quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Chance Perdida.


Minha festa de noivado foi no salão de um dos hotéis de luxo do meu pai. A festa estava ótima, havia gente de todos os tipos e idades. Eu iria me casar em duas semanas, naquele mesmo local. E o homem que eu amava, estava dançando com minha irmã mais velha.
Aconteceu anos atrás, antes de minha irmã se casar com ele, me apaixonei por Cristóvão e ainda adolescente, entreguei-me a ele. Mas eu era a caçula, não iria poder me casar tão cedo, enquanto minha irmã não se arranjasse. Ele era herdeiro de um império de automóveis, nossos pais, conhecidos desde a infância, morávamos no mesmo condomínio. E quando Gabriela o viu comigo, ficou morrendo de ciúmes.
Todos diziam que eu era a mais bonita das duas. Meus cabelos castanhos, os olhos azuis. Traços sensuais, herança de família irlandesa. Gabriela era loura, não possuía muitas formas. Mas chamava a atenção, afinal, todo brasileiro adora uma loura.
Em uma noite de descuido, ela invadiu o meu computador e leu os e-mails dele, marcando encontros. E maliciosa como era, foi para o motel aonde marcamos a nossa primeira noite e fotografou tudo o que pode, da nossa chegada à nossa saída.
Fui chantageada por ela, durante muito tempo. Ela me afastou do Cristóvão e duas semanas depois, estavam os dois namorando. Em casa! Com meus pais na sala, felizes pela descoberta.
Engoli meu orgulho ferido e nunca mais olhei pra ele. Até começar a namorar Natanael, outro filho de um grande amigo do meu pai. Esse namoro foi mais arranjado, e eu não me importei. Pensei que a felicidade e o amor, fossem enredo de livros. Meu namorado era excelente, engraçado, inteligente. Só não conseguia me fazer estremecer de prazer, me entregar como se fosse à última chance de ser feliz. Ele não era o Cris.
Estávamos namorando há dois anos. Meu pai, louco para ter netos, afinal, Cristovão e Gabriela estavam casados há cinco anos e não lhe deram nenhum herdeiro. Acabamos recebendo uma pressãozinha para nos casarmos. E a história que eu vou contar, é a história do maior pecado que já cometi na vida.

Saguão do hotel Aryel, 23:30.
Estava zonza de tanto rodopiar nos braços de vários homens, bebi pouco, não comi nada. Sorria, pousava com minhas amigas para as fotos, mas preferia não pensar que em breve eu estaria me casando e que corria um grande risco de não fazer meu noivo feliz.
Há um tempo eu estava sentada na mesa principal, fitando meu cunhado. Respirei fundo, tentei disfarçar, mas ele também me olhava com uma cara de pidão. Chegou a minhas mãos, um típico bilhete escrito em guardanapo.
Quarto 506 00:00.
Olhei para o relógio, estava quase na hora. Imaginei que o bilhete fosse do Natan, me levantei, fui me despedir de algumas pessoas, disse que iria me retirar, que estava indisposta. E todos imaginaram que eu estava grávida e que era esse o motivo do casamento repentino. Não liguei, afinal, toda minha vida foi envolvida pela suposição dos outros.
Fui até a recepção, peguei as chaves e subi ao quinto andar, só agora eu pensava no óbvio. Se estávamos no Hotel do meu pai, porque escolher uma suíte comum e não uma de luxo, na cobertura? Depois veríamos isso.
Abri a porta procurando por ele no escuro, acendi as luzes e lá estava Cristóvão sentado em uma poltrona perto da janela, sem o blazer, com a camisa aberta nos pulsos e até o meio do peito.
-Peraí, o que está fazendo aqui?
-Esperando você.-Ele se levantou e veio até mim, com uma taça de champanhe na mão.
-Então foi você.-Larguei a bolsa sobre uma mesa na entrada e suspirei.-O que você quer?
-Você.-Ele me puxou pela cintura, colou os lábios nos meus, o impacto foi mágico, meu coração voltou a esmurrar o peito, como não fazia há mais de cinco anos.-Essa noite você vai ser minha.
Fiquei um tanto abestalhada, retribuí o beijo até que minha mente me alertou a burrice que estava cometendo e me afastei.
-Você não pode.
-Posso sim.-Ele me puxou pelo braço e me beijou, me encostando-se à parede.-E você não vai escapar.
-Cris não.-Ele me calou com outro beijo que me levou as nuvens.-Por favor, para.
Quanto mais eu implorava, mais ele intensificava as coisas. O beijo foi se tornando mais selvagem, as mãos subiram para o decote do meu vestido e começaram a afagar meus seios. Eu estava me perdendo naqueles braços e enlouquecia cada vez mais. Mas a consciência me obrigava a me afastar.
O empurrei, virei o rosto, mas o membro dele já lutava contra a calça, quente e duro contra minha barriga. Eu estava sem ar, meu corpo inteiro arrepiado pedia pra ser liberto daquele vestido, pra encontrar o corpo quente dele.
-Não faz isso.-Eu gemi, enquanto ele beijava meu pescoço, mais tranqüilo.-Isso não está certo.
-Não posso parar mais.-Ele subiu a barra do vestido até minha cocha, procurando soltar a liga da meia, puxando a calcinha pro lado, me desnudando.-Se eu voltar atrás agora, vou fazer uma loucura.
-Maior do que essa?-Tentei empurrá-lo mais uma vez.-Não Cris, me escuta...

Ele me calou com outro beijo. A língua decidida invadia minha boca, dançava junto com a minha, fazia meu coração dar cambalhotas e voltar a terra. Me entreguei ao beijo, como não fazia há tempos. Nunca fiquei tão excitada com um beijo, como fiquei naquele dia.
Ele desceu as mãos pelas minhas pernas e me ergueu até encaixar minhas pernas envolta de sua cintura. O Pênis já estava pra fora, encontrou o caminho molhado e desimpedido, a penetração foi única e dolorida. Há tempos eu não fazia sexo, e mais ainda, com um daquele tamanho!
Me agarrei a ele, pra continuar na terra, meu corpo estava anestesiado, eu sentia um prazer surreal e gemi mais ainda, quando ele se enterrou com força dentro de mim. Eu já não estava nem aí pro resto do mundo, queria mais daquele prazer, mais daquelas sensações. O apertei dentro de mim, tentando ao máximo senti-lo por inteiro.
Ele me descolou da parede e caminhou comigo até a cama. Nossas bocas estavam coladas, nossos corpos encaixados, um calor estranho se apossou de mim. Ele sentou-se na cama e começou a despir meu vestido. Foi um sufoco, porque o vestido foi costurado no meu corpo e não possuía zíper, ou botões. Uma extravagância à parte da minha mãe.
Mas finalmente ele conseguiu sem prejudicá-lo, ainda ofegante igual a mim, me viu naquela lingerie vermelha e preta e grunhiu igual a um urso. Comecei a rebolar sentada naquele pau e ele tentava me deter.
-Para, eu vou gozar.-Ele enfiou a mão entre meus cabelos e os soltou.-Esperei muito por isso, não quero parar agora.
-Goza de uma vez.
Ele me jogou na cama e começou com movimentos violentos, me fazendo gritar e fincar as unhas nas costas dele. Joguei a cabeça no travesseiro e gozei como nunca. Via estrelas ainda, quando ele, respirando pesado, com os braços trêmulos, deitou sobre mim e me beijou de forma terna e sensível. Assim como nos beijávamos anos atrás, quando namorávamos escondidos.
Em minha mente eu o imaginava beijando minha irmã daquela mesma forma. E lágrimas brotaram nos meus olhos.
-Isso não podia ter acontecido.-Falei quando ele saiu de dentro de mim e deitou ao meu lado.-Não é justo com a Gabriela, muito menos com o Natan.
-A vida nem sempre é justa querida.-Ele me puxou e ficamos deitados de lado, um de frente para o outro.-Não demora você vai se casar e irão se mudar. Essa foi à única oportunidade que encontrei.
-Oportunidade de que?
-De ter você mais uma vez.-Ele me beijou na testa.-Precisava tanto disso, que estava enlouquecendo. Tantos anos tão perto e sem poder tocá-la.
-Você fez sua escolha.-Respondi malcriada.-Queria as duas ao mesmo tempo, por acaso?
-Não é nada disso.-Os lábios dele, ah aqueles lábios tão desenhados e bonitos, como eu gostava de admirá-los. E agora estavam ali a poucos centímetros dos meus.-Você sabe como as coisas aconteceram, não se faça de sonsa.
-Como é?-Comecei a me revoltar.-Quem pensa que é, para falar comigo nesse tom?
-Escuta Aryel, não estou aqui para brigar com você.-A mão dele passeava pela linha do meu quadril, descendo pela coxa.-Só quero recuperar o tempo perdido.
-O tempo não volta Cris.-Tirei a mão dele de cima de mim e me levantei.-Isso foi loucura.
Me tranquei no banheiro, procurando me recompor. Meu corpo estava trêmulo, meu coração ainda batia forte. Eu queria voltar naquele quarto e me atirar novamente naquela cama, me entregar a ele de novo e morrer de prazer entre aqueles braços.
Uma batida quase surda na porta, me fez voltar à realidade. Não podia e nem queria voltar atrás, podia passar o que passasse, iria continuar amando aquele homem.
Abri a porta do banheiro com o coração na mão. Ele estava com a camisa aberta, a calça fechada sem o cinto, estava sem sapatos, os cabelos bagunçados. Um homem de arrancar suspiros, até mesmo maltrapilho.
-Você está bem?
-Sim.-Respondi suspirando.
-Quer que eu te leve embora?
-Não.-Ele se aproximou, me puxou pela cintura.-As coisas estão difíceis entre nós.
-Impossíveis talvez.-Ele beijou meu rosto.-Mas eu te amo e quero muito que você fique essa noite comigo.
-O que vai dizer a Gabriela?
-Nada.-Ele acariciou meus cabelos.-Se tivermos tempo, conversaremos mais tarde. Agora, vem tomar um banho comigo?
Como dizer que não? Entramos no banheiro juntos, ele me virou de costas para ele, de frente para o espelho e foi retirando meu espartilho. Depois, beijando minhas costas lentamente, foi descendo e ajoelhou-se no chão. Tirou as ligas, desceu as meias sete oitavos, as mãos dele acariciavam minhas coxas e da mesma forma, ele tirou minha calcinha. Eu estava toda melada, mas ele não se importava, empinou o máximo meu bumbum e lambeu toda a minha boceta, parando pra chupar o grelinho.
Os dedos dele acariciaram e penetraram me deixando louca. Devagar ele os tirou de dentro da minha boceta e foi sarrando na entrada do meu ânus.
-Não faz isso.-Tentei me esquivar.-Eu nunca fiz sexo anal.
-Está na hora de começar.-Ele se levantou beijando meu corpo.-Você é a mulher mais bonita que eu já tive o prazer de conhecer.-Ele me virou e me prensou contra a pia.-Impossível passar por esse corpo e não prová-lo por inteiro.
-Você fala essas coisas, mesmo sabendo que não vou mais fugir. São da boca pra fora?
-Não, são palavras guardadas.

Ele me beijou, puxando meu corpo pra junto do dele. Retribuí ao beijo e me envolvi na coisa. Descendo as mãos pelo peito dele, desabotoando a calça. Assim como ele me despiu, eu o despi. Ajoelhei-me a seus pés, desci devagar a cueca e o mordi na virilha. O pau já latejava em minha direção e eu não queria voltar atrás. O abocanhei e chupei até aonde conseguia engolir.
A cabeça era grande e escura, o corpo grosso tinha veias salientes. O chupei em volta, desci para o saco, engoli primeiro um e depois o outro. Voltei a enfiá-lo na boca e ele o empurrou até a garganta, me deixando engasgar.
Continuei chupando e masturbando, ele gemia e enfiava mais na minha garganta. Senti que não agüentaria mais, me afastei e levantei. Ele me segurou pelos cabelos e me virou de costas de novo, empinou bem minha bunda e foi entrando na minha boceta.  Fiquei nas pontas dos pés, ele enfiou todinho, largou meus cabelos e começou a me puxar pela cintura, aumentando o ritmo.
Nos fitávamos pelo espelho, o rosto dele estava distorcido pelo prazer, ele estava em um ritmo que me fazia sair do chão. Fechei os olhos e joguei o traseiro o máximo que pude contra o pau dele, aquela violência toda me fez gozar.

Estava com a garganta ardendo de tanto gemer, minhas pernas estavam bambas. Ele saiu de dentro de mim e conduziu o pau até a porta do meu ânus. Devagar, foi forçando a entrada. Fiquei apreensiva, sempre ouvi dizer que doía. Mas ele entrou devagar, sem forçar muito e pra minha surpresa, coube todinho.
Ele começou os movimentos de entra e sai lentos, mas em um dado momento, já enterrava com força, me puxando pelos cabelos, apertando meus peitos. Eu nem conseguia mais permanecer de olhos abertos. Fechei os olhos e me entreguei a vários orgasmos. Ele me estimulava, enfiava os dedos até o fundo da minha boceta.
Eu não agüentava mais ficar de pé, minhas pernas tremiam, ele meteu com o máximo de força que pôde e urrou, gozando logo em seguida. Eu podia sentir o pau dele pulsar lá dentro e isso me encheu de prazer.
Colocamos a banheira para encher e sentamos na borda dela, nos beijando e acariciando. Tanto tempo sem aquilo, me fez esquecer o quanto ele era carinhoso.
-Por quê?-Perguntei quando entramos na banheira e me alojei em seu colo.
-Por que o que?-Ele indagou enquanto esfregava óleo em meu corpo, com massagens suaves.
-Você sabe.-Deitei a cabeça no ombro dele.-Se passaram muitos anos, você fez sua escolha no passado. Eu queria saber, por que ela.-Ele ficou calado.-Fiz algo de errado? Você disse tantas coisas naquela noite, fez tantas promessas.
-Quer mesmo conversar sobre isso agora?-Ele ergueu meu rosto.-Não é uma história fácil.
-Temos a madrugada inteira.-O fitei nos olhos.-Independente do que disser aqui, continuarei com meus planos e amanhã, cada um vai voltar para seus respectivos parceiros.
-Você, com certeza, é a decisão que falta na empresa do seu pai.-Ele tentou descontrair.-Nunca vi alguém tão determinada quanto você.
-Por favor, não enrola.-Ele me afastou do colo e se levantou.-Aonde vai?
-Eu já volto.-Ele saiu do banheiro molhando tudo, depois voltou com a garrafa de champanhe gelado e duas taças.-Você quer pedir alguma coisa?
-Mais tarde.-Peguei uma taça  e sentei de frente pra ele.-Então, como vai ser?
-Foi tudo obra de chantagem.-Ele tomou o conteúdo da taça em um gole.-E escolhas erradas também.
-Explique-se.
-Antes de sair com você, eu havia ficado com a Gabriela.-Ele tornou a encher a taça.-Foi só uma ida ao cinema e uns amassos no carro, nada muito especial. Ela era bem mais velha do que você, bastante experiente também. Mas tinha atitudes que não me agradavam. E quando eu te vi, fiquei encantado. Foi uma diferença de poucos meses, começamos a sair, mas você ainda era uma menina.
-Por isso ficávamos escondido.
-Na verdade... eu não queria encrenca nem com sua irmã, nem com seu pai.-Ele pigarreou.-Preferi manter as coisas escondidas, porque imaginei que não iria rolar nada mais que alguns beijos.
-Mas rolou.-Sussurrei.
-Demorou, mas rolou.-Ele não me fitava mais.-E eu já estava encantado com você. Claro, que eu era mais velho e responderia pelos meus atos, se algo acontecesse. Quando finalmente te seduzi, fiz o possível para ser a melhor noite pra você.
-E foi.-Minha garganta já estava com um nó do tamanho da taça.
-Fizemos amor naquela noite e eu já estava pensando em tornar nosso relacionamento público. Mas sua irmã apareceu com fotos.-Ele sacudiu a cabeça.-E a forma como ela colocava as coisas, iria dificultar tudo a nossa volta.
-E como ela faria isso?
-Ela disse que se eu não me afastasse de você, iria levar as fotos para as autoridades e me denunciaria por corrupção de menor. Você tinha quinze, eu vinte e cinco, as provas estavam ali.-Ele bebeu mais uma vez.-Pensei na empresa, no futuro. Mesmo que eu não fosse preso, teria essa sujeira no meu passado e isso poderia dificultar os negócios.
-E pelos negócios, você me deixou?
-Não... sim.-Estava cada vez mais difícil segurar.-Fui ganancioso nesse momento. Queria você, mas também não podia jogar meu futuro no lixo, por causa da chantagista da sua irmã. Foi então que apareceram outras imagens.
-Quais imagens?
-Montagens suas com outro cara.-Ele deu de ombros.-A princípio, pareciam reais até de mais. Eu tinha uma pressão absurda sobre meus ombros, à empresa estava crescendo e eu precisava viajar a todo momento. Não parei pra checar se era verdade, ou não.
-Você me ignorou em muitos jantares e chegou a me destratar, uma vez que nos encontramos na praia.
-Ciúmes.-Ele pigarreou.-Sua irmã andava no meu pé, eu estava de cabeça quente. Certa noite acabamos nos esbarrando na rua, ofereci uma carona e... bem, acabamos trepando dentro do carro.
-Acho que já pode parar.-Meus olhos ardiam agora.
-Não posso não.-Ele largou a taça e me puxou para o abraço.-As câmeras internas do condomínio gravaram tudo. A desgraçada tinha tudo planejado, mais uma vez. As imagens chegaram anonimamente até o seu pai, que convocou uma reunião fechada. Meus pais, tão tradicionais quanto os seus, concordaram na hora com um arranjo. E não demorou muito, nos casamos.
-Comigo como madrinha.-Fechei os olhos, tentando segurar.-Doeu tanto ouvir aquela música, ver minha irmã entrando na igreja, ouvir o padre os declarar casados. Você podia ao menos ter me contado o que aconteceu! Ter se explicado antes...
-Eu ainda estava com raiva, por causa das fotos.
-Que fotos eram essas?
-Você nua no seu quarto, com outro cara na cama.-Ele sacudiu a cabeça.-Um dia, fui usar o computador da sua irmã e vi as fotos. Na maioria, você aparecia se trocando no quarto. Até que encontrei as fotos do cara. Ele estava com sua irmã, os dois tiraram as fotos em um momento íntimo. E ela se aproveitou do talento para mexer com imagens e fez montagens tão reais, que me enganaram.
-E vocês já estavam casados?
-Há quinze dias.-Ele suspirou.-Ainda morávamos com seus pais, nossa casa ainda estava em reforma. Eu via você todo o tempo, muitas vezes ficava trancada horas no quarto estudando, ou na biblioteca.
-Eu o evitava.-As lágrimas escorriam quentes pelo meu rosto, molhando o ombro dele.-E ela sempre fazia questão de me contar como você era bom de cama, como era carinhoso com ela. Eu ouvia vocês dois à noite, meu quarto era colado com o dela. Foram os seis meses mais longos da minha vida.
-Depois que encontrei as imagens, não toquei mais nela.-Ele enfiou uma mão entre minhas pernas.-Passava horas me masturbando observando você se trocando.
-Como?
-Escondido no seu quarto, ou espiando pela varanda.-Ele sorriu.-Eu estava lá à primeira vez que você dormiu com o Natanael.
-Ah senhor, você viu?
-Vi tudo pela janela da varanda do seu quarto.-Ele me abraçou com mais força.-Tentei sair de lá, mas queria tanto entrar e matar aquele cara, por estar tocando em você.
-Você não tinha esse direito.
-Não tinha.-Ele beijou o topo da minha cabeça.-Não tinha o direito de seduzir você, não tinha o direito de te magoar, muito menos de vir até a sua festa te provocar e te seduzir mais uma vez. Mas o ser humano é falho. E às vezes a gente faz besteiras quando ama.
Me calei.  Não queria retribuir a declaração. Recostei no peito dele e fechei os olhos, procurando acalmar as batidas do coração. Ficamos abraçados por longos minutos. Até que levantei a cabeça e desencostei.
-Como conseguiu ficar todo esse tempo com a Gabriela?
-O contrato.-Ele me olhou.-Vocês devem ter assinado um semelhante. Aonde diz que a herança ficará para os irmãos, caso haja divórcio.
-Assinei sim, mas fiz meu pai mudar o contrato.
-Como?
-Pedi para ele doar a uma instituição de caridade. Afinal, você e a Gabriela, nunca irão se divorciar, ela já desfrutava da fortuna dela e da sua. Só assinei com essa condição e como meu pai está louco por um neto...
-Esperta você. Devia ter feito as coisas com mais frieza. Mas estava sem rumo, por causa dos acontecimentos...
-Você tinha medo de perder tudo que conquistou, dá pra entender.-Eu me levantei.-Quem se importa em passar por cima do coração de uma adolescente, quando se tem milhões em jogo?
-Espera Aryel.
-Eu já estou com frio.-Me sequei o máximo que pude e coloquei o robe.-Eu vou pedir alguma coisa pra comer, só agora me toquei que estou a vinte e quatro horas, sem comer nada. Você quer alguma coisa?
***
Passamos quase uma hora assistindo ao final de um filme e comendo besteiras. Já passava de duas e meia, quando nos deitamos exaustos. Aninhados em um abraço gostoso, naquela cama confortável. Deitada de costas pra ele, deixei minha nuca à mostra e ele aproximou o rosto, foi beijando lentamente, mordiscando, me fazendo arrepiar inteira.
Me estiquei como um gato me espreguiçando e me virei, deitando de costas na cama. Ele já estava por cima, me beijando e abrindo meu robe. Meus peitos estavam sensíveis, ele os apertara de mais da última vez. Mas agora, era sensível o toque, excitava aos poucos. Ficamos longos minutos abraçados apenas nos beijando, os corpos roçando um no outro, mas sem haver penetração. Eu já estava inchada e sensível, mesmo assim, queria mais. A necessidade do meu corpo, era maior que qualquer desconforto.
Abri as pernas e o recebi com o maior prazer do mundo. Me senti no céu, conforme ele deslizava vagarosamente pra dentro do meu corpo, que já estava ajustado ao tamanho dele novamente. Nossos movimentos agora eram lentos. Eu rebolava, ele entrava e saía. Nos beijávamos o tempo todo. Ele me acariciava, os dedos se perdiam entre os fios do meu cabelo. Meu corpo e minha alma estavam nas mãos daquele homem. E durante aqueles curtos momentos, eu não pensei em mais nada nem ninguém.
Foram-se horas entre carícias, intensas, leves, ritmadas. Por fim, adormecemos quando o sol apontava no horizonte.
***
Já passava do meio dia, quando acordei. Não o vi no quarto, imaginei que houvesse me abandonado. Me levantei e o encontrei no banheiro se lavando.
-Eu já ia acordá-la.-Ele me puxou pela cintura.-Quer descer pra almoçar comigo?
-Acho que não é uma boa idéia.-Fui pra banheira e abri o chuveiro, estava com um pouco de pressa.-Hoje é domingo, tenho muitas coisas a resolver. E meu sumiço deve estar deixando todos loucos.
-Você tem razão.-Ele entrou na banheira junto comigo, me puxando para o abraço, cobrindo meus lábios com um beijo gostoso.-Será difícil me controlar daqui pra frente.
-Mas terá que tentar.-Lhe dei as costas e terminei meu banho frio, com ele acariciando e ensaboando meu corpo.-Sabe que ninguém pode sequer sonhar com o que passou aqui.
-Seu casamento não irá ser arruinado por minha culpa.-Ele me beijou o ombro e me abraçou por trás.-Mas se ele não conseguir fazê-la feliz, eu a seqüestro.
Ele me abraçou com força. Deitei a cabeça no ombro dele e relaxei. O que eram mais alguns minutos?
***
Fui pra casa àquela tarde, pisando em nuvens. Quando o táxi parou na frente de casa, percebi que meu sumiço foi mais sério do que imaginava. Tinha até uma viatura da polícia na frente de casa.
Quando entrei, todos ficaram olhando pra mim, esperando alguma reação.
-O que está acontecendo aqui?
-Nós que perguntamos.-Minha mãe veio até mim.-Aonde você se enfiou?
-Estava no hotel.-Dei de ombros.
-A procuramos no hotel. Você não estava em lugar nenhum. Suas amigas, nenhuma sabia de você. Até o Natanael está louco a procurando.
-Eu estava no quinto andar, em um quarto vago.-Me fitaram incrédulos.-O que foi?
-Por que no quinto andar e não em uma suíte de luxo?
-Pelo motivo óbvio.-Sentei-me e tirei as sandálias.-Eu queria descansar e sabia que iriam me procurar nas suítes presidenciais.
-Bem, já que está tudo bem e a moça apareceu, voltaremos a nossa patrulha.-O casal de policiais se retirou.
-E nós também vamos indo.-Cristovão e Gabriela estavam em um canto da sala. Ele havia saído primeiro do hotel.
-Vocês não ficam pra almoçar conosco?-Meu pai convidou.-Está um belo dia de sol, que tal aproveitarmos em volta da piscina?
-Não é má idéia papai.-Gabriela sorriu.-Vá em casa trocar de roupas.-Ela falou com o marido.
-Estou cheio de trabalho.
-Você já trabalhou a noite inteira.-Ela ironizou.-Não irá me deixar sozinha aqui também.
-Está certo.-Ele me fitou e sorriu.-Você deixou todos preocupados cunhada. Da próxima vez, avisa onde está.
-Nem morta.-Me levantei com as sandálias nas mãos.-Quando eu preciso descansar, me escondo até embaixo das pedras.
Subi as escadas em direção ao meu quarto. Me tranquei no banheiro, a procura de um biquíni confortável. Graças a Deus, ele não me deixou marcada. Encontrei um cor de rosa bem sacana, daqueles que mesmo contra nossa vontade, fica todo enfiadinho no traseiro.  Coloquei e saí arrumando os cabelos. Dei de cara com Gabriela no meu quarto.
-O que faz aqui?
-Vocês estavam juntos.-Ela me segurou pelo braço.-Você dormiu com o meu marido.
-Como é que é?-Ri na maior cara de pau.-O que você está dizendo?
-O desgraçado passou a noite fora. Você, sempre tão certinha, sumiu e apareceu logo depois dele.-Ela cruzou os braços.-O carro dele estava no estacionamento do hotel essa manhã.
-Imaginei que estivessem juntos.-Dei de ombros.-Não me venha com delírios Gabriela. Tanto conhaque, está te fazendo enlouquecer.
-Acho bom se manter afastada do Cristovão.  Você não sabe do que sou capaz.
-Sei sim. Sei que é capaz de passar por cima de pessoas inocentes pra conseguir o que quer.-Parei em frente a ela.-Mas escute bem, eu não sou idiota. Estou vacinada contra você. Não tente se meter na minha vida, ou acabo com você. Agora saia daqui.
-Isso não vai ficar assim.-Ela apontou um dedo pra minha cara.-Você vai pagar por isso.
Natanael entrou tropeçando em Gabriela, que saía furiosa.
-Nossa, o que deu nela?
-Inveja.-Sorri pra ele.-E você, ainda está com a roupa de ontem.
-Passei a noite procurando por você.
-Ah querido, me perdoa-Eu o abracei, me sentindo a pior pessoa do mundo.-Eu devia tê-lo avisado. Prometo que não faço isso nunca mais.
-Eu entendo meu anjo.-Ele também me abraçou.-Sei que precisava descansar. Agora eu tenho que ir.
-Pra onde vai?
-Vou em casa tomar um banho e trocar de roupas. Seu pai me convidou pra almoçar com vocês.
-Tem roupas suas aqui. Por que não toma um banho no meu banheiro?
-Não quer me acompanhar?
-Claro.-Sorri forçado.
Entramos no banheiro, ele desamarrou os laços do meu biquíni, eu estava inchada e sensível, minha boceta estava o dobro do tamanho. Mas por sorte, ele não notou. Começou a me estimular e o toque me deixava dolorida. Nos beijamos já embaixo do chuveiro, na tentativa de me afastar daqueles dedos, me abaixei e o abocanhei inteiro. A diferença dos dois era frustrante. O pau do Natanael era bem menor do que o do Cris. Mesmo assim, ele sempre me dava prazer. Me fazia gozar. Mas continuava sem fazer meu sangue ferver.
Podíamos dizer que éramos melhores amigos do que amantes.
Estávamos há alguns dias sem tempo para sexo. Quanto mais fundo eu enfiava o pau dele na garganta, mais ele se aproximava do gozo. E não demorou, ele estava gozando na minha cara.
-Ah meu anjo, perdão.
-Não precisa se desculpar.-Lavei o rosto.-Sabe que adoro fazer você gozar.
-E você faz como ninguém.
-Como é?-Ele sorriu.
-É apenas modo de falar.-Ele me puxou para o abraço.-Da próxima vez que sumir, avise a mim pelo menos.
-Tudo bem, eu aviso.-Terminei de me lavar.-Agora me deixa sair daqui, tenho algumas coisas pra fazer. Vou deixar suas roupas sobre a cama.
-Tudo bem. Obrigado.
Saí do banheiro e me vesti mais uma vez. Achei uma blusinha folgada e uma saia jeans. Separei a roupa do meu noivo e a deixei sobre minha cama. Antes de sair do quarto, penteei os cabelos, me perfumei. Aquela tarde eu iria provocar um pouco aquela que destruiu meus sonhos e ilusões de adolescente.
***
Tinha garrafas de diversas bebidas na casa. Pedi para montar uma mesa a beira da piscina, com as bebidas favoritas da Gabriela. Vodca, Whisky, Conhaque, Tequila. Coloquei alguns petiscos para disfarçar. A churrasqueira estava bem abastecida. Pra qualquer um, aquele seria um típico dia em família. Pra mim, era o começo de uma guerra.
Cristovão chegou logo, eu estava na sala assistindo programas chatos de domingo. Ele entrou com aquele sorriso branco lindo em um traje despojado, cheio de charme.
-Então, como as coisas vão por aqui?
-Sua esposa está furiosa.-Ele se aproximou e sentou ao meu lado.-Ela sabe.
-Eu sei.-Ele deu de ombros.-Nunca escondi nada dela. Nem o que sinto por você, nem o que penso dela.
-Cristovão.-Lá vinha meu pai com um copo de conhaque.-Estive pensando no que me falou sobre a pousada. Conversei com alguns de meus sócios, meus contadores. Todos gostaram da idéia.
-Que idéia foi essa?
-Seu cunhado me aconselhou a comprar uma pousada na região dos lagos. O lugar está abandonado e estão pedindo uma merreca.
-Pai, eu já havia falado sobre isso com você.-Cruzei os braços.
-De fato, a idéia é da Aryel.-Cristovão deu de ombros.-Ela esteve conversando comigo e vi futuro nesse projeto. Apesar de não estar no ramo de hotelaria, o tempo que estou na família, me fizeram enxergar uma boa oportunidade de expandir os negócios.
-Ah sei.-Ele balançava pra trás e pra frente, ponderando.-Vamos fazer o seguinte, vocês me mostram o projeto, aparentemente não vejo por que não  seguir sua idéia. Espero que me convença como seu cunhado conseguiu Aryel.
-Você não vai se arrepender.-Cristovão se levantou.-Vem Aryel, vamos até o escritório, preciso te mostrar algumas idéias.
-Mas a...
-Vamos logo, perder tempo pra que?-Ele saiu me puxando pra dentro de casa, em direção ao escritório. Fechou a porta e me encostou sobre ela.-Vai ser difícil passar a tarde toda com você e não poder tocá-la.
-A Gabriela está no meu encalço.
-Ela vai superar.-Ele desceu minha blusa até a cintura e afastou a cortininha do biquíni, até descobrir meus seios.-Passar a noite inteira fazendo amor, não foi suficiente
-Eu falei que não iríamos mais nos tocar depois daquilo.-Me afastei dele ajeitando as alças da blusa e sentei no sofá de couro.-Mantenha o respeito, pelo amor de Deus.
-Você está louca para repetir a dose, que eu sei.-Ele se aproximou, sentou ao meu lado e sussurrou em meu ouvido.-Se eu conseguir levar você em uma viagem para a região dos lagos, você para de fugir de mim?
-Como conseguiria isso?
-O Projeto aparentemente é nosso.-Ele beijou meu pescoço.-Vamos apenas viajar para estudar o local.
-Você é o demônio Cris.-Ele já afastava novamente minha blusa, chupando meus bicos. –Mas aqui é perigoso.
-O que é perigoso, é mais gostoso.
Ele me puxou para cima, enfiou a mão por baixo da minha saia e arrancou minha calcinha. Eu estava suando frio. A mão dele me deixou trêmula. Minha saia foi arregaçada pra cima, ele se ajoelhou entre minhas pernas e caiu de boca na minha boceta.
Eu gemi enlouquecendo cada vez mais. Ele chupava como ninguém, lambendo tudo em volta, acariciando o grelinho com a língua e os lábios. Fazendo minha boceta pulsar de prazer.
Ele não suportou muito tempo, ergueu o corpo, tirou o pau pra fora da bermuda e entrou no meu corpo de uma só vez. Ele empurrava com força, com a mesma violência da noite anterior. Me fez gozar rápido e gozando logo em seguida. Foi à rapidinha mais gostosa que já experimentei.
Quando Gabriela entrou no escritório, estávamos em frente ao computador, conversando sobre a pousada. Ela tinha um copo na mão. E eu sabia que não iria parar por ali.
-Vocês fazem o que trancados aqui?
-Não estávamos trancados. A porta está apenas encostada.-Ele falou.-Estamos conversando sobre um projeto do seu pai.
-Mamãe mandou chamar, o almoço está servido.
-Já estamos indo.-Sorri quando ela saiu e o beijei nos lábios.-O que foi isso?
-Nada.-Me levantei ajeitando a calcinha, ele estava acariciando minha boceta por baixo da mesa.-Vamos pra fora?
-Claro.-Ele desligou o monitor e me deu uma encoxada, antes de sairmos.-Vou falar com seu pai depois do almoço.
Fui para a piscina, me sentei ao lado do Natan. Ele e meu pai conversavam sobre negócios. O servi e comemos em paz, até que o álcool começou a fazer efeito em Gabriela, que sentou ao lado do marido, com uma péssima cara.
-Mas como estávamos falando.-Cris pigarreou.-Precisaria viajar para a região dos lagos, para conhecer o lugar. Observar vantagens e desvantagens, calcular gastos e lucros.
-Mas o projeto é meu.-Reclamei.
-Por que não vão os dois?-Natan sugeriu.-Quando voltarmos de lua de mel, vai lhe sobrar tempo para fazer essa viagem.
-Não, esse negócio tem que ser avaliado o mais depressa possível.-Meu pai falou.-Cris, você pode fazer isso essa semana?
-Claro.
-Mas o projeto é meu.-Falei indignada.-Já não basta ele o ter roubado?
-Você tem preparações para o casamento.-Cristovão falou.-E eu precisaria de pelo menos cinco dias para avaliar o local, movimento, estradas de acesso.
-Minha mãe está cuidando de tudo.-Comecei a remexer no prato.-Posso muito bem dar idéias pela internet ou telefone. Eu vou no seu lugar.
-Vão os dois.-Meu pai falou por fim.-Afinal, a contabilidade não anda sem o planejamento. E Aryel tem que mostrar suas idéias, para o Cris avaliar.
-Por mim está ótimo.-Ele deu um sorriso de vitória.
-Por mim também.-Dei de ombros.
-Eu vou com vocês.-Gabriela falou emburrada.
-Pra quê?-Cristovão perguntou.
-Não vou deixar vocês dois viajarem sozinhos.-Ela balançava por conta da bebida.-Não senhor, vocês não vão sozinhos.
-Gabriela, de que está falando?-Meu pai começou a se impacientar.
-Esses dois estão tendo um caso.-Ela falou revoltada.-Passaram a noite juntos, por isso chegaram aquela hora. E eu não vou abrir mão do meu marido pra essa aí não.
-Você é louca?-Perguntei me fazendo de sonsa.-Aonde quer chegar com isso? Eu nem me aproximei do Cris ontem à noite, quanto mais passar a noite com ele.
-Gabriela, você bebeu de mais.-Cristovão falou irritado.
-Vocês são amantes há muitos anos. Desde que nos casamos.
-Gabriela, quando nos casamos sua irmã era uma criança.-Ele falou, me deixando corada.-Agora pare de história, ou vou levá-la para conversarmos em casa.
-Vocês não vão viajar sozinhos!-Ela bateu na mesa com raiva.-Eu não vou deixar.
-Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?-Minha mãe veio de dentro, preocupada com os gritos.-Que escândalo é esse?
-Gabriela bebeu de mais.-Eu falei encolhida no meu canto.-Está dizendo que eu tenho um caso com o marido dela.
-Quero saber de onde ela tirou essa história.-Meu pai falou, olhando pra nós dois que estávamos lado a lado.
-Isso é apenas delírio de bêbada.-Cristovão se levantou.-Eu vou levá-la pra casa.
-Não, eu não vou pra lugar nenhum.-Ela balançou o dedinho.-Na-na-ni-na-não querido.
-Você vem sim.
-Vocês não vão sair daqui, até essa história ser resolvida.-Meu pai me fitava com cara de poucos amigos.-O que sua irmã disse é verdade?
-Como pode acreditar em uma história dessas? Eu nunca faria isso com o Natan.-Fitei meu noivo, pedindo ajuda.-Se quiserem, podem confirmar na recepção do hotel. Eu passei a noite sozinha e pedi para não falarem que eu estava ali. Só queria descansar um pouco.
-Cristovão me ajudou a procurar no hotel essa manhã.-Natanael falou, se fazendo presente.-Quando liguei, ele estava no escritório. Nos encontramos no hotel.
-É verdade.-Cristovão falou.-E vim pra cá logo que pude.
-Eles não ficaram só essa noite.-Ela falou ainda enfurecida.-Os dois têm um caso há muitos anos. E essa pilantra está doida pra que eu me divorcie, para ficar com minha parte na herança.
-Eu não acredito que estou ouvindo isso.-Balancei a cabeça.
-Agora chega Gabriela!-Minha mãe a repreendeu.-Até quando vai ficar com isso?
-E desde quando ela faz esse tipo de barraco?-Meu pai perguntou.
-Toda semana ela me vem com essa história. Tem ciúmes da secretária, da prima, da empregada, até da vendedora da floricultura onde o Cris passa toda semana pra nos trazer flores.-Minha mãe balançou a cabeça.-E se continuar bebendo dessa forma, seremos obrigados a interná-la.
-Estou falando a verdade, agora é sério!
-Agora chega.-Cristovão se levantou.-Vamos pra casa.
Ele saiu a carregando, meus pais foram atrás, me deixando sozinha com Natanael.
-Me desculpa por isso.
-Conheço o gênio da sua irmã.-Ele colocou a mão sobre a minha.-Mas existe alguma coisa que queira me contar?
-Existe sim.-Suspirei e baixei a cabeça.-Eu já fui apaixonada pelo Cris.
-E quando foi isso?
-Cinco anos atrás, antes de ele se casar com a Gabriela.
-E vocês tiveram alguma coisa?
-Sim... não, mais ou menos.
-Fale de uma vez.-Ele recostou na cadeira e me olhou nos olhos.-O que aconteceu entre vocês?
-Nada de mais.-Engoli um nó.-Mas ele se casou com Gabriela logo depois.
-Vocês transaram?
-Isso é importante?
-Se vocês ainda têm um caso, sim. Caso contrário, não é não.
-Ficamos juntos uma noite e minha irmã fotografou tudo, depois nos chantageou de formas diferentes. Acabou se casando com ele. Eu fui vítima dessas chantagens, Gabriela é muito boa com montagens de fotos. Me colocou em situações íntimas com um entranho e ele acreditou.
-E você ainda gosta dele?
-Mas é claro que não!-O olhei nos olhos.-Você por acaso desconfia do que sinto por você?
-Não, mas...
-Eu achei que se te contasse quem foi o primeiro homem da minha vida, você me deixaria. Eu estava apaixonada por você quando começamos, tinha medo de te perder igual perdi o Cris. Pra mim, nenhum homem era sincero e leal. Demorou até que eu me entregasse novamente e escolhi você, porque nunca na minha vida, tinha encontrado um homem tão bom.-Fechei os olhos e lagrimas começaram a escorrer.-Eu tinha medo de te perder.
-Vem aqui.-Ele me puxou para o abraço.-O que aconteceu no passado, está enterrado. Eu confio em você.
-Obrigada.-O abracei com força.-Eu te amo Natan.
Ele não disse que também me amava. E tive medo do futuro, pela primeira vez.
***
Cristovão voltou à noite. Ele e meu pai se trancaram no escritório e saíram de lá horas depois, com caras amarradas. Meu pai me chamou para a sala, sentei-me ao lado da minha mãe. Natanael já havia ido há horas.
-Chamei vocês para resolver um problema em família.-Meu pai sentou-se em uma poltrona grande.-Gabriela não anda nada bem de saúde. Acredito que não é novidade para nenhuma de vocês, que ela vem abusando do álcool há muito tempo.
-Eu já estava preocupada com isso.-Minha mãe falou.
-Por isso Cris veio aqui essa noite. Ele está pensando em interná-la em uma clínica de recuperação.
-É tão grave assim?-Perguntei inocente.
-Ela está começando a ficar perigosa.-Ele falou balançando a cabeça.-Agora a pouco tento ume esfaquear. Eu iria prejudicá-la se me divorciasse sem tentar mais uma vez.
-Você está pensando em se divorciar?
-Essa idéia me atrai no momento Rebeca.-Ele falou friamente.-Tenho negócios que me deixariam em ótimo estado financeiro, se minha parte na firma fosse dividida entre meus irmãos. Agora, Gabriela não tem nada mais do que um fundo de curadoria com alguns milhões.
-Acho que interná-la é uma boa idéia.-Meu pai falou.-E apoiarei o Cris nessa decisão.
-Bem, se é assim, eu também apoio.-Minha mãe falou.
-Eu não tenho nada que falar sobre isso.-Dei de ombros.-Se é para o bem dela, eu apoio. Mas não será fácil. O tratamento só funciona, quando a pessoa vai por legítima vontade.
-Nesse caso, ela já está a ponto de ficar agressiva.-Minha mãe falou.-É melhor do que acontecer uma tragédia.
-Então, vou ligar para a clínica.-Cristovão falou.-Alguém se opõe?
-Não.-Meu pai falou.-Vá em frente.
Ele saiu da sala e se trancou no escritório. Fiquei apreensiva.
-A culpa foi minha.-Balancei a cabeça.-Se eu tivesse falado onde estaria, isso não teria acontecido.
-Mais cedo ou mais tarde aconteceria.-Minha mãe me abraçou pelos ombros.-Agora vamos apoiar sua irmã, para que ela se cure logo.
-Está certo.-Balancei a cabeça.-Depois conversamos sobre o projeto papai.
-Tudo bem querida.-Me levantei e o beijei na testa.-Aonde vai?
-Vou me deitar. Ainda não descansei o suficiente.
-Não esqueça que amanhã temos a prova do vestido.
-Tudo bem mamãe.-Subi as escadas segurando forte no corrimão.-Boa noite.
Bati a porta do quarto e me joguei na cama. Eu merecia o inferno. Fiquei me culpando por horas, antes de adormecer.
***
Acordei cedo com o telefone tocando. Não me estiquei pra atendê-lo, deixei que outra pessoa se encarregasse disso pra mim. Estava fria a manhã, havia chovido durante a madrugada. Me enfiei em um pijama de moletom e desci as escadas. Não havia ninguém na sala de jantar. Fui até a cozinha e encontrei Sandra, a governanta e confidente de minha mãe.
-Onde está todo mundo?
-Foram cedo conhecer a clínica aonde a sua irmã vai ficar.-Ela se voltou para a pia.-Quer que eu lhe sirva o café?
-Adoraria.-Sentei-me em frente ao balcão, enquanto ela me servia.-Eles disseram se vão voltar logo?
-Antes do almoço, provavelmente.-Ela colocou um prato de cereal a minha frente.-Agora me diga, que cara é essa?
-A cara que tenho.-Falei desanimada.-Nada te escapa, não é mesmo?
-Menina, te conheço desde que chupava chupeta engatinhando pela casa.-Ela sentou a minha frente.-Você está com uma cara péssima.
-Estou com sono.-Fiz careta.-Quem era no telefone?
-A estilista confirmando à hora da prova do vestido.
-Que horas?
-Sua mãe trocou para à tarde.-Ela serviu uma xícara de chá para si mesma.-Se abra comigo, você não está feliz com esse casamento, certo?
-Como pode dizer isso?
-Como disse, te conheço bem.-Ela colocou a mão sobre a minha.-Tem certeza? Você é jovem, só tem vinte. Ainda nem concluiu sua faculdade. Vai mesmo dar um passo tão importante, sabendo que está insegura?
-Eu tenho que fazer.-Remexi no prato, já sem apetite.-Nada mais faz sentido e nem tenho resposta pra nada.
-Ouvi seus pais falando sobre sua viagem com o Cris.
-Eles falaram sobre isso?-Me interessei.-E aí?
-Sua mãe sugeriu outra pessoa pra te acompanhar. Mas seu pai confia no Cris, o vê como o filho que não teve.-Ela parou por um momento.-Desista disso menina.
-Desistir do meu projeto? Nem morta.
-Sabe do que estou falando.-Ela já me encarava séria, sem o ar maternal de sempre.-Você nunca será feliz, se baseando na vingança.
-O que está dizendo? Sabe que sou incapaz de fazer mal há uma mosca.
-Há uma mosca não.-Ela segurou a xícara, com ambas as mãos.-Mas conheço o resultado de fazer as coisas com o coração ferido. Acredite querida, nem sempre são bons resultados.
-O que quer dizer?
-Afaste-se do Cris.-Ela aconselhou.-Antes que esse amor despedace seu coração mais uma vez.
O telefone tocou, me dando um susto. Me levantei para atende-lo. Era um bom momento para me livrar daquela conversa.
-Alô.
-Oi.-Era ele.-Te acordei?
-Não.-Eu estava trêmula.-Estava tomando café. Então, como vão as coisas?
-Bem. Seus pais acabaram de sair daqui.-Ele parecia embaraçado.-Estive pensando no que aconteceu de ontem pra cá.
-E?
-Você quer?
-Quero o que?
-Sexo.-Ele pigarreou.-Estou igual a um viciado, querendo seu corpo a todo momento.
-Uma hora irá enjoar.
-Será?-Ele era tão prepotente e eu adorava isso.-Estou com saudade.
-E eu com isso?
-Quero te ver.-Ele insistiu.-Há que horas posso te buscar?
-Em hora nenhuma.
-Está certo, as nove então.
-As nove estou na faculdade.
-Aonde acha que vou te buscar?
-Não sei não...
-Mas eu sei.-Ele ainda me mataria de raiva, com aquele jeito.-Sei que tem o dia cheio, então, deixo você em paz para se cuidar para o seu tão aguardado dia.
-Vá se catar.
-Até a noite meu amor.
Desligou o telefone. Suspirei com o aparelho apertado entre os dedos. Era aquilo ou nada. O coloquei no gancho e subi as escadas. Precisava decidir o que faria da minha vida. Sandra havia notado. Eu não podia levar aquilo à diante. Poderia arruinar minha felicidade ao lado de um homem livre e bom.
Peguei o telefone e disquei para Natan. Precisava dele para esquecer o Cristovão. Foi através dele que eu consegui superar todos esses anos a dor de ter sido trocada pela minha irmã mais velha.
Chamou muito e caiu na caixa postal. Deixei o telefone quieto e me deitei. A qualquer momento, minha vida poderia mudar.
***
Acordei com alguém beijando meu rosto. O quarto estava escuro, eu estava grogue. Abri os olhos e vi o rosto de Natan pouco acima do meu.

-Acorda preguiçosa.-Ele sorriu e sentou.
-O que faz aqui?
-Vi sua ligação perdida, como estava na rua, aproveitei para passar aqui e te dar um beijo.
-Só um beijo?-Sentei na cama e o abracei.-Estou com saudade de dormir com você.
-Tenho estado ocupado ultimamente.-Ele acariciou meus cabelos.-Mas posso buscá-la hoje e levá-la pra casa.
-Há que horas?-Sorri.
-Quando você sair da faculdade.-Ele escorregou a mão pra minha barriga.-Posso te levar pra jantar, cinema, qualquer coisa que você queira.
-Só quero ver se depois do casamento, vai continuar nesse romantismo todo.
-Pra você sempre.-Ele me beijou, tombamos os dois na cama.

As mãos dele não eram atrevidas. Eram mãos carinhosas. Elas não se apossavam, pediam para passar. E a forma como ele tirou minhas roupas, o jeito que ele montou em mim. A tranqüilidade com que tudo aconteceu foi tão significativa, que me peguei pensando se suportaria aquilo depois do casamento.
O pau dele deslizava pra dentro e pra fora do meu corpo, de uma forma quase que mecânica. Por sorte minha boca estava ocupada com a boca dele. Eu não queria ser desleal daquela maneira, mas estava insuportável.
Resolvi surpreendê-lo. O joguei na cama e o montei. Queria sentir algo, para tirar aqueles pensamentos viciosos da minha cabeça. Sentei com força no pau do Natan e fui recompensada com um belo gozo.
***
Passaram três dias. Tudo pronto, partimos para a região dos lagos. Cristovão e eu. Mas nos últimos dias quase não nos falávamos, afinal, eu havia lhe dado um bolo e alguns foras. Queria mesmo tentar tira-lo da minha cabeça. E não seria fácil, trepando com ele a todo momento e tendo um sexo tão frio com o Natan.
Seguimos um bom tempo sem trocar uma palavra um com o outro. A capota do conversível estava baixa, meus cabelos desprenderam e usei isso para me manter ocupada. Nada melhor do que se preocupar com os cabelos, ao invés de se preocupar com homens.
Ele resmungava algumas coisas para si mesmo, até que resolveu parar. Foi pra encosta, parou o carro e ficou me observando.
-O que você tem?-Ele perguntou.
-Eu? Nada.-Dei de ombros.-Acho que paramos antes do nosso destino.
-Você está me evitando.-Ele me segurou pelo braço, me fazendo olhá-lo nos olhos.-O que foi que eu fiz?
-Nada Cris. Agora, vamos embora? Tenho um casamento para terminar de organizar ainda.-Ele sacudiu a cabeça.-O que foi?
-Vai continuar com isso, não é mesmo?
-Queria o que? Que eu me mantivesse solteira e intocada esperando por você, sempre que minha irmã não estivesse por perto?
-Não é nada disso!-Pronto, eu havia conseguido irritá-lo.-Quer saber, fica com o seu ressentimento. Eu não to nem aí.
Ligou o rádio, e voltou pra estrada.  Ficamos calados todo o trajeto. Chegamos na hora do almoço, ele seguiu para o hotel aonde iríamos nos hospedar e nos registramos, antes de irmos almoçar em um restaurante lotado de turistas.
Conseguimos uma mesa afastada, o lugarzinho era mais reservado. Fomos servidos por uma moça simpática, que não demorou com nossos pedidos. E é claro, a especialidade da casa, eram frutos do mar.
-Meu Deus, sabe quanto tempo não como peixe frito?-Perguntei pensativa.-Se minha mãe sabe disso, iria enlouquecer e me mandar correr a praia inteira.
-Por que isso tudo?
-O vestido.-Suspirei.-Eu tive que emagrecer um quilo, pra caber na porcaria do vestido.
-Não era melhor soltar um pouco as pregas do vestido?
-Diz minha mãe que uma mulher fina não aumenta o tamanho do vestido, diminui a silhueta.
-Isso é loucura.-Ele sorriu pela primeira vez.-Ela enlouqueceria mais ainda, se você usasse outro vestido.
-Nem me fale, eu adorei tantos modelos, mas ela quer aquele...
-Quem vai se casar não é você?
-Sim.
-Então escolha outro vestido.-Ele falou como se fosse a coisa mais prática do mundo.-Se encontrarmos uma loja de noivas por aqui, vamos escolher outro.
-Isso vai deixar minha mãe louca. Ela vai pagar um dinheirão no vestido...
-Te dou de presente.-Ele sorriu.-Sou o padrinho, não pode negar um presente meu.
-Mas...
-Escuta.-Ele segurou minha mão, eu fiquei arrepiada por inteiro.-Faça uma coisa que quer e do jeito que você gosta e no futuro, isso pesará menos na hora do arrependimento.
-E quem disse que vou me arrepender?
-Todo mundo se arrepende.  Mesmo que por alguns minutos.-Ele soltou minha mão e pegou o copo de refrigerante.-Bem, depois do almoço, o que acha de visitarmos a pousada?
-Por mim tudo bem.-Dei de ombros.-Tem planos para o lugar?
-Está tudo arquivado. Quando chegarmos ao hotel, eu te mostro.
Mal sabia eu, que os planos dele eram de muita diversão e pouco trabalho.
Saímos do restaurante e fomos passear a procura do imóvel. Quando chegamos, foi difícil deixar o queixo no lugar. A casa estava uma espelunca, mas o terreno era um pedaço de paraíso.
-Isso aqui daria um SPA.
-É um lugar bonito.-Ele sorriu.-Essa praia está me chamando. Você não me acompanha?
-Acabamos de almoçar...
-Vamos dar uma volta, caminhar um pouco para fazer a digestão.
Ele saiu me puxando pela mão, me levando pelo caminho de tábuas, que dava na praia.
Conforme íamos seguindo, meu coração apertava mais. Estava morrendo de medo de ele tentar alguma coisa. Eu iria ceder, com toda certeza.
-Esse lugar seria ótimo para realizar uma festa de casamento.-Ele falou pensativo.-Imagina, casamento na praia.
-Você tem falado muito em casamento. Pensa em se casar de novo com minha irmã?
-Não.-Ele me abraçou pelo ombro.-Só imagino como seria, estar no lugar do Natan.
Continuamos a caminhar calados. Ele abraçado aos meus ombros, meus dedos cruzados em frente ao corpo. Até que ele parou e se voltou para o mar.
-Tomara que consiga convencer o seu pai a comprar isso aqui.-Ele me pôs a sua frente e me abraçou por trás.-Vou seqüestrá-la sempre, pra vir aqui.
-Pra que?
-Só pra ficar mais com você.
Ele beijou meu ombro e foi subindo pelo meu pescoço. Sussurrando em meu ouvido, me deixando quente. Minha boceta já estava contraindo e pulsando. Uma vontade enorme de tê-lo ali penetrando e acabando com aquela agonia, aquela falta. Eu não sei porque, mas sempre que estava ao lado do Cris, eu me transformava em outra pessoa. Uma pessoa livre, que queria e podia amá-lo sem barreiras.
Ouvimos conversa próximo ao local onde estávamos. Quando nos viramos, vimos um casal vindo em nossa direção. Eram um casal de senhores, bem bronzeados e com traços indígenas.
-Olá.-A senhora parecia mais simpáticas.-Vocês devem ser os filhos do senhor Rezende.
-Na verdade, eu sou a filha.-Ergui a mão.-Esse é um amigo que veio me acompanhar.
-Esperávamos vocês para o almoço.
-Mesmo?-Me afastei um pouco do Cris.-Sinto muito, saímos um pouco tarde de casa e aproveitamos pra almoçar assim que chegamos.
-É uma pena.-Ela continuava sorrindo.-Bem, eu sou Mariana e esse é meu marido Manuel.
-Eu sou Aryel.-Apertei a mão do senhor.-E esse é o Cristovão.
-Sejam bem vindos.-Ele se voltou e apertou a mão do Cris.-Espero que gostem do lugar.
-Nós já estamos gostando.-Cris falou.
-Vamos entrar para ver o imóvel? Está um pouco antiga, mas é muito bonita.
E seguimos o casal, que contava a história da casa. Moravam ali há mais de 20 anos. Compraram a casa por uma ninharia e aos poucos aumentaram até transformar em um casarão, que serviu e acomodou hóspedes de vários lugares. Tanto do Brasil, quanto de outros países.
Ficamos encantados com a casa. Era velha e acabada por fora, mas por dentro, era linda de mais. Toda rústica, bem decorada, tinha até um piano de cauda na sala. E quanto mais eu ouvia a história do lugar, mais encantada eu ficava.
Quando saímos da casa, já passava das sete da noite. Fizemos contas, ligamos pro meu pai e conversamos sobre os reparos e as vantagens. Aparentemente ele também gostou da idéia.
-Estou morta.-Falei quando entrei no carro.-Mas satisfeita.
-Percebi que gostou do lugar.
-Desde que vi as primeiras fotos.-Ele seguiu de volta para o hotel.-E aquele casal, é tão simpático.
-Pois é. Agora, vamos ver quanto de prejuízo e quanto de lucro obteremos com essa nova aquisição.
Ele largou o carro no estacionamento e subimos. Nossos quartos ficavam um ao lado do outro. Marcamos de descer para jantar as oito. Então, me tranquei no quarto e fui tomar um banho, descansar um pouco e me arrumar para jantar com o Cris.
E novamente o medo me atacou. Medo de ele tentar e eu ceder. Por que eu iria ceder a qualquer preço. E o pior, medo de ele não tentar e eu ficar sem ele mais uma vez.
Desci as oito, como marcado. Estava com um vestido frente única bem leve e um tanto curto. Os cabelos soltos, maquiagem quase nenhuma, jóias? Pra que? Só o salto que eu não conseguia deixar.
Sentei na recepção a espera dele. Veio um homem simpático, com intenções as pencas e puxou um longo papo comigo. Eu esperava que o Cris não demorasse a descer, mas quando me dei conta da hora, já eram oito e quarenta e nada!
Liguei pro celular dele.
-Onde você está?
-No quarto, enrolado com uns serviços. Só agora vi à hora.-Eu fiquei furiosa.-Você pode subir?
-Mas e o jantar?
-Jantamos no seu quarto. Por que o meu está uma zona.-Ele pigarreou.-Desculpe querida, mas era um trabalho importante.
-Certo eu vou subir.
Me despedi do tagarela e subi, Chateada, porque eu queria sair e conhecer um pouco mais do lugar com ele. Mas quando abri a porta do meu quarto, fiquei sem ação.

Havia pétalas espalhadas pelo quarto. Sobre a cama. E não eram poucas não. Um tapete de pétalas, macio e perfumado estava sob meus pés. Velas ao lado, espalhadas pela cômoda, na mesinha de cabeceira, sobre a mesa. A porta que dava na varanda estava aberta, a cortina leve voava com o vento. Me aproximei e encontrei uma mesa bem posta. Iríamos jantar a luz de velas, com a lua cheia bem acima de nós.
Só não encontrei o Cris em lugar nenhum. Fui ao banheiro, mas também não estava lá. Só então vi encima da mesa, um bilhete. Já estava com os joelhos fracos.

“Você quer continuar? Tem um presente pra você sobre a cama, se quiser continuar, me espera usando isso. Chego em quinze minutos.
Te amo”

Encima da cama tinha uma caixa em forma de coração. Quando destampei, encontrei uma lingerie branca linda. Quase igual a que eu comprei para a lua de mel. Só que aquela ali era mais sensual e com rosas vermelhas bordadas. Havia também, uma caixa pequena de veludo. Quando abri, fiquei sem reação. Tinha um colar, um coração de diamantes. A jóia mais linda que eu já havia visto.
Mas era muito. Eu não podia aceitar aquilo.
O único problema, era que eu queria continuar. Então, troquei de roupas rápido, substituí a lingerie preta que já estava usando, pela branca e coloquei um vestido por cima.
Quando ele chegou, eu estava na varanda encostada na grade. Deixei a porta aberta pra ele. A cara que fez não foi das melhores. Me viu vestida, não estava usando o colar que ele deixou. Dá porta ele deu um suspiro e enfiou as mãos nos bolsos, veio até mim devagar.
-Então, o que achou da surpresa?
-Está linda.-Estava com os dedos cruzados, parecia uma menina imatura, que não sabia o que fazer.-Você me surpreendeu dessa vez.
-Queria fazer algo especial.-Ele deu de ombros.-Então, podemos jantar?
-Ah claro.-Sorri quando ele se aproximou da mesa e puxou a cadeira para mim.-Pela aparência, deve estar ótimo.
-Ou você está muito faminta.-Ele nos serviu e sentou a minha frente.-Então, está muito cansada?
-Com muitas forças ainda.-Falei num tom mais elevado, com uma conotação sexual maior.-Quantas flores você usou?
-Trezentas.-Ele deu de ombros.-Foi uma correria só.
-Ficou bom mesmo.-Peguei a taça de vinho.-Nunca imaginei esse seu lado romântico. Sempre pensei que fosse um conquistador.
-Mas isso tudo faz parte da conquista.-Ele sorriu, os olhos verdes brilharam.-Só depende de você, se vai continuar resistindo.
Eu já havia desistido de resistir, só ele não havia percebido ainda.
O jantar estava delicioso, meu fogo foi às alturas com a comida apimentada e o vinho tinto. Ele falava sobre o lugar, as vantagens. Eu só pensava nas vantagens de tê-lo encima daquela cama, fazendo comigo tudo que ele sabia fazer.
-Você está bem?-Ele perguntou um determinado momento.
-Só acho que o vinho subiu um pouco.
-É melhor eu ir para o meu quarto, você deve estar cansada.
-Até quando vai fazer esse joguinho comigo?
-Eu não estou jogando.-Ele afastou a cadeira e se levantou.-Se tem alguém jogando aqui, é você.
-E toda essa surpresa?-Ele puxou a cadeira pra mim, me levantei devagar.-Você está agindo como se não quisesse dizer nada.
-Eu quis dizer e disse com todas as palavras.-Ele se aproximou e me encostou na mesa.-Eu te amo, sei que você não vai parar esse trem desgovernado e tudo que quero, é ficar o máximo de tempo com você.
-Eu também.-Ergui os lábios, esperando que ele me beijasse.-O que foi?
-Mas... imaginei que não usando a lingerie, estaria deixando claro que não quer nada comigo.
-Você já viu o que estou usando por baixo do vestido?-Ele puxou um pouco do decote e sorriu.-No bilhete, você disse que era pra eu esperar você usando isso. Mas não disse como...

Ele me calou com um beijo afoito. Uma coisa desesperada, que me deixou sem reação. Fechei os olhos, me entreguei ao beijo e senti o corpo inteiro esquentar, quando as mãos dele começaram a subir pelas minhas cochas.
Os lábios dele se separaram dos meus, com um sorriso sacana no rosto, ele ergueu nos braços e me levou quarto a dentro.
Lá dentro, o aroma das velas e das flores, só fazia aumentar. Ele me deitou na cama e ligou o aparelho de som, uma melodia romântica e suave soou. Depois, foi à vez das luzes se apagarem. Em seguida, ele veio até mim e me ajudou a tirar o vestido.

-Posso te pedir uma coisa?-Ele parou e me esperou continuar.-Me ama hoje, como se fosse a primeira vez.
O sorriso que brotou dos lábios dele, apertou meu coração mais ainda. Ele me amava, não restava dúvidas de que eu o amava também. Mas era um amor impossível.
Os lábios dele pousaram nos meus, aos poucos, o corpo dele se comprimiu ao meu. Ele estava quente, assim como eu. Os lábios tinham o gosto doce do vinho, as mãos me apertavam contra si com força. A ereção latejava e lutava contra a calça. Tentei tocá-lo, mas ele segurou minhas mãos acima da cabeça e abafou um gemido.
-Desculpe querida, mas não quero perder a cabeça.
Os lábios dele desceram para o meu pescoço. Aos poucos foi descendo até o decote e a língua esperta o lambeu até ultrapassar a barreira do bojo e conseguir tocar meus mamilos.
As mãos dele largaram as minhas, desceram apalpando meu corpo e tocando minha pele. Os beijos se estendiam a todo o colo e busto. Fechei os olhos e gemi, quando ele mordiscou por cima do tecido da lingerie.
Aproveitei as mãos livres e comecei a desabotoar a camisa dele. Estava difícil me controlar. Alguma coisa ele colocou naquela comida, porque eu sentia um calor intenso, uma vontade louca de ser penetrada e acabar com aquela loucura.
Ele continuava com a tortura dos beijos e dos afagos. A minha pressão só fazia aumentar. A mão dele desceu até o centro de minhas pernas e não sei como não se queimou. Devagar, ele foi massageando, a camisa estava aberta até o meio do peito, aquele homem era tão sexi, que me deixava desnorteada.
As pétalas foram amassadas pelos nossos corpos. Mais uma vez estávamos envolvidos em um abraço enroscado, agora as mãos dele lutavam para nos livrar das roupas. As bocas não se acariciavam mais, se estapeavam, a procura de prazer. Ah aquele homem queria acabar com meu juízo. Começou a descer os beijos mais uma vez, parando nos mamilos, só pra me torturar. Eu estava molhada a ponto de escorrer e molhar a calcinha. As mãos dele já haviam ultrapassado o tecido de renda e acariciavam meu clitóris, massageavam meu traseiro. Alguma coisa me dizia, que a noite seria longa.
Finalmente minha calcinha sumiu. E a boca dele desceu até minhas pernas, ele me torturava baixando e mordiscando em volta, mas não ia direto a ponto.
-Para com essa tortura.-Pedi, enquanto começava a estimular meu clitóris.-Não vê que ta acabando comigo?
Ele lambeu entre meus dedos, abriu bem minhas pernas e começou a me chupar com vontade e forte. Fui arrebatada por um clímax que não estava previsto.
No rádio tocava Same Mistake, tudo ali contribuía para uma noite mágica.
Ele ergueu o corpo devagar, começou a desabotoar o resto da camisa, respirava rápido, a visão daquele corpo se despindo pra me amar me deixava vaidosa. Aquele homem sexi, que dizia que me amava. Estava quase me convencendo da verdade.
Ele sorriu quando me viu o observando. Esse tipo de sorriso que te deixa apaixonada. Devagar, deitou sobre meu corpo, colou os lábios nos meus, sussurrando qualquer coisa que não entendi, porque naquele exato momento ele penetrava em meu corpo.
Fechei os olhos, eles arderam. A cada centímetro que ele entrava, meu corpo vibrava e o acolhia. Quando sumiu dentro de mim, ele gemeu e sussurrou:
-Você está muito quente.
-É você que me deixa assim.
Ele estava no limite. Eu queria fazê-lo gozar. Comecei a provocar, com chupões no pescoço, reboladinhas leves, leves contrações com a vagina e por fim, ele ergueu o corpo, tentando se controlar. Abriu bem minhas pernas, apertava minhas cochas, observando o pênis sumir inteiro dentro do meu corpo.

O joguei na cama e o montei. Foi um movimento impensado, sentei sobre ele com força, o suguei, ele gemia, já entregue. Não poderia mais segurar. Aumentei o ritmo, as mãos dele tentaram me segurar, mas não deu tempo. Senti o pau dele pulsar dentro do meu corpo e gemi me entregando junto com ele. Meu rosto estava quente, todo meu corpo tremia. Pensei estar sofrendo um ataque, mas era simplesmente a conseqüência do meu prazer.
***

Quando acordei aquela manhã, estava com uma preguiça fora do normal. Ele estava deitado ao meu lado, abraçado ao meu corpo, dormia a sono solto. Me levantei devagar, desviando da bagunça de roupas e pétalas espalhadas pelo quarto. Fui até o telefone e pedi para levarem o café da manhã no quarto, depois fui ao banheiro tomar um banho.
O dia estava cheio, não podíamos enrolar muito na cama. Se bem que à vontade, era de passar o dia fazendo amor. E se pudesse a semana inteira e a eternidade...
Voltei ao quarto e me vesti. Não demorou, bateram na porta. O carrinho com o café da manhã estava muito bem organizado. O encostei na mesa e fui acordar o dorminhoco.
Era bom bancar a esposa naquele momento. Poder sentir um pouco daquela sensação de estar com ele, de tê-lo só pra mim. Por muitas vezes invejei minha irmã, mas naquele momento eu o tinha só pra mim. E me orgulhava disso.
Subi na cama, deitei ao lado dele, era até um pecado acordá-lo naquele momento. Vencendo a compaixão, o chamei baixinho. A reação dele me pegou de surpresa, quando me debrucei sobre ele, os braços dele me prenderam pela cintura e ele me jogou na cama.
Foi tudo tão rápido, que quando dei por mim, o corpo dele já estava invadindo o meu. Penetrando com força, sem precisar de muito auxílio, meu corpo agora era dele e ele conhecia bem seus caminhos. Parecia que estava sempre pronta para recebê-lo.
Ele me virou de bruços e continuou penetrando, com força e ritmo. Até que saiu da minha boceta e conduziu o pau até meu ânus. Ele já estava mais estirado pela última noite.
Cris segurou com força no meu quadril e estocou cada vez mais forte. Abracei com força o travesseiro, gemi alto a mão dele começou a me estimular, ele abraçou meu corpo e gemeu junto comigo, enquanto gozava.
Levamos alguns minutos para nos soltar. Ele praticamente me mantinha presa no abraço.
-Bom dia.-Ele sussurrou no meu ouvido e beijou meu ombro.
-Bom, muito bom.-Sorri enquanto ele me soltava e se levantava.-Temos muito que fazer hoje.
-Sei.
Ele foi caminhando pelo quarto, nu, com passos firmes iguais aos de um leopardo. Fiquei observando até que ele sumiu dentro do banheiro. Me arrastei para fora da cama e fui para a varanda. Estava um dia lindo de sol.
Coloquei um biquíni e um vestido folgado, arrumei minha bolsa e quando ele saiu do banheiro vestido no robe branco, fiquei com o coração esmagado.

“Ele não é meu”. Era o que passava pela minha cabeça, sempre que eu o observava. “Isso não vai acabar bem”. Devia ser pressentimento.
***

Como prometido, passamos em uma loja de vestido de noivas ao cair da tarde. Fiquei um bom tempo experimentando vestidos, com ele como crítico. Eu nunca vi um homem igual a ele. Se declarava deliberadamente, fazia coisas românticas e dava opiniões sinceras. Isso devia ser pra me lembrar, que por mais perfeito amante que fosse, ele não era meu marido. E como dizem: O gramado do vizinho é sempre mais verde. Mas isso não quer dizer, que não hajam toupeiras ou ervas daninhas nele.
Por fim fiquei com um modelo simples, sem saias por baixo, estilo tomara que caia, com duas alcinhas amarradas nos ombros, uma gracinha. Claro que minha mãe iria ter um troço quando me visse entrando na igreja com aquele vestido.
Marquei de voltar no outro dia, para experimentar os ajustes e continuamos conhecendo o local.
Conversamos com o engenheiro responsável, passamos as fotos do local, ele conversou com um arquiteto e com meu pai e retornou logo depois, marcando uma visita para a próxima semana.
A compra foi fechada. O casal ficou feliz. Estava tudo pronto para irmos embora.
Mas resolvemos ficar mais um dia. Fomos convidados pelo casal a jantar na casa e aproveitamos para conhecer mais histórias da casa e da praia. Por fim, fomos caminhar a beira da praia. A lua ajudou, o clima estava perfeito para namorarmos perdidos naquele lugar.
Sentamos a beira da água, ele me abraçou por trás.
-Amanhã voltamos para a rotina de sempre.
-Pior que isso.-Ele falou.-Amanhã você volta pro Natan.
-E se minha irmã não estivesse de repouso, você estaria voltando pra ela.
-Foge comigo.
As palavras fluíram como se fosse algo realmente fácil de dizer e fazer.
-Como é que é?
-Foge comigo. Você não precisa se casar, é o único jeito de fazer as coisas sem deixar a Gabriela na pindaíba.
-Espera, fazer que coisas?
-Eu quero você pra mim.-Ele apertou o abraço.-Você não ama seu noivo, acredite, casamento sem amor é o mesmo que andar sobre brasas acesas. Todos os dias você se arrepende e quando tenta acabar com tudo, nem sempre dá certo.
-Eu não posso fazer isso...
-E acha justo se casar com ele sem amá-lo?
-Eu estava tentando.-Relaxei no abraço dele.-Mas agora, não sei de mais nada.
-Você sabe o que tem que fazer.-Ele me puxou mais pra cima, até sentar em seu colo.-Eu juro Aryel, se você continuar com esse casamento, eu sumo da sua vida.
-Mas... e a Gabriela?
-Vou simplesmente largar tudo. Queria levar você comigo, mas se você não quer...
-Eu quero.-Me voltei pra ele, lábios próximos, um respirando o fôlego do outro.-É loucura, mas eu quero.


Ele me beijou. Eu queria mergulhar até o fundo e me afogar naquele romance. Eu já não era mais dona de mim, nem do meu corpo. Estava tudo nas mãos dele. O meu destino, minha vida. E como se fôssemos amantes a vida inteira, nos despimos ali mesmo na beira da praia e nos amamos na areia. Não havia nada nem ninguém que nos impedisse de continuarmos.

Fizemos amor. Na beira da água, embaixo das estrelas. Eu queria acreditar que tudo daria certo e que meu destino, era permanecer ao lado dele pra sempre.
Mas não foi assim que aconteceu...

***

Quando voltamos pra casa, eu estava decidida a terminar o noivado. Claro, todos iriam perguntar o porquê e óbvio que acabariam por descobrir meu caso com o Cris.
O vestido foi comigo. Cristovão fez questão de buscá-lo e garantiu que eu iria vesti-lo para ele no dia do nosso casamento.
Quando chegamos, ficamos horas trancados no escritório conversando com meu pai e o engenheiro. Quando ele se foi, me tranquei no meu quarto e fui reordenar os pensamentos. Seria naquela noite que eu terminaria tudo com o Natan. E, se tudo desse certo, iríamos embora no final de semana.
Eu estava certa do que queria e mais do que isso, não iria voltar atrás.
Tomei um banho quente e demorado, sequei os cabelos, escolhi uma roupa confortável. Eu não queria nada me incomodando aquela noite. Ainda tinha as marcas de chupões e mordidas pelo corpo. Sumi com a maioria delas com maquiagem mesmo, as outras mais escondidas, não me importaram.
Desci escondida, saí pela porta principal sem fazer barulho, tirei o carro da garagem e me dirigi para o apartamento do Natan.
Não subi de vez, mandei o porteiro avisar. Ele mandou subir e ficou me esperando no corredor. Estranhou eu aparecer daquela forma, mas foi logo me colocando pra dentro.
-Por que não me ligou? Eu tinha ido te buscar.
-Preferi vir sozinha com meu carro.-Larguei a bolsa encima da mesa na entrada e subimos as escadas em direção ao escritório/quarto dele.-Está muito ocupado?
-Pra você não.-Ele me puxou para um sofá branco, mas eu resisti.-O que foi, prefere a cama?
-Não.-As palavras começaram a fugir e meu discurso foi pelo ralo.-Eu... eu queria... eu...
-Fala.
-Eu quero conversar com você.
-Sei.-Ele não era trouxa.-Não quer beber nada?
-Água.
Seria bom reordenar os pensamentos, meu rosto estava vermelho, eu nunca fiquei embaraçada daquela forma.
Ele foi até o frigobar, pegou a água que pedi e veio com aquela expressão descontente.
-Vamos, agora desembucha.
Tomei um gole da água gelada, procurando as palavras. Como começar? Dizendo o que fiz na viagem, ou dizendo que não dava mais?
-Não dá mais.-Escolhi enrolar antes de dar a notícia.
-Não dá mais o que?-Ele cruzou os braços a minha frente.
-Nós dois.-Eu não sabia mais o que falar. Minha respiração parecia descontrolada, meu coração apertado.-Não podemos nos casar esse final de semana.
-Por que não?
-Estive pensando esses últimos dias. É um passo muito importante, não estou preparada.
-Esteve pensando?-Ele avançou sobre mim de uma vez, me segurou pelas alças da blusa, o copo que estava em minhas mãos, voou com a sacudida que ele me deu.-Conta outra garota, você esteve enroscada na cama com o seu amante, por isso vem com esse papo besta pra cima de mim.
-Natan, me solta.-Segurei suas mãos, mas ele me deu um safanão que me fez cair sentada no sofá.-O que pensa que está fazendo?
-Escuta aqui menina.-Ele colocou as mãos sobre o encosto do sofá, me prendendo entre seu corpo e o mesmo.-Tem muito em jogo aqui. Você não vai pular do barco agora. Eu tenho sido compreensivo e paciente com você. Mas uma hora, isso cansa.
-O que vai fazer?
-Apagar esse fogo que você tem.-Ele se levantou e abriu a calça. Quando tentei escapar pelo canto esquerdo, ele me segurou pelos cabelos e me puxou de volta.-Aonde pensa que vai?
-O que pensa que vai fazer?
-Apagar o seu fogo.

Ele me deitou no sofá e sentou sobre minhas pernas, enquanto arrancava minhas roupas. Meu short sumiu em um piscar de olhos, a calcinha coitada, foi rasgada com um puxão violento. Minha blusa, ele nem se deu ao trabalho de tirar, apenas a ergueu até descobrir meus seios. Foi aí que ele viu as marcas. Chupões nos seios e na barriga. Minha pele branquinha denunciou de cara, a pulada de cerca.

-A coisa entre vocês deve ter sido selvagem.
-Para com isso.-Eu tentava a todo custo me libertar, mas ele era bem mais forte e mais rápido.-Natan, me solta agora antes que eu comece a gritar.
-Grita meu bem.-Ele riu.-A casa é toda acústica. Mas eu não me importo de ouvir você gritando.
Ele libertou o pau da calça e cuspiu na mão, esfregou saliva nele inteiro e o socou dentro de mim. Tentei empurrá-lo com as pernas, com os braços, mas ele deu um jeito de segurar minhas mãos e me imobilizar.
A violência das estocadas estava tirando o sofá do lugar. E eu gritei. Mas não por socorro ou pra ele me soltar. Eu gritei de prazer. Nunca havia sentido aquilo. Natan era sempre tão cauteloso e carinhoso, sexo com ele era tão morno. E agora, ele me fazia gritar e gemer. Nem eu estava me reconhecendo mais.
Ele parou, me soltou e me pôs de quatro. Senti a cabeça do pau tentando perfurar meu ânus e tentei correr, mas ele me encurralou e tampou minha boca enquanto metia.
Aquilo doeu de mais. Foi a seco. O que restava das minhas pregas se foram. As lágrimas saíam dos meus olhos, ele continuava tampando minha boca enquanto fincava com força o pau no meu traseiro. Minha garganta ardia, eu não sentia mais meu corpo, só aquela quentura do traseiro. Quando menos esperava, gozei de uma forma que me deixou mole, não demorou, perdi os sentidos.
Quando acordei estava na cama. Ele estava sentado em frente ao computador, sentiu quando me mexi e olhou para trás. Senti um arrepio sinistro, quando ele sorriu.
-Que bom que acordou querida.-Ele se levantou e sentou ao meu lado.-Fiquei com pena de chamá-la. Acabei pedindo pizza para o jantar. Você não se importa, não é?
-Eu vou embora...
-Não vai não.-Ele me fez deitar novamente, pressionando o corpo encima do meu.-Você vai ficar aqui e vamos conversar sobre essa história maluca de você querer acabar com tudo.
-Não tem mais o que conversar. Depois disso que você fez...
-Vai dizer que não gostou.-Ele segurou meu rosto.-Estava louco pra provar esse seu rabinho. Pensei em deixar para a lua de mel, mas você sabe como é né. A carne é fraca.
-Não haverá lua de mel.
-Ah haverá sim. E vamos viajar como planejado.-A campainha tocou.-É o nosso jantar. Espere um momento, eu já venho.
Assim que ele desceu, eu pulei pra fora da cama e comecei a me vestir. Quando estava descendo, lá vinha ele com a pizza na mão.
-Eu não falei pra você esperar?
-Eu vou embora daqui.
-Vai é ficar quietinha aqui.-Ele me segurou pelo braço e subiu escadas acima comigo.-Essa noite você vai passar aqui.
-Natanael, por favor...
Ele só me soltou quando me jogou na cama. Colocou a pizza sobre a mesa do computador e foi até o bar pegar copos.
-Agora me diz, um final de semana na cama com o Cristovão fez você mudar de idéia quanto a casamento?
-Não.-Ele riu, um calafrio me percorreu.-Só não estou preparada.
-Claro, agora que sua irmã não está mais na área, você aproveita pra pular no colo do seu amante.
-Não é nada disso...
-Aqui não tem mais criança inocente Aryel.-Ele me deu uma taça de vinho.-Lembra da noite do noivado, quando você sumiu? Cristovão não me ajudou a te procurar porcaria nenhuma, falei aquilo pra não por tudo à perder, por culpa da bêbada da sua irmã.
-Tudo o que?
-O nosso casamento meu amor.-Ele me deu um pedaço de pizza e sentou a minha frente.-Seu pai não hesitaria em casar você com o Cristovão. Afinal, eles são sócios.
-Não estou entendendo aonde você quer chegar.
-Bebê.-Ele acariciou meu rosto, virei, mas ele o segurou e o trouxe de volta.-Sua irmã já havia me contado sobre o caso de vocês.
-Eu não tenho um caso com o Cris.
-Pelo que sei, você tinha sim.-Ele enfiou os dedos entre meus cabelos, acariciando minha nuca e me deixando arrepiada.-Lembra da nossa primeira vez? No seu quarto, naquela noite em que seus pais estavam viajando. Lembra como te despi, como fizemos amor...
-O que tem isso a ver?
-O Chris estava lá.-Ele riu.-A intenção dele, era justamente estar no meu lugar. E eu vi a forma como ele nos olhava, o ódio nos olhos dele. Mas eu tinha que mostrar que você me pertencia.
-Eu não sou um objeto.
-Mas é valiosa.-Ele me beijou.-Agora come, a noite vai ser longa...
Ele parou quando ouviu meu celular tocando. Desceu as escadas e voltou rindo, pelo toque, nem precisava dizer quem era.
-A gente não precisa disso agora.-Ele arremessou o aparelho na parede com toda força, fazendo o toque parar.-Esse cara é um grude hein. Não bastou comer minha namorada o final de semana inteiro?
-Eu quero ir embora.
-Nada disso. Essa noite você vai ficar aqui comigo.-Ele ligou a televisão, como se nada estivesse acontecendo.-E acho que você já pode se mudar pra cá. Afinal, não demora, iremos nos casar mesmo. Preciso de alguém que preste pra lavar minhas cuecas, aquela empregada não faz nada direito.
Ele me viu pálida e começou a rir.
-Estou brincando.-Eu já estava com medo daquelas atitudes dele.-Vamos coma quietinha, eu prometo não te importunar mais.
Sentou ao meu lado, colocou num filme e pegou um pedaço de pizza. Eu estava sem apetite. Ele insistia pra eu comer, mas eu ignorava e só bebia. Sem me dar conta, acabei com a garrafa de vinho. Quando me levantei para ir ao banheiro, minhas pernas enfraqueceram, eu estava zonza.
-Epa, exagerou?-Ele me ajudou a levantar e me levou até o banheiro.-Isso que dá beber de mais.
Eu já estava cansada daquilo. Mas minha cabeça girava muito, pra tentar discutir.
Tomei um banho frio, tentando acabar com aquela sensação e não demorou, saí enrolada na toalha, vestida com o robe dele.
O telefone tocou, o toque me deu agonia.
-Alô.-Ele me ajudou a sentar.-Não Rebeca, ela está aqui comigo... Pode ficar tranqüila, acabamos de jantar, ela está descansando. A viagem foi muito pesada pra ela... Tudo bem, eu falo. Um beijo.
-Minha mãe.-Foi o que consegui falar.
-Mandou lembrar que amanhã cedo vocês irão checar as entregas e o Buffet. Acho melhor você descansar.
Quando ele me deitou na cama, eu já não tinha sentidos. Estava de pé por um milagre, mas me entreguei quando senti meu corpo relaxar na maciez daquela cama.
Quando acordei, estava com o estômago revirado. Fui correndo pro banheiro vomitar tudo. Começava ali a minha primeira ressaca.
***
Cristovão chegou à casa dos meus pais no final da tarde do outro dia. Quando o deixaram sozinho, deu um jeito de escapulir até meu quarto. Ficou sabendo que eu havia exagerado e se preocupou. Todo mundo ali pensou que eu pudesse estar seguindo os mesmos passos da minha irmã.
-Aryel?-Ele sentou ao meu lado na cama.-Você está bem?
-Estou melhor agora.-Me virei devagar.-Você não devia estar aqui.
-Fiquei sabendo do seu pequeno exagero.
-Pode ficar tranqüilo, eu não vou ficar igual à Gabriela.
-Certo.-Ele tirou os sapatos e afrouxou a gravata.-E como foi lá?
-Não foi muito agradável.
-Vocês conversaram?
-Não teve conversa com ele.-Me sentei e ele me abraçou pelo ombro.-Ele não quer saber de romper.
-E ele fez algo?
-Não.-Era melhor deixar determinados detalhes ocultos.-Mas ele não vai voltar atrás. Diz que tem muito em jogo.
-Financeiramente falando.
-Isso.-Deitei a cabeça no ombro dele.-Estou disposta a fugir. Vou pra qualquer lugar com você.
-Sexta feira está bom pra você?
-Que horas?
-Pela manhã.-Ele acariciou meus cabelos.-Quando pensarem em nos procurar, já vamos estar longe.
-Em quanto tempo voltaremos?
-Nunca mais.-Ele me beijou.-Não quero correr o risco de te perder de novo.
***
A semana passou arrastada. Parecia que a sexta-feira não chegava nunca. Ainda era quinta-feira quando Cristovão foi buscar Gabriela no centro de reabilitação. À noite, estávamos todos reunidos para jantar em casa. E seria no dia seguinte. Talvez eu nem conseguisse dormir naquela noite. Minha mala estava pronta, bem escondida no porta-malas do meu carro. Fiquei o dia inteiro, como se tivesse borboletas no estômago.
Cristovão e Gabriela ficaram para dormir no quarto de hóspedes. Ela agora tomava remédios controlados, estava um tanto dopada ainda durante o jantar.
De madrugada, ele escapuliu para o meu quarto. Estava andando de um lado a outro, não consegui pregar o olho. Quando ele bateu na porta, abri correndo e me atirei em seus braços.
-Hei, por que você está tão nervosa?
-To com medo.-Escondi os olhos no ombro dele.
-Que nada, você está ansiosa.-Ele me levou até a cama, paramos em pé ao lado dela.-Mas amanhã eu vou te levar pro paraíso.
-Vai me matar?-Perguntei tentando descontrair.
-Não. É o lugar para onde vou te levar. Uma casa linda a beira da praia.
-Jura? Aonde?
-Você vai ver logo.-Ele me abraçou pela cintura.-Só com você mesmo, pra eu me sentir vivo mais uma vez.

Os lábios dele desceram para os meus. Me aconcheguei mais ao abraço e esqueci do mundo lá fora. O beijo só foi interrompido pra liberar a passagem da minha blusa. Minhas roupas formaram logo um monte ao pé da cama. Ele me deitou e ficou de pé, enquanto arrancava as próprias roupas e vinha até mim.
O corpo dele aqueceu o meu, os lábios voltaram a encontrar minha pele. O membro deslizava entre minhas pernas, me deixando ainda mais molhada. Eu queria e precisava ser penetrada, mas ele preferiu continuar me torturando com beijos, que desceram do pescoço lentamente para os seios. Eu amava quando ele fazia aquilo. Conseguia acender uma chama especial dentro de mim.
Rebolei tentando fazer o membro duro encontrar o caminho certo e quando a cabeça encaixou, o puxei pra baixo e lentamente ele foi deslizando pra dentro. Meus olhos marejaram, mordi o lábio para não gemer. Era impossível não sentir prazer de verdade, aquele misto de amor, desejo paixão, carinho, luxúria.
A boca dele voltou pra minha, uma mão desceu até minha perna e a arqueou. Ele se enfiou o mais fundo que pôde, devagar, me desconectando da realidade e me levando de verdade pro paraíso.
Era impossível descrever a sensação. Meu coração batia tão rápido, eu respirava rápido, queria gemer a cada entra e sai, mas temia não poder me controlar e fazer barulho em excesso.
O abracei com as pernas e o tombei na cama, me pondo por cima. Aumentei o ritmo e subia e descia feita louca, procurando libertar o gozo preso em nós dois. E não demorou, nos beijamos pra abafar os gemidos, enquanto gozávamos juntos.

Caí sobre o peito dele. Sorri pensando que minhas noites seriam todas assim. E não haveria ninguém para nos impedir. Nem com calúnias, nem com mentiras. Seríamos só ele e eu. E no futuro quem sabe, algum monte de crianças.
-Em que está pensando?-Ele perguntou enquanto nos aconchegávamos embaixo dos cobertores.
-Em crianças.
-Crianças?-Ele riu.
-Não quer ter filhos?
-Claro.
-Então, pensava nisso.-Ele me abraçou por trás, ficamos deitados de lado, sonhando acordados.-Imaginei um monte correndo pela sala.
-Pretende virar professora?
-Não. Só quero ter um mini time de futebol.
-Nossa.-Ele riu e meu coração acelerou.-E você tem paciência?
-Pra dar e vender.
-Então vamos começar agora?
-A que?
-Fabricar algumas.-Ele me beijou no pescoço.-Quero uma menininha igual a você, com olhos azuis e cachinhos negros.
-E eu quero um menininho igual a você, com esses olhos verdes e o sorriso largo e sincero.
-Teremos quantos você quiser. A partir de amanhã, poderemos tudo.
Me virei pra ele, nos beijamos enroscados no abraço. Em nossas cabeças, nada iria abalar nossos planos.
Mas por ironia ou falta de sorte, justamente naquela noite, fui descuidada e deixei a porta destrancada. E enquanto nos amávamos, alguém entrou e acendeu a luz.

***
-Mas o que significa isso?
-Pai.-Cristovão saiu de cima de mim, meu pai nos fitava boquiaberto.-Olha, a gente pode explicar...
-Explicar o que? Que vocês são amantes? Dá pra ver!
-Nelson.-Cristovão tentou.
-Vistam-se e me encontrem no escritório.-E saiu batendo a porta com força.
-Droga.-Ele se levantou.-Você fica aqui.
-Não, eu vou com você.
-Escuta.-Ele parou no meio do quarto, vestindo as calças.-Me encontra no centro comercial as seis.
-Mas... precisamos conversar com ele...
-Não, eu vou. Pode ficar tranqüila.-Ele se aproximou e sentou na cama ao meu lado.-Seis horas, no centro comercial. Se você não for, está tudo acabado.
-Mas...
-Sem mas.

Ele me beijou e saiu do quarto.

Foi à última vez que o vi.

Me levantei as cinco. Tomei um banho, coloquei uma roupa confortável de corrida e quando ia saindo, tive uma surpresa. A porta do meu quarto estava trancada. As janelas também, só eram destrancadas depois das sete. Procurei as chaves reserva na gaveta da cômoda e não estavam ali.

Tentei manter a calma. Peguei o telefone e disquei o número interno, Sandra atendeu da cozinha.

-Sandra, eu preciso de ajuda. A porta do meu quarto está trancada...
-Eu sei querida.-Ela falou calmamente.
-Então faz alguma coisa. Eu preciso sair daqui.
-Infelizmente eu não posso querida. São ordens do seu pai.
-Como assim ordens do meu pai?
-Ele falou pra manter você trancada no quarto até amanhã na hora do casamento.
-Mas eu tenho um compromisso urgente agora de manhã.
- Sinto muito. Mais tarde eu vou levar o seu café.

Ela desligou o telefone. Eu fiquei furiosa. Mas precisava manter a calma. Disquei pro celular do Cris. Minha linha estava desligada, só funcionava a linha interna da casa. Novamente liguei pra cozinha.

-Sim querida.
-Pelo amor de Deus, liga pro Cris pra mim.
-Sinto muito, mas não posso.
-O que vocês pretendem afinal?
-Nada querida. Mas eu falei que isso não daria certo.
-Por favor, Sandra. Liga pra ele.
-Eu não posso.
-Ele nunca vai me perdoar se eu não for. Sandra, você está me impedindo de ser feliz.
-Estou apenas seguindo ordens criança. Sinto muito.

Meu desespero só fez aumentar. Corri pro computador, mas minha conexão estava cortada. Eu estava completamente sem contato com o mundo fora de casa.
E meu pai? Eu queria tanto sair antes que ele acordasse e viesse me repreender pelo acontecido da noite anterior.
E não deu outra, as sete e meia ele entrou no quarto. Eu tinha esperanças de que ele tivesse falado com o Cris. Que ao menos Cristovão soubesse que eu não fui, porque estava trancada no quarto.

-Precisamos conversar mocinha.
-Pai o que aconteceu foi...
-Eu sei o que aconteceu.-Ele fechou a porta por dentro.-Você tem idéia do que o seu egoísmo quase causou a essa família?
-O meu egoísmo?
-Você mantém um caso com o marido da sua irmã debaixo do meu teto. O que seria dela, se visse o que vi essa madrugada?
-Eu não tive a intenção.
-Não? E teve que intenções fazendo o que fez?-O olhar dele me deixava angustiada.
-Pai, me deixa explicar.-Ele se calou, respirei fundo procurando as palavras pra começar.-Eu tentei evitar, eu juro.
-E por que não evitou?
-Porque eu o amo.
-Ele é o marido da sua irmã.
-Foi tudo armação. Ela me tomou o Cristovão com artimanhas sujas.
-Agora ela é a culpada?
-Enquanto você estiver me acusando, eu não vou poder explicar.
-Escuta aqui Aryel. Eu não quero mais explicações. Cristovão já deu as dele, o que não adianta de nada. Ele continua casado com sua irmã e você irá se casar amanhã com o Natanael.
-Eu não posso me casar com ele...
-Foi você quem o escolheu. Nessa safadeza é que vocês não vão ficar.
-Cristovão sabe que me trancou aqui?
-E por que deveria saber?
-Sabe ou não?
-Ele foi embora às três da manhã, logo depois da conversa que tivemos. E eu percebi que se não tomasse alguma providência, você iria correndo atrás dele.
-Então, ele não sabe que me trancou?
-E por que deveria saber?-Sentei na cama sem forças pra continuar aquela conversa.-Aryel essa história foi longe de mais. Amanhã você vai se casar com o Natan e vai esquecer o Cristovão. E nunca mais, isso que se passou vai se repetir. Está me entendendo?-Fiquei muda.-Eu perguntei se me entendeu.
-Sim.-Murmurei.-Agora, por favor, me deixa sair daqui.
-Você está de castigo até se transformar em uma mulher casada. Então será responsabilidade do seu marido e não minha.-Antes de sair, ele parou em frente a porta.-Acredite minha filha, é para o seu bem.
A porta se fechou. O desespero me atacou. Eu perdi minha chance de fugir com ele. Só me restava rezar para que ele me tirasse daquele sufoco, quando soubesse por que não fui encontrá-lo.

***


Natanael entrou no meu quarto no final da tarde. Trancou a porta por dentro e parou com as mãos nos bolsos me observando.

-Você conseguiu o que queria?-Ele perguntou, enquanto ia até a janela.-Aonde está o seu príncipe encantado, que não veio resgatá-la da torre ainda?
-Natan, não enche.
-Sabe, eu devia romper com você agora. E amanhã, todos saberiam por que o noivado foi desfeito a menos de vinte e quatro horas do casamento. Mas eu gosto de você. Você tem um fogo especial que me atrai.
-Isso não é o suficiente para me arrastar até o altar.
-Você chegou até aqui sozinha querida.-Ele se aproximou da cama, aonde eu estava sentada abraçada aos joelhos.-E agora, está tentando colocar a culpa em mim?
-Natan, vá embora, por favor.
-É, eu vou. Tenho algumas coisas pra revolver ainda essa noite.-Ele se aproximou e me beijou na testa.-Mas amanhã, estaremos em pé diante daquele altar.

Ele saiu trancando a porta mais uma vez. Permaneci ali imóvel. Meus olhos já estavam inchados, minha cabeça latejava. Quando eu pensava que já havia chorado tudo que tinha pra chorar, as lágrimas caíam mais uma vez.

Só que eu ainda tinha esperanças. Alguém deve tê-lo avisado. Ele iria me salvar.

***
Sete horas da manhã, foi à hora em que invadiram meu quarto. Uma equipe de maquiadores, manicures, toda aquela parafernália que eles inventaram para enfeitar o dia da noiva.

Fui transportada de banhos a massagens, a cremes e lanches “afrodisíacos”. As pessoas não paravam de entrar e sair. E eu não encontrava nunca, uma oportunidade de escapar.

Até que uma das manicures deu mole com o celular. O roubei e enfiei no bolso, me tranquei no banheiro, alegando estar apertada. Foi à chance que eu pedi. Disquei o número do Cris e quase tive um ataque histérico.

“Esse número foi cancelado pelo usuário, obrigada.”
Só podia ser brincadeira. Eu disquei de novo e:
“Esse número foi cancelado pelo usuário, obrigada.”
E de novo:
“Esse número foi cancelado pelo usuário, obrigada.”
E de novo:
“Esse número foi cancelado pelo usuário, obrigada.”

Não podia ser. Ele devia ter cancelado o celular antes daquilo tudo. Claro. Só podia ser isso. Ele tinha que se livrar de tudo que pudesse ser usado para nos encontrarem. Minha última esperança, era que ele estivesse na igreja e me ajudasse a fugir dali.

Já passava da hora do almoço, quando me colocaram no vestido de noiva. Claro que minha mãe desaprovou o vestido que havia comprado. Disse ser muito simples e não combinar em nada com a festa. O arrancou de minhas mãos e deu ordens para que me ajudassem a vestir o que ela havia escolhido.

As duas em ponto, saímos de casa. Meu pai foi na limusine comigo. Tinha uma fotógrafa chata que ficava tirando fotos e me mandando sorrir. Quando chegamos em frente a catedral, havia gente por todo lado. Repórteres de todas as espécies. Em sua maioria, paparazzis. Fiquei cega com tantos flashs.

-Vamos querida, está na hora.-Meu pai me arrancou de dentro do carro.-Um dia, você vai me agradecer por isso.
-Espero que ele diga não.-Foi minha resposta malcriada.

Entramos na igreja, tocou a marcha nupcial. Olhei pra todos os lados, naquele mar de rostos desconhecidos a procura do Cris. Ele era o padrinho e não estava no altar, nem ao lado da minha irmã, nem em lugar nenhum.

Meu pai me entregou ao Natan e o padre começou a falar. Eu olhava pra trás todo o momento, mas só encontrava uma igreja enorme cheia de gente desconhecida.

-Querida, perdeu alguma coisa?-Natan perguntou.
-Perdi.
-Se está se referindo ao Cris, ele não veio. Sua irmã falou que ele sumiu ontem o dia inteiro e não deu sinal de vida hoje ainda.-Ele murmurou no meu ouvido.-Pelo menos ele é conveniente.

O padre falou e falou e falou. E perguntou se alguém estava ali pra impedir o casamento e ninguém se pronunciou. E não tinha escolha, tive que dizer sim. A empresa do meu pai iria à falência, se eu fizesse algo ali, no meio daquele mundo de repórteres.

-Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro, marido e mulher.
-Viu só?-Ele murmurou.-Não doeu tanto assim.
-Ainda bem que inventaram o divórcio.
-Perderá toda sua fortuna querida.-Ele segurou meu rosto e me beijou.-Seu sabor é picante. Como beijar uma cobra venenosa.
-Você é um encanto Natan.

Saímos da igreja de braços dados. Daquele momento em diante, eu era a senhora Rossi. Havia começado a maior mentira da minha vida.

***

O pior disso tudo, com certeza foi a noite de núpcias. Passamos no apartamento do Natan, iríamos viajar no outro dia bem cedo. Chegamos por volta das duas da manhã, ele largou minhas malas no meio da sala e me arrastou pro quarto.

-Você está muito calada hoje. Normalmente fala pelos cotovelos.
-Não estou com ânimo pra falar.-Ele me virou de costas e começou a soltar o meu vestido.-Você quer mesmo fazer isso?
-Você quer que eu seja sincero?-Ele soltou meu vestido no chão e tirou todas as anágoas.-É mais excitante quando tenho que te dominar, do que quando você se entrega como quem vai para a forca.
-Não estou com forças pra evitar nada.
-Então vem comigo.-Ele me levou pro banheiro, havia pétalas de rosas vermelhas no chão e na banheira.-Vamos tomar um banho e descansar. Temos a vida inteira pela frente e amanhã, iremos levantar bem cedo.

Minha mente viajava naquele lugar. Tão diferente daquele quarto de hotel rústico aonde Cristovão me preparou aquela surpresa linda. O colar estava comigo naquele momento. Levei a mão ao peito enquanto ele terminava de me despir e me encaminhava até a banheira.

Não sei por que ou o que havia acontecido com o Natan àquela noite. Mas agradeci quando ele simplesmente tomou um banho comigo e não me tocou mais.

***

Passaram semanas, até chegarem a se transformar em meses. Havíamos nos mudado para uma casa no condomínio, perto dos meus pais e dos pais do Natan. Eu continuei com a faculdade, em dois meses me formei. Comecei a trabalhar no “Projeto Paraíso”. Era como eu chamava a pousada da região dos lagos.

Uma equipe de engenheiros e arquitetos me acompanhavam sempre as viagens. Era um meio de me distrair. Gastei todo meu tempo e esforço naquele lugar.

Com três meses de casamento, recebi uma notícia que me deixou sem rumo.

-Parabéns Aryel, você está grávida.-Minha médica sorria de forma amigável.
-Como?-Sacudi a cabeça.-Como assim grávida?
-Pelos meus cálculos e pelo tamanho da sua barriga, três meses. Mas vou encaminhá-la para ultra-sonografia só para garantir.

Um filho. Não era aquilo que eu queria. Crianças em meio ao caos que era o meu casamento e a minha vida! Um filho... que podia ser do Cris. Só dependia do resultado daquela ultra-sonografia.

Dias depois daquela notícia, fomos jantar na casa dos meus pais. Eles diziam ter uma notícia boa, Natan queria aproveitar o momento para falar sobre o bebê. Claro, ele havia futucado na minha bolsa e encontrou os exames.

Chegamos um tanto atrasados, antes de sair eu tive um ataque de enjôos que até então eu nunca havia sentido. Sandra abriu a porta pra nós com um sorriso desconfiado no rosto. Nos acompanhou até a sala. Gabriela estava lá, sentada ao lado da minha mãe. Meu pai não estava na sala.

-Desculpem o atraso.-Natan falou enquanto me ajudava com o casaco.-Aryel não se sentia muito bem.
-O que tem meu anjo?
-Só um enjôo passageiro, nada de mais.
-Enjôo?-Minha mãe se levantou com um sorriso no rosto.-Como assim? Comeu algo estragado?
-Não Rebeca, melhor, muito melhor.-Natan me abraçou pela cintura.-Estamos grávidos.
-Não acredito.-Minha mãe me abraçou eufórica.-Vou ganhar um netinho.
-Ou uma netinha.-Sandra também veio me abraçar.-Que maravilha minha menina, estou muito feliz por você.
-Todos nós estamos.-Natan sorria de orelha a orelha.-Não é mesmo querida?
-Sim, claro.-Meu sorriso foi morno.
-Que gritaria é essa aqui?-Meu pai saiu do escritório acompanhado por alguém que o seguia de perto.
-Adivinha Nelson. Vamos ser avós.

Quando me virei pra olhar pro meu pai, minhas pernas fraquejaram e senti meu rosto queimar. Cristovão estava bem ao lado dele, ambos me olhavam com cara de espanto. Até o sorriso do Natan se apagou na hora.

-Aryel, você está grávida?-Meu pai perguntou, me fazendo voltar à realidade.
-Sim.-baixei a cabeça constrangida.
-Que bela notícia.-Ele também veio me abraçar.-E quanto tempo tem?
-Ainda não sei. Vou fazer o exame amanhã.
-Eu quero acompanhá-la.-Foi minha mãe.
-Claro.-Sorri constrangida.-É... então, há quanto tempo está rolando essa reunião de família?
-Cristovão voltou hoje cedo.-Meu pai falou enquanto apontava para o Cris, que sentava ao lado da Gabriela.-Mas vamos jantar e comemorar. Essa é a melhor notícia que recebo em muito tempo.

Não eu não consegui comer ou falar qualquer coisa naquelas horas. Sempre alegando que estava com azia ou enjoada, apenas ouvia todos falarem ao mesmo tempo, como sempre foi. Também quase não ouvi a voz do Cris.

Ao final de tudo, saí da sala de jantar correndo com o estômago embrulhado, uma sensação estranha. Diferente das últimas vezes, eu não consegui segurar, quando alcancei o banheiro, botei tudo pra fora.
Minha mãe e Natan me levaram para o meu antigo quarto e me deitaram. Assim que melhorei, descia as escadas e pedi pra ir embora. Não era a gravidez que me deixava enjoada, era a situação. Mais uma vez Gabriela havia vencido e estava ali ao lado do Cris.

Natan não falou nada sobre isso. Me levou pra casa, cuidou de mim como vinha fazendo ultimamente e só quando sentou na cama, foi que comentou.

-Eu vou com você amanhã.-Ele falou.-Se você tem mesmo três meses, essa criança pode ser do Cris.
-E se for?-Ele ficou mudo.-Vai me deixar?
-Não sei.-Ele deitou e apagou a luz.-Mas enquanto estamos na ignorância, vem aqui.

Ele me abraçou e me ajudou a me despir. Eu não o evitava, apenas deixava rolar.

Ele beijava meu corpo, sugava meus seios, estimulava meu clitóris. E eu simplesmente fingia. Fingia estar gostando, fingia que queria continuar. Fingia orgasmos. Meu destino seria aquele? Nunca mais sentir prazer e nem desejar outro homem?

Na manhã do dia seguinte, fomos fazer a tal ultra-sonografia. Não tive que esperar, foi tudo muito rápido. Quando apareceu na tela acima da cama, duas coisinhas se mexendo, fiquei apavorada.

-Está vendo isso aqui mamãe?-O médico sorriu.-É o seu primeiro bebê.
-Como assim primeiro?
-Porque esse aqui.-Ele congelou a imagem e apontou os dois.-É o segundo. E são levados os dois.
-Está falando sério?-Natan perguntou.-São gêmeos?
-Sim.-Ele sorriu.-Diz oi pro papai menino.
-Já dá pra ver o sexo?
-Não.-Ele sorriu.-Só estou brincando. Você tem treze semanas.
-Treze?-Fiz as contas pra trás, mas me embananei.-Isso daria em que data mais ou menos?
-Hum, vinte e nove de setembro.
-Três meses?
-Três meses.-Ele media tudo nos bebês.-Eles não param quietos. Só resta saber se estão brigando ou brincando.
-Em quanto tempo vamos saber o sexo?
-Na altura da vigésima semana pra lá.

Fiquei chocada em descobrir que aquelas duas coisas miúdas brincavam dentro do meu útero. E não havia dúvidas. O pai dos bebês era mesmo Cristovão. Natan também ficou um tanto chocado. Mas resolvi naquele momento que não falaríamos esse detalhe pra mais ninguém. Se ele estava disposto a ser o pai, eu devia agradecer por ele assumir essa responsabilidade comigo.

Saímos da clínica calados. Ele me levou até o escritório e foi trabalhar. Passei o dia inteiro divagando comigo mesma. O que aconteceria conosco? Por fim, me levantei, peguei minha bolsa e segui para a firma aonde Cristovão trabalhava.

Quando cheguei, não havia ninguém na recepção. Então, invadi a sala e tomei um baita susto, quando vi ele e a secretária trepando no sofá. Os dois também se assustaram, fiquei com vergonha e saí batendo a porta.
Enquanto esperava o elevador, ele saiu da sala me chamando. Estava bastante bagunçado ainda.
-Aryel, espera.-Ele me segurou antes que eu entrasse no elevador.
-Eu não devia ter vindo.-Ele entrou no elevador comigo.-Não queria atrapalhar.
-O que veio fazer aqui?
-Não sei. Foi um impulso.-Saí do elevador assim que a porta abriu.-Desculpe, pode voltar pra sua atividade.
-Aryel, para.-Ele me segurou o pulso.-Vai me tratar com essa frieza até quando?
-Você me abandonou Cris. Mandei e-mails e não obtive nenhuma resposta. Agora, você volta do nada e reata com minha irmã, está trepando com sua secretária no escritório...
-Em primeiro lugar, eu não abandonei você. Simplesmente achei que tivesse feito sua escolha. E segundo lugar, não voltei com sua irmã. Fomos ontem conversar com seu pai sobre o divórcio. Arrumei uma forma de deixá-la em boa situação financeira.
-Certo, agora me deixa ir.
-Você está mesmo grávida?-Ele perguntou, me fazendo parar.
-Sim.
-Então seu casamento vai bem.
-Ás vezes sim, ás vezes não.-Eu tinha que sair dali, me livrar das lembranças de tê-lo visto com outra.-Eu preciso ir.
-Eu quero conversar com você.
-Eu não posso.-Me afastei dele.-Já estou até o pescoço de problemas por sua culpa. Eu não devia mesmo ter vindo aqui e...
Ele me puxou e calou minha boca com um beijo. Larguei minha bolsa no chão e envolvi o pescoço dele com os braços. Nossas línguas se enroscavam, as mãos dele passeavam pelas minhas costas. Só algum tempo depois, nos demos conta de que estávamos no saguão do prédio.
Me afastei, tentando me recompor. Ele me levou pro estacionamento e abriu a porta do carro pra mim.
-Vamos, entra.
-Não posso...
-Vamos sair daqui, conversar em outro lugar.
Entrei no carro e ele saiu dali. Ficamos mudos por um longo tempo, até que ele bateu com força no volante.
-Se eu soubesse.-Ele sacudiu a cabeça.-Seu pai me disse ontem, que você havia ficado trancada no quarto.
-Você sumiu.
-Precisava sumir. Pensei que você tivesse se arrependido e não quisesse continuar. Seu celular estava desligado, na casa, disseram que você estava no quarto e não queria falar com ninguém.
-Natan quebrou meu celular dias antes. E meu pai me deixou de castigo, pra que eu não fosse atrás de você. Quando consegui ligar pra você, seu celular estava cancelado.
-Cancelei pouco depois de sair da sua casa.-Ele segurou minha mão.-Você está bem? Ele tem te tratado bem?
-Desde que descobriu que estou grávida, ele vem me tratando bem.
-E está tudo bem com o bebê?
-Sim.-Recostei no banco.-São gêmeos.
-Gêmeos?-Ele sorriu.-imagino que ele esteja pulando de alegria.
-Talvez sim, talvez não.-Ele embicou na entrada de um hotel, fiquei sem fala quando vi que era o mesmo hotel aonde ficamos a primeira vez.
-Não vai acontecer nada. Eu prometo.

Ele pegou a chave e seguimos para uma suíte. Quando chegamos, ele foi direto pro banheiro tomar um banho. Aquele não era o mesmo quarto, mesmo assim aquele lugar me trazia recordações de mais.

Sentei em frente à janela, esperando ele voltar. Quando o vi saindo do banheiro, com uma toalha enrolada na cintura, os cabelos molhados jogados pra trás. Meu coração disparou mais uma vez.

-Eu queria poder te levar pra outro lugar, mas não quero complicar sua vida a essa altura.-Só então notei a mala perto da cama.
-Você está hospedado aqui?
-Sim. Cheguei ontem pela tarde.
-Onde esteve?
-Viajando.-Ele tirou umas peças de roupas da mala e voltou para o banheiro.-E como tem ido?
-Bem.-A resposta quase não saiu.-Você achou que eu tivesse desistido. Voltou agora por quê?
-Conheci uma mulher.-Ele saiu do banheiro secando os cabelos e sentou na cama.-Pensei em fazer uma loucura.
-E qual seria?
-Viajar o mundo com ela.-Ele me encarou por algum tempo.-Só que antes, preciso dar entrada nos papéis de divórcio.
-E pensa em se casar com ela?
-Casamento é um passo muito importante. Já fiz isso uma vez e me arrependi. Vou pensar duas vezes, antes de me amarrar novamente.
-Sei.-Minha garganta estava fechada, eu precisava sair dali antes que começasse a chorar feito uma parva.-Eu acho que é melhor ir andando.
-Por quê?
-Não tinha nada pra fazer aqui.
-Mas você foi ao meu escritório. Alguma coisa você queria.
-Nada.-Me levantei procurando manter as pernas firmes.-Eu nem sei por que fui lá. Eu tenho que ir.
-Fica.-Ele se levantou e veio até mim devagar.-Sei que você não quer nada comigo a essa altura do campeonato.
-E por que diz isso?-Cuspi as palavras.
-Você mesma disse, eu te abandonei.-Ele pousou as mãos em meus ombros e foi as deslizando pelos meus braços.-Eu vi seus e-mails. E não abri nenhum. Não queria saber das suas explicações, você não foi ao nosso encontro, pensei que tivesse se arrependido.
-E agora voltou só pra se livrar da minha irmã?
-Eu precisava ver.-Ele me puxou pra mais perto.-Queria saber se você estava feliz.
-E se não estivesse?
-E por acaso você está?-Ele ergueu meu rosto.-Nunca vi seus olhos sem brilho. Ainda mais agora que está grávida, devia estar radiante.
-Só estou um pouco cansada.-Me afastei dele.-E estou feliz sim, só não me caiu a ficha ainda.
-Algumas pessoas dizem que demora pra isso acontecer.-Ele me abraçou por trás e colocou as mãos sobre meu estômago.-Não sabe como tenho inveja dele. Tem você e agora terá dois bebês de uma só vez.
-Eu também invejei Gabriela por muito tempo.-Meu coração estava apertado, eu queria muito sair dali correndo.-Mas aprendi a conviver com isso.
-Eu não tenho tanta frieza.-Ele beijou meu pescoço.-Me deixa levar você daqui.
-Agora não dá mais. Você tem outra...

O toque do celular dele me tirou a concentração. Ele se afastou pra atender e me olhou sério, antes de atender.

-Oi. Sim Cláudia, pode falar...

Só podia ser ela. Peguei minha bolsa e saí dali apressada. Ele ainda tentou me alcançar de novo, mas fui mais rápida e alcancei a saída do hotel antes que ele me alcançasse. Estava descalço e sem camisa, todos ficaram olhando quando passei correndo com ele atrás de mim. Entrei em um táxi mais a frente e nem olhei pra trás.
Quando cheguei no escritório, Natan estava lá me esperando. Enfiou as mãos nos bolsos e fechou a cara, quando me viu com a maquiagem borrada e os olhos vermelhos.

-O que aconteceu?
-Nada.-Passei direto para o banheiro e fui reparar os estragos.
-Você foi atrás dele, não foi?
-Fui.
-E para não estar sonhando acordada, é porque não deu certo o que foi fazer.
-Me deixa me paz Natan.-Ele veio até o banheiro, encostou na porta e ficou me observando.-O que você quer?
-A pergunta é: O que “você” quer?-Ele encostou a porta do banheiro e se aproximou devagar.-Está sempre com medo de pular do precipício, mas torce pra que apareça alguém pra te empurrar.
-O que ta querendo dizer?
-Por que não ficou com ele quando houve tempo?
-Porque você não quis desmanchar o noivado.
-E você não tinha voz o suficiente, para dar fim a tudo e sumir com ele?-Ele cruzou os braços e riu.-Queria que eu terminasse. Esse era o empurrãozinho do qual estava falando.
-Não estou com cabeça para o seu sarcasmo agora.
-Meu anjo, você está sofrendo.-Ele se aproximou mais de mim e me puxou para os braços.-Eu nunca quis na minha vida, te fazer infeliz.
-Ele tem outra.-Desabafei nos braços do meu marido.-Mais uma vez, eu fui só um passatempo.
-Vocês mulheres são todas iguais.-Ele me puxou de volta pra sala e pegou água no frigobar.-Quando têm o homem a seus pés se declarando e se entregando, esnobam, agridem. Agora, quando o homem lhes vira as costas e vai reconstruir sua vida, vocês se desesperam. Que sadismo é esse?
-Você já amou Natan?
-Claro.-Ele sacudiu a cabeça.-E é por experiência própria, que estou falando. Também amei uma mulher que não sabia se ficava comigo, ou com outro homem.
-E o que aconteceu?
-Me casei com ela há três meses.-Ele veio se sentar ao meu lado no sofá espaçoso.-Todos temos nossos segredos sabe? Eu sei que tenho sido injusto com você nos últimos meses, afinal a impedi de ser feliz, não é mesmo?
-Aonde quer chegar?
-Tem uma pessoa, que gostaria de te apresentar um dia.-Ele se levantou.-Mas não hoje. Vamos sair para jantar e ir ao cinema. Você precisa se distrair.
-Eu não quero.
-Não perguntei se queria.-Ele pegou meu blazer e minha bolsa e abriu a porta.-Venha, vamos indo.
Passar a noite com ele, não foi desagradável como vinha sendo. Não nos tratamos como dois inimigos e sim, como amigos.

Fomos ao cinema, assistimos a uma boa comédia e mesmo sem espírito eu relaxei e ri com ele. Depois fomos comer porcarias no fast-food do cinema. Voltei nos tempos de adolescente, quando começamos a namorar. Ele ainda era aquele cara engraçado que me fazia rir a toa e esquecer a dor no peito.

Dentro de mim eu sentia uma culpa enorme, porque fui injusta e infiel a ele.

-Vamos indo?-Ele perguntou depois de um tempo em que ficamos calados.-Ou quer fazer mais alguma coisa?
-Não, estou cansada. Acho melhor irmos andando.

Saímos do lugar abraçados. Pra quem olhava, éramos o casal perfeito. Jovens, bonitos e “apaixonados”. Quando chegamos ao condomínio, ele parou o carro na frente de casa e saiu pra abrir a porta pra mim. Me ajudou a sair do carro, fechou a porta e me encostou nela.

-Natan...
-Shh.

Ele me beijou, uma mão desceu pela minha garganta e me puxou mais pra perto. A outra subiu pelas minhas costas, por dentro do blazer e quando menos esperava, senti a folga do sutiã sendo aberto. Nossas bocas continuavam grudadas. A mão foi deslizando pro meu decote e desabotoando botão por botão.

-Quero você agora.-Ele desceu a mão direto pra barra da minha saia, subiu e afastou a calcinha.-Você está mais quente ultimamente. Bendita gravidez.

A situação me pegou de surpresa, gemi baixo quando ele começou a estimular meu clitóris. Foi devagar, sem muita pressão, o suficiente pra me deixar molhada. A outra mão continuava a brincar com meus peitos, ele abaixou a cabeça e tomou um com a boca, sugando, me fazendo desligar do resto do mundo.

Ouvi o barulho do zíper da calça dele sendo aberta. O pênis deslizou pro meio das minhas pernas e encaixou entre os lábios molhados. Gemi com a boca grudada na dele e devagar, ele foi empurrando pra dentro, me ergueu um pouco e encaixou finalmente o pênis no canal.

Ficamos imóveis, quando ouvimos passos por perto. Era uma das vizinhas centenárias, que passeava com a cadelinha.

-Não olhe Zoraide, foi-se o tempo em que isso aqui era um condomínio de respeito.
-Boa noite vizinha.-Natan riu enquanto descia as mãos pra minha bunda.-Acho melhor entrarmos.
-É uma boa idéia.

Ele me ergueu, prendi minhas pernas em volta de sua cintura e assim entramos em casa. Nos esparramamos no chão, em frente a estante, sobre o carpete felpudo. Ele começou a estocar com força, movimentos rápidos. O beijei enquanto sentia o gozo se apossando do meu corpo e quando menos esperei, gritei o mais alto e gozei naquele pau delicioso.
Ele ergueu o corpo, segurou minhas pernas naquela popular posição do frango assado e enfiou o mais fundo que pôde, gemendo comigo e gozando. Senti o pau pulsar, devagar, ele soltou minhas pernas e deitou por cima de mim.

Ficamos ali abraçados, ainda encaixados, ofegantes sem dizer uma só palavra.

***

Na manhã seguinte, meu celular tocava insistente ao lado da cama. Olhei em volta, estava sozinha no quarto, peguei o aparelho e vi escrito “Privado”. Atendi.

-Oi.
-Não era pra estar te ligando, sei que não vai acreditar no que eu disser e nem se importar, mas detesto maus entendidos entre nós.
-O que quer Cris?
-Falar que a Cláudia é a advogada responsável pelo meu divórcio.
-Isso não importa.
-Claro que importa.
-Não importa, porque de qualquer jeito você deve estar comendo ela também. E sabe Deus mais quantas. Afinal, você conheceu outra mulher, pretende viajar o mundo com ela e estava comendo a secretária quando cheguei.
-Aryel.-Ele já estava sem argumentos.-Eu só quero que me perdoe. Deixei os ciúmes me cegarem, ainda mais quando soube que você estava esperando um filho do Natan.
-Cristovão, me deixa em paz.
-Eu quero te ver hoje. Preciso te ver hoje.
-Não dá mais.-As lágrimas começaram a escorrer.-Reconstrua sua vida com essa outra mulher Cristovão. Me deixe em paz.

Desliguei o celular e deitei mais uma vez, abraçada ao travesseiro. Como dizia aquela frase: “chora na cama que é lugar quente”.

Levantei, tomei uma ducha e fui trabalhar. Não estava com estômago pra comer nada, sentia um peso enorme sobre as costas, uma vontade louca de me esconder embaixo das cobertas e nunca mais voltar a colocar os pés na rua.

Por volta das dez, minha secretária informou que havia um senhor esperando na recepção. Perguntei quem era, ela disse ser o meu pai, mas não parecia estar com a voz muito firme. Então permiti a entrada.
Cristovão entrou no escritório com as mãos nos bolsos. Eu já imaginava. Ou tinha esperanças de que fosse ele. Passou a chave na porta e foi até mim.

-O que faz aqui?
-Vim lhe entregar isso.-Ele me deu um envelope.-Espero que lhe sirva algum dia, como me serviu esses últimos meses.
-O que é?
-A escritura da nossa casa.-Ele parecia angustiado.-Não tive coragem de me desfazer dela. Sonhei tanto em ter você lá dentro comigo.
-Nossa casa?
-É pra lá que ia te levar.-Ele se aproximou mais de mim.-Não quero mais brigar com você. Sei que não mereço sua confiança, então dê-me pelo menos o perdão.
-Perdão?
-Por ter sido um idiota.-Ele me ajudou a levantar e colocou as mãos na minha cintura.-Por ter me casado com sua irmã, por ter deixado os ciúmes me cegarem e permitir que você se casasse com o Natan. Por ter te abandonado.
-É muita coisa pra perdoar.
-Você tem razão.-Ele envolveu mais minha cintura com os braços e me puxou pra perto.-Eu te amo Aryel. E vou embora, pra te deixar em paz. Sei que se ficar perto de você, não vou agüentar e acabar te procurando. E agora você tem uma família.
-Cris.-Ele me beijou.-Não vai não...
-Eu preciso.-Ele se ajoelhou aos meus pés, abraçou minha cintura e colocou o ouvido na minha barriga.-Eu te amo. E por tudo que é mais sagrado, queria estar com você pra sempre.

Ele beijou meu ventre, pude notar que chorávamos os dois. Devagar ele se levantou e segurou minhas mãos. Nos enroscamos um nos braços do outro e nos beijamos. Senti as pernas falharem, o coração parar. E doeu muito quando ele se separou, me deu as costas e saiu da sala.

Olhei pra cima da mesa, o envelope me chamou a atenção. Quando abri, reconheci o endereço que estava na escritura. Não era muito longe daquele lugar onde estávamos projetando a pousada. Peguei minha bolsa e saí do escritório.

-Marisa, tire o resto da semana de folga, vou precisar viajar.
-Senhora, está tudo bem?
-Não Marisa, por isso estou saindo.

Fui correndo pra casa, fiz uma mala e a enfiei no carro. Segui o caminho até a região dos lagos.

Levei quase três horas, o trânsito estava carregado, uma merda. Desliguei o celular, liguei o rádio e me afastei do mundo. Não sei o que estava procurando, nem sei o que faria quando chegasse lá, mas eu fui. Meus sentidos estavam todos em alerta, era como se uma consciência sobre-humana tomasse conta do meu corpo.

Quando cheguei ao endereço indicado, comecei a ficar nervosa. Fui avançando com o carro e avistei o conversível dele parado na frente da casa. Uma alegria estranha me motivou a sair do carro correndo e procurar por ele. Ele estava na praia, olhando pro mar, com as mãos enfiadas nos bolsos.

Talvez tenha sido uma estratégia, ou armadilha dele. Mas nada me importava naquele momento. Eu havia determinado, dessa vez não iria perder.

-Cris!

Ele se voltou depressa, o sorriso que me lançou me motivou a arrancar os saltos e correr até onde ele estava. Quando o alcancei, meu corpo tomou impulso sozinho e quando me vi, estávamos atirados na areia, abraçados e com os lábios grudados.

-Não vai embora, por favor.-Pedi, enquanto o beijava no rosto e nos lábios.-Eu não vou agüentar te perder de novo. Por favor, não vai.
-Eu vou minha princesa.-Ele me abraçou com força, me beijou na bochecha, nos olhos, na testa.-Mas você vem comigo.
-Eu vou pra qualquer lugar.-O beijei mais uma vez.-Largo tudo, não quero saber de mais nada. Só quero ficar com você.
-Tem certeza? Agora você está grávida, não vai querer ficar com o pai dos seus filhos?
-Você é o pai dos meus filhos Cristovão.-Ele me observou sem entender nada.-Engravidei na noite do noivado.
-Mas o Natan...
-Não, nós estávamos há muito tempo sem contato, ele andava viajando, chegou um dia antes da festa, mas estava muito ocupado pra ir me ver.
-Querida, você tem certeza?
-Absoluta.-O beijei no rosto.-Nós teremos dois bebês.
-Ai droga.
-O que foi?
-Acho que vou enfartar.-Ele deitou a cabeça na areia e respirou fundo, com os olhos vermelhos.
-Cris, você está bem?
-Não, eu estou ótimo.-Ele me apertou ao abraço e sorrindo me disse.-Agora sim, minha felicidade está completa.
-Mas a minha não.-Falei enquanto o beijava.
-E o que você quer?
-Fazer amor com você.
-Hummm pensei que nunca iria pedir.-Ele me tirou de cima de seu corpo.-Mas vamos entrar?
-Essa parte não é deserta?
-É, mas vez ou outra aparece um pescador.-Nos levantamos e ele me levou pra dentro da casa nos braços.-E eu quero você a noite inteira. Vem tomar um banho comigo?
-Tudo que você quiser.

Ele me levou direto para as escadas, nem pude reparar no que tinha na casa, mas quando alcançamos o quarto, fiquei encantada com o conforto e aconchego daquele que seria o nosso ninho a partir de agora.

A boca dele colou na minha, ficamos algum tempo abraçados no meio do quarto, matando a saudade daquele beijo. O sabor daqueles lábios. Tudo naquele corpo me deixava louca de desejo. Até ouvir a respiração rápida e entrecortada dele, fazia meu sangue ferver.

Ele tirou minhas roupas com pressa, quando sentiu meu corpo nu e quente encostado no dele, parou de me encaminhar para o banheiro, desviou para uma cômoda e me pôs sentada lá, com as pernas bem abertas. Senti o pau dele duro lutando contra a calça. Enfiei a mão entre as pernas dele, abri o cinto e finalmente ele estava liberto entre minhas mãos, pulsando e pedindo pra encontrar o caminho do meu corpo.

Ele se afastou de mim, não queria perder o controle. Abriu ao máximo minhas pernas e ajoelhou em frente à mesa, senti a respiração dele sobre minha pele e me arrepiei, uma enxurrada de prazer me fez molhar antes de sentir a boca dele se apossando da junção entre minhas pernas. Senti quando ele sugou os pequenos lábios e passou a língua na rachinha e não demorou meu grelinho foi o alvo daquela boca quente. E lá eu estava, pernas abertas encima de um móvel, arrancando os cabelos dele, enquanto o puxava mais pra perto, quase o enfiando dentro de mim.

-Ai amor, não para.

Eu rebolava, tinha perdido o controle de mim mesma e quando menos esperei, estava gozando. E ele ainda sugava e lambia, quando por fim se levantou e encaixou nossos corpos com um só movimento.

Segurei com força a beirada do móvel e quanto mais ele estocava, mais eu me encaminhava para o paraíso. Ele me olhava fixo, sorria quando eu gemia e me puxava cada vez mais pra perto. Eu o abracei com força, mordi seu ombro enquanto ele aumentava o ritmo e estocava cada vez mais forte.

Nossas bocas se reencontraram e gememos juntos quando o gozo se apossou de nós. Meu corpo tremia descontrolado e esquentou de uma forma, que eu parecia estar com febre. Talvez fosse a tal “Febre de amor”.

Estávamos abraçados, ainda encaixados e assim ele me tirou de cima do móvel e me levou para o banheiro. Ele terminou de tirar as roupas e nos enfiamos debaixo do chuveiro. Eu adorava mesmo tomar banho com ele, as carícias e os beijos que eu ganhava. Só ele pra me mimar daquela forma mesmo.

-De agora em diante, você é só minha.-Ele beijava meu pescoço, enquanto corria as mãos pelas minhas costas.-E prometa pra mim que nunca mais irá duvidar do que sinto por você.
-Nunca mais.-O abracei com força.-Você agora é só nosso.
-Meus filhos.-Ele abaixou e abraçou minha cintura, alguma coisa dizia que ele faria isso pro resto daquela gravidez.-Hei crianças, estão me ouvindo?
-Claro que não seu bobo...
-Estão sim que eu sei.-Ele beijou minha barriga e continuou falando com ela.-Sabiam que sua mãe é a mulher mais linda do mundo? E se vocês puxarem a beleza dela e a minha inteligência, não vai sobrar pra ninguém.
-O que você está querendo ensinar a eles?
-O que eles têm que aprender, irão aprender no tempo certo.-Ele se levantou e me abraçou.-Mas agora, iremos resolver nossa situação com Gabriela e Natanael.
-A sua situação já está encaminhada, agora a minha...
-Daremos um jeito.-Ele segurou meu rosto com carinho.-Mas não somos obrigados a ficar com quem não amamos, isso é certo.
-Natan tem sido compreensível esses últimos meses.-Lhe dei as costas, enquanto ele esfregava sabonete em mim.-Mas vi que ficou abalado quando descobrimos que você era o pai dos bebês.
-Ele disse algo?
-Não.-Me encostei nele, deixado a água morna lavar nossos corpos.-Mas... e a tal mulher com quem está saindo?
-Foi só pra me manter afastado de você.-Ele me abraçou.-Enquanto estava com outra, eu conseguia me controlar e não ir atrás de você.
-Mas... e agora?
-Simplesmente não tem nada de mais. Eu te atraí pra cá com a intenção de mantê-la comigo.
-E se eu não viesse?
-Eu me atirava naquele mar e ia nadando pras Bahamas.-Rimos juntos.
-Você conseguiu me enrolar direitinho. Me trouxe pra cá, vim de mala e cuia. E agora?
-Agora eu tranco as portas e janelas e vamos ficar trancados aqui fazendo sacanagem pro resto da vida.
-Nossa, acabou mesmo o romantismo.-O afastei de mim e puxei uma toalha.-Vou voltar pra casa agora.
-Não vai não.-Ele me prendeu no abraço, me carregou pra cama e deitou lá comigo, sem se importar em molhar tudo.-Abre as pernas vai.
-Hei, que história é essa?
-Vai gostosa, vamos brincar um pouquinho.-Ele chupou um dos meus mamilos.-Abre as perninhas, to doido pra te comer de novo.

Não eu não estava acostumada com aquele lado dele. E alguma coisa me dizia que ele me faria me acostumar. Era excitante ouvir aquelas palavras. Eu não era muito dada a putaria, mas descobri o que uma boa putaria pode fazer por um relacionamento.

Ele me pôs de bruços, levantou bem meu traseiro com uma almofada e abriu minhas pernas. Vinha enfiando a língua da rachinha e subindo até começar a sugar meu ânus e enfiar a língua no buraquinho. Os dedos dele esfregavam meu clitóris enquanto a língua abria caminho para uma bela enrabada. E eu estava esperando muito por aquilo. Devagar ele ergueu o corpo e conduziu a cabeça do pênis direto pro meu buraquinho. E foi entrando, tomando espaço e invadindo. Senti aquele fogo tomar conta de mim de novo e quando menos esperei, ele bombou com força e começou a aumentar o ritmo. Eu já não gemia mais. Agora eu urrava dentro do quarto. A mão dele me estimulava, enquanto ele fincava forte e fundo dentro do meu traseiro. Meus olhos marejavam, eu queria me acabar ali e parecia que iria explodir.

Ele dava tapas no meu traseiro, puxava meus cabelos, beijava minhas costas e me apertava no abraço. Eu senti meu corpo sendo virado ao avesso. E não sabia como lidar com aquela pressão que crescia dentro de mim. Pensei que não iria suportar aquele prazer esmagador e senti meu corpo vibrar e tomar vida própria. Eu forçava o quadril contra o pau dele, procurando mais e mais e quando menos esperei, estava gozando. E vi os fogos que muitas procuram e ouvi a bandinha no final. Foi incrível gozar daquela forma. Eu havia me esquecido da sensação de senti-lo em cada célula do meu corpo e ser tocada em todos os pontos que eu julgava desconhecidos.

E quando menos esperei, estava alçando vôo novamente para aquelas sensações.

O pênis dele pareceu duplicar de tamanho, ele agora estava totalmente molhado de suor. E grunhiu enquanto segurava com força minha cintura e arremetia com mais força ainda. O pau pulsava lá dentro. Ele arremeteu mais algumas vezes enquanto gozava e por fim, caiu exausto encima do meu corpo, me aninhando ao abraço.

-Você é incrível.-Ele me beijou.-Eu vou terminar meu banho e preparar algo pra comermos.
-Não quer ajuda?
-Você descansa um pouco. Daqui a pouco terá muito mais trabalho.

Me beijou e se levantou, indo na direção do banheiro.

***

A casa era linda, parecia uma cabana. Era aconchegante, quente, e naquele lugar ventava muito, o que nos mantinha com as janelas fechadas quase todo o tempo. E enquanto não arrumávamos alguém pra fazer a faxina, aproveitávamos o sossego e o silêncio, pra fazer barulho.

Nos finais de semana, íamos pra vários lugares, andávamos de lancha. Eu estava realmente vivendo no paraíso.

Até que um dia, ele chegou em casa com uma aparência diferente. Estava de bermudão, chinelos de dedo, a camisa sem mangas e pra variar, havia cortado os cabelos. Aqueles cabelos lindos, aonde eu adorava enfiar os dedos e puxar.

-O que aconteceu com você? Que visual é esse?
-Sabe o que é?-Ele parecia meio encabulado.-Estava me sentindo velho.
-Velho? Por quê?
-Aqueles cabelos brancos.-Ele coçava a cabeça, tentando justificar.-Você tem um jeitinho de menina, eu estava me sentindo deslocado ao seu lado.
-Meu amor, que besteira é essa agora?­-O abracei pela cintura.-Você nunca ficaria deslocado ao meu lado. Porque eu sou completa quando estou com você.
-Você é uma bela mentirosa.-Ele me beijou.-O que tem pra jantar?
-Peixe.-Ri quando ele fez careta.-Isso que dá bancar o pescador. Vai comer peixe até acabar o estoque.
-Tenho que arrumar outro hobby.-Entramos juntos.-Linda, você tem ido a clínica?
-Sim.-Sentamos no sofá.-Está tudo bem com os bebês. Ainda não dá pra sentir chutes, mas sinto as bolinhas se deslocando de um lado para outro.
-Que bom.-Ele sorriu.-Mais alguma coisa?
-Não. Por enquanto temos que aguardar.-Deitei a cabeça no colo dele.-Estou tão ansiosa.
-Eu também.-Ele acariciava meus cabelos.-Eu vou tomar um banho. Já te ajudo a por a mesa.
-Tudo bem.

Ele estava estranho. Não chegou me beijando e agarrando. Falou em ir tomar banho sozinho e não me convidou pra ir junto. Resolvi dar-lhe um tempo, pra organizar os pensamentos e me dizer o que estava acontecendo.

Passou-se a noite e ele não disse nada. Voltou a brincar como antes, fizemos amor a noite inteira, adormecendo pela manhã.

Vivíamos uma vida vadia.

E naquele dia eu acordei enjoada. Normalmente saio da cama depois dele, mas não conseguia mais ficar deitada. Desci as escadas e fui até a cozinha fazer um chá, pra diminuir o enjôo. Encostou no lado de fora, um carro esporte preto. Olhei no relógio e já passava das oito da manhã. Estranhei, nunca recebíamos visita. Fui até a varanda e quase caí dura, quando vi meus pais saindo do carro.

Ainda não estava preparada para aquele encontro. Não saberia reagir às agressões verbais que receberia deles. Mas era tarde, não podia mais fingir que não estava.

Os dois deram uma bela olhada em volta e subiram as escadas até a varanda. Eu ainda estava parada feito uma tonta, atrás da porta de vidro.

-Bom dia Aryel. Não nos convida a entrar?-Meu pai falou naquele tom neutro, que seria pior se chegasse aos gritos.
-É... claro.-Abri a porta e respirei fundo.-Eu não esperava... digo... o que fazem aqui?
-Viemos conversar com vocês.
-E como me encontraram?
-Descobrimos essa casa no seu nome e a polícia local informou sobre sua passagem pela clínica particular.
-Entendo.-Os encaminhei para a sala.-Bebem alguma coisa? Eu ainda não preparei nada, mas os convido para tomar o café comigo.
-Comemos antes de sair do hotel.
-Hotel? Há quanto tempo estão aqui?
-Chegamos ontem à noite. Mas estava tarde, achei melhor não atrapalharmos.-Minha mãe sorriu amável.-Mas adoraria um suco. Não quer ajuda?
-Eu só vou lavar o rosto e já estou descendo.

Subi correndo as escadas e entrei no quarto com um furacão. Bati a porta com força, Cristovão pulou com o susto e ficou esperando eu desembuchar.

-Meus pais estão aí fora.
-Aí fora como?
-Lá embaixo.-Apontei pra porta.-Estou com medo de descer de novo.
-Meu amor, são seus pais.-Ele sorriu e levantou ainda cambaleando de sono.-Vou descer com você, pode ficar tranqüila.

Nos lavamos rápido e descemos, já de roupas trocadas. Os dois continuavam na sala, meu pai olhava pela janela e minha mãe observava o artesanato espalhado por toda a sala.

-Senhor e senhora Rezende que bons ventos os trouxeram?
-Temos assuntos a tratar.-Meu pai me indicou com um meneio de cabeça.
-Eu vou preparar o desjejum.-Me retirei devagar.
-Eu a ajudo querida.-Minha mãe vinha atrás sorridente.-Fique tranqüila, viemos em missão de paz.
-Sei.-Entramos na cozinha e ela torceu o nariz para a decoração simples.-E como vão as coisas?
-Vão bem. Seu pai precisou contratar uma pessoa pra ficar no seu lugar, mas tivemos um pequeno prejuízo. A obra da pousada está embargada.
-O que aconteceu?
-Desvio de verba e material.-Ela deu de ombros.-Nunca vi alguém agir tão rápido.
-Em um mês conseguiram embargar a obra?-Parei pra pensar, aquilo tinha dedo particular.-Mas quando vai voltar?
-Não sei dizer. Ele só comentou por alto.-Ela acariciou minha barriga.-Já está estufando. Quanto tempo mesmo?
-Quatro meses.
-A última vez que vi Natan, ele estava inconsolável. Falou muito em você e no bebê.
-Bebê?-Ela realmente não sabia mentir.-Natan falou no bebê?
-Falou. Disse que estava muito feliz agora que ia ser pai e você tomou o direito dele.
-Não tomei nada.-Sacudi a cabeça.-Já conversei com o Natan, ele concordou em assinar os papéis.
-Sei.-Ela ficou vermelha, foi pega na mentira.-Por falar nisso, sua irmã está abalada.
-Imagino.
-Disse que você tomou a única coisa que ela tinha na vida.
-Só peguei de volta o que ela já havia me tirado.-Eu já estava de saco cheio dessa conversa.-E sim, eu fugi com o marido da minha irmã, sim, eu estou grávida e os filhos são dele. E mais, se não houvessem me trancado no quarto, eu teria feito antes.
-Aryel!
-É mamãe, eu fiz as coisas erradas. Mas estou feliz, estamos bem. Você devia estar feliz por mim.
-Você construiu sua felicidade encima do sofrimento dos outros.-Ela se impacientou.-Aonde pensa que isso tudo vai dar? Acha mesmo que Cristovão vai ficar com você pro resto da vida? Não demora e ele enjoará de você igual enjoou de sua irmã e logo irão aparecer outras mulheres e quando menos esperar, ele estará te deixando pra fugir com outra.
-Eu podia ter pensado nisso antes mamãe, mas agora já está feito.-Lhe dei as costas e liguei a cafeteira.-E se acontecer um dia, eu não vou me arrepender de ter sido feliz. Iria me arrepender se tivesse permanecido ao lado do Natan, e deixado essa oportunidade passar.
-Aryel, isso é loucura.
-Mãe, entende uma coisa. Eu amo o Cristovão e quero ficar com ele. Estou grávida e ele é o pai e não adianta fazer essa cara, o que fiz foi errado, mas estou feliz. E vou ficar ao lado dele e fazer o possível para que ele fique comigo e me ame pra sempre, não só “agora” como você diz.
-Se você acha que vai ser fácil.
-Talvez seja, talvez não seja. Só o futuro quem vai responder.

Dei de ombros e fui preparar a bandeja.

Meu pai e Cristovão discutiam alguma coisa na sala. Fiquei preocupada e fui correndo ver o que estava acontecendo.

-Eu confiei em você. O coloquei embaixo do meu teto e o que aconteceu? Você esperou uma distração minha pra abusar da minha filha.
-Eu não abusei de ninguém.-Cris usava um tom paciente, mas que logo iria explodir.-E nunca obriguei Aryel a nada. Ela ficou comigo porque me ama.
-Ah sei.-Meu pai parecia querer estourar.-Podiam fazer as coisas de uma forma em que não maltratassem tanto a Gabriela. Mas fizeram da pior maneira, primeiro tiveram um caso e depois fugiram.
-Pai.-Tentei me aproximar, não queria mais ouvir gritos, estava começando a ficar zonza devido ao enjôo e estresse.-Você não nos deixou explicar da última vez. Se tivesse apenas me ouvido, teria entendido. Sei que nunca aprovaria, mas é um homem justo, entenderia as coisas.
-Querido, por que não os deixa explicar agora.-Minha mãe mudou de face.-O que está feito está feito. De qualquer jeito não há como mudar as coisas. Mas quem sabe, dependendo da explicação deles, não aceitamos melhor as coisas?
-Está bem.-Ele caiu pesado sobre uma poltrona.-Só me digam uma coisa, há quanto tempo estão juntos?
-Cinco anos.-Falei enquanto sentava ao lado do Cris, em um sofá mais macio.-Aconteceu pouco antes de ele se casar com a Gabriela.
-E por que, se vocês se amavam tanto, você se casou com ela?
-Armações.-Cristovão tentava manter a calma ainda, mas eu sabia que ele não estava bem.-Por uma infantilidade da Gabriela, acabei acreditando que Aryel estava namorando outro rapaz. Então saímos e bebemos um pouco além da conta, no outro dia, ela encaminhou as imagens do circuito interno para sua sala.
-Sei.-Meu pai devia estar lembrando do caso, pois ficou calado ponderando.-E por que não conversou comigo sobre Aryel?
-Ela era menor de idade. Tive receio de me acusar de estupro ou pedofilia, o caramba que fosse.
-E depois que casou com Gabriela, continuaram se pegando.
-Não.-Falei na hora.
-Nunca mais me aproximei de Aryel. Até que... bem, quando o noivado foi anunciado, tive medo de perde-la de vez. Já havia falado com Gabriela sobre o divórcio e ela fez todos os dramas possíveis para tentar me fazer mudar de idéia.-Ele apertava meus dedos inconscientemente.-E na noite do noivado, acabamos ficando juntos e foi quando tudo recomeçou.
-E foi quando engravidei.-Falei baixando a cabeça.-Podemos ter agido errado, concordo que não gostaria que essa história se repetisse com meus filhos, mas seria pior continuar enganando a todos. Imaginem Natan criando os filhos de outro. E mais, Cris merecia saber que ia ser pai.
-Pelo visto querido, todos nós temos nossa cota de culpa.-Minha mãe chegou com uma bandeja de café e nos serviu.-Confesso que ajudei Gabriela a se casar com Cristovão. Afinal, ele era um bom partido. Fui eu quem colocou as imagens na sua sala.
-E se eu não tivesse sido tão idiota.-Cristovão recostou no sofá relaxando um pouco.-Teria notado antes, que foi tudo uma armação. Mas estava cego de ciúmes.
-Pelo amor de Deus, você era o adulto na história. Por que não agiu com um pouco mais de responsabilidade?
-Não sei.-Ele soltou meus dedos finalmente e me abraçou pelo ombro.-Escuta Nelson, sei que traí sua confiança, sei que fiz as coisas erradas, mas por favor entenda. Foi melhor assim.
-Espero que tenha sido.-Ele tomava café, mas estava visivelmente transtornado.-Agora que já fizeram a burrada, resta saber o que faremos com respeito a herança. Afinal, perderam direito a ela, quando assinaram os papéis de separação.
-Eu sempre disse que essa era uma idéia estúpida.-Minha mãe falava mecanicamente.-Obrigar as crianças a ficarem casadas sem amor...
-Deu certo conosco.-Meu pai deu de ombros.-Digo, ficamos juntos e superamos os problemas dos primeiros anos.
-Mas nós tivemos o privilégio de não nos obrigarem a casar. Escolhemos um ao outro.-Ela apontou para nós dois.-Gabriela e Aryel casaram praticamente a força.
-Mas foram elas que escolheram.
-Eu sabia que mais dia menos dia, iria resultar em um problema.-Ela sacudiu a cabeça.-E agora, não tem nenhuma clausula para escaparmos?
-Bom, como Aryel está grávida.-Meu pai divagava.-A parte do filho dela está garantida.
-Não queremos pai.-Falei com o resto de orgulho e dignidade que me restava.-Nós vamos nos virar.
-Isso não é hora para ser turrona.-Ele falou largando a xícara sobre a bandeja.-Tive duas filhas e tenho muito patrimônio pra deixar para elas. Não vai ser agora que vou deixá-las desamparadas.
-Não estou desamparada pai. Tenho renda suficiente pra me levantar.
-Pra mim não basta.-Ele falou impaciente.-Tenho hotéis, apartamentos, casas. Vou fazer o que com tudo isso?
-Vender talvez.
-Construí cada pedaço da minha fortuna, não vou vender tudo como se não fosse importante.
-Está bem pai, mas prefiro não conversar sobre isso agora.
-Você tem razão.-Ele suspirou.-E como está o bebê?
-Estão ótimos, os dois.
-Que dois?
-São gêmeos?-Minha mãe perguntou atordoada.
-Sim, são gêmeos.-Cris havia descido a mão do meu ombro pra minha cintura e escorregou para a barriga.-Ainda não sabemos o sexo, está cedo.
-Nossa.-Meu pai sorriu finalmente.-Dois de uma vez. Já pensou se for um casal?
-O importante é que tenha saúde.-Minha mãe tinha que vir com aquela frase horrorosa.
-O que importa é que estamos felizes.-Falei mais uma vez.-O resto é presente, não é mesmo meu amor?
-Claro.-Cris sorriu, mas não parecia estar bem.

***
O dia passou tranqüilo, meus pais foram embora por volta das dez da manhã e depois disso, percebi que o humor de Cristovão havia piorado. Ele voltou pra cama, tomou um analgésico e fechou todas as cortinas para descansar em paz.

O deixei em paz, afinal, aquele começo de manhã havia sido estressante.

***
Passaram-se meses. Minha felicidade só fazia aumentar. Até o grande dia, tudo era sonho e ansiedade. Então, em certa manhã senti o começo das contrações. Como meu parto seria normal, continuei mantendo meu ritmo diário. Claro, a dorzinha às vezes me impedia de fazer alguma coisa. Lá pelas sete horas da noite, quando Cristovão chegou, as dores já estavam mais fortes e o tempo de uma para outra era menor. Eu estava arrumada, as bolsas encima do sofá da sala. Ele estranhou quando me viu ao lado de duas malas.

-Ué, aonde você vai?
-Eu não vou, você vai me levar. Estou em trabalho de parto.
-Certo, a gente já treinou isso.-Ele começou a ficar nervoso.-Está doendo muito?
-Não. Mas as contrações estão aumentando.
-A bolsa dos bebês?
-Está aqui.-Apontei pra uma.
-E a sua?
-Está ali.-Apontei pra outra.
-E os documentos?
-No bolso da bolsa.-Sorri e recostei no sofá.-Então, eu dirijo ou você?
-Claro que eu vou dirigir.-Ele respirou fundo e pegou as bolsas.-Pode andar?
-Claro.
-Então vem, se apóia em mim.
-Não precisa querido, eu posso andar.

Ele foi atrás de mim, como se eu fosse uma criança aprendendo a dar os primeiros passos. Abriu a porta do carro e saiu às pressas em direção a clínica. A todo momento perguntava se eu estava mesmo bem e se doía. Eu não o julguei, afinal, os homens não sentem o que sentimos e só sabem sobre aquela “dor terrível” que é a dor do parto.

Meu médico ligou pouco depois que cheguei à clínica, estava saindo de uma cirurgia e iria direto me ver. Fui para o quarto, me acomodei, coloquei aquela camisola horrorosa e quando o médico chegou, finalmente fui para a sala de parto, após alguns exames.

Era chegada a hora. E quanto mais o tempo passava, mais pálido o Cristovão ficava. Eu achei normal, afinal, ele estava nervoso. Pouco tempo depois ele começou a se queixar de dores de cabeça e foi ficando cada vez mais estressado.

O parto não foi tão duro assim, os bebês estavam preparados e quando chegou a hora, expulsei um de cada vez, com um grito histérico.

-Está doendo muito?-Cris perguntou quando o primeiro saía.
-Claro, tem um crânio passando pela minha vagina!
-Está certo.-Ele segurava minha mão.-Agora saberemos se é um casal, ou são duas meninas.

A emoção foi grande, quando meus filhos nasceram. Pela Ultra que fizemos, só dava para ver a menina o outro não dava pra ver e ficamos sabendo ali, na hora do parto, que era mesmo um casal. Tanta felicidade, não tinha nada para ser abalada.

***
Quando menos esperei, Cristovão despencou. Achei graça, afinal, não era o primeiro homem a desmaiar na sala de parto. Os enfermeiros tentaram reanimá-lo sem sucesso, o levaram para uma outra sala.
Fui preparada para voltar ao quarto e nada ainda do Cristovão chegar. Comecei a me preocupar. Uma enfermeira veio logo depois, com dois pacotinhos nos braços.

-Aqui está mãe, seus anjinhos.
-E meu marido, onde está?
-Está fazendo uns exames, parece que bateu a cabeça.
-Ele está bem?
-Logo um médico vem conversar com você.-Ela colocou a menininha no berço ao lado da cama e me deu o menino.-E os nomes, a senhora ainda não decidiu?
-Estava esperando por ele, não sabia que era um menino.

E que menino bonito, diga-se de passagem. Gordinho com olhos azuis, bochechudo. E a menina também não ficava atrás. Era mais tranqüila do que o irmão.

Quando o médico chegou, já estava ansiosa. Havia amamentado os dois que agora dormiam a sono solto e nada do Cristovão.

-Quem é você?
-Eu sou o doutor Ferreira, sou neurocirurgião e vim de São Paulo, para acompanhar o caso do seu marido.
-Como assim o caso?-Eu já estava começando a ficar nervosa.-Ele só caiu na sala de parto.
-Aryel... posso chamá-la assim?
-Claro.
-Muito bem Aryel, o Cristovão tem uma espécie de coágulo no cérebro. Ou um aneurisma.
-Aneurisma?
-Isso. Ele descobriu esse coagulo durante uma ressonância e resolvemos não operar, porque não havia rompido. De uns tempos pra cá, ele vinha fazendo tratamento com algumas medicações, pra controlar o crescimento do aneurisma.
-Há quanto tempo mais ou menos?
-Cerca de um ano.-Ele fechou a prancheta com o prontuário que estava lendo e suspirou.-Quando desmaiou na sala de parto, o que temíamos aconteceu. O aneurisma se rompeu.
-Onde ele está? O que aconteceu com ele?
-Pela localização do coágulo, uma intervenção cirúrgica era muito arriscada. E como o Cris é um homem saudável e forte, fizemos um tratamento endovascular, também conhecido como embolização.
-Dá pra falar minha língua?-Já estava mais do que nervosa.
-Nós introduzimos um cateter na artéria da virilha, e o levamos até o aneurisma. Através desse cateter, promovemos o bloqueio do aneurisma, com a inserção de micro-molas de platina.
-E esse negócio deu certo?
-Por enquanto, tudo correu bem. Agora o Cris irá passar por alguns exames e ficar em observação por alguns dias. Não havendo agravação do quadro, o liberaremos. Caso contrário, teremos que entrar com a cirurgia.
-Mas esse procedimento, não tratou o coágulo? Vocês não o tiraram?
-Sim o procedimento tratou o coágulo. Só resta saber se foi o suficiente. O coágulo estava um pouco maior.
-Espera, como assim um pouco maior?
-Existe um tamanho específico para fazer o tratamento. No caso do Cris, estava um milímetro maior, o que também era pouco para a cirurgia. Como a cirurgia seria agressiva e arriscada, optamos pelo tratamento.
-E onde ele está agora?
-Está no CTI, em coma induzido.
-Eu posso vê-lo?
-Aconselho que descanse. Já são três horas da manhã, você está fraca ainda. Quando ele acordar, poderá vê-lo.
-Ele vai ficar bem?
-É o que estamos esperando.-Ele sorriu amigável.-Tudo correu bem. Tenha fé.

“Tenha fé”. Aquelas palavras me atormentaram. Afinal, o médico não deu nenhuma esperança. Mania de médico claro, mas não disse que ele ficaria bom e nem estipulou um tempo para alta.

Eu estava ali sozinha com meus filhos. E sabia que a culpa era minha, Deus estava me castigando pelo que fiz. Mas por que com o meu Cris? Tudo que eu queria, era ficar ao lado dele. Por que ele me escondeu sobre a doença?

Muitas perguntas sem respostas e muitas lágrimas derramadas em vão. O quarto vazio e as crianças inocentes, não saberiam responder.

***

No dia seguinte, antes do horário de visitas, me permitiram ficar um pouco com ele. Ainda em coma induzido para não comprometer o procedimento, conversei um pouco com ele, na esperança de ser ouvida. Foi uma noite difícil aquela. Quando conseguia pregar os olhos, tinha um pesadelo. Ou um dos bebês acordava.

Meu celular tocou momentos depois que entrei no quarto. Fui obrigada a sair do quarto para atender. E qual não foi minha surpresa, quando ouvi a voz da minha mãe do outro lado da linha.

-Aryel?
-Eu.
-É... ficamos sabendo agora, estamos indo pra aí.
-Aí aonde? Estão sabendo do que necessariamente?
-Sobre o Cris. A secretária dele ligou informando que ele teve um problema e precisou ser operado as pressas.
-Sei. E vocês vêm só, ou a família dele também vem?
-Não encontramos os pais dele, parece que estão viajando. Os irmãos estão inalcançáveis. Em algumas horas chegamos aí.
-Ok mãe, estou aguardando.

Desliguei o celular e voltei para o quarto. Os bebês estavam no berçário com as enfermeiras e outras crianças. Eu precisava tomar providências.

Comecei a ligar para alguns conhecidos da região e me indicaram uma moça para ajudar com o serviço e os bebês. Procurei saber com a secretária de Cristovão, sobre alguns negócios em que ele vinha trabalhando e enfim, tentei manter tudo as ordens para quando ele saísse dali. Por que eu tinha fé, de que ele sairia dali comigo, vivo e em ótimo estado de saúde.

***
Passou-se duas semanas. Cristovão saiu do coma induzido, aparentemente tudo havia ocorrido mesmo bem, o fato de o aneurisma ter estourado, não afetou nos movimentos, mas a vista dele estava comprometida. Ele vinha fazendo exames. Enxergava tudo embaçado e às vezes esquecia de alguns acontecimentos.

Fizeram exames, descobriram um inchaço que estava comprometendo a visão e a memória e mais uma vez, ele passou por exames, tratamentos e procedimentos.

Os bebês já estavam adaptados com a casa, a moça que contratei era eficiente e vinha sendo de grande ajuda. Mantinha tudo organizado e eu só precisava me preocupar com meus filhos e o Cris.

Batizei os dois com nomes parecidos com o do pai, Cristian e Cristina. E o que mais o ajudava na recuperação, era estar com os filhos.

Em uma tarde, estava em casa sozinha, havia acabado de colocar as crianças para dormir e a moça havia saído um pouco mais cedo. Encostou no lado de fora, um carro preto que eu conhecia bem.

Fiquei apreensiva, quando Natan saiu do carro, acompanhado de um outro homem. Imaginei na hora, que devia ser o advogado dele. Abri a porta e fui recebê-lo ainda na varanda.

-Olá Aryel.-Ele subiu as escadas e me beijou na testa.-Preciso conversar com você, tem um tempinho?
-Claro, entrem.-Voltei pra dentro da casa e os conduzi até a sala.-Vocês bebem alguma coisa?
-Por enquanto não.-Natan sentou.-Antes, me deixa apresentar. Esse é o Jeferson, um amigo.
-É um prazer. Natan falou muito de você.
-Espero que não tenha me ofendido muito.
-Ah que isso, Natan é um gentleman.-Percebi uma quebrada na voz.
-Confesso Natan, que não esperava uma visita sua tão cedo.-Sentei em uma poltrona.-Ah que devo a honra?
-Temos que conversar sobre nossa sociedade na compra de alguns imóveis. Tem alguns que me interessam e estou interessado em comprar sua parte.
-Sei.-Me levantei.-Eu vou trazer um café, vocês fiquem a vontade.

Me tranquei na cozinha procurando respirar e tentar me acalmar. Ele estava com uma boa cara, não parecia querer confusão. Então, não tinha pra que ficar nervosa. Mas a presença dele ali, me incomodava.

Quando voltei para a sala, os dois cochichavam algo e riam com cumplicidade. Alguma coisa estava acontecendo de errado. Mal coloquei a bandeja sobre a mesa, ouvi um choro fino vindo da babá eletrônica.

-É, com licença. Eu preciso ver se está tudo bem.
-Certo, vá em frente.

Subi correndo, parei quando entrei no quarto deles. Cristian estava agitado no berço, a irmã ainda dormia tranquilamente, mas eu sabia que se não o atendesse logo, os berros chegariam e ela acordaria para se juntar a sinfonia.

O tirei do berço, chequei a frauda e estava limpa, ele havia mamado a menos de uma hora. Então não era fome. A única explicação que encontrei, foi algum pesadelo. Mas com que as crianças podem sonhar, para acordar tão agitadas?

Comecei a niná-lo, ele já havia acalmado, mas não queria saber de dormir. Me fitava com aqueles olhos enormes. Foi o que precisava pra me acalmar. De repente, a chegada do Natan, não fosse mesmo tão ruim.

Desci as escadas com o bebê e o coloquei no carrinho. Natan o fitava com olhos tristes. Eu sabia de sua paixão por criança e da vontade de ser pai.

-Eu posso segurar?
-É... claro.-Levei o bebê até ele e sorri quando ele o pegou com jeito.-Você andou praticando, ou tem filhos perdidos por aí?
-Ele não pode ver uma criança na rua.-O outro falou.
-É... Vocês são amigos há muito tempo? Natan nunca falou de você, Jeferson.
-Ah sim, somos amigos de faculdade.-Ele falou enquanto Natan babava no menino.-Nos conhecemos há mais de uma década.
-Entendi.-Olhei para o Natan, que agora olhava pra nós dois, parecia que tinha coisas entaladas na garganta e precisava botar pra fora.-Então Natan, o que queria falar mesmo?
-Bom, eu quero falar muitas coisas, mas não sei por onde começar.
-Que tal começar pelo que o motivou a vir aqui hoje?
-Essa é a parte difícil.-Ele continuava ninando o bebê, não demorou e os olhos dele se fecharam.-É um garoto lindo. E a menina?
-Está dormindo.-Sorri quando o vi dormir também.-Vocês não tocaram no café.
-Acho que prefiro algo um pouco mais forte.-Natan falou enquanto colocava o bebê de volta no carrinho.-O que tenho pra falar, requer uma boa dose de álcool pra ter coragem.
-No bar.-Apontei para o canto.-Fique a vontade, vou levar o bebê lá pra cima.

Levei meu filhote de volta pra cama, cada vez mais preocupada. O que será que ele tinha de tão importante para falar, mas faltava coragem?

Quando voltei para a sala, Natan me entregou um copo e parou em frente à janela que dava vista para o mar.

-Natan, você está começando a me deixar preocupada. O que tem de tão misterioso a me revelar?
-É sobre o nosso casamento.
-Pensei que tudo estivesse certo para o divórcio.
-E está.-Ele voltou a garrafa e a trouxe para a mesa.-Mas nunca fui sincero com você. E agora que aconteceu isso com Cristovão, fico me culpando por tê-la usado no meu plano mesquinho.
-Espera, começa do começo, que eu to embananada.
-Eu me casei com você Aryel, por interesse.-Ele tomou mais um bom gole de whisky e afrouxou a gravata.-Fiz um investimento mal feito, perdi grande parte do meu dinheiro e precisava de capital para sair da lama. Quando você assinou os papeis do casamento, me aproveitei de alguns investimentos seus que geravam lucro e estavam guardados no fundo do baú. Liquidei minha dívida e investi em ações de uma empresa de petróleo.
-Você me roubou, é isso que quer dizer?-Perguntei friamente, não me importava com aquilo, por mais incrível que parecesse.
-Na verdade, peguei emprestado.-Ele indicou Jeferson, que me entregou uma pasta de papeis.-Como disse, há imóveis que me interessam, aí dentro tem ações dessa empresa, que valem o dobro do que peguei. Estou devolvendo a você, o que é seu por direito.
-Mas... por que não falou comigo? Eu teria lhe passado o dinheiro que precisava.
-Fiquei com medo de usar isso contra mim e não se casar.
-Mas se conversássemos sobre isso, não haveria motivos para o casamento.
-Eu ainda precisava me casar com você, por outro motivo.
-Outro motivo?-Tomei um gole grande do copo e recarreguei.-E que outro motivo seria esse?
-Sou bi-sexual.-Ele falou erguendo a cabeça e balançando ligeiramente nervoso.-E se isso fosse a público, eu seria afastado da diretoria da empresa.
-Espera, como assim? Como ir a público?
-Andaram pesquisando sobre nosso relacionamento, saímos nas revistas diversas vezes.-Ele sentou ao lado de Jeferson.-Saiu na internet uma matéria sobre a farsa que era o nosso noivado, com fotos minhas e do Jeferson.
-Espera, vocês têm um caso?
-Um relacionamento, por assim dizer.-Jeferson falou olhando para Natan.
-Desde a faculdade?
-Sim.-Natan balançou a cabeça.-Estivemos um longo tempo separados, foi quando conheci você e começamos a namorar, mas ele reapareceu na minha vida e...
-Sei, entendi.-Tomei mais um gole.-Bom e agora, o que vão fazer?
-Estamos morando juntos.-Natan falou.-Na verdade, deixei a empresa do meu pai e estou trabalhando em uma empresa de publicidade.
-Quando foi isso?
-Faz uns dois meses.-Ele suspirou.-Não quero que tenha raiva Aryel. Eu amei você de verdade e tudo o que vivemos foi especial...
-Não precisa disso Natan.-Sorri pela primeira vez, o alívio tomando conta de mim e um calor que me deixou ruborizada.-Eu também amava outro homem, antes de te conhecer. O que me deixa feliz, foi à culpa ter saído dos meus ombros. Eu ainda estava sendo perseguida pela traição.
-O culpado fui eu.-Ele falou triste.-Sinto muito pelo Cris.
-Cristovão está bem e vai ficar melhor ainda, quando sair do hospital.-Falei tentando me recompor.-As coisas estão esclarecidas agora.
-Acredite, tirei um peso das costas.-Natan falou sorrindo.-Ele conseguiu. Te trouxe para o paraíso.
-É, eu sei.-Me levantei e peguei mais um pouco de whisky.
-O que acham de irmos jantar?-Jeferson perguntou se juntando a nós.-Acho que depois dessa tensão toda, não há nada melhor.
-É uma boa idéia.-Natan falou.-Claro, se não for incômodo pra você.
-Não. Na verdade, posso preparar alguma coisa e vocês jantam aqui comigo. Será melhor do que jantar sozinha, mais uma vez.
-Não queremos incomodar.
-Não será incomodo.
-Está certo, então eu te ajudo.-Jeferson falou sorridente, eu estava começando a pegar simpatia por ele.
-Você sabe cozinhar?
-Ele é um excelente cozinheiro.-Natan falou sorrindo para o companheiro.-Eu ponho a mesa.
-Certo então meninos.

Fui andando para a cozinha, com Jeferson em meu calcanhar. Não demorou, Natan veio até nós e começamos a conversar, enquanto a comida saía. Quando dei por mim, havíamos comido ali mesmo na cozinha, rindo e conversando sobre supérfluos.

Sentamos na sala depois do jantar, para um último drinque. Eu já havia ido mais uma vez ver os bebês e levei comigo, fraudas limpas e mamadeiras prontas. Os dois dormiam tranqüilos, enquanto conversávamos na sala. E o que era pra ser uma saideira, chamou outra e outra.

A conversa rendeu, assuntos variados, que me faziam viajar na imaginação e esquecer um pouco os problemas. E então o assunto sobre sexo veio à baila. Claro, o clima, a bebida e a conversa descontraída, acabariam levando para esse lado.

E aparentemente Jeferson não se importava comigo, não era do tipo ciumento. Natan teceu elogios ao meu corpo, a forma como me entregava e em meio ao papo, a mão dele pousou em minha cocha. Falamos sobre posições, preferências, fetiches e brincadeiras. Quando dei por mim, a quentura não era da bebida, era puro tesão acumulado.

Sem ser dona dos meus movimentos, me aproximei do Natan e trocamos um beijo. Ao que me lembro, foi assim que começou. Tenho flashs de memória, aonde vejo roupas sendo arrancadas e atiradas no meio da casa. Em um determinado momento, eu estava sentada no colo do Natan, beijando o Jeferson. Dois homens lindos, atenciosos e com boa pegada.

As roupas sumiram num piscar de olhos, enquanto nos atracávamos, Natan perguntava se era isso que eu queria e eu dizia pra ele não estragar a brincadeira.

Lembro de ter sido penetrada pelos dois ao mesmo tempo. Lembro de ter explodido em gozo diversas vezes. Lembro que circulamos por toda a sala, em diversas posições, lembro de ter chupado os dois ao mesmo tempo e lembro de ter sido banhada com esperma.

No final, acabamos os três tomando banho na praia, nus às duas horas da madrugada. E foi a água fria que me fez recuperar o juízo. Voltei de um mergulho, saí da água e caminhei até em casa direto para o banheiro.

Os dois vieram atrás de mim logo depois. Fiquei sem reação, estava bestificada com o que aconteceu. Sentia tudo dolorido de tantos apertões e penetrações bruscas. Tomei um banho frio para organizar as idéias.

Quando saí do banheiro, os dois estavam na varanda fumando. Levei toalhas para eles e fui cuidar dos bebês. Os dois berravam escandalosamente e só se aquietaram, quando estavam bem alimentados.

É difícil cuidar de dois bebês ao mesmo tempo. Ainda mais quando se está desnorteada por causa da bebida, da culpa e do tesão. Eu não conseguia raciocinar direito. Havia trepado com os dois na sala de casa. Aonde eu estava com a cabeça?

Ouvi passos na escada e quando me virei, Natan estava entrando. Estava vestido e tinha uma cara péssima.
Ele me abraçou por trás, enquanto eu ninava a Cristina.

-Desculpe.-Ele sussurrou no meu ouvido.-Eu não devia ter deixado acontecer.
-Eu também estava lá. Também tenho culpa.
-Mas você está frágil e bêbada. Era normal que reagisse por impulso.
-O que está feito, está feito.-Suspirei e me afastei devagar, sentando na poltrona perto da janela.-É melhor esquecermos isso.
-Eu concordo.-Ele pigarreou.-Vamos embora agora. Prometo que não volto a me aproximar de você.
-Natan, espera.-Ele parou entre a porta e o corredor.-O que disse é verdade? Você ainda me ama?
-Sim.-Ele enfiou as mãos nos bolsos.-Por que não amaria?
-E por que continua amando?
-Não tenho motivos para não amar.-Ele voltou e olhou para o bebê no meu colo.-Quando precisar de mim Aryel, estarei sempre pronto para te ajudar. O que disse é verdade, eu te amo e mesmo tendo o Jeferson, você foi à única pessoa com quem consegui ficar por tanto tempo, sem ficar entediado.
-O que sente por ele?
-Amor.-Ele deu de ombros.-Tesão, paixão. O mesmo que sinto por você. Só que me sinto dividido, porque vocês são completamente diferentes e eu os amo igual.
-Obrigada Natan.-Sorri quando o bebê bocejou.
-Bem, nós vamos indo. Não precisa me acompanhar, vou fechar a porta quando sair.-Ele me beijou nos lábios e saiu do quarto.-Até a próxima.
-Até a próxima.-Cristina dormiu instantes depois. A coloquei no berço e sorri quando os vi ressonando de novo.-E agora meus anjos, o que eu faço com essa história?

Desci, arrumei a bagunça e tranquei as portas. Fui deitar tentando lembrar de todos os momentos e imaginando o que o Cris diria se soubesse do que aconteceu naquela noite.

***
Passou uma semana, os médicos que antes estavam otimistas, agora nos deram data e hora para expulsarem o Cristovão do hospital.

Preparei uma festa surpresa para ele. Convidei amigos, irmãos e os pais e quando ele chegou, toda a família estava lá para recebê-lo.

O que mais o deixou emocionado, foi poder estar ali com os filhos. No hospital, ele me confessou várias vezes, o medo que tinha de não chegar a estar com os bebês naquele lugar. De não voltar pra casa com eles.

-Está mais tranqüilo agora?-Perguntei quando o encontrei sentado de frente pra praia, com a menina no colo.
-É ótimo estar aqui, você não faz idéia.-Ele segurou minha mão e beijou meus dedos.-Obrigado por estar lá comigo, todo esse tempo.
-Não há o que agradecer meu bem.-O beijei no rosto e tirei o menino do carrinho.
-Queria te fazer um pedido.
-Pode fazer.-Sentei ao lado dele e aninhei o bebê no colo, pra amamentar.
-Casa comigo.
-Hum, não sei. É tão bom viver como sua amante.
-E quem disse que você deixará de ser?
-Mas depois do casamento, você vai querer outra amante.
-Nada disso.-Ele me beijou e jogou um braço sobre meus ombros.-A partir de agora, é só você e nossos filhos que me interessam. Sabe Aryel, quando descobri que estava doente, a primeira coisa que passou pela minha cabeça, foi que eu nunca havia sido feliz de verdade. E pensei em você, que era o que sempre desejei e nunca pude ter. Quando acordei da cirurgia, meu medo era de morrer do auge de toda essa felicidade.
-E agora?
-Agora, quero continuar de onde paramos antes da cirurgia e deixar o que aconteceu esse meio tempo, enterrado no passado.-Ele me abraçou com força.-Vamos continuar daqui pra frente e assim que o divórcio sair, iremos nos casar. Claro, se você quiser.
-É claro que eu quero.
Ficamos ali namorando. Claro, a casa estava cheia de gente, mas naquele momento, encontramos tempo e espaço para sermos uma família.
Dois anos depois:
-Aryel, você vai se atrasar.-Minha mãe entrou no quarto, com um buquê na Mão.-Seu pai já está lá embaixo, esperando você.
-E as crianças, com quem estão?
-Estão com a babá. Pode ficar tranqüila.-Ela ajeitou meu vestido e suspirou.-Acho que meu estilista faria um melhor.
-É esse que sempre quis.-Falei olhando no espelho.-Como estou?
-Linda.-Ela sorriu.-Simples, mas está linda.
-Aparece algo mais?-Perguntei comprimindo a barriga.
-Claro que não. Está muito cedo ainda.-Ela espremeu laquê no meu cabelo e me entregou o buquê.-Agora vai, está muito quente pra deixar os convidados cozinhando lá na beira da praia.

Desci as escadas segurando a barra do vestido. Não demorou estava alcançando a areia. Quando cheguei em frente ao tapete vermelho, todos se voltaram pra mim.

Cristovão parado lá na frente, sorria. Aquele sorriso lindo que me desarmava sempre. As crianças bagunçavam com a festa, deixei os dois soltos. Minha felicidade estava só no começo.

Paramos em frente ao padre. Ele começou uma cerimônia rápida e simples, falou pouco e fez aquela pergunta que por mim, seria vetada dos casamentos.

-Alguém aqui tem algo que impeça esse casal de se unir? Se tem, fale agora ou cale-se para sempre.
-Eu tenho.-Aquela voz me fez gelar, virei devagar pra ver de onde vinha, se era coisa da minha cabeça e lá estava a louca da minha irmã, vestida de negro embaixo daquele sol.-Ele é meu. Você não vai tirá-lo de mim.
-Gabriela, que circo é esse agora?-Cristovão perguntou.
-Só estou vendo um palhaço aqui.-Ela tirou da bolsa uma arma.-E prefiro vê-lo morto, a deixá-lo continuar com essa vagabunda.
-Gabriela, você está se complicando com isso.-Cristovão entrou na minha frente, foi andando devagar até ela.-Solta essa arma. Se você fizer qualquer coisa, vai ser presa.
-Ah querido, prefiro mofar na cadeia, do que ficar livre e deixá-lo com essa aí.
-Gabriela, acabou. Entende isso.-Ele não se aproximou mais.-Vamos, me dê essa arma.
-Você está louco!-Ela destravou a arma e apontou para a cabeça dele.-Agora chega, já conversamos de mais.

Um dos seguranças voou sobre ela, todos abaixaram na hora, senti um impacto forte me jogar pra trás e caí sobre a mesa do juiz. Todo mundo correu, Gabriela estava deitada no chão, com dois seguranças encima dela, Cristovão veio até mim com uma expressão preocupada no rosto.

-Aryel, você está bem?-Ele perguntou enquanto me ajudava a sentar.-Certo, fica calma que eu vou chamar uma ambulância.
-O que está acontecendo?-Ele ergueu a mão ensangüentada.-Você se machucou?
-Fica tranqüila, tudo vai ficar bem.

Aos poucos aquela sensação de torpor me tomou e finalmente a escuridão.
Quando acordei, estava em um quarto de hospital. Um vidro de soro pendurado ao meu lado, um curativo feio no meu estômago. Cristovão estava adormecido na poltrona ao lado.

-Cris?-Chamei baixinho, minha voz quase não saiu.-Cristovão?
-Aryel?-Ele levantou em um pulo e veio até mim.-Que bom que acordou. Está sentindo dor?
-Sede.
-Vou chamar uma enfermeira.
-O que aconteceu?
-Você foi acertada no estômago. Passou por uma cirurgia simples, recebeu transfusão. Vai ficar bem.
-E o bebê?
-Está tudo bem.-Ele segurou minha mão.-Por sorte não tem tamanho ainda pra ser atingido.-Ele beijou minha mão e sorriu.-Vou trazer água. Fica tranquila.

E saiu. Pareceu uma eternidade para voltar com uma enfermeira, que me fez exames e finalmente me deu água. Disse que por causa da anestesia, eu sentiria mais sede do que o normal. E saiu, me deixando com Cristovão, que agora estava mais sorridente e tranqüilo.

-Você está bem? Sente alguma dor?
-Não.-Tentei me sentar, mas não tinha forças.-Era pra ser surpresa.
-Estou feliz porque vocês dois estão bem.-Ele me beijou.-Nunca mais ninguém vai te fazer mal. Eu prometo.
-O que aconteceu com minha irmã?
-Está presa. Seus pais estão cuidando disso.
-E as crianças?
-Estão com minha mãe. Fica tranqüila, tudo acabou bem.
-Nós já estamos casados?-Perguntei quando vi a aliança no dedo dele.
-Só faltou assinar os papéis.-Ele sorriu mais ainda.-Se quiser, chamo o juiz pra resolver isso.
-Ótimo.-Cruzei os dedos nos dele e suspirei.-Será que daqui pra frente, teremos uma vida normal?
-Tomara querida. Estou velho pra continuar recebendo emoções fortes assim.
-Você ainda dá pro gasto.

Sorrimos juntos. Eu estava feliz. Ao que tudo indicava, dali pra frente tudo seria perfeito entre nós e nossos filhos.

Passei muitos anos casada. Tivemos quatro filhos, dois casais. E onze netos e até agora, dois bisnetos. Um amor pra vida inteira. E sei que logo vou reencontrá-lo, aonde quer que ele esteja, Por que mesmo sem ele aqui, a felicidade ainda me ronda.

E essa Foi à história do maior pecado que já cometi. O pecado de passar por cima de todos, inclusive dos meus princípios, para ser feliz.



ESSA HISTÓRIA É 100% FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM A VIDA REAL, É MERA COINCIDÊNCIA.

(Sempre quis dizer isso, rsrsrs)

E como sempre digo. Tudo acaba bem, quando sou eu que escrevo. Mas vou confessar, quase matei o Cristovão duas vezes.