quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Gato e a Rata


O jogo de gato e rato é lendário e um dos assuntos favoritos dos romancistas. O que atrai para dentro do jogo que parece tão fascinante quanto antagônico? É uma questão complicada que será eternamente analisada pelo filósofo. Eu também fiz minhas tentativas para solucionar o enigma.
Parece-me que o jogo era bem mais atraente nos tempos antigos. Hoje em dia é decididamente menos prazeroso. De alguma forma, conforme os riscos aumentam, os jogadores se tornam mais ameaçadores e o jogo mais cruel. Na verdade, nem é mais jogado como antes. Uma coisa é certa, o objeto do jogo já quase foi eliminado.
Já faz tempo que ficou estabelecido, por exemplo, que o gato é fisicamente mais forte do que o rato. No entanto, a rata jamais foi um adversário à altura, em virtude de seus instintos e sua determinação impecável. Ao longo dos anos, o gato acumulou muitas vantagens desleais sobre o rato, eliminando do jogo a regra da vantagem. Essa evolução teve um efeito peculiar de tornar o jogo mais sedutor para o rato, e tedioso para o gato. E eu começo minha fábula sob essas circunstâncias entre gato e rato.
Na história que conto, a supremacia pertence ao gato. O rato tem muito menos poder na maioria dos casos: ganha e acumula menos riqueza, tem uma voz menos ativa nos eventos mundiais e, resumindo, menos vantagens do que o gato. Como era de se esperar, sob tais circunstâncias, o rato perdeu muito de sua personalidade e o gato sente a perda sem reconhecêla. Assim, quando ele encontra uma daquelas ratinhas encantadoras e tenazes que se recusam a aceitar esses termos amistosamente, essa nova raça de gato fica temerosa demais para reagir apropriadamente.
Por outro lado, o rato perdeu o respeito pelo gato, julgado preguiçoso e mimado pelos ratos que se submetiam à sua superioridade. Então, o jogo chegou ao estágio final de existência e só em casos raros, como a história aqui descrita, é jogado com o vigor dos tempos antigos.
Ao começar minha fábula, a rata leva uma vida modesta no buraquinho da parede do mundo do gato. Ela se veste com trapinhos fúteis, que é a moda do mundo moderno do gato, mas não cobre quase nada, fazendo-a sentir-se sempre nua e explorada. Mesmo assim, nossa rata se sente relativamente segura quanto ao gato, por conta de seu comportamento rebelde, interpretado por ele como uma malevolência insensível. Isso vem bem a calhar para a rata, pois ela detesta o gato.
-Covardes! -diz a rata rindo, ao ver outro gato passando pelo buraquinho da parede, apressado para se afastar da criaturinha ali de dentro. Como ficam medrosos esses gatos enormes ao se depararem com a ira de uma pobre ratinha indefesa! Provavelmente escaparei do destino de minhas irmãs tendo a mera animosidade como defesa.
De fato, não foi difícil para ela levar adiante os sentimentos de animosidade. Ela detestava ser explorada nesse mundo dominado pelos gatos, sem jamais ser compreendida ou reconhecida por sua inteligência e sensibilidade. Ainda assim, sempre que um gato parava diante da abertura de sua casinha para olhá-la, ela era tomada por estranhas sensações tanto perturbadoras quanto temíveis. Mas ela se recusava a deixar que os gatos vissem o seu medo ou, mais precisamente, sua esperança contida de um dia conhecer um gato de verdade, como aqueles sobre os quais lera em romances. E ela assobiava e os xingava, rindo para si mesma quando eles quase tropeçavam nos próprios pés, na pressa de fugir delá.

Ela assumiu uma fisionomia de arrogância altiva ao ouvir outro gato se aproximando. Ele era bem maior que ela, assim como os outros, mas ela lembrava a si mesma que tamanho não era tudo. Ela tinha certeza de que sua vontade era muito superior à dele.
Ela se esforçou para manter a compostura, enquanto o gato se colocou diante da entrada, com os olhos se movendo entretidos sobre seu corpinho. A inquietação habitual a inflamava por dentro. Com que direito os gatos pensavam poder cobiçar ratas de forma tão rude? Como as coisas chegaram a ponto de isso parecer um comportamento aceitável? Caso se comportasse como as outras ratas, agora seria esperado que ela se lisonjeasse com a honra dessa atenção! Ela empinou ainda mais o queixo e encarou o olhar do gato com desdém.
Contrariada, ela percebeu que ele era mais bonito que o comum. Nos dias atuais era realmente raro ver um gato que se importasse com a aparência. Eles geralmente era esculhambados, de modo que chegava a ofender qualquer um que estivesse por perto. Mas as ratas também estavam tão ocupadas com sua própria aparência que raramente lhes ocorria que os gatos não valiam todo esse empenho.
No entanto, esse gato era um dos poucos que se poderia considerar que valia a pena. Mas, na opinião da rata, isso era apenas mais uma razão para evitá-lo, pois os gatos bonitões eram piores que os feios. Eles estavam em alta na praça e sabiam disso, e era bem difícil conquistar sua afeição por um momento, quanto mais obter qualquer tipo de devoção em longo prazo. Ao olhar para a expressão de autoconfiança desse gato, a rata percebeu que provavelmente haveria inúmeras ratas à sua disposição. E ela se forçou a ignorar sua beleza física.
Mas era impossível não notar o pêlo farto que caía em ondas escuras sobre sua face, os traços recortados que emolduravam uma expressão de absoluta confiança e equilíbrio. Seu corpo musculoso se movimentava com uma graça natural. Os instintos aguçados da rata lhe diziam que seria melhor que ela se livrasse dele rapidamente. E ela mostrou a sua arma mais eficaz diante dos gatos: sua língua.
-Olhe o quanto quiser, porco -rosnou ela. Você jamais terá permissão para tocar. -Pois, ao menos nesse estranho mundo em que ela vivia, não era permitido que um gato forçasse uma rata a se submeter contra sua vontade. E, de fato, não havia a menor tentação para que o fizessem, já que as ratas estavam se oferecendo como escravas desses grosseiros desmerecedores!
Para espanto da rata, o gato riu de sua argumentação, depois esticou a pata para dentro de seu pequeno esconderijo. Com muita cautela para não tocar-lhe a pele, ele usou seu dedo ágil para erguer até o ombro o trapinho que cobria o corpinho, deixando-o totalmente à mostra. Com um chiado zangado ela espalmou-lhe a pata. -Você disse que eu poderia olhar o quanto quisesse, não disse? -ele riu.
A ratinha possuía uma fraqueza: era extremamente competitiva -principalmente quanto às questões de perspicácia e desejo. Tinha um gênio facilmente atraído ao jogo de gato e rato. A réplica espirituosa do gato, aliada ao seu temperamento calmo e total desprezo ao seu mau humor, foi estímulo suficiente para que ela ignorasse sua apreensão e mudasse de idéia quanto à resolução anterior de se livrar dele imediatamente. Talvezfosse melhor atormentá-lo um pouquinho antes.
Os olhos dela detinham os dele com um súbito interesse, e o canto de sua boca exibia um sorrisinho malicioso. Ela deu de ombros e tentou assumir uma aparência de indiferença casual.
-Eu estava pensando em você, agora mesmo disse ela, zombando. -Eu detestaria ver seu ego ferido pela recusa de algo que deseja.
-Que meigo de sua parte se preocupar com meu bem-estar -respondeu ele, sorrindo. Os olhos dele queimavam os dela, ao acrescentar: -Mas sobre isso, nós dois sabemos que você não precisa se preocupar. -Ela imaginou se aquela afirmação significava que ele não a achava atraente, ou se estaria excessivamente confiante de que ela cederia, caso ele a quisesse. Ele a percebeu confusa e riu. Mais curiosa do que nunca, ela se aproximou timidamente, dizendo:
-Imagino que você tenha ratinhas demais com que se distrair para se empolgar com apenas uma, em vista do harém de escravas que deve possuir para atender aos seus pedidos. -Ela disse isso como se o estivesseelogiando, mas o recado foi bem claro. Uma das coisas que ela mais detestava sobre esse mundo moderno dos gatos era a forma como as ratas estavam sempre dispostas a se rebaixar vendendo o próprio corpo aos gatos, como suas escravas sexuais. Ainda assim, ela sabia que havia ferido o orgulho dele ao dizer que, embora pudessem comprar tudo
o que desejassem das ratas, eles eram obrigados a pagar por isso. Com sua afirmação ela estava insinuando que ele também teria de pagar por favores, mesmo que desconfiasse que isso não fosse verdade nesse caso.
No entanto, a afirmação não fez com que o gato desistisse, e com uma pose um tanto descontraída, ele respondeu:
-Mesmo assim estou disposto a lhe dar a chance de ser minha escrava, se me pedir educadamente. Ele adorou a forma como os olhos dela faiscaram de raiva diante de sua resposta. Ele estava se divertindo imensamente em provocá-la.
-Certamente não quero ser sua escrava! -bufou ela. Como ele podia inverter tudo dessa forma?
Ela desejou, com todo o coração, ter o poder de arrancar o sorriso do rosto daquele gato abusado!
-Se você não tivesse o desejo oculto de ser minha escrava, não teria tocado no assunto -argumentou ele. Sua arrogância a irritava e seus olhos piscaram, exibindo um sorriso de desdém.
-Você seria tão convencido a ponto de achar que eu quis dizer que queria ser sua escrava?
-Eu posso apostar meu rabo.
-Puxa, mas você é bem confiante, hein? -desafiou ela, em busca de uma chance de fazê-lo ver o quanto estava errado. Ela era inexperiente demais no jogo para perceber que ele a estava provocando.
-Devo provar isso a você? -perguntou ele, devolvendo o desafio.
-Prove...! -Sua audácia era realmente demais. Algum tipo de alerta soou dentro do cérebro dela, advertindo-a para ter cautela, mas ela estava atiçada demais para ter cuidado. Além disso, era extasiante finalmente encontrar um gato com desenvoltura e tanta perspicácia. Sua coragem ancestral revolveu por dentro, diante daquela postura desafiadora. Ela sentiu que precisava colocá-lo em seu lugar, portanto, sem pestanejar, disse: -Se você puder provar qualquer coisa além de meu profundo desprezo por você, serei sua escrava hoje mesmo, por essa noite!
Assim que as palavras saíram, ela sentiu uma onda de terror. Teria realmente dito aquilo? E quando havia saído da proteção do abrigo de seu buraquinho na parede?
Não importava. Ela jamais cederia, e ele acabaria sendo forçado a partir com o rabinho entre as pernas, fracassado e humilhado. Pensar nisso a fez sorrir.
O gato também estava sorrindo, pensando, que exatamente quando parecia que todas as ratas eram tolinhas dóceis prontas para se submeterem a qualquer coisa à sua frente, ele encontrara essa pequena preciosidade. Veja só... era exatamente o que ele vinha procurando a vida inteira. E pensar que ele quasea evitou, segundo o conselho de vários outros gatos a quem ela rejeitara. -Bruxinha -era como todos a chamavam! Que tolos! Por ser tão extraordinária já era de se esperar que ela naturalmente quisesse um gato que estivesse disposto a encará-la. Ele reconheceu isso por também ser do mesmo tipo dela, com preferência por uma bela disputa antes de acasalar. Ele precisava continuar provando seu direito de possuir sua parceira, enquanto ela precisava de um par que valesse a pena e fosse destemido. Por instinto, ele sabia que ambos sentiam essas coisas, embora soubesse que ela ainda não as compreendia inteiramente.
O gato se aproximou da rata e gentilmente moveu uma mecha de cabelos para o lado. Ela sentiu o hálito morno em seu rosto quando ele sussurrou:
-Como podemos testar isso?
Ela inspirou o ar e o prendeu. Uma idéia ou outra passaram por sua mente, mas ela continuou quieta. Ela se sentia totalmente sem ação.
-Talvez um beijo -sugeriu ele, por fim, após deixá-la pensar um pouco.
Ela suspirou aliviada. Tudo que teria de fazer era suportar um beijo sem desfalecer sobre ele. Ela estava certa de que podia fazer isso. Que deleite seria mandá-lo pegar a estrada depois que ele se descabelasse para mostrar seu melhor beijo. Ela quase caiu na gargalhada com a idéia.
Ele olhou em seus olhos e viu seu divertimento. Então ela já estava cantando vitória, não é? Bom. Ele precisava pegá-la desprevenida. Mas alertou a si mesmo para ser cauteloso. Ela era um achado raro no mundo, e ele não a perderia.
Agora confiante, a rata arqueou o pescoço para trás na expectativa do beijo do gato, mantendo o olhar ansioso nos olhos dele. Ele a encarou enquanto seus lábios se puseram logo acima dos dela, por um tempo que pareceu uma eternidade. Uma incerteza preencheu os olhos dela e ela subitamente ficou impaciente. Ele ia fazer aquilo, ou não? Que tipo de tolo diz que irá beijá-la e não o faz?
Os lábios dele continuaram tão perto que estavam quase tocando os dela. -Bem-ele finalmente sussurrou –Aonde você quer?
-O quê? -ela sussurrou de volta.
-O beijo -explicou ele. -Onde você quer que eu dê?
Ela o encarou, chocada. Imagens que a deixaram tonta invadiram seus pensamentos, mas ela instantaneamente se esforçou para eliminá-las de sua mente. Ela estava tremendo. E mais uma vez lembroua si mesma que o mais prudente seria se livrar dele rapidamente.
E como ela deveria responder a sua pergunta sem soar como se quisesse que ele a beijasse? Ele realmente levava jeito para enfurecê-la. O que ela realmente gostaria de fazer era... De repente ela teve uma idéia.
-Acho que o lugar menos ofensivo seria o meu pé -disse ela, finalmente, com um sorriso ávido.
-Então, no pé será -respondeu ele, sem desapontamento. Ele não havia esperado nada menos.
Além disso, sua pergunta sugestiva alcançara o efeito pretendido. Ele notou que ela perdeu a compostura, mesmo que apenas por alguns instantes.
Ele baixou sobre um dos joelhos diante dela, num gesto extremamente submisso. Ao se preparar para seu ataque, a ratinha sentiu uma decepção estranha, por ele ter se deixado abater com tanta facilidade, e um arrependimento esquisito, pois logo tudo estaria acabado. Lá de dentro, ocorreu-lhe que ela torcera para que ele tivesse sido mais esperto ou forte, algo assim... mas ela logo se repreendeu por ter sido tão tola, lembrando que era o seu orgulho e liberdade que estavam em jogo ali. O gato gentilmente pegou-lhe a patinha e pousou a boca morna sobre ela, dando um beijo demorado. Assim que o beijo terminou, a ratinha recuou a pata para trás, num movimento que deu a entender que ela tinha a intenção de chutar o gato no rosto -atitude que demonstraria de uma vez por todas seu autodomínio e ausência de reação a ele. Porém, ao lançar o pé à frente para dar o chute, ele a pegou pelo tornozelo num golpe preciso. Ela respirou ofegante diante dessa reviravolta dos acontecimentos. A força que sentiu no aperto que ele mantinha em sua perna causou-lhe uma vibração pelo corpo. Ela tentou se soltar, mas ele a segurou sem qualquer dificuldade, como se segurasse uma borboleta pelas asas. Ela foi desarmada de uma só vez.
E subitamente perdeu o chão, balançando e se esforçando para manter o equilíbrio num pé só. Com braços e pernas a esmo, ela foi de quadris ao chão. Com a agilidade de uma pantera, o gato se esticou e a pegou, impedindo o impacto da queda. Primeiro ela ficou aliviada, depois, horrorizada. As mãos dele abrigavam suas nádegas. Ela se moveu para se levantar, mas ele a segurou.
_ Ainda não avaliamos o efeito do beijo -disse
ele, sorrindo. _ O que você quer dizer? -perguntou ela, ainda se esforçando para levantar e se afastar das mãos
dele. _ O que quero dizer -explicou ele, calmamente -é que quero ver se fui capaz de inspirar algo além de seu puro desprezo por mim com meu
beijo. _ Ah... bem, suponho que desprezo resuma bem os meus sentimentos -ela mentiu, tentando aparentar calma e indiferença. Mas era difícil, com suas mãos fortes a segurando daquele jeito. _ Eu não acredito em você -respondeu ele. E gosto de verificar as coisas, sempre que possível. _ Bem, mas não é possível -devolveu ela. -Portanto, você terá de aceitar minha palavra. _ Mas é possível -argumentou ele. -Não é apenas possível, como também simples e indolor. E, ao dizer isso, ele tirou as mãos debaixo dela e afastou-lhe as pernas. Ela finalmente percebeu o que ele pretendia fazer. Um formigamento persistente começou a aumentar entre suas pernas, começando antes do beijo. Agora, o seu desejo latejava em seu corpo inteiro.
-Não -protestou ela. -Não. -Ela balançou a cabeça de um lado para outro, tentando desesperadamente fechar as pernas.
-Se é como diz -disse ele, num tom irritantemente ponderado, soltando suas pernas por um instante -, depois de uma breve inspeção eu partirei daqui e jamais a perturbarei novamente. Mas, se você estiver mentindo como eu desconfio, será minha escrava legítima por esta noite.
Ela suspirou aterrorizada. Quando foi que tudo se inverteu e ele se tornou o conquistador? -Você pode admitir o seu desejo por mim diretamente, se preferir -disse ele, pacientemente.
-Nunca! -disse ela, quase gritando.
-Bem, então, você não tem nada a esconder, tem? -perguntou ele. O olhar dele prendeu o dela, e foi como se ela tivesse sido hipnotizada, deixando que ele lhe afastasse as pernas. Seus dedos tocaramna, provocantes. Ela amaldiçoou seu corpo traiçoeiro mesmo ao se arrepiar de prazer, quando ele escorregou o dedo adentrando a umidade reveladora. Ele soltou um gemido e a puxou para seus braços.
-Ganhei -disse ele, antes que seus lábios exigissem os dela.
Ela estava com o orgulho em pedaços, mas já não podia negar que ele ganhara a batalha. Ainda assim, ela cedeu queixosa. Ela piscava com raiva e mordeu-lhe a língua, quando ele a colocou em sua boca.
Isso não chegou a decepcioná-lo; mais uma vez era O que ele esperava dela. De boa vontade, ele deixou que ela desabafasse toda a raiva em cima dele. Minal, ele compreendia o quanto era irritante perder.
Ele gentilmente a segurou nos braços, até que ela parasse de resistir, sempre a beijando carinhosamente. Ela se esforçava para lutar contra sua atração por um adversário tão valioso; mas, aos poucos, começou a sucumbir aos sentimentos ternos que ele despertou nela, e finalmente aceitou a própria derrota, retribuindo seus beijos com a mesma paixão fervorosa. Ela enlaçou-lhe o pescoço com os braços e o abraçou com as pernas. Mas ele festejou a entrega total apenas por um momento. Ele já decidira que a queria por muito mais que apenas uma noite de servidão. Era hora de aumentar as apostas do jogo.
O gato recuou do abraço da ratinha e perguntoulhe: -Como pode ser isso, se eu, que sou seu amo, estou aqui a servi-la, minha escrava?
Ela ficou demasiadamente estarrecida com a interrupção indelicada para responder. Pensara que a total entrega satisfariaseuanseiopor dominá-la, mas, aparentemente, se enganara quanto a isso. No entanto, ele não esperava uma reação dela. Com um rápido movimento ele espalmou as nádegas dela, dizendo:
-De pé, escrava.
Com as bochechas em fogo, a ratinha subitamente se levantou, procurando endireitar as roupas desalinhadas que vestia, apesar disso ser inútil. Ela olhou o gato, silenciosamentejurando achar um meio de ficar quite com ele. Mas ele prosseguiu como se não tivesse qualquer preocupação na vida.
-Siga-me, escrava -disse ele, guiando o caminho. Mas antes que ela desse o primeiro passo, ele acrescentou:
-De joelhos. Ela o olhou boquiaberta, horrorizada, quase en
gasgando com as próprias palavras. -Não farei isso -conseguiu dizer finalmente. -Você o quê? -perguntou ele, fingindo cho
que com o rompante. Porém, mais uma vez era o que ele esperava. Ele sabia que seriam necessários o céu e a terra para fazê-la ficar de joelhos. Mas, por sorte, ele tinha o poder do céu e da terra sobre ela, naquele determinado instante, por saber que seu orgulho jamais a deixaria voltar atrás numa aposta.
-Você me ouviu -reafirmou ela, firme, diante dele. -Então, você está -disse ele, calmamente -se recusando a honrar nossa aposta? Diante disso, ela parou: -Eu o servirei como sua escrava por esta noite, mas não de joelhos.

-Você concordou em ser minha escrava, e uma escrava é obrigada a fazer tudo como indicado por seu amo ponderou ele, sagazmente.
-Além disso,posso lhe garantir que é bastante comum que essa posição seja pedida a uma escrava... além de muitas outras.
Diante disso a rata ficou em silêncio. Ela nunca havia sido uma escrava.
-Diga-me -continuou ele -, se eu fosse seu escravo, não estaria de joelhos, nesse exato momento?
A rata permaneceu em silêncio, pois mal podia negar que daria tudo para vê-lo de joelhos naquele momento. O gato sentiu que era o instante perfeito para conduzi-la a um novo jogo.
-Foi você quem propôs a aposta ele lembrou-a.
Agora, a menos que queira uma nova disputa para ganhar sua liberdade de volta, é obrigada a me servir da forma como eu quiser.
Só levou um segundo para que seus olhos faiscassem cheios de vida, e para que ela mordesse a isca que ele jogou diante dela.
-Uma nova disputa?
-Sim -disse ele, suavemente. Depois, fingindo mudar de idéia, ele acrescentou: -
Quero dizer, não.
Não creio que eu poderia ser induzido a isso. Afinal, já tenho um bom negócio aqui, com você como minha escrava por essa noite.
Ele quase sorriu ao ouvir as palavras que esperava, quando ela disse com toda a avidez:
-Mas nós podemos fazer dobrado, ou nada!
-Por que eu deveria arriscar duas noites prováveis de escravidão, por uma garantida, que já tenho? -perguntou ele. -Não, esqueça. Você está perdendo tempo. De joelhos, por gentileza.
-Então, o que você quer? -perguntou ela.
-Bem, para pensar em abrir mão da minha noite como seu amo, eu preciso ter a chance de ganhar algo de muito mais valor para mim, digamos... você, como minha esposa. -Ele estava tão chocado quanto ela ao dizer aquilo, por só ter a intenção de fazêla ficar com ele por um tempo indefinido. Porém, uma vez ditas as palavras, ele soube que as dissera para valer. Ele adorou a sensação da natureza desafiadora. Eles tinham uma química perfeita, e ele sabia que ficariam se desafiando pelo restante da vida.
Mas quando a ratinha ouviu aquelas palavras, quase riu.
-Você espera que eu aposte uma noite como escrava contra a escravidão eterna? -perguntou ela, incrédula.
-Como minha esposa você não chegaria a ser uma escrava -deleitou-se ele. -Mas é lisonjeiro saber que seu primeiro instinto é achar que você seria a perdedora.
Isso arranhou seu orgulho e ela rosnou, ressentida.
-Foi apenas por usar de truques que você ganhou a última aposta. Foi totalmente injusto, e posso garantir que isso não voltará a acontecer. -Apesar disso, ela não conseguia evitar pensar em sua mão indiscreta e não sabia como faria para fazer valer aquela afirmação impulsiva.
-Devo interpretar isso como o seu desejo de passar novamente pelo teste? -perguntou ele, com um sorriso provocador.
-Não! -soltou ela, mortificada. Ela tentou esconder as bochechas coradas virando a cabeça, num gesto arrogante. -O que quero dizer é que desafio a eficácia de um teste tão bárbaro.
-Oh, posso assegurá-la que há um meio mais preciso de descobrir a verdade do que por meio de suas palavras -argumentou ele. -O que senti ali certamente não foi desprezo.
Ela ficou irritada e constrangida ao lembrar.
-Se você causasse em mim o impacto que supõe, parece que de alguma forma teria tirado a verdade dos meus lábios.
-Isso é outro desafio? -perguntou ele.
-Eu... bem -gaguejou ela, dessa vez um pouco mais prudente. Mas de repente ela pareceu tomar uma decisão. -Sim!
Ele estendeu-lhe a mão. -Então, você aceita os termos... esta noite de escravidão contra se tornar minha esposa?
-Esses termos não são justos e você sabe disso! -protestou ela.
-Se é justo ou não, eu não sei -respondeu ele. -Mas cabe a mim, o vitorioso em vigor, estabelecer os termos e aí estão eles. É pegar ou largar.
Seu queixo tomou uma expressão obstinada, enquanto a raiva faiscava em seus olhos. Ela preferia morrer a concordar com seus termos ultrajantes.
-Vamos acabar logo com essa noite -explodiu ela.
Ele suspirou, ponderando silenciosamente sobre quanto tempo levaria até que ele conseguisse dobrála para aceitar suas condições. Ele estava em dúvida entre dois ou três minutos. Ele pousou a mão nas pequenas costas e empurrou com carinho.
-De quatro, então, escrava -lembrando-a.
Ela respirou fundo, garantindo a si mesma que podia fazer aquilo. Mas sua primeira tentativa falhou. Seus membros pareciam mais rígidos do que o habitual. Era como se possuíssem vontade própria e se recusassem a ceder sob aquelas circunstâncias. Seu rosto ficou vermelho vivo, quando ela finalmente conseguiu forçar o corpo a se sujeitar e logo ficou prostrada diante do gato arrogante, sobre as mãos e joelhos.
A posição era nova para ela. Ela estava tomada de vergonha e humilhação. Mas havia outra coisa. Ela se sentia agitada e inexplicavelmente sensível. Lá grimas inconvenientes encheram-lhe os olhos. Ela se esforçava para abafar seus soluços para que seu algoz não soubesse a extensão de seu transtorno. Enquanto isso, ele se posicionava atrás dela. Apesar de manter as pernas bem juntas, ela sabia que não poderia ocultá-las da visão dele. As estranhas remexidas internas que isso lhe provocava faziam com que as lágrimas fluíssem mais rápido. Ela estava num estado emocional perigosamente excitado.
A mão do gato acarinhava suas partes expostas de forma possessiva. Ele gargalhou ao senti-la novamente em seu desejo molhado. Ela respirou ofegante, beira do pânico. Preciso recobrar a minha compostura, pensou ela. Mas havia um turbilhão por dentro, e ela mal sabia por onde começar.
Seu capturador espalmava-lhe as nádegas levemente, dizendo:
-Adiante, escrava. -Desajeitadamente, ela se arrastava à frente, odiando-o mais a cada investida. Ele caminhava atrás dela, deleitando-se com a cena, sem de fato gostar de vê-la tão subjugada. Ele a achava magnífica quando assumia uma postura autoritária.
As lágrimas ameaçavam voltar, mas a rata piscava para detê-las, fazendo o melhor possível, decidida a ao menos manter a aparência de uma compostura interior. Mas a cada movimento ela se sentia mais depreciada e logo se entregava ao desespero.
-À esquerda aqui, por gentileza -o gato instruiu, alegremente.
Ela parou abruptamente.
-Mas isso vai dar do lado de fora, em público contestou ela, horrorizada. Por milagre, até então, eles não haviam se deparado com ninguém em suas caminhadas, mas ela sabia que as chances de encontrar outros gatos e ratos seria bem maior, caso deixassem
o abrigo onde estavam. Certamente, esse demônio que estava prestes a ser seu amo pela noite não seria depravado a ponto de forçá-la a acompanhá-lo lá fora!
-Eu sei aonde vai dar -disse ele. -pegar um ar fresco e você deve me acompanhar.
-Mas há muitos gatos lá fora! -Ela não iria... não poderia... ir lá fora, onde todos a veriam nessa posição e a partir dali a julgariam uma escrava. O que faria?
Ele viu a expressão de absoluto desespero em seu rosto, mas não recuaria agora -não depois de ter ido tão longe com ela. Ele estava decidido a fazê-la se submeter a ele inteiramente, e sabia que a única forma de conseguir isso seria uma vitória integral. Ele estava estarrecido pelo fato de ela ter resistido tanto tempo. Mas sabia que ela já não podia mais agüentar. Ela iria preferir qualquer coisa a servi-lo publicamente, de quatro. E ele certamente não tinha a intenção de permitir que outros gatos a vissem numa posição tão humilhante.
Com um ar de impaciência ele gentilmente a cutucou à frente, com a perna.
-Adiante, escrava! -ordenou ele.
Ela não se mexeu. As lágrimas desciam por seu rosto. Ele lutou contra o ímpeto de parar o jogo e tomá-la em seus braços. Mas haveria muito tempo para isso depois, e ele se obrigou a dar-lhe outro cutucão.
-Vamos, empregada. -Mas sua voz começava a perder a autoridade. Ele estava estarrecido pela teimosia dela. Aceite o desafio, ele mentalmente lhe implorava; ainda assim irá perder, mas ao menos irá fazê-lo com um pouquinho mais de dignidade.
-Eu aceito o desafio -ela engasgou entre soluços.
Ele soltou um suspiro.
-Então levante-se -disse ele, fingindo indiferença. -A menos que tenha gostado de ficar aí embaixo.
A ratinha levantou como um foguete. Ela tremia de alívio e foi logo tirando a poeira das mãos e joelhos, tentando recobrar a compostura. Ocorreu-lhe que ela se colocara em toda aquela humilhação sem um bom motivo. E o que importava para ela o fato de a aposta ser muito alta? Ela não iria -não poderia -perder para ele uma segunda vez, pois agora isso exigiria uma confissão de seus lábios, e ela ainda tinha total domínio sobre eles. já que não ocorria o mesmo com outras partes de seu corpo. Não, ele jamais conseguiria fazer com que ela desse uma confissão tão contundente como fizera com seu corpo.
O gato conduziu a rata até seus aposentos, que, obviamente, eram muito superiores ao seu buraquinho na parede. A irritava profundamente o fato de os gatos geralmente possuírem muito mais que os ratos, especialmente porque, na realidade, os ratos trabalham tão duro quanto eles, se não mais. Ela olhou para ele, agitada e incerta.
-Então, tudo que tenho de fazer é permanecer aqui com você, sem... -ela fez uma pausa -... sem...
-Sem confessar seus verdadeiros sentimentos por mim? -sugeriu ele, com um sorrisinho.
-Sem confirmar suas ilusões quanto aos meus sentimentos por você -ela o corrigiu, já mais esperançosa e composta. -E por quanto tempo você planeja me manter aqui?
-Você acha que duas horas seriam suficientes? -perguntou ele, carinhosamente. -De forma alguma levarei duas horas para fazê-la confessar seu desejo por mim, mas, mesmo assim, acho que duas horas podem ser o tempo que eu gostaria de ter para esse passatempo preferido. -Ele caminhou informalmente até a janela para esconder dela sua fisionomia. Ele só poderia derrotá-la se ela mordesse a isca.

-Eu não estou nem aí para suas preferências pessoais -despejou ela, desejando poder fazê-lo perder, ao menos uma vez, sua presunçosa autoconfiança.
- Essa é a sua forma de pedir três horas, em vez duas? -ele provocou.
- Duas horas são mais que suficientes para aturar a sua presença -respondeu ela. -E você será o único dando confissões, quaisquer que sejam.
Ele se parabenizou pela habilidade de engabelá-Ia mais uma vez. Ela realmente seria uma adversária forte, se não fosse tão cabeça quente. Ele eliminou o sorriso dos lábios e voltou-se para ela.
-Outro desafio?
- Bem... -ele pensou por um instante. -Acho que poderia tolerar vocêcomo meu escravo por uma noite. Sim!
-Então, para que nos entendamos -ele rapidamente atacou para matar. -Se você declarar o  seu óbvio desejo por mim primeiro, será minha es
posa? Caso eu declare meu desejo antes, me torna
rei seu escravo?
Ela pensou por um momento.
-Sim, creio que isso resume as coisas.
-Então -disse ele, com um sorriso. -Só para que você saiba, se você tiver uma chance de brigar para ter qualquer tipo de declaração de minha parte, terá de fazê-lo daí. -Ele apontou o dedo na direção de uma cama imensa, no meio do quarto.

A ratinha mordeu o lábio, olhando na direção da cama. Ela estava pensando a mesma coisa. E por que não? Ela não se incomodaria de experimentar prazeres do gato que arrancara o melhor dela até agora.
O gato quase rosnou em voz alta, ao ler seus pensamentos,julgando por sua fisionomia. Talvez ele devesse ter ficado com o que conseguisse dela como escrava.
Mas não, isso jamais o satisfaria. Ele queria sua ratinha para sempre como sua rival e parceira de jogo.
Ele chegou mais perto dela e ergueu-lhe o queixo.Os olhos dele prenderam os dela. Decidida a ganhar o jogo, ela foi aos lábios dele com fervor.
Agora poderia finalmente ceder ao desejo que vinha crescendo dentro dela, ao longo daquele joguinho.Ela o enlaçou com os braços e se apertou junto a ele.Contanto que não falasse, tudo ficaria bem.
Com grande destreza ele a tirou do chão e a levantou nos braços, carregando-a até a cama. Ele queria tirar as roupas e sentir a maciez dela roçando em sua pele, mas precisava da vantagem de permanecer vestido pelo maior tempo possível. Ele também queria que ela ficasse totalmente à vontade, então cuidadosamente diminuiu as luzes. Ele se inclinou sobre ela e removeu com habilidade os trapinhos que ela vestia.Depois recomeçou a beijá-la,enquanto suas mãos acariciavam-lhe vorazmente a pele nua.
Embora as mãos e beijos que ele lhe dava estivessem causando arrepios por todo seu corpo, em algum lugar, no fundo de sua consciência, a rata ouvia um alerta, repetidamente, mas estava longe demais para ser identificado. Ao se empenhar para retomar o autocontrole de sua mente, lentamente lhe ocorreu que ela não deveria permitir, sem reação, que ele a seduzisse dessa forma. Ela é que deveria o estar seduzindo. Afinal, não queria apenas evitar perder a aposta, queria ganhá-la. Ela queria vê-lo de joelhos, rastejando diante dela, do mesmo jeito que ela fizera diante dele. Ela se ergueu e empurrou o peito dele com as mãos, no intuito de fazê-lo deitar de costas na cama. Quando ele cedeu, ela lentamente começou a tirarlhe as roupas. O corpo dele era tão belo em sua masculinidade que ela não podia deixar de pensar se, ao desnudá-lo, ela não estaria prejudicando sua própria causa, mais que a dele.
Respirando fundo, ela lentamente baixou os lábios até o rosto dele. Ele tentou buscar os dela, mas ela recuou, depois repetiu o gesto, até que ele a deixasse em total controle do beijo. Assim que essa pequena batalha foi vencida, ela passou a beijá-lo abaixo, passando por seu queixo e pescoço, até o peito e descendo, até ouvi-lo respirar ofegante. Foi quando ela percebeu que tinha uma clara vantagem sobre ele, e que seu desejo era visível. Ela podia facilmente notar o efeito que estava causando sobre ele. Sua confiança cresceu quando ela baixou os lábios por sobre a protuberância que ele exibia. Ele fez uma tentativa lamentável de detê-la antes que ela fechasse os lábios envolvendo-o, suavemente chupando a ponta. Um gemido baixinho escapou dos lábios dele. Por um instante ela se perguntou se aquilo contava. Aquele gemido, certamente, se traduzido em linguagem, seria uma expressão de seu óbvio desejo por ela. Mas ela sabia que precisava de mais. Bem, havia mais uma forma de depenar um gato! Ela o abocanhou mais voraz, sofrendo com o tamanho que chegava ao fundo de sua garganta. Subitamente ele afastou-lhe a cabeça.
-O que houve? -disse ela, de olhos arregalados com uma inocência pretensa. Mas ao achar que
o ridículo seria uma arma melhor, ela deixou que seus lábios exibissem um sorriso malicioso. -Temeroso? -provocou ela.
-De jeito nenhum -respondeu ele, com ar de civilidade forçado, mas um músculo em seu maxilar pulsava violentamente. -Eu simplesmente quero mais.
Assim, ele arqueou o corpo dela em sua direção e ela aterrissou ao seu lado, de frente para a ponta oposta da cama. Ela sabia o que estava pensando e começou a reclamar, mas ele ergueu uma sobrancelha com o mesmo ar desafiador que lhe lançara. E o que ela poderia fazer?
Dessa vez, ao tomá-lo em sua boca, ela já não estava tão confiante. Suas mãos fortes enlaçaram seus quadris, para que ele pudesse manter seu corpo no lugar, enquanto seus lábios e língua desceram até ela. A língua dele, com a precisão de um compasso, pousou diretamente sobre o seu ponto mágico, marcando o primeiro gol. Ele começou um movimento circular firme e contínuo ao seu redor. Ela se esforçou para se afastar de seu adversário habilidoso, mas ele a manteve firme no lugar com suas mãos, enquanto prosseguia a atormentá-la com a língua.
Ela subitamente percebeu que havia contido seu próprio ataque, enquanto tentava se defender do dele. E se empenhava desesperadamente para reunir seus sentidos e se concentrar naquilo que tinha de ser feito. Ela o apertou com os lábios, lambendo e sugando furiosamente, no intuito de retribuir o imenso prazer que ele lhe estava proporcionando. Ele foi tomado de surpresa por sua investida vigorosa e deteve a língua por um instante, tentando recuperar o controle, mas, somente por um instante. Ambos gemiam e tremiam pelo efeito do prazer de suas mãos.
Mas nenhum dos dois permitia que o outro se satisfizesse, pois isso o enfraqueceria. Em vez disso, eles repetidamente levavam um ao outro à beira do abismo de prazer, depois paravam, na esperança de que o outro fosse rogar pelo fim do tormento. O gato estava tão excitado que a ratinha podia sentir o gosto de seu prazer, que minava em pequenas gotas salgadas, como o excesso que vinha se acumulando dentro dele agora estava prestes a explodir. Também o gato, ao se retrair da pequenina membrana pulsante da ratinha, faria uma pausa para depois mergulhar a língua em sua umidade, deleitado com o efeito que causava nela. Ele sabia que ela estava muito perto. Se ele pudesse se conter por mais um tempinho, gozaria desse prazer com ela, eternamente. Mas ele percebeu que teria de fazer algo depressa, se fosse para ganhar. Ele sentia que estava perdendo o controle. Ao parar subitamente para mudar seu curso de açâo, ele se ergueu sobre ela e afastou suas pernas. Ao penetrá-la num golpe, ela soltou um grito que quase o fez se render ali mesmo, e confessar seu desejo por ela. Ele sabia que era extremamente perigoso tomá-la dessa forma, quando ele próprio estava tão excitado, mas era sua única chance. Ele era fisicamente mais forte que ela, mesmo com sua equivalência sexual. Com isso em mente, ele mordeu o lábio e assumiu a vantagem da disputa, fazendo com que sua excitação aumentasse. Ele colocou a mão no lugar onde antes tivera a língua e esfregou suavemente, enquanto a penetrava implacavelmente.
A rata estava muito perto. Seu rosto estava corado e ela se esforçava para respirar. Cada músculo no corpo do gato se retesava enquanto ele procurava manter o controle, observando atentamente cada um dos gestos dela.
-Vamos, benzinho -persuadia ele.
O momento chegara. Ele viu a vulnerabilidade em seu rosto, quando ela atingia seu ponto mais fraco, e se odiou por fazê-lo, mas bruscamente cessou os movimentos que agora ela mais queria e deixou totalmente o corpo dela.
Ela o encarava em estado de choque. Sua mão foi até o lugar que ardia para ser tocado, mas ele a deteve, segurando firmemente para que ela não a pudesse usar. Ela se inquietou embaixo dele por um instante.
-Por favor! -sussurrou ela.
-Por favor, o quê? -perguntou ele.
Os lábios dele estavam tão próximos aos dela que se tocaram quando ele falou. O prazer era penoso. A raiva estava estampada nos olhos quando ela desviou de seus lábios mornos e novamente se agitou embaixo dele. Ele deslizou novamente para dentro, indo até o fundo dela, permanecendo totalmente imóvel. O suor escorria em suas costas e cada terminação nervosa em seu corpo gritava para que ele cedesse a ela, para acabar com aquele tormento, mas ele mantinha o seu território. Havia lágrimas nos olhos dela.
-Diga-me que você quer -disse ele, numa voz enganosamente suave e gentil. -É tudo que você tem a fazer. -Ela se agitou novamente. Ele não queria perdê-la agora. Com movimentos lentos e suaves ele recomeçou. Sua mão também retomou o carinho.
-Oh, não -ela choramingou.
Apesar da agonia, ele sorriu.
-Oh, sim -ele respondeu.
Como um instrumento musical bem afinado, o corpo dela reagia em sincronia perfeita com cada toque. Ela estava febril em seu empenho e ele estava ficando impaciente. Por que ela tinha de ser tão teimosa? Ele a faria uma esposa muito feliz. Quando sua excitação começou a dominá-lo e levá-lo próximo demais ao limite, ele pensou em perdê-la para sempre, e isso foi suficiente para esfriar seu desejo e deter suas próprias ânsias.
-É isso -ele instruiu amavelmente ao vê-la novamente quase no auge. -Agora me diga que me quer. -Ele saiu quase totalmente dela e parou.
-Não! -ela gritou. Mas ela se referia à parada, ignorando totalmente o que ele queria. -Por favor... oh, por favor, não pare.
Ele não queria medir palavras numa hora dessas, mas não poderia ter disputas sobre a questão depois.
-Diga-me que você me quer -repetiu ele. -Eu... -ela se conteve. Ele saiu completamente dela. -Eu... -repetiu ela.
Ele gemeu ruidosamente, pensando que ela tivesse tanta resistência quanto ele. Ele voltou a penetrála e se manteve imóvel.
-Diga-me, meu bem -suplicou ele. -Eu... te quero -sussurrou ela, as lágrimas rolando pelo rosto.
O gato queria confortar a ratinha, mas isso teria que ficar para mais tarde. Ambos haviam se segurado por tempo demais. Ele a penetrou com fervor repetidamente, pensando apenas em selar a sua vitória com a satisfação final, mas, subitamente, ele se lembrou do prêmio que ganhara e o que isso havia custado para ela.
Com a última porção do autocontrole que ainda lhe restava, ele diminuiu o ritmo das investidas e voltou a se ocupar em satisfazê-la. Afinal, ele não podia acreditar que quase se esquecera dela, para se satisfazer sem satisfazê-la. E que esposa feliz!
O gato juntou suas forças e se conteve, concentrando-se em dar à ratinha aquilo de que ela precisava. E ela logo alcançou o objetivo de tanto empenho. Dessavez ele a levou até o fim, depois, com um grito sonoro se derramou dentro dela, em alívio absoluto.
Eles ficaram abraçados depois, ambos trêmulos com a experiência. Depois de um tempo o gato se ergueu do abraço para observar-lhe o rosto.
Depois de retomar sua compostura, um leve rubor cobriu-lhe o rosto. Mas ela se esforçou para manter uma atitude de indiferença, ao cruzar com o olhar do gato com ousadia e dizer, casualmente:
-Eu tenho de confessar que você me pegou desprevenida dessa vez... O que me diz sobre uma revanche?

A Bela e a Fera (Conto Erótico)


Meu nome é Bela. É provável que você já tenha ouvido falar de mim. Minha história, ou melhor, a história que contam a meu respeito, já foi repetida inúmeras vezes. Mas nem de longe é a minha história. Os detalhes foram totalmente omitidos. Eu pensaria que, depois de ser repetida tantas vezes,alguém, ao menos uma vez, esbarraria na verdade. E talvez alguns de vocês tenham lido por entre as frases ilusórias e desconfiado da verdade, por mais inacreditável e chocante que pareça. Ou talvez a verdade seja realmente fantástica demais para se acreditar. Admito que há vezes em que eu mesma quase não acredito, e tudo parece um sonho distante.
De fato, parte do que foi registrado como minha vida é verdade, já que, para salvar a vida de meu pobre pai, concordei em viver com uma temível criatura, mais fera do que homem. Também é verdade que me apaixonei pela Fera. Quanto ao que aconteceu depois disso, os livros de história são bem precisos em sua apresentação da Fera que, diante de minha declaração de amor, foi liberta de uma maldição e voltou à sua forma original, como um charmoso príncipe. Nós nos casamos naquele mesmo dia.
Mas aí terminam as semelhanças entre a lenda que vocês leram e a minha incrível narrativa. Porque eu não vivi "feliz para sempre", depois daquele dia.
Eu sinto falta de minha Fera.
Enquanto definho por entre os corredores desse castelo, meu pensamento sempre regressa ao primeiro dia que passei aqui. Foi com grande tremor que deixei meu quarto naquele dia, com muita cautela, seguindo pelos vastos corredores que serpenteiam por essa fortaleza. Apesar de toda a especulação sobre o assunto (motivo pelo qual não preguei os olhos na noite anterior), eu não podia imaginar o porquê de a Fera ter solicitado minha presença. Passei aquele dia sozinha, entrando e saindo dos cômodos, olhando os arredores desconhecidos, enquanto tentava adivinhar o que vinha pela frente.
Não se pode dizer que vim para esse imenso castelo da Fera contra minha vontade, pois eu estava um tanto ansiosa em deixar para trás a pobreza e o tédio de minha infância. Portanto, quando o dever me premiou com essa aventura, não fiquei totalmente insatisfeita.
Eu não poderia dizer como um castelo deveria ser, mas pareceu-me que tudo o que vi era exatamente como deveria. Ancestrais de aparência um tanto austera me olhavam desdenhosos nas molduras penduradas nas paredes. Outras paredes exibiam tapeçarias de piqueniques franceses, vinhedos italianos e outros encontros exóticos. A mobília era entalhada na mais fina madeira, os carpetes exageradamente grossos e coloridos. Resumindo, tudo era um tanto extraordinário em sua elegância e esplendor.
Naquele dia não tive a chance de encontrar a Fera, enquanto vagava pelo castelo. Em minha chegada, na noite anterior, ele instruíra um serviçal a me conduzir diretamente ao meu quarto, depois rapidamente me despedi de meu pai, e o vi carregar dois baús pesados em sua carruagem. Eram presentes da Fera, que ordenara que enchessem os baús de tesouros para meu pai levá-los com ele. Pensar em minha família abrindo os baús me proporcionou satisfação e calma.
Não saí de meu quarto durante o restante da noite, por mais que estivesse inquieta e sem sono. Pelas longas horas daquela noite silenciosa, até o começo do dia seguinte, pensei sobre o fim de minha vida antiga, enquanto seguia de um cômodo a outro, olhando tudo, minuciosamente, sem ver uma alma Viva .
o jantar foi anunciado com o tocar de uma campainha, e foi então que voltei a encontrar a Fera. Apesar de sua aparência horrível e de sua voz rude, fui felizmente surpreendida ao descobrir que ele era, de fato, um anfitrião encantador, pois passamos o primeiro jantar conversando amistosamente, acompanhados de comida e bebida que deleitavam o paladar.
Assim que a refeição terminou, a Fera se levantou, me inspecionando por um instante com seus olhos escuros, antes de perguntar:
-Aceita se casar comigo, Bela?
Encarei a Fera estarrecida. O que eu deveria fazer? Embora meu coração estivesse batendo forte, em estado de alerta para não enfurecê-lo, de algum modo consegui sussurrar:
-Não, Fera. A Fera acenou ligeiramente com a cabeça e disse: -Então está bem -num tom que indicava já
esperar essa resposta, depois se foi pelo corredor.
Aliviada por não ter provocado a Fera com minha recusa à sua proposta, também deixei a sala de jantar para me recolher.
Esqueci de descrever meu quarto? Não pense que foi por não valer a pena, pois era e ainda é o quarto mais bonito que encontrei nesse elegante castelo.
Na noite anterior, assim que entrei no cômodo, estava preocupada em reparar em tudo ao redor. No entanto, nessa noite, passei de uma coisa para outra, examinando a enorme variedade de objetos que haviam sido colocados ali para meu conforto, até que meus olhos pararam na cama extraordinária em que eu iria dormir. Ao longo dos dosséis altíssimos exibiam-se entalhes detalhados de imagens de animais, circundando as bordas e subindo até o alto, onde havia um homem coroado. Eu desconhecia o significado dos entalhes extraordinários que adornavam aquelas molduras de madeira, mas, mesmo assim, olhava-os atentamente, de forma que sua beleza não foi desperdiçada comigo, apesar de minha criação humilde.
Ao lado da cama havia um buquê enorme, com mais de cem flores cor-de-rosa, colocadas num vaso imenso na mesinha-de-cabeceira. E posso garantir que, daquele dia em diante, nunca mais houve uma noite em que eu entrasse em meu quarto sem encontrar um lindo buquê de flores recém-colhidas.
A roupa de cama era tão magnífica quanto tudo em que pousei os olhos naquele dia, e um arrepio de puro deleite me percorreu quando mergulhei nos lençóis de seda pura. Foi uma sensação tão prazerosa que fiquei momentaneamente tentada a tirar minha camisola. Em vez disso, lentamente corri as mãos pelos lençóis. Meus sentidos rapidamente mergulharam em sensações exóticas, influenciados por tanto luxo.
Fui surpreendida em meio ao encantamento, quando uma luz subitamente entrou pela porta do quarto.
-Quem está aí? -perguntei, sentando e trazendo os lençóis de seda até o pescoço.
-Apenas eu, seu servo, a Fera -foi a resposta gentil. Seu comportamento era tranqüilizador e agradável, tanto quanto temível a sua aparência.
-Pode entrar -respondi, mais calma.
A Fera abriu a porta do meu quarto, mas não passou da soleira. Através da luz fraca do corredor, pude ver claramente o perfil de seu corpo que, não fosse sua gentileza, seria assustador. Esperei que ele falasse.
-Eu apenas gostaria de saber se correu tudo a contento, minha dama -disse ele, permanecendo
do lado de fora.
-A contento? -repeti, subitamente entretida. -Minha nossa, não! ]amais me atreveria a descrever esses aposentos como "a contento". -Sorri ligeiramente por minha piadinha e joguei para o lado as cobertas extravagantes, me esticando até a mesade-cabeceira para acender o lampião.
A Fera continuou em silêncio e me encarava, aparentemente estarrecido. Vendo sua expressão, percebi que minha súbita resposta provavelmente o teria insultado, e logo procurei consertar as coisas.
-Oh, Fera! O que eu quis dizer é que... bem, é lógico que tudo está a contento. Nossa, muito mais que apenas a contento! Foiissoque eu quis dizer,claro.

Mas algo estava terrivelmente errado. Era como se a Fera nem sequer tivesse me ouvido. Sem pestanejar, pulei da cama e me aproximei dele, empenhada em me explicar. Mas só consegui dar alguns passos até paralisar-me de terror.
Teria eu ouvido um rugido? Minha mente se alternava entre choque e descrença. Isso era impossível! E seus olhos tinham um brilho tão estranho. Ele ficou totalmente imóvel, como um animal pronto para atacar.
-Fera? -sussurrei, mais em tom de súplica, que de interrogação.
E ele subitamente se foi.
Ainda fiquei ali por uns instantes, procurando recuperar minha compostura. Olhei minhas mãos trêmulas e percebi que minha camisola era totalmente transparente, de cima a baixo! A luminária que eu havia acendido só serviu para realçar minha nudez sob o tecido!
Não vi mais a fera até o jantar do dia seguinte. Ele foi gentil e refinado, como tinha sido durante nossa refeição anterior. Sempre que nossos olhares se cruzavam eu corava e me arrepiava por completo, mas ele nunca deu sinais de perceber. Seu comportamento chegava a aliviar meus medos e suspeitas, e voltei a ficar à vontade, achando sua conversa agradável e amistosa. Depois ele se levantou e me fez a mesma pergunta da noite anterior, o que faria
a cada noite a partir de agora. -Bela, você aceita se casar comigo? Ao que eu sempre respondia: -Não, Fera. Nossa amizade desabrochou. Ainda assim, todo
ruído que ouvia em meu quarto, à noite, me deixava ansiosa e sem sono, esperando, sobressaltada, aquela leve batida em minha porta.
Mas a Fera não voltou a se aventurar perto de meu quarto.
Fui eu que, numa noite de insônia, passei pelo quarto dele, a caminho da biblioteca, em busca de algo para ler. Ao passar ouvi um barulho, bem parecido com um gemido, vindo do outro lado da porta. Parei bruscamente.
Em seguida ouvi novamente o ruído. Logo soube que era a Fera e fui tomada de compaixão por ele. Estaria adoentado?
Sem pestanejar, bati à porta. Alguns instantes se passaram e bati novamente. -Vá embora -finalmente o ouvi dizer, em tom suplicante. -Não vou -respondi, determinada. -Não até ver que você está bem. -Silêncio outra vez. -Por favor -implorei, voltando a bater. -Apenas abra a porta e me deixe...
-Afaste-se da porta, Bela! -ordenou ele, de modo áspero. -Vá embora agora mesmo, ou estará em perigo! -seu tom era controlado, mas a voz parecia desesperada.
Muitas vezes fiquei pensando por que não o deixei naquele momento. Já disse a mim mesma que não poderia ter deixado um amigo em apuros. Que foi minha curiosidade que não me permitira partir. Já disse a mim mesma uma infinidade de coisas, mas acho que você também não vai acreditar.
Virei-me em direção à maçaneta e abri a porta do quarto da Fera.
Estava um breu. Dei alguns passos à procura dele, em meio à escuridão. Subitamente a porta bateu atrás de mim. Meus cabelos se eriçaram.
A escuridão foi lentamente revelando algumas sombras. Meus olhos percorriam o cômodo imenso freneticamente, buscando pela silhueta da Fera. Subitamente ouvi o ranger das argolas no trilho, quase me matando de susto, e a cortina pesada sendo puxada, deixando o luar entrar no quarto. Agora eu podia ver a Fera claramente, à medida que se aproximava. Também podia ouvir sua respiração descompassada e, então, notei que ele ofegava.
Minha respiração também ficou mais acelerada e eu tentava desesperadamente encher os pulmões de ar. Era como se o quarto imenso tivesse sido reduzido à metade ao dar-me conta do porte gigantesco da Fera. O medo corria em minhas veias, deixando-me em estado de alerta quanto ao que havia ao redor. A Fera se aproximou lentamente, até ficar tão próximo que eu podia sentir seu hálito morno em minha pele. Até me arrisquei a pensar que sentia o calor vindo de seus olhos. Ele era quase meio metro mais alto que eu, com ombros largos, que mediam quase três vezes o meu tamanho. Havia um brilho incomum em seus olhos escuros. Eu me arrepiei, apesar do calor que emanava dele.
-Se você não quer que sua camisola seja destruída, tire-a já -disse a Fera, finalmente. Ele tinha um tom casual, mas seu comportamento era contido, revelando o esforço para manter o controle. Sua voz era áspera e tão profunda que ele mal conseguia transmitir a linguagem humana. Sua presença me dominava e oprimia. Seu olhar me hipnotizava. Seu hálito me queimava. Não havia nada que me lembrasse do amigo meigo com quem eu compartilhara tantas refeições.
Ainda assim, ao olhar em seus olhos, pasma, uma nova sensação brotava dentro de mim, misturandose ao medo.
Totalmente imóvel, exceto por meu coração disparado, eu enfrentava meu apuro (enquanto isso, a sensação persistia e aumentava, até que subitamente me senti estranhamente excitada). Nesse estado, eu só via a situação de forma superficial e ponderava comigo mesma: Que poder eu teria para resistir à Fera? De fato, resistência parecia algo improvável com ele ali, altivo, acima de mim, silenciosamente esperando que eu obedecesse à sua ordem. Do que ele seria capaz, se eu não concordasse, eu não me atreveria a especular. A Fera que estava ali à minha frente parecia pronta para atacar ao menor movimento meu. No entanto, eu desconfiava ligeiramente que a Fera se empenharia ao máximo para ceder à minha vontade, desde que eu não tentasse fugir.
Durante o tempo em que fiquei ali, que me pareceram horas, apesar de terem sido provavelmente meros segundos, fui tomada por uma excitação que aos poucos crescia dentro de mim, sem admitir que não estava nem um pouco desesperada pelo fim daquela situação.
Com um movimento súbito, tirei a camisola, antes que mudasse de idéia. Muito agitada, fiquei aguardando pelo próximo passo da Fera, mas ela permanecia em silêncio por um tempo que pareceu interminável. Eu me perguntava se ele poderia ouvir meu coração frenético e seu eco ruidoso em meus ouvidos.
A Fera lentamente ergueu sua mão enorme e acariciou levemente meu rosto. Gemi de susto ao sentilo. Sua mão era tão áspera que quase provocava dor ao toque.
Os olhos da Fera momentaneamente faiscaram de raiva, mas logo se aquietaram enquanto me estudavam, confusos.
– Não quero machucá-la, Bela -sussurrou ele. -Você é quem controla o destino de nós dois.
Não consegui compreender o significado de suas pala raso Sua presença lentamente me dominava, me e volvendo e encurralando em sua força perigosa. como se ele estivesse me alertando sobre algo. Teria-ele dito que eu estava no controle? Será que eu deveria detê-lo? Eu me perguntava: eu poderia detê-lo? Eu me sentia fraca demais para me mover.
Por outro lado, suas mãos, um tanto grandes, como comentei, afagavam rudemente a minha pele, abrindo caminho até os meus seios. Para minha surpresa, meus mamilos reagiram imediatamente, enrijecendo ao toque. Quando ele os apertou, um gemido escapou dos meus lábios; a força bruta de suas mãos, junto com meu desejo crescente, era agonizante.
Ele continuou a me tocar e, ao chegar no meio de minhas pernas, senti-me levemente envergonhada, pois minha excitação se tornou evidente. A Fera agora estava mudando rapidamente -a cada instante se tornava mais fera e menos homem.
-De joelhos -rosnou ele, por entre a respiração pesada. Encarei-o, calada. A realidade do que estava se passando subitamente me assolou. Ele me possuiria da mesma forma como o faria com um animal. Era tarde demais para mudar de idéia, uma vez que ele já estava manobrando meu corpo na posição que ordenara, bem ali, no chão. Ele o fez com tanta destreza e habilidade que não tive dúvidas quanto à sua força, ou à futilidade que seria tentar fugir.
Por alguns instantes permaneci imóvel onde ele me posicionou. Enquanto isso a Fera se ocupava em livrar-se de suas roupas, atrás de mim. Ainda muito amedrontada para me arriscar a olhar a Fera e enfurecê-la, limitei-me a imaginar a indumentária tão dolorosa sob a qual ele se escondia. Mas minha curiosidade acabou vencendo o medo e, quase sem querer, minha cabeça se virou em sua direção. Um gemido involuntário saiu dos meus lábios.
Ele estava sem roupas, exceto pela camisa, que pendia aberta, revelando seu dorso coberto por pêlo animal. Da cintura para baixo seu corpo lembrava o de um leão, com imensas patas no lugar dos pés e um longo rabo pendurado até o chão. Porém, mais aterrador do que tudo era o que se projetava à frente, logo abaixo da cintura. Era de uma coloração vermelho-arroxeada, de um tamanho sobre-humano. Tive certeza de que meu corpo jamais seria capaz de acomodá-lo.
A Fera ouviu meu gemido e viu-me encarando-o horrorizada. Ele soltou um rugido terrível e pronunciou algo apenas parecido com "Vire-se!"
-Você vai me matar! -gritei, realmente horrorizada, apesar de obedecer à sua ordem rude.
-Prometo que você sobreviverá -respondeu ele, com a súbita recuperação de sua gentileza anterior. Sua voz tremia ao esforçar-se para falar.
-Terá de ser assim até que você nos liberte dessa maldição.
Fiquei hipnotizada por suas palavras, mas não tive tempo de lidar com elas, pois subitamente senti seu hálito quente, como um vapor, entre minhas pernas. Mesmo com tal preliminar, eu estava inteiramente desprevenida para o que viria a seguir.
Áspera como papel-jornal e maior que uma folha de carvalho, a língua da Fera lentamente serpenteou, adentrando as minhas partes mais íntimas. Quase saí de mim, mas a Fera me segurou firme, repetindo o ato mais e mais vezes. Ao mesmo tempo irritada e encantada pela persistência da coisa desumana que continuava roçando minha carne delicada, eu não podia fazer muito além de ora me movimentar e contorcer-me tentando desesperadamente me afastar, ora me apertar de encontro a ele. Sua língua imensa cobria toda a minha região exposta com um único golpe, depois finalizava sua invasão com o entusiasmo de um bicho faminto. Eu estava a ponto de desfalecer de tanta excitação.
Finalmente a Fera parou com um grunhido, e senti seus dedos enormes me arreganhando. A essa altura meu corpo inteiro sacudia violentamente.
Apesar de minha excitação, sentia uma pressão imensa à medida que a Fera começava a se apertar contra mim, por trás. Contestei com gritinhos e meu corpo instintivamente se inclinou à frente, numa tentativa de fugir da Fera invasora. No entanto, ele não permitiria, e suas mãos poderosas me agarraram fervorosamente pela cintura, me puxando de volta para trás, até que ele me penetrou. Gritei.
Com visível dificuldade, a Fera tentou manter o resquício humano que ainda possuía. Seu corpo inteiro balançou, enquanto ele me segurava firme no lugar, e, com uma voz abafada, disse:
-Você vai se acostumar comigo num instante.
Mas eu já estava me acostumando antes que ele terminasse a frase. Meu corpo todo subitamente pareceu em chamas. Eu gemia, me balançando para a frente e para trás. Aquilo era muito além do que eu jamais experimentara. Puxando os meus quadris com golpes curtos, a Fera começou uma investida gradual, mas permanente.
-Devagar -eu o ouvi murmurar, possivelmente para si mesmo, enquanto prosseguia penetrando meu corpo. Ele investia devagar e me segurava firmemente no lugar. Tudo o que eu podia fazer era permanecer imóvel, ofegante, morrendo de prazer num instante e, no outro, sentindo uma dor imensa.
Jamais pensei que fosse possível suportar a total
penetração da Fera, mas foi. Quando ele me possuiu completamente, eu mal podia respirar, pois me sentia como se estivesse sendo perfurada. Eu só tinha consciência daquela parte em mim, onde ele me preenchia.
Bem devagar, respirando com dificuldade e em meio a rosnados, a Fera começou a se mover, entrando e saindo de mim. Ele prosseguiu em ritmo lento por um bom tempo, deixando que eu me acostumasse totalmente com ele. Mas, por fim, seus gemidos se tornaram mais altos e selvagens, e suas investidas passaram a ser mais fortes e rápidas. Sua respiração queimava a pele das minhas costas. Suas mãos perfuravam minha carne, machucando a pele sensível. Achei ter sentido seus dentes mordendo meu ombro.
Eu estava excitada a ponto de sentir dor. Já tendo perdido a timidez há muito, comecei a me tocar a fim de aumentar o prazer, enquanto me esfregava contra a Fera.
Mas era tarde demais. Com um grito ensurdecedor e uma última investida, a Fera me invadiu com um furor que pude sentir ao longo de minhas pernas trêmulas.
Fiquei profundamente desapontada e inclinada a me afastar, mas ele me segurou firme no lugar, permanecendo ao meu lado, inteiramente excitado, pegando minha mão e colocando-a de volta no meio de minhas pernas. Ele a segurou até que eu a mantivesse ali, como ele queria.
Fiquei temporariamente encabulada por ele saber o que eu estava fazendo, mas logo passou, e meu entusiasmo voltou. Ao me dar conta de que tinha o tempo que quisesse para aproveitar com a Fera, voltei a me estimular. Enquanto isso, ele lentamente saiu de mim, quase por completo, depois, igualmente devagar, voltou a me possuir. Ele continuou pacientemente, enquanto eu buscava meu próprio prazer.
Eu tinha todos os sentidos em estado de alerta e excitação. Minha pele se repuxava sob as mãos brutas que agarravam meus quadris. Meus ouvidos ecoavam com os sons animalescos dentro do quarto enluarado. Meus olhos se desviaram para o chão, onde se refletiam as imagens de nossas sombras contrastantes, fundindo-se uma na outra. Minhas coxas estavam meladas e molhadas em seu interior. Pensei nos dentes afiados da Fera em meus ombros, quando finalmente encontrei o prazer.
Issodeuinícioàsminhasvisitasnoturnasao quarto da Fera. Para mim, cada noite era mais prazerosa que a anterior, e eu já não me sentia envergonhada. Na verdade, minha Fera parecia cada vez menos fera para mim, e minha afeição por ele tornava-o até bonito. Apesar disso, a cada noite, quando a Fera me pedia em casamento, eu gentilmente declinava.
Um dia, meses depois, recebi um recado de que meu pai estava doente. Mostrei o bilhete à Fera durante o jantar. Após lê-lo, ele me olhou, aterrorizado.
-Bela, por favor, não vá -implorou ele.
-Mas eu preciso! -gritei. -Se algo acontecer ao meu pai antes que eu o veja novamente, eu jamais o perdoarei!
A Fera ficou em silêncio por um tempo. -Bela -disse ele, em tom suplicante-,se você deixar esse castelo será a minha morte.
-Não entendo -respondi, subitamente irritada com todo o mistério que o cercava. O fato de haver tantas perguntas sem resposta se tornara uma questão mal resolvida entre nós. Mais uma vez eu voltei a pedir: -Será que você não poderia explicar suas palavras misteriosas?
-Não posso -a resposta de sempre. Mas a aflição diante de sua impossibilidade de me dizer a verdade o tornava um pouquinho mais indulgente. Não vou impedi-la de deixar o castelo, contanto que prometa voltar para mim em um mês -disse ele. -Se você demorar mais que isso eu certamente morrerei.
-Prometo -respondi com um suspiro, sabendo que não arrancaria mais nada dele.
-Espero que você cumpra sua promessa, Bela -disse ele, inconsolável. Então se levantou, parando na soleira da porta. -Haverá dois baús para você encher com as riquezas do castelo e levar para a sua família.
Naquela noite eu estava mais ansiosa do que de costume para estar com a minha Fera, mas também havia muito a ser feito quanto aos preparativos de minha viagem. Apressava-me de um lado para o outro freneticamente, sempre ansiando pelo momento em que poderia estar com minha Fera, para uma despedida mais íntima.
Quando finalmente entrei em seu quarto, eu certamente tremia de excitação. A Fera estava sentada numa cadeira no canto do quarto escuro. Ao tirar meu roupão, posicionei-me, como de costume, na beirada da cama, da forma como ele mais gostava que eu fizesse. Em alguns segundos eu estava ensopada de suor, latejando por ele. Era assim que eu me sentia em relação a ele. Já era o suficiente estar ali, esperando, tremendo, com as mãos sobre os joelhos, na expectativa do que estaria por vir, despertando aquela reação em mim.
Eu nem o ouvi se aproximar, quando subitamente senti suas mãos rudes acariciando a minha pele macia.
-Vire-se -disse ele, repentinamente, em seu tom rouco.
Parei, por um instante, estarrecida.
-Esta noite quero ver seu rosto -disse ele, simplesmente.
Intrigada pela novidade, obedeci ao seu pedido e me virei. Silenciosamente o observei, enquanto ele tirava suas roupas, podendo, pela primeira vez, vê-lo completamente. Ele parecia muito mais feroz e animalesco sem roupa. Estremeci ao vê-lo nu. Novamente, como na primeira noite, me ocorreu que ele parecia bem mais fera do que homem.
Masele é um homem, insisti, recusando-me a aceitar qualquer idéia que desse fim àqueles prazeres noturnos. E fechei meus olhos com a aproximação da fera nua.
-Abra os olhos, Bela! -rosnou ele.
Eu o fiz e vi sua masculinidade apontada diante de meus lábios. Ele pegou minha cabeça com as mãos, mas eu resisti. A Fera deteve-se em forçar-se em minha boca, mas também não soltou minha cabeça.
Olhei aquilo à minha frente. Era diferente de um homem normal. Além de maior, tinha uma coloração bem mais escura. Experimentei colocar minha língua para fora, passando-a levemente no objeto que me trouxera tanto prazer. A Fera estremeceu e subitamente fui tomada pelo desejo de satisfazê-lo. Abri a boca e primeiro o acarinhei suavemente com os lábios, mas logo me vi sugando, faminta. Ele era tão enorme que eu só conseguia tomá-lo parcialmente, mesmo assim, com grande esforço, mas ele não parecia se incomodar; a porção que eu conseguia ter, eu tomava com gosto, e o abocanhava com os lábios, língua e maxilar.
Subitamente a Fera me deteve e saiu de minha boca empurrou-me sobre a cama e afastou minhas pernas. Eu olhava dentro de seus olhos escuros, enquanto ele se aproximava. Havia algo brilhando ali -algo que não era humano. Eu queria desviar, mas seu olhar prendia o meu. Uma onda de terror passou por mim.
A Fera rugiu ruidosamente ao me penetrar. Minhas pernas estavam totalmente afastadas, enquanto eu tentava acomodar sua forma imensa. Ele se roçava e gemia impiedosamente, servindo-se de minha carne macia. Seu hálito quente ardia em minha pele e eu olhava com terror e fascínio, enquanto seus dentes afiados cuidadosamente mordiscavam meus ombros e seios.
Mas meu terror vinha acompanhado por aquele prazer familiar que a Fera já cultivara em mim. Ambos atuavam junto a ele, levando-me a uma paixão que eu jamais experimentara. Eu me deleitava com o pêlo animal que cobria seu corpo e os sons que ele emitia ao me possuir animalescamente. Eu me contorcia e gemia, com suas mãos brutas e imensas machucando minha carne macia, incessantemente, enviando arrepios de prazer abaixo da superfície. Eu gritava repetidamente, em total abandono, suplicante e tonta, sob as sensações de profunda agonia e prazer que me inundavam. Era uma onda de prazer atrás da outra, até que ouvi vagamente um rugido tremendo da Fera, em meio aos meus gritos.
Antes que pudesse recobrar o fôlego, já era de manhã!
Parti com tanta animação que nem pensei na minha Fera durante dias. Meu pai se recuperou logo que cheguei, e fiquei entretida pelos dias movimentados da família numerosa. Um mês se passou num instante e era hora de regressar ao castelo.
Sem dúvida, as histórias que você leu fizeram com que eu parecesse um tanto indelicada e até relutante em voltar à minha Fera. Isso estava muito longe de ser verdade. Eu sentia terrivelmente a sua falta! Eu queria regressar ao castelo mais que tudo. Porém, minha mãe caía em prantos sempre que eu tentava partir.
Assim, quase dois meses se passaram, até que um dia, tarde da noite, acordei sonhando com o castelo e a minha Fera. Tudo estava escuro no sonho, e eu andava pelos corredores do castelo à procura da Fera. Ao entrar em seu quarto, o vi dormindo serenamente em sua cama. Ao me aproximar dele, me ocorreu que minha Fera não estava dormindo, ele estava morto! Meu próprio grito havia me alertado.
Subitamente, eu me lembrei do aviso da Fera, de que ele certamente morreria se eu ficasse longe por mais de um mês!
Imediatamente pulei da cama e arrumei minhas coisas. Pela manhã, eu estava pronta para partir e, após uma despedida triste, porém firme, iniciei mi nha jornada de volta ao castelo e à minha Fera. Oh, como sofri nesse dia, temendo que talvez nunca mais voltasse a vê-lo! Mal sabia eu o quanto havia de verdade naquilo...
Ao final daquele dia, quando finalmente cheguei ao castelo, corri direto ao quarto da Fera. Ele estava deitado na cama, exatamente como em meu sonho.
-Não! -gritei, correndo até junto dele. -Por favor, Fera, não morra!
Sua cabeça inclinou ligeiramente ao ouvir minha voz. Vibrei de felicidade e o enlacei em meus braços. -Graças a Deus você não está morto -eu murmurava por entre lágrimas.
-Você voltou -foi tudo que ele disse.
-Sim, voltei... para sempre! -Eu sabia que jamais o deixaria novamente. -Você quer se casar comigo, Bela? -perguntou ele. -Sim, Fera -eu disse, chorando. -Sim, sim, sim!
Eu mal tinha pronunciado essas palavras quando, subitamente, houve um clarão. No momento seguinte, um estranho estava sentado no lugar onde a Fera estivera deitada. Minha fera havia desaparecido. Suspirei atordoada e dei um passo atrás.
-Oh, Bela -exclamou o estranho. -Você finalmente me libertou da maldição!
Pisquei os olhos, tentando compreender as palavras do homem. Ele estava explicando que era minha Fera, mas, na verdade, tratava-se de um príncipe que fora transformado em Fera pela maldição de uma bruxa diabólica. Por ser uma bruxa extremamente perversa, ela acrescentara como condição quase inalcançável de sua libertação que ele se casasse com seu verdadeiro amor ainda sendo uma Fera!
Então, pensei, esse estranho é a minha Fera. Observei seu rosto e vi que ele era, de fato, um belo príncipe. Não pude descrever a decepção que senti, além disso, jamais vira minha Fera tão feliz quanto nesse dia. Nós nos casamos.
E agora tenho de terminar minha fábula, pois está ficando tarde e está na hora de me preparar para meu marido, o príncipe. Agora ele vem ao meu quarto e, como sempre, preciso estar pronta para ele.
Mas não posso buscar brilho selvagem em seus olhos.
Ou ouvir aquele rosnado ensurdecedor.
Parei de procurar por essas coisas há anos.