sensação de estar perto dele, mesmo que seja de longe, era tudo que ela queria sentir naquele momento.

Alexandre estava parado em frente ao portão do oficial de justiça do qual estava fazendo a segurança. Há quase um ano trabalhava como guarda-costas para o governo. E nas folgas, ia pra boate fazer a segurança.
Uma companheira de serviço se aproximou, com o rádio na mão. Quem olhava a mulher, não imaginava do que ela era capaz. Parecia delicada e fraca. Mas na verdade era faixa preta em caratê, jiu-jitsu e nas horas vagas, dava aula de kung-fu na academia do irmão.
A vira uma vez em uma luta corpo a corpo, nunca se meteu com ela, para não sair perdendo. Apesar de ter o dobro do tamanho dela, preferia não provocar.
-Santos, você ta calado o dia inteiro. O que aconteceu com suas piadas de mau gosto?
-Preocupações de mais.-Alexandre cruzou os braços e recostou no portão.
-Se quiser espairecer, meu turno termina junto com o seu. Podemos dar umas voltas, tomar uns goles.
-Seria bom.-Ele a puxou pro abraço.-To precisando esfriar a cabeça mesmo.
-É ela de novo?
-Qual delas?
-O dragão.-Ela riu enquanto se afastava dele.-Você não presta.
-É, eu tento.-Ele também riu.-Mas o meu problema ta ficando cada vez mais complicado.
-Por quê?
-Ela ta enlouquecendo. Tenho medo de ser esfaqueado enquanto durmo. Ou pior, que aconteça algo as crianças.
-Ela ta tão perigosa assim?
-Ta. Pior.-Ele cruzou os braços de novo.-Está fumando maconha, acho que já chegou a usar pó. Vi um pó branco encima da mesa, e tinha um cartão de crédito perto.
-Nossa. Ta esquisito mesmo.-Ela sorriu.-Se quiser, dou um jeito nela.
-Muito gentil de sua parte, mas acho melhor não partir pra agressão.
-Está certo então.-Ela riu e deu uma cotovelada nele.-Quando vai me levar pra conhecer sua mãe?
-O que acha de ir comigo pra casa dela quando acabar o turno, ao invés de irmos beber?
-Também pode ser.-Ela riu.-Se bem que eu não ia resistir a te deixar bêbado e abusar de você.
-Letícia, não provoca.-Ele falou com a voz rouca.-Se você soubesse o tempo que faz...
-Pausa pro lanche?
Ela deu uma olhada em volta e entrou rebolando. Dois seguranças foram pro portão, enquanto Alexandre a seguia até dentro da casa. Ela entrou em uma sala e ele foi atrás. Antes de ter tempo para pensar, ela o puxou pelo colarinho do terno e o beijou.
Algo familiar soou dentro de Alexandre. Ele foi transportado anos atrás, quando saía com várias mulheres e fazia esse tipo de loucura.
Movido pelo instinto, ele a encostou na parede e começou a lhe desabotoar as calças. Ela ajudou desabotoando a blusa, deixando os seios a mostra. Alexandre baixou o sutiã vermelho de renda que ela vestia e enfiou um mamilo rosado na boca.
Letícia gemeu e arqueou o corpo para trás. Procurou libertar o pau dele e quando conseguiu, fechou os dedos em volta dele e começou a punhetá-lo. Ela era louca pra trepar com aquele homem há meses, mas ele parecia tão distante e sempre preocupado.
Finalmente o teria. Os dedos dele estavam dentro de sua calcinha, procurando e estimulando o ponto molhado. Ela gemeu contra o pescoço dele e começou a sugá-lo devagar. De repente Alexandre parou e a olhou nos olhos.
-Você tem camisinha?
-Não.-Ela respirava ofegante, os lábios inchados, louca pra continuar.
-Droga, eu também não.-Ele se afastou dela devagar.-Merda, desacostumei a andar com camisinha no bolso.
-Ah, não acredito.-Ela respirou fundo e ajoelhou no chão, o pau dele já estava amolecendo, quando ela o pegou de novo.-Não é por isso que temos que parar a brincadeira.
A mulher recomeçou os carinhos. Alexandre se escorou na porta, enquanto segurava os cabelos dela e conduzia sua cabeça. Ela o engolia inteiro, chupava com força, lambia todo o corpo do pau e sugava as bolas. Alexandre nem lembrava mais como era a sensação de ter uma mulher chupando seu pau. Quase não sabia como reagir. Mas por instinto, continuava puxando-a de encontro e estocando devagar, contra a garganta dela.
Em dado momento, retornou ao hotel onde esteve com Lia a primeira vez. A forma inexperiente como ela o tocava, o modo como se entregava, a voz gemendo seu nome. De repente afastou a boca da garota de seu pau e começou a punhetar. O tesão só fez aumentar e não podendo segurar mais, ele esporrou tudo que tinha guardado ali, no rosto da mulher.
-Nossa.-Ele respirou fundo.-Lia, você tem uma boca incrível.
-Obrigada querido.-Ela se levantou e pegou o lenço que ele lhe oferecia para se limpar.-Gostei do apelido.
-Que apelido?
-Lia.-Ela sorriu.-Nunca me chamaram assim.
-É... desculpe.-Ele perdeu as palavras no meio do caminho e resolveu ficar calado.
-Não, eu gostei.-Ela sorriu.-Agora sai fora, antes que alguém queira entrar aqui.
-Te espero na cozinha.
Alexandre fechou a porta e saiu dali respirando pesado. Se Letícia soubesse que trocou seu nome pelo de outra mulher, o partiria ao meio com um golpe de kung-fu.
Lia... Lia. Tinha que tirar essa mulher do pensamento. Tanto tempo e ainda ficava louco quando pensava nela. Se a visse na rua, não tinha idéia do que faria.

Lia deitou na cama abraçada ao travesseiro. Sentia ali o cheiro bom do perfume de Alexandre. Enroscou-se com o filho embaixo das cobertas, para espantar o frio de final de tarde. Sorriu ao lembrar de quantas vezes Alexandre a arrebatara naquela cama. Ele era mesmo o homem mais intenso que conhecera.
Apesar de não ter tido outros homens, ela sabia a diferença entre um homem que sabia conquistar uma mulher e um homem que só queria mulher fácil. Alexandre era o tipo que sabia conquistar. Ele corria atrás até conseguir o que queria. Já homens como André e Erick, gostavam de mulheres que se jogavam aos seus pés. Eram homens que não tinham tempo para seduzir.
Ela não trocaria as lembranças que tinha de Alexandre, nem por todas as coisas do mundo.
Carmem entrou no quarto e a viu abraçada com o menino, o ninando. Ele já estava com os olhos pesados, chupava a chupeta com vontade, enquanto brincava com os dedos dela.
-Você não está com sono? Viajou até aqui dirigindo, deve estar cansada.
-Estou ansiosa de mais para me cansar.-Ela beijou a cabeça do menino.-Há que horas você falou que o Alexandre chega?
-Não sei ao certo. Se ele foi pra boate, só amanhã de manhã. Se ele foi pra casa do oficial, ele chega hoje à noite.
-Ah.-Ela levantou o corpo e colocou um travesseiro para o filho abraçar.-Eu vou ajudá-la com o jantar.
-Menina, me diz uma coisa.-Ela parou olhando o menino.-Faz diferença, se ele é filho de um ou de outro?
-Eu o amo do mesmo jeito.-Ela sorriu enquanto o cobria.-Mas queria contar pra ele que ele foi feito com amor.
-Ele não precisa saber.-Ela saiu do quarto.-Se for o caso de ele não ser do Xandy.
-Só um exame de DNA pra resolver essa questão.-Ela abraçou os braços com frio.-Mesmo se ele não for filho do Alexandre, vai continuar sendo meu filho. E aquele moleque é minha vida, nunca vou deixar de amá-lo por isso.
-Que bom ouvir isso.-Ela sorriu enquanto dava uma faca na mão de Lia.-Corte esses legumes pra mim.

Alexandre trocou de roupas com o peso na consciência. Letícia passou a tarde sendo a mesma de sempre, brincando, fazendo piadas e ficando séria quando o chefe aparecia. Mas ele estava incomodado. Era como se tivesse falhado com ela.
Quando ela apareceu, de calça jeans e casaco esporte, ele sorriu tentando desanuviar os pensamentos.
-Então, vai me levar para beber ou para conhecer minha sogra?
-Não brinca assim perto dela.-Ele riu.-Vou dar uma passada na casa da minha mãe, se você quiser, jantamos com ela e depois vamos... esticar a noite por aí.
-Você quem manda benzinho.-Ela entrou no carro junto com ele.-Então, um dia você vai me falar sobre a outra mulher?
-Que mulher?
-Aquela em quem você fica pensando direto.-Ela sorriu.-E não me diga que é a Roberta. Eu não acredito nisso.
-Não, é um caso problemático. Prefiro não falar sobre isso.
-Por que não? Você fala de tudo comigo.
-Porque fiz mal a ela.-Ele tirou o carro da vaga e seguiu rua afora.-E ela fugiu de mim.
-Você bateu nela? Ou machucou de alguma forma?
-Não, mas por minha culpa, outra pessoa fez.-Ele ficou sério de repente.-E você poderia não tocar mais nesse assunto. Não gosto de falar nisso.
-Certo, não está mais aqui quem falou.
Alexandre continuou quieto. Queria se livrar de Letícia, ter um tempo para organizar os pensamentos. Mas estava organizando eles há dois anos e ainda não conseguia tirar Lia da cabeça.
Letícia era solteira, tinha trinta e dois anos, era uma mulher experiente, madura. Cheia de malícia. Ele passava horas jogando conversa fora com ela, se declarando. Talvez fosse bom para ajudar no processo de esquecimento, se ele tivesse um caso sólido com ela.
Afinal, o divórcio já era certo. Aos poucos estava saindo de casa, com o salário que vinha recebendo, conseguiria dar conforto e educação aos filhos. Isso se a justiça não lhe desse a guarda dos dois. Sabia que era uma longa luta, mas estava disposto a lutar e não se acomodar de novo.
Letícia ficou calada todo o trajeto. Deixou Alexandre em seu mundo, pensando em seus erros. Sabia que os homens só se abriam com uma garrafa de bebida na mesa. Então deixaria para abordá-lo outro dia. Mas estava certa do que queria e queria fisgar Alexandre para si.


Carmem e Lia haviam acabado de jantar, o menino brincava na sala assistindo televisão. Elas folheavam as páginas dos álbuns de fotos de Lia. Todas as fotos, da gravidez ao aniversário de um ano do menino.
-Essa é a madrinha dele. De consideração, porque ele não foi batizado.
-E por que não?
-Tenho outra religião.-Ela sorriu enquanto apontava uma foto dele brincado no parque.-Esse dia, ele deu o primeiro passo.
-Nossa, como ele cresceu. Aqui parecia tão pequenininho.
-Pois é, de uns meses pra cá, ele esticou.
-André também foi assim, todos diziam que ele seria baixinho igual a mim, mas acabou puxando a altura do pai.-Ela pensou bem.-Não que ele seja o pai do menino, mas... é a genética, acho.
-Entendo.-Ela cobriu o menino com uma manta e o deixou dormindo no carpete fofo da sala.-Daqui a pouco vou levá-lo para a cama.
-Você é toda atenciosa com esse menino.-Ela observou pensativa.-Quem dera Roberta fosse metade da mãe que você é. Ao menos meus netos seriam bem tratados.
-Não posso falar nada dela. Mas se é tão ruim assim, o certo é o Alexandre tomar uma providência.
-É, também acho. Mas deixa, que ele vai fazer alguma coisa. Se não fizer, eu faço.
Nesse momento, ouviram o barulho do portão abrindo. Lia gelou de expectativa, quando viu a sombra na porta de vidro. A porta abriu devagar, ela podia ouvir a voz de uma mulher.  Mas o primeiro a entrar na sala foi Alexandre.
-Mãe?
Ele parou a palavra no ar. Viu Lia sentada no sofá, a mulher ficou atrás dele, sem poder passar. Era como se Alexandre tivesse congelado, não movia os olhos, não respirava, só estava ali parado.
-Alexandre?-Letícia cutucou as costas dele.-Aconteceu alguma coisa?
-Desculpe.-Ele voltou devagar e encostou a porta.-Let, eu preciso resolver um problema aqui. Vou chamar um táxi pra você.
-Hum? Não precisa, eu me viro.
-Então faz assim.-Ele tirou as chaves do carro.-Fica com meu carro, amanhã eu pego.-Ele a encaminhou para o portão.-Me desculpe por isso, o problema é mesmo sério.
-Tudo bem. Qualquer coisa me liga, se eu puder ajudar... ou mudar de idéia e quiser esfriar a cabeça.
-Obrigado.-Ele a colocou dentro do carro.-E mais uma vez, desculpe por isso.
-Sem problemas grandão.-Ela ligou o carro.-Te vejo amanhã.

Lia olhou para Carmem e levantou nervosa quando Alexandre saiu da casa.
-Eu vou levar o menino pro meu quarto. Você conversa com ele. Quando tudo estiver bem, pode ir lá buscar ele. Ou, se quiser deixar ele dormir comigo, eu não me importo.
-Ta.
Ela abaixou e pegou o menino do chão, entregou ele a avó e juntou as coisas, levando tudo pro quarto.
Alexandre entrou e não viu ninguém na sala. A porta do quarto estava aberta, foi direto pra lá. Lia estava dobrando umas cobertas, ele entrou e fechou a porta atrás de si. Ela virou devagar, estava tensa, com o coração aos pulos. Não sabia quem era a mulher que estava com ele, o que ele estava pensando dela, ou o que ele faria com ela.
Devagar ela colocou a manta sobre a cama e ficou de frente pra ele. Ambos frente a frente, sem mover um músculo, falar algo, ou mesmo piscar.
-Vo... é... você não vai falar nada?-Ela perguntou nervosa.
-Você tem algo a dizer?
-Senti saudade.-Ela falou baixinho.
Ele soltou o ar dos pulmões e deu dois passos vencendo a distância. Lia não conseguia mais se segurar, foi até ele e se aninhou em seus braços.
Alexandre ficou alguns instantes inalando o perfume dos cabelos dela, como se aquela oportunidade lhe fosse arrancada mais uma vez das mãos. Parecia um sonho, ter o calor do corpo dela junto ao seu mais uma vez, em um abraço cheio de saudade.
Ele desceu a mão para a barra da blusa dela e sem mais nem menos a puxou, passando por sua cabeça. Lia levantou a cabeça e os lábios foram capturados pelos lábios dele. As mãos, agora com mais pressa terminavam de tirar as roupas, se embolando no meio do caminho.
Os dois corpos estavam semi-nus quando caíram na cama. Alexandre colocou a calcinha dela de lado e a penetrou de uma vez. Lia o abraçou firme enquanto mexia o quadril para acomodá-lo e finalmente o sentiu até o fundo. Seus olhos lacrimejaram de prazer, era impossível mantê-los abertos. Alexandre ficou quieto alguns instantes dentro dela, encontrando de novo o prazer do corpo dela junto ao seu.
Ergueu a cabeça, a viu com os olhos fechados, beijou-lhe a testa, os olhos, o nariz a boca. Devagar começou a se mover dentro dela. E aos poucos deu vida aos movimentos, num certo momento, já não entrava e saía, se enterrava com força dentro dela, fazendo Lia sufocar gritos, como fazia anos atrás, sempre que ele se trancava com ela naquele quarto, enquanto sua mãe dormia no andar de cima.
Lia por sua vez, pensou que estava morrendo quando o orgasmo a atingiu. Ainda sem poder abrir os olhos, ela rebolava e sentia cada vez mais o pau dele entrar e levá-la direto ao êxtase.
Alexandre a segurou pela cintura e arremeteu com mais força. Pensou que estivesse machucando, mas ela gemia sem poder controlar.
A virou de bruços e voltou para dentro do corpo dela. Quando deu por si, estava pingando de suor, mas reivindicava para si o direito sobre aquele corpo. Corpo que nunca deveria ser tocado por outro homem e ao que dependesse dele, não voltaria a ser, nunca mais.
Lia sentiu o prazer aumentar, sabia que era naquele momento, quando ele entrava mais fundo, segurava entre uma bombada e outra. Ele iria gozar e ela sabia que estava correndo risco, se afastou dele e ajoelhou no chão, abocanhando o pau dele.
-Lia, eu vou gozar...
-Goza aqui.
Ela punhetava o pau dele e apontava direito para os seios. Os jatos de sêmen foram saindo aos poucos e ele enlouqueceu quando a viu banhada com seu esperma. Quando saíram as últimas gotas, ela deu uma última chupada, se levantou e foi para o banheiro.
Alexandre ficou quieto ali, notando algumas coisas estranhas. A deixou sozinha naquele momento, mas estava curioso com o que vira.
Lia limpou-se o melhor que pôde, lavou a boca e o rosto. Secou-se e saiu ajeitando o sutiã e a calcinha.
Alexandre estava deitado na cama, com um boneco na mão. Olhou pra ela e mostrou o brinquedo, ela parou no meio do caminho.
-O que é isso?
-Um brinquedo.
-De quem é?
-Eu vou explicar isso.-Ela tirou as coisas do filho de cima da cama e sentou ao lado dele.-Mas é complicado.
-Fala, eu vou entender.
-Eu tenho um filho. Ele tem um ano e três meses. O nome dele é Pedro. Eu não sabia que estava grávida quando saí daqui. Só voltei porque preciso muito saber quem é o pai dele.
-Como assim, saber quem é o pai?
-André me encontrou esses dias.-Ela tomou o brinquedo das mãos dele e o acariciou.-Até esse dia, eu achava que o Pedro fosse seu filho. Mas ele me disse que... disse que você... fez... vase...
-Vasectomia.-Ele fechou os olhos desvendando o resto da história.
-Você fez?
-Fiz.-Ele olhou para ela, os olhos já estavam cheios, a puxou para o abraço.-Perdão, eu devia ter contado. Mas se o menino não é meu filho...
-André.-Ela deixou as lágrimas rolarem.-Tem certeza que não deu nada errado? Talvez tenha perdido o prazo de validade.
-Não, essas coisas não têm prazo de validade.-Ele acariciou os cabelos dela.-Pode até ser reversível, mas nem sempre dá certo, depende de tratamentos caros e fertilizações. Fui avisado sobre isso, antes de fazer a cirurgia. Mesmo querendo ter mais filhos, eu achei que fosse melhor.
-Por quê?
-Para não ter que continuar a criar os filhos de outros homens.
-Você sabe?
-Sei.-Ele suspirou e recostou a cabeça na cabeceira da cama, procurando confortá-la melhor ao abraço.-Eu devia tê-la largado, mas a Rafa ficaria com ela. Eu tinha medo de não poder mais ver minha filha, resolvi fazer vasectomia, assim os próximos filhos que aparecessem, seriam motivo suficiente para me afastar dela. Só que a safada é esperta, não apareceu com mais nenhuma criança. Eu devia ter feito tudo as escondidas.
-Você devia ter me dito isso.-Ela se afastou dele com o rosto encharcado.
-Por que não me disse que estava grávida? Eu teria ajudado você.
-Não disse, porque não queria separar você dos seus filhos. Tinha medo do que ela poderia fazer com as crianças, ou até mesmo comigo. Sem contar, que eu estava errada em toda a história, você não havia pedido para ser pai, por isso fiquei com o Pedro só pra mim. Mas não tinha idéia de que ele fosse filho do André.
-Eu sinto muito.-Ele segurou o rosto dela e beijou-lhe os lábios.-Se soubesse, teria dito a verdade.
-Foi bom assim.-Ela suspirou.-Se tivesse dito, talvez eu teria cometido a brutalidade de fazer um aborto. E só em pensar em minha vida sem o meu filho, sinto um vazio enorme. Foi o grande milagre que aconteceu na minha vida. Não me arrependo de tê-lo. Mas o que vou dizer quando ele perguntar quem é o pai?
-Diga que sou eu.-Ele secou as lágrimas dela com as pontas dos dedos e ergueu o rosto para olhá-la nos olhos.-Ele não precisa saber que é filho do André. Ninguém precisa saber.
-Mas... não é fácil. Já não era quando eu pensava que você era o pai, imagina agora, que sei que não é.-Ela tirou as mãos dele de seu rosto e se levantou.-Eu vou voltar pra casa com ele. Talvez no futuro eu invente uma história.
-No registro dele, quem é o pai?
-Ninguém.-Ela deu de ombros.-Não havia ninguém pra por ali. Sem contar, que só o pai podia registrar o menino. Então, ele só tem mãe mesmo.
-E como tem cuidado dele esse tempo todo?
-Tenho trabalhado. E moro com uma amiga, ela me dá uma força às vezes. De resto, me viro como posso.
-Hei, vira pra mim.-Ele a puxou para si.-Não quero que você suma de novo. Não vou agüentar ficar sem saber de você de novo. Fica aqui comigo, eu te ajudo a criar seu filho.
-O que? Você ta doido? Por menos sua mulher mandou seu irmão me estuprar. Imagina se ela sabe que você quer criar o meu filho!
-Já estou cuidando do meu divórcio. Aos poucos estou saindo de casa. Só tenho medo do que possa acontecer as crianças. Se eu tivesse como provar que ela não tem condições mentais de cuidar deles. Mas ela é esperta, não vai deixar fácil.
-Eu não quero que você se afaste dos seus filhos.-Ela deitou a cabeça no ombro dele.-Por isso acho melhor me afastar de novo de você.
-Não, isso não.-Ele apertou o abraço.-Você fica aqui comigo. Amanhã mesmo vamos procurar uma casa por aqui. Eu não quero que você se afaste de mim.
-Mas eu tenho meu trabalho.
-Você pode trabalhar aqui também.-Ele ergueu o rosto dela.-Ah menos que você não me ame.
-Eu te amo Alexandre.-Ela baixou os olhos.-Mas tenho medo da sua mulher.
-Não precisa ter medo dela.-Ele a beijou.-Eu também te amo.
Lia o abraçou deixando finalmente as lágrimas de alívio rolarem pelo rosto. Sonhou em ouvir que ele a amava. Agora era real, ele estava dizendo. Então, nem tudo estava perdido.
Afastando-se devagar, ela lembrou de coisas que tinha que falar com ele, sobre André e Roberta. Teve medo de começar de forma errada e ele acabar se ofendendo.

Algum tempo depois, Lia contou a ele tudo que sabia e ele contou a ela o que havia descoberto sobre a mulher.
-Com as informações que temos, posso pegar a guarda das crianças.
-Você sabe que isso demora.-Ela falou desanimada.-Se formos pra outro lugar agora, ela vai usar contra você. Vai ser pior.
-Mas não consigo mais ficar sem você.-Ele ergueu o queixo dela.-Sem contar que, se o André te achou uma vez, pode achar de novo. E pode resolver te machucar de novo.
-Não acredito.-Ela suspirou olhando no relógio.-Está ficando tarde, eu vou lá encima pegar o Pedro.
-Eu vou com você.-Ele segurou a mão dela.-Mas antes fala que vai pensar na minha proposta.
-Não sei Alexandre, não posso tomar decisões por mim, elas envolvem meu filho.
-Se você aceitar, ele pode ser meu.
-E o que vai dizer a Roberta? Ela sabe que você não pode ter filhos.
-Eu invento uma desculpa, minto, digo que não fiz, ou que fiz outro tratamento, não importa.-Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos.-Só importa que eu te amo e quero ficar com você pra sempre.
Ela sorriu antes de beijá-lo. Ele a envolveu em um abraço, aconchegaram-se ali um nos braços do outro e ela recostou a cabeça, sentindo que ele era tudo que ela havia pedido. E que ainda havia esperança para aquele relacionamento tumultuado.
Alexandre entrou no quarto da mãe logo atrás de Lia, viu o menino brincando com uns brinquedos, sentado na cama. A sensação era diferente, como se o menino fosse mesmo filho dele. Amava tanto aquela mulher e era isso que o impulsionava a amar aquele garoto.
Sentou na cama ao lado da mãe, a beijou enquanto Lia pegava o menino e sentava perto deles. Ele olhava Alexandre sem entender nada. Tinha os cabelos escorridos saídos sobre os olhos amendoados. Era moreninho igual a ele, mas era gordinho e parecia ser curioso.
-Então, vocês se resolveram?
-Sim mãe.-Alexandre levantou as mãos.-Me deixa pegar o meu filho?
-Então você é o pai do menino.-Carmem sorriu aliviada e segurou a mão de Lia.-Estou feliz em saber.
-Não precisa de exame pra saber.-Ele começou a brincar com o garoto.-Ele é a minha cara. Amanhã iremos resolver a situação do registro dele. E nunca mais você vai poder sumir.
-Alê.-Ela baixou os olhos, se sentia mal com aquela mentira.-Não precisa disso tudo.
-Precisa sim.-Ele virou para a mãe.-A partir de hoje estou separado definitivamente. E vou ficar aqui por enquanto, pra não dar problemas pra Lia.
-E vocês já sabem o que vão fazer?
-Eu quero voltar pra minha cidade.-Ela falou baixo.-Tenho minha faculdade, o trabalho. Minha casa, meu negócio. Não posso simplesmente largar tudo.
-Lia, eu acho melhor você acertar as idéias.-Carmem falou.-Agora que o Pedro está aqui, ele tem o direito de ter o pai. E eu não gostaria que você sumisse mais uma vez, sabendo que o André pode te achar e querer fazer algo contra vocês. A luta a partir de agora será intensa. Se aconteceu aquilo tudo antes por um caso, imagina agora, que Alexandre e Roberta vão finalmente se separar. Pela sua segurança e a do Pedrinho, é melhor ouvir o Alexandre.
-Entendo.-Ela suspirou para segurar as lágrimas e se controlar.-Acho melhor irmos descansar. Amanhã o dia vai render.
-Façam isso.-Carmem beijou o menino.-Alexandre, o cercado do Adrian está no quarto do André. Monta ele no quarto pro Pedro.
-Não precisa, ele fica na cama comigo.
-Precisa sim, você tem que descansar. E ele pode cair. É melhor não arriscar.
-Ta.-Ela pegou o filho dos braços dele.-Eu vou adiantar o mamar dele e trocar a frauda. Te encontro lá embaixo.
-Já estou descendo.-Ele esperou ela sair pra voltar pra mãe.-Obrigado por entender.
-Não faz besteira não.-Ela segurou a mão do filho.-Só dá suporte a essa menina se gostar realmente dela. A criança não tem culpa do que aconteceu.
-Eu sei.-Ele levantou colocando a cabeça no lugar.-Eu realmente gosto dela e quero ser o pai daquele garoto. E o André não pode sonhar com a possibilidade.
-Ele pode fazer algo?
-Ele é louco. Pode querer voltar e ficar com ela. É bom não arriscar, você entende não é mãe?
-Entendo, claro. Mas use a cabeça e não magoe a minha menina. Te dou a surra que nunca dei e olha que não foi por falta de merecer.
-Está certo. Me mostra onde está o cercado.

Quando Alexandre voltou a entrar no quarto, Lia estava sentada na cama com o menino agarrado em seus seios. Ela o balançava e cantava pra ele, enquanto ele ia fechando os olhos devagar.
-Está tudo pronto?
-Sim, daqui a pouco ele dorme.
-Bom, então deixa eu adiantar isso aqui.-Ele colocou o berço ao lado da cama, no lado que ela costumava deitar e montou algumas peças, depois forrou com lençóis limbos e colocou uma coberta para ela envolve-lo.-Prontinho. Eu vou comer alguma coisa, volto daqui a pouco.
-Ta.-Ela esperou ele sair e deixou as lágrimas caírem.-Estou com medo disso tudo. Mas é a nossa chance de termos uma família completa.

Ana Clara deu uma olhada em volta e suspirou, voltou-se para a amiga.
-Tem certeza que você quer isso? Viver definitivamente como a amante dele?
-Não vou viver como a amante dele.
-E ele não vai viver aqui como seu marido.-Ela sentou no chão da sala desprovida de sofás.-Não sei, acho perigoso.
-Clara, se você queria me deixar com medo, ta conseguindo.-Ela abraçou os braços e suspirou.-Essa casa é boa, tenho algum dinheiro no banco. Acho que vai dar pra me virar por enquanto.
-Mas e seu trabalho, sua faculdade. Nosso negócio...
-Posso continuar customizando e levo pra você. Ou compro um computador e vendo daqui mesmo.
-Ah amiga, to com medo disso tudo.-O celular dela começou a tocar e ela abriu a bolsa.-Deve ser o Carlos perguntando sobre o nosso sumiço.
-Vou precisar de uma carta de referência dele.
-Não é, número desconhecido.-Ela atendeu.-Pois não?... Ah sim, o abajur... Sei, ele custa oitocentos, mas o frete. Parcelamos também em até doze vezes no cartão. Sim claro, pode compra que deve chegar até a próxima semana. Assim que confirmada a compra, será encaminhado para o correio. Certo, eu que agradeço, tenha um bom dia.
-É melhor você voltar, deve ter pedido para despachar. Ficar perdendo tempo aqui comigo, não vai dar certo.-Ela levantou devagar.-Vou comprar materiais e começar a customizar daqui. Vamos continuar com o projeto e quando der, montamos uma loja.
-Por favor, amiga se não der certo, volta.-Ela a abraçou.-Lá você estava mais segura.
-Tudo bem.-Ela a acompanhou até o portão da casa recém alugada.-Quando chegar me liga. Esse final de semana eu vou pra falar com o Carlos. Não quero voltar a esfregar o umbigo atrás de um balcão não.
-Ta certo. Vou avisá-lo e pode ficar tranqüila, seguro a onda por lá.
-Obrigada Clarinha, pela força.
-Fica me devendo.-Ela riu e entrou no carro.-Te adoro!
-Eu também.-Ela viu um caminhão manobrar para entrar na vaga onde Ana Clara estava a pouco e olhou no relógio.-Pontuais até de mais.
Eram os entregadores com os móveis que ela havia comprado em um brechó aquela manhã. Os levou pra dentro enquanto indicava onde ficava cada coisa. Estava vivendo um sonho, tampava os olhos para o perigo. E em seus pensamentos, os problemas deixariam de existir e eles viveriam felizes para sempre.

Roberta soltava fumaça enquanto via Alexandre arrumando as malas e saindo de casa. Tiveram uma discussão feia, acabaram se ofendendo e agora ela sabia que iria se vingar dele. E não o deixaria para vagabunda alguma. Se ele não fosse dela, também não seria de mais ninguém.
Pegou o telefone e ligou para André.
-Oi Beta, o que você quer?
-Você sabe o que aquele imbecil fez?
-Não, o que?
-Saiu de casa. Eu quero você na cola dele pra descobrir quem é a vagabunda. E quando descobrir, já sabe.
-Olha Beta, foi bom enquanto durou, mas to fora.
-O que? Você sabe que eu vou te ferrar, não sabe?
-Tenta querida. Quem vai sair perdendo é você.
-Idiota!-Ela desligou o telefone furiosa, subiu na cama e puxou uma maleta de cima do armário, lá dentro havia escondida uma RT 85 polida e brilhando.-Vamos ver se isso aqui não resolve o problema.
Ela pegou o casaco que estava pendurado em uma poltrona e colocou o revólver dentro do bolso interno. Era hora do acerto de contas definitivo. Mulher alguma levaria o dinheiro do seguro de Alexandre.
Saiu apressada, atravessou a rua e de longe o viu entrando na casa da mãe. Diminuiu o ritmo dos passos, até ver uma mulher sair com ele e um menino. Se escondeu atrás de um poste, olhou bem. Não era possível! Era a vagabunda da Lia de novo. Resolveria o problema logo e sem deixar pistas do que fizera.

Lia estava sentada a mesa ao lado de Alexandre. Faziam contas e planejavam suas vidas para finalmente poderem se mudar. Carmem estava na cozinha passando o café, se aproximou deles com duas xícaras.
-Então, falta muito pra acabar?
-Não, agora só resta dividir as despesas.-Lia falou pensativa.-No final, acabou saindo mais barato do que imaginei.
-Eu percebi.-Alexandre sorriu satisfeito.-Agora está na minha hora, vou me despedir do Pedro e sair.
-Seu carro, quando vai pegar meu filho?
-Amanhã.-Ele se levantou e chamou Lia com a cabeça.-Me acompanha?
Ela o acompanhou até o quarto. Quando entraram, ele a puxou pela cintura e arrebatou-lhe os lábios em um beijo cheio de entusiasmo.
-Amanhã eu pego o resultado dos exames.-Ele apertou o abraço.-Você tem certeza que fica comigo mesmo se eu tiver pego alguma coisa?
-Eu te amo.-Ela o olhou nos olhos.-Quero muito ficar com você. Sei que não vai ser fácil, mas vamos tentar.
-Certo.-Ele olhou para o berço e sorriu.-Cuida bem dele, eu volto amanhã de manhã.
-Ta.-Ele voltou a beijá-la e afastou-se.-Se cuida.
-Qualquer coisa, me liga.
Ela o deixou ir com um sorriso nos lábios. Era ótimo se sentir completa daquela forma.

Já passava das oito quando Alexandre chegou em casa na ponta dos pés. Pelas contas, Lia devia estar acordando. Entrou no quarto devagar, a viu largada sobre a cama e sorriu, antes de arrancar o paletó e deitar ao lado dela.
-Meu amor?-Ele falou ao ouvido dela.-Lia, acorda.
-Que hora é essa?-Ela resmungou abrindo os olhos devagar.
-Oito e meia.-Ele sorriu.-Que cara é essa, não dormiu a noite?
-O Pedro tossiu a noite toda. Fiquei preocupada.
-Será alguma alergia?
-Não sei. Sua mãe deu um xarope a ele e ele ta dormindo faz um tempinho.
-Hum.-Ele a beijou.-Tenho novidades.
-O que é?
-Pode começar a tirar a roupa.-Ele tirou o exame do bolso da calça.-Passei no laboratório e me entregaram. Estou limpíssimo.
-Jura?-Ela tomou o papel das mãos dele e sorriu.-Nossa Ale, eu... a gente tem que comemorar.
-O que está esperando para tirar a roupa?
Eles caíram na cama envolvidos em um beijo cheio de língua. Lia desabotoou a camisa dele para ajudá-lo a se despir. Queria tanto senti-lo dentro de seu corpo mais uma vez. E Alexandre tinha o poder de fazê-la sentir-se sempre pronta para se entregar.
Os dois rolaram na cama, até que Lia ficou por cima. Começou a descer beijos pelo peito dele, quando estava alcançando o cinto, ouviram a porta ser aberta com um chute.
-Mas que merda é essa?-Alexandre empurrou Lia pra cama e levantou.-Roberta, o que você quer aqui?
-Então é isso?-Ela apontou para Lia.-É por essa vagabunda que ta saindo de casa? Que ta largando seus filhos?
-Você não pode entrar aqui assim. Sai daqui agora.
-Eu tenho que sair? Agora essa piranha vai me ouvir.-Ela tentou avançar em Lia, mas Alexandre a segurou a tempo. O menino se assustou com os gritos e começou a chorar.-Vai deixar sua família pra criar o filho de outro?!
-Cala a boca, você não sabe o que ta dizendo.
-Sei sim.-Ela gritou nervosa.-Sei que você não pode ter filhos e que esse fedelho não é seu.
-Dobra a língua pra falar do meu filho.-Lia falou furiosa, enquanto tentava acalmar o menino.
-Eu vou acabar com vocês. Escreve o que estou te dizendo, vou acabar com vocês!-Ela saiu dali batendo a porta e derrubando tudo que encontrava pela frente.
-Você está bem?-Ele a abraçou, o menino continuava resmungando.-Tenta acalmá-lo, ele está agitado.
-Também, com o susto que ele levou.-Ela sentou na cama e ofereceu o seio ao menino.-Está tudo bem querido, aquela louca já foi embora.
-Eu vou resolver isso Lia, eu prometo.-Alexandre saiu da casa e encontrou Roberta perto do carro arranhando toda pintura com um prego. Quando ele viu, enfureceu.-Você está louca? O que pensa que está fazendo?
-Esse carro foi muito caro pra você ficar passeando pra cima e pra baixo com sua piranha.
-Cala a boca e sai daqui.-Ele tomou o prego da mão dela.-Você está fazendo barraco.
-Você é meu Alexandre.-Ela deu um soco no maxilar dele.-E eu não vou deixar você praquela vagabunda de quinta.
-Chega.-Ele lhe deu um tapa que a fez cair um pouco afastada.-Não sou de bater em mulher, mas essa você mereceu.
-Então ninguém vai dizer que não foi legítima defesa.-Ela levantou a arma e apontou pro peito desnudo dele.-Se não for meu, não será de mais ninguém.
-Alexandre!-Carmem largou as sacolas e correu quando viu o filho caindo na frente de casa, com a mão sobre a perfuração.-Sua assassina. Alguém chama a polícia.
Roberta levantou cambaleando e saiu correndo dali. Lia veio logo em seguida, quando o viu caído no chão se desesperou, voltou correndo e pegou o telefone, chamou o serviço de emergência.
A rua encheu em poucos instantes, não demorou e sirenes de polícia e ambulância acabaram com o silêncio da manhã.

-Você é louca?-André deu um tapa estalado na cara de Roberta.-Você matou meu irmão.
-Matei, e aquela vigarista não vai ficar com ele.-Ela deu um soco nele.-E se não quiser ter o mesmo fim dele, some daqui agora.
-Ah, ta pensando o que sua louca?-Ele deu um soco ainda mais forte nela, a fazendo cair encima do sofá.-Você vai pagar pelo que fez. E a polícia vai ficar sabendo.
-Alego legítima defesa. Ninguém pode me julgar por me defender.
-É o que veremos.-Ele subiu encima dela.-Eu tenho um presentinho pra você. Quer saber como a Lia se sentiu?
-Você não é louco de tocar em mim.-Ela tentou alcançar a arma, mas ele foi mais ágil.-Me solta, ou te mato!
-Não querida, ta na hora de você provar um pouco do seu veneno.-Dizendo isso ele rasgou a calça dela e se posicionou entre suas pernas.-Bem vinda ao mundo da AIDS.

Lia sentou em uma poltrona grande no quarto e ficou observando Alexandre deitado. Havia acabado de sair da cirurgia, o plano que ele possuía era um dos melhores, ele pôde ser levado para o melhor hospital da área. Em pouco tempo havia uma equipe de cirurgiões entrando em cena.
Graças a Deus conseguiram salva-lo. O tiro passou perto do coração, fez pouco estrago, a bala se alojou em um lugar difícil. Mas foi retirada. Agora só restava esperar ele acordar e ter certeza de que estava tudo bem de verdade.
As crianças ficaram na casa de Carmem, pelo que ela havia lhe dito, Roberta havia sido levada para a delegacia, a polícia encontrou a arma com ela. E ela alegava que a arma era de Alexandre. E o pior, que havia atirado em legítima defesa. Por sorte, o mercado que havia na rua, tinha câmeras e a polícia já estava atrás das fitas de segurança.
Estava tudo calmo, ela estava aliviada, um pouco preocupada, mas tudo estava se ajeitando.
Quando a porta do quarto abriu, ela prendeu o fôlego e entrou em pânico.
-O que faz aqui André?
-Vim ver meu irmão.-Ele fechou a porta.-Pode ficar sentada aí, eu só vou falar umas coisas com ele.
Lia viu ele se aproximando da cama. Ele olhou para Alexandre um tempinho e depois se aproximou para falar com ele de perto. Ela não podia ouvir, porque ele falava baixo. Estava com medo de ele fazer algo, ficou todo o tempo de olho nele, até ver Alexandre se mexer e segurar o braço do irmão.
-Alê.-Ela se aproximou e o viu abrindo os olhos.-Está tudo bem? Você está sentindo algo?
-Estou bem.-Ele encarou André.-Não quero você perto dela. Nem dela, nem dos meus filhos.
-Eu sei cara, não vou tocar na sua mina.-Ele se voltou para Lia.-To sabendo que o lance entre vocês tá sério. Têm até um guri, não é?
-O que você quer André?-Lia cruzou os braços e ficou séria.-Se já falou tudo que tinha pra falar, melhor ir embora.
-Não falei não.-Ele se voltou para Alexandre.-Vou colaborar, vou depor contra Roberta, ela não vai mais atormentar vocês.
-Em troca de que?-Alexandre falou, já sentindo uma dorzinha chata o incomodando.
-Em troca de ser perdoado.-Ele baixou a cabeça.-E poder ver os garotos de vez em quando.
-Esquece, você não chega perto dos meus filhos.-Alexandre falou sério.-Mesmo que você seja o pai biológico do Adrian, ele é meu filho e você não vai se meter com ele.
-Só quero vê-los de vez em quando.-Ele enfiou as mãos dentro dos bolsos.-Eu não posso mais colocar um guri no mundo, sem fazer mal há alguém. Não sou de pedir nada, mas me deixa pelo menos curtir com os garotos, igual antigamente. Na casa da mamãe, vocês podem ficar de olho. To com saudade da molecada.
-Você se transformou em alguém perigoso para eles.-Lia falou baixo.-E vai confundir a cabeça do menino se resolver dizer a ele que é o pai dele.
-Não vou dizer.-Ele sorriu para ela.-Nem para o Adrian, nem para o Pedro.
-O Pedro não é seu filho.-Lia falou séria.
-Nem do meu irmão.-Ele deu um passo atrás.-Então Alexandre, você pode criar mais um menino, dar seu nome a ele. Mas fui eu que fiz. Só estou te pedindo pra me deixar vê-los de vez em quando.
-André, sai daqui.-Lia começou a ficar nervosa.-Você já sacaneou de mais o seu irmão, ainda vem aqui exigir? É melhor você sumir de uma vez.
-Não dá.-Ele foi se afastando para a porta.-Vou embora, porque sei que estou incomodando. Mas quero que pensem na situação e em breve nos veremos mais uma vez.
Ele saiu fechando a porta atrás de si. Lia voltou a sentar na poltrona e apoiando os braços nos joelhos, descansou a cabeça nas mãos espalmadas e derramou lágrimas.
-O que você tem?-Ela ficou calada, apenas fungando, ele se impacientou.-Afinal, o que você tem?
-Ele sabe.-Ela levantou a cabeça e ficou olhando a porta.-Ele é perigoso, vai acabar fazendo algum mal ao meu filho.
-Ele não sabe, ele deduz.-Alexandre esticou o braço e a chamou para perto de si.-E também, em breve, se for de sua vontade, teremos um outro filho. Quem vai dizer que o menino não é meu?
-Como assim, teremos outro filho?
-Estive pensando em tentar reverter meu caso.-Ele deu de ombros.-Com um pouco de sorte, podemos conseguir uma menininha.
-Não sei, quatro crianças, muito trabalho.
-Ah, você não quer.
-Claro que quero.-Ela suspirou e sentou na cama, perto dele.-Mas está tudo tumultuado, vamos dar um tempo pras coisas se ajeitarem. Se Roberta ficar presa, ótimo, não iremos nos preocupar com ela.
-Ela vai ficar presa.-Ele beijou a mão dela e sorriu.-E você senhorita, se quiser, será minha mulher.
-Eu já sou sua.-Ela falou com a face vermelha.
-Não pela lei.-Ele riu.-E quando for lavrado em cartório, você nunca mais irá fugir de mim.

Três anos depois.

Lia desceu as escadas de casa correndo, a campainha tocava insistente. Quando abriu a porta, viu André parado a soleira.
-Seu idiota, o mundo ta caindo? São oito horas da manhã, hoje é sábado, as crianças estão dormindo.
-Nossa, como você fala.-Ele riu e mostrou o Rolex novo a ela.-E eu sei que horas são. Vim buscar vocês pra um passeio.
-Como é?-Ela ficou séria.-Me acordou a essa hora, pra curtir com a minha cara? Sabia que eu trabalho a noite? Hoje é o meu único dia de folga.
-Hei mulher, você quando acorda cedo, ninguém merece.-Ele entrou na casa e olhou em volta.-Vai lá, acorda o Xandy, lembra a ele que tem compromisso. E pode começar a acordar a tropa.
-Vocês marcaram sem falar comigo?-Ela ficou mais irritada.
-Lia, quem está aí?-Alexandre desceu as escadas e viu André.-Puts cara, esqueci.
-É, to sabendo. Tua mulher é o cão quando acorda cedo.
-Seguinte Lia, acorda as crianças, vamos passar o dia juntos.
-E você acha que sou o que? Sua empregada? Vai você acordar aquelas feras. E quero ver tirar a Rafa da cama agora.
-Ta bom, então você prepara o café.-Ele voltou os degraus que desceu.-E não reclama, ultimamente, você tá num humor de cão.

Lia foi pra cozinha frustrada. Estava com sono, irritada, estressada. E com vontade de arrancar as amídalas de Alexandre e enfiá-las pela garganta de André. Aqueles dois, desde que se acertaram, não lhe deram sossego. André era uma péssima companhia e sempre insistia em tirar Alexandre de casa quando tinha alguma folga.
Enquanto resmungava, André chegou por trás e a abraçou.
-O que está acontecendo?
-Você está linda.-Ele beijou o pescoço dela.-Não fica braba não, só quero levar vocês pra sair, divertir as crianças algum tempo. E esse aqui também.
-Tira a mão de mim.-Lia tirou a mão dele de sua barriga.-Podia ter marcado um programa a tarde. De manhã é sacanagem.
-Você dorme no barco.
-Barco?-Ela se voltou pra ele.-O que pretendem?
-Vamos pescar, as crianças vão nadar. Vamos passear no meu mais novo brinquedo.
-Agora é um barco?
-Sim e você vai gostar.
-Você está influenciando meu marido sabia?-Ela falou irritada.-Daqui a pouco ele vai estar querendo comprar um também.
-Não vai não. O Xandy é responsável, sabe que tem uma renca de crianças pra sustentar. E se continuarem do jeito que estão, vão montar uma creche em breve.
-São só quatro. E a Rafa não conta, ela já tem quinze, é adolescente.
-Mas também dá despesa.
-Quer parar de encher a cabeça da minha mulher?-Alexandre entrou na cozinha com Pedro no colo e o colocou em uma cadeira.-Não dê ouvidos a ele. É só um maluco aproveitando os últimos dias de vida.
-Quer saber, acho melhor vocês irem sozinhos.-Ela suspirou.-Eu to cansada, irritada, não serei uma boa companhia hoje.
-O começo da gravidez, é assim mesmo.-Ele acariciou a barriga dela, ainda estava pequena.-Mas veja pelo lado bom, em breve tudo acaba e você só vai aproveitar.
-Enquanto isso não acontece.-André puxou uma cadeira e sentou ao lado de Pedro.-Queremos café.
-Eu vou diminuir os últimos dias dele.-Ela falou levando pra mesa uma caixa de cereal.-Assim me livro desse tormento.

Alexandre se aproximou de Lia, ela estava na beirada no barco, enjoada. Finalmente ele percebeu que não foi uma boa idéia.
-Você está melhor?
-Não, ainda estou enjoada.
-Toma isso.-Ele deu um copo a ela e um comprimido.-Relaxa um pouco, se quiser, podemos ir lá pra baixo e eu lhe faço uma massagem.
-E se essa porcaria de barco virar?
-Não, acho que não vamos pegar tão pesado.-Ela riu e ele estendeu a mão.-Vem, eu vou te colocar na cama.
Os dois desceram sob o olhar de um invejoso André. As crianças estavam brincando na proa, Rafaela ficou em casa. Finalmente tudo estava acertado. André ainda suspeitava que Pedro fosse seu filho, mas Lia estava grávida, então a versão deles era legítima.
Menos mal, não queria que Lia visse no menino a noite em que ele deixou o monstro dentro de si tomar lugar. Estava ali aproveitando seus últimos meses de vida. Sabia que pelo tempo que restasse, iria carregar sobre si a culpa pelo que fez. Mas estava realmente arrependido. E agora, via o mundo com outros olhos. Trabalhava duro, desfrutava aqueles momentos com sua família e se divertia de verdade.
Roberta havia sido presa por porte ilegal de arma e tentativa de assassinato. Cumpriria apenas três anos, por recorrências de advogados. Ele ao menos havia conseguido se vingar. Por culpa de manipulações dela e de sua cabeça fraca, a mulher que ele amava, estava naquele momento trepando com seu irmão na cabine de casal.
-É mundão.-André olhou em volta e só viu mar.-Lá vou eu, me espera que eu to chegando.
-Ta falando sozinho tio?-Adrian perguntou perto dele.
-To sim meu filho.-Ele sorriu para o menino.-To ficando velho. Fica de olho no seu irmão, se ele se machucar, você já sabe.
-É, to sabendo.-O menino olhou para o irmãozinho com um ar superior e deu de ombros.-Esse guri é muito mole, se cair no mar ninguém nem vai perceber.
-Adrian!-Ele viu o ciúme estampado no rosto do menino, enquanto Pedro brincava inocentemente no convés.-Vem aqui, você não quer aprender a navegar igual um pirata?
-Quero!
André suspirou. Iria conversar com o irmão sobre as atitudes do menino. Não queria que seu filho seguisse seus passos e machucasse o irmão. Pedro era todo igual a Alexandre. Pacifico, carinhoso. O tipo de criança por quem todo mundo fica encantado. Isso poderia gerar problemas entre os dois. E mais uma vez, se repetiria a história de Caim e Abeu. A inveja e o ciúme entre irmãos.



Considerações Finais:
Apesar de ter escrito esse e outros contos sobre infidelidade, eu sou contra relacionamentos extraconjugais. Acho que, se não há mais paixão e amor entre o casal, o melhor a fazer é separar. Mesmo quando há filhos, quando a situação não permite, etc.
É melhor separar como amigo, do que criar certo ódio pela pessoa com quem você conviveu. Descobrir uma traição dói. Ainda mais quando você descobre pela boca de outros, ou descobre que pessoas próximas a você sabiam. Isso anula a pessoa, enfraquece.
Há mulheres que se agarram ao marido, como uma ponte de salvação. Ou simplesmente não querem perder o conforto que ele promove. Também tem aquelas que não se separam para não deixar o marido para outra mulher. De qualquer jeito, uma relação assim não tem futuro. E cada dia que passa, essa pessoa nutre sentimentos ruins pelo ser que jurou um dia amar. No final das contas, as crianças (Quando há) sofrem mais do que se os pais tivessem se separado no começo da história.
Não que uma separação seja uma coisa fácil. Às vezes, é preciso muita coragem para mudar radicalmente de vida e acabar com tudo.
Como experiência pessoal, afirmo que separar é mais difícil do que aceitar que o marido tem outra, para não perder a vida estável ao lado do companheiro. E também, como experiência pessoal, sei que os homens dificilmente, em 99, 999% dos casos, largam suas mulheres para viver com a amante.
Eles simplesmente não largam aquela mulher perfeita com quem ele já teve o trabalho de se casar um dia, pra ter o trabalho de se casar com outra mulher e começar tudo de novo. Eles encontram na amante, o que não encontram em casa. Porque em 100% dos casos, a amante quase chega a lamber o chão que esses homens pisam. Pensando assim, que eles vão deixar a matriz para finalmente ficar com a filial. Não adianta mostrar para aquele homem que você é perfeita. Ele só vai ver em você “a amante perfeita”.
Por fim dos casos, os homens sempre saem sem seqüelas desses relacionamentos extraconjugais. E quando optam pela esposa, costumam tratar a amante da pior forma possível, só para finalmente se livrar do brinquedo que um dia funcionou perfeitamente.
Na minha pequena experiência, encontrei um homem que contribuía com o que eu queria. Enchia meu ego e fazia um sexo maravilhoso. Quando engravidei o mundo virou de pernas pro ar. Me casei sem saber realmente quem era o pai do bebê e no final da história, a mulher dele descobriu o caso e infernizou tanto a vida dele, que ele de repente passou a me odiar.
É assim a maioria das vezes. Por isso eu digo, relacionamentos extra-conjugais são desgastantes e cheios de dores de cabeça. Mais vale amar um cão.
Espero que tenham gostado da história. Bjos e uma ótima semana.